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2 SISTEMA DE CONTROLE CONCENTRADO DE CONSTITUCIONALIDADE

2.3 Tipos de Decisões Constitucionais e seus Efeitos

2.3.3 Decisões Interpretativas

C) Improcedência da Inconstitucionalidade da Norma

Com o intuito de garantir a permanência no ordenamento jurídico das normas legitimamente criadas pelo legislativo, o Tribunal Constitucional profere sentenças interpretativas, de modo a distinguir, quando possível, dentre as várias interpretações normativas, aquelas compatíveis com a Constituição que evitariam a retirada da norma e a consequente lacuna no sistema jurídico.

O reflexo imediato da adoção das sentenças interpretativas é que o controle de constitucionalidade não se exerce apenas sobre o legislador, mas também, sobre os aplicadores em potencial do direito, que não deverão adotar aquelas interpretações consideradas ilegítimas pela Corte. (OLLERO, 2005).

Nesse contexto, apresentam-se as sentenças interpretativas de acolhimento e rejeição da inconstitucionalidade normativa no sistema jurídico italiano.

Quanto às sentenças interpretativas42 pela improcedência da inconstitucionalidade da norma podemos fazer referência ao início da sua adoção pela justiça constitucional – diante da omissa previsão normativa quanto a essa tipologia de decisão de mérito – a partir de algumas sentenças proferidas pela Corte Constitucional Italiana, todas de considerável repercussão naquele sistema jurídico, como a de nº 02, de 14 de junho de 1956, que ao analisar a

41Artigo 137, parte 3, Costituição Italiana: Contro le decisioni della Corte costituzionale non è ammessa alcuna impugnazione.

42 Aparecía así un nuevo tipo de pronunciamiento de la Corte que, sin abandonar en un principio el esquema de la sentencia desestimatoria, iba a suponer (...) el inicio de un largo proceso de potenciación de su capacidad operativa. A través de una amplia y novedosa tipologia de sentencias, desarrolladas por la propia Corte sin una expresa previsión positiva, ésta se iba a dotar de um poder de incidência em el ordenamiento jurídico cada vez mayor. MARTIN DE LA VEGA, 2003. p. 102

constitucionalidade do artigo 15743 da lei de segurança pública do país nº 773, de 18 de junho de 1931, já anteriormente mencionada, assim se refere à interpretação que deveria ser adotada conforme ao texto constitucional:

Mais delicado é o ponto referente se, aos ―motivos de sanidade e de segurança‖, indicados no artigo 1644, possam ser reconduzidos também os motivos de ―ordem, segurança pública e moralidade pública‖ indicados no artigo 157 da lei de segurança pública... Excluída a

interpretação, inadmissivelmente limitada, que a “segurança” se refira somente à incolumidade física, parece racional e conforme ao espírito da Constituição atribuir à palavra “segurança” o significado de situação na qual seja assegurado aos cidadãos, o pacífico exercício daqueles direitos à liberdade que a Constituição garante com tanta força. Segurança se tem quando o cidadão pode exercer atividades lícitas sem ser ameaçado por ofensas à sua própria integridade física e moral; é indubitavelmente a meta

de um Estado de direito, livre e democrático... Isto posto, não resta dúvida que as ―pessoas perigosas para a ordem e segurança pública ou para a moralidade pública (artigo 157 da lei de segurança pública) constituem uma ameaça à ―segurança‖ indicada, e assim entendida, no artigo 16 da Constituição‖45 (grifei).

Portanto, desde 1956, ano em que começou sua atividade jurisdicional, a Corte Constitucional Italiana se posicionou no sentido de interpretar livremente os dispositivos legais sob os seguintes fundamentos de Crisafulli (1984, p. 397–399):

→ o Tribunal Constitucional não está obrigado a vincular-se à interpretação conferida pelo juiz a quo à norma questionada;

43 Artigo 157, Lei de Segurança Pública Nº 773/1931 determina que quem, fora do seu município, apresente conduta suspeita e, mediante solicitação dos oficiais ou agentes de segurança pública, não puder ou não quiser se identificar com a exibição da Carteira de Identidade ou outro meio digno de fé, será conduzido diante da autoridade local de segurança pública. Esta, por sua vez, pode determinar seu retorno a sua localidade de origem, se entendê-lo suspeito. Isto também se aplica às pessoas perigosas para a ordem e segurança pública ou para a moralidade pública. A autoridade pública pode, ainda, proibir o retorno dessas pessoas a essa localidade da qual foram afastadas sem sua prévia autorização.

Os contraventores são punidos com prisão de um a seis meses.

44O artigo 16 da Constituição Italiana garante a liberdade de locomoção nos seguintes termos: ―Todo cidadão pode circular e permanecer livremente em qualquer parte do território nacional, salvo as limitações que a lei estabelece em termos gerais por motivos de sanidade ou de segurança. Nenhuma restrição pode ser determinada por razões políticas. Cada cidadão é livre para sair do território da República e nele reentrar, observadas as obrigações.

45 Sentença Nº 02, de 14 de junho de 1956. Più delicato è il punto se ai "motivi di sanità e di sicurezza", indicati nell'art. 16, possano ricondursi anche i motivi di "ordine, sicurezza pubblica e pubblica moralità" indicati nell'art. 157 della legge di p.s...Esclusa l'interpretazione, inammissibilmente angusta, che la "sicurezza" riguardi solo l'incolumità fisica, sembra razionale e conforme allo spirito della Costituzione dare alla parola "sicurezza" il significato di situazione nella quale sia assicurato ai cittadini, per quanto è possibile, il pacifico esercizio di quei diritti di libertà che la Costituzione garantisce con tanta forza. Sicurezza si ha quando il cittadino può svolgere la propria lecita attività senza essere minacciato da offese alla propria personalità fisica e morale; ... è indubbiamente la meta di uno Stato di diritto, libero e democratico...Ciò posto, non è dubbio che le "persone pericolose per l'ordine e la sicurezza pubblica o per la pubblica moralità" (art. 157 legge p.s.) costituiscano una minaccia alla "sicurezza" indicata, e così intesa, nell'art. 16 della Costituzione.

→ admitindo que sobre um dispositivo legal podem recair interpretações diversas, dentre as quais aquelas compatíveis à Constituição, deve-se priorizar a sua permanência no ordenamento jurídico, desde que adotada a interpretação que a legitima constitucionalmente e, portanto, declarada improcedente a questão de inconstitucionalidade apenas na medida em que o verdadeiro significado normativo do texto ou textos em questão seja aquele que a Corte reconheceu, através de sua atividade interpretativa.

Vale enfatizar, nesse momento, o pensamento de Comella (1997) – e pedimos vênia pela extensão da reprodução – que, ao se referir ao princípio da interpretação conforme, nos remete a uma reflexão essencial para a primazia do Estado Democrático de Direito, a partir de uma obediência à separação do poderes:

O primeiro plano no qual se manifesta a dignidade democrática da lei é o plano da sua própria interpretação. Em princípio, parece que para identificar qual é a norma expressada no texto da lei, o juiz constitucional deva servir-se dos critérios interpretativos habituais do Direito, sem desviar-se do que teria que fazer se tivesse que interpretar esse texto para aplicá-lo a um caso concreto. Sem dúvida, os juristas insistem na seguinte peculiaridade: em caso de dúvida acerca de qual das várias interpretações possíveis do texto do texto legal é a correta, o juiz constitucional deve optar por aquela interpretação sob a qual a norma identificada seja compatível com a Constituição, ou refutar aquelas interpretações sob as quais a norma identificada é incompatível com a mesma. Esta é a doutrina da chamada ―interpretação da lei conforme a Constituição‖, que, com certa frequência, cede às ―sentenças interpretativas‖ do Tribunal Constitucional.

Diz-se que esta doutrina responde ao princípio geral da conservação dos atos jurídicos: é desejável evitar o vazio que supõe a retirada da lei do ordenamento, pelo que é preferível interpretar o texto legal de modo que se evite este efeito. Mas se este princípio de conservação dos atos rege com uma força especial a lei, isso se deve ao fato de que esta tem uma especial dignidade, dado o processo democrático que desembocou na sua aprovação. Uma estimação adequada do valor da democracia, em efeito, deve levar o juiz constitucional a atuar com especial cuidado na hora de decidir se uma lei deve ser declarada inconstitucional. Deve partir de uma atitude de confiança em relação ao legislador democrático: deve presumir que este atuou motivado pelos valores constitucionais. No caso em que a lei admita diversas interpretações, o juiz deve escolher aquela que está de acordo com a Constituição, pois tem que presumir que o legislador quis respeitar os limites constitucionais. Somente quando não tiver dúvida acerca de qual é a norma que o legislador quis expressar no texto legal (sendo esta norma incompatível com a Constituição), pode o juiz constitucional emitir uma sentença que declare a sua invalidez.

Portanto, a dignidade democrática da lei se traduz em uma primeira consequência: a doutrina da interpretação da lei conforme a Constituição 46.

→ e como o terceiro pilar de formação das sentenças interpretativas pela improcedência da inconstitucionalidade da norma, pontuamos que a Corte Constitucional julga as normas, mas emite pronunciamentos sobre as disposições, conforme entendimento firmado pela justiça constitucional italiana expressado na Sentença Nº 84, de 18 de março de 199647, transcrito abaixo:

Em geral, a disposição... constitui o necessário veículo de acesso da norma ao juízo da Corte, que se desenvolve sobre a norma objeto de questionamento em relação ao parâmetro

constitucional, e representa pois igualmente o trâmite de transferência no ordenamento da valoração assim operada, a partir deste confronto, pela Corte, a qual julga sobre a norma,

mas pronuncia sobre a disposição. Revela-se, então, neste caso, a função instrumental da disposição em relação à norma...48 (grifei)

46 El primer plano en el que se manifiesta la dignidad democrática de la ley es el plano de su propia interpretación. En principio, parece que para identificar cuál es la norma expresada en el texto de la ley, el juez constitucional debe servirse de los critérios interpretativos habituales en Derecho, sin desviarse de lo que tendría que hacer si tuviera que interpretar ese texto para aplicarlo a un caso concreto. Sin embargo, los juristas suelen insistir en la siguiente peculiaridad: en caso de duda acerca de cuál de las varias interpretaciones posibles del texto legal es la correcta, el juez constitucional debe optar por aquella interpretación bajo la cual la norma identificada es compatible con la Constitución, o rechazar aquellas interpretaciones bajo las cuales la norma identificada es incompatible con la misma. Ésta es la doctrina de la llamada << interpretación de la ley conforme a la Constitución>>, que con cierta frecuencia da lugar a las <<sentencias interpretativas>> del Tribunal Constitucional.

Se dice a menudo que esta doctrina responde al principio general de conservación de los actos jurídicos: es deseable evitar vacío que supone la expulsión de la ley del ordenamiento, por lo que es preferible interpretar el texto legal de modo que se evite este efecto. Pero si este principio de conservación de los actos rige con una fuerza especial en el caso de la ley, ello se debe a que se considera que ésta tiene una especial dignidad, dados los procesos democráticos que desembocaron en su aprobación. Una estimación adecuada del valor de la democracia, en efecto, debe llevar al juez constitucional a actuar con especial cuidado a la hora de decidir si una ley debe declararse inconstitucional. Debe partir de una actitud de confianza hacia el legislador democrático: debe presumir que este actuó motivado por los valores constitucionales. En caso de que la ley admita diversas interpretaciones, el juez debe escoger aquella que es acorde con la Constitución, pues hay que presumir que el legislador quiso respetar los límites constitucionales. Sólo cuando no hay duda acerca de cuál es la norma que el legislador quiso expresar en el texto legal (y esta norma es incompatible con la Constitución), puede el juez constitucional emitir una sentencia que declare su invalidez. Por tanto, la dignidad democrática de la ley se traduce en una primera consecuencia: la doctrina de la interpretación de la ley conforme a la Constitución. COMELLA, 1997. p .37-38.

47 No curso do procedimento civil entre o Banco di Verona, Vicenza, Belluno e Ancona e a sociedade Carlutti Construção, para o pagamento da quantia de 36 milhões de liras, com saldo na conta corrente desta última, o pretor de Verona remeteu a questão incidental de ilegitimidade do decreto-lei nº 238/1995, por entender não terem sido previstos os critérios necessidade e urgência para a elaboração do decreto-lei, o qual estabelecia que o pretor era competente para julgar a causa, ainda se relacionada a bens imóveis, no valor não superior a 50 milhões de libras, desde que não fosse de competência do juiz de paz. Declarada infundada a questão, e garantida a produção de todos os efeitos decorrentes da vigência da norma.

48 Sentença Nº 84, de 18 de março de 1996: ―In generale la disposizione... costituisce il necessario veicolo di accesso della norma al giudizio della Corte, che si svolge sLopez Ulla norma quale oggetto del raffronto con il contenuto precettivo del parametro costituzionale, e rappresenta poi parimenti il tramite di ritrasferimento nell'ordinamento della valutazione così operata, a seguito di tale raffronto, dalla Corte medesima, la quale

A Corte Constitucional admitiu que para proferir uma sentença interpretativa de rejeição seria preciso que normas distintas fossem atribuídas à disposição legislativa questionada, devendo o intérprete escolher aquela conforme a Constituição, capaz de garantir, quando aplicada, sua adequação ao sistema jurídico.

Nesse sentido, poder-se-ia resolver, em via de interpretação sistemática – quando possível fosse – as eventuais antinomias jurídicas.

São sentenças pela improcedência da existência do vício da ilegitimidade constitucional, cuja motivação da decisão tem efeitos inter partes e de eficácia constitutiva ex

nunc, no sentido de que podem constituir significativos precedentes aos demais juízes.

Talvez melhor fosse afirmar que a eficácia no tempo das sentenças pela improcedência da inconstitucionalidade, limitadas ao caso concreto, é para o presente e não para o futuro, visto que os demais juízes podem submeter ao julgamento da Corte idêntica questão de ilegitimidade constitucional, que poderá vir a ser reproposta no início de cada instância processual.

Assim como a Corte Constitucional, os juízes têm discricionariedade nas escolhas dos fundamentos interpretativos atribuídos à norma extraída da disposição legislativa, pois submetidos apenas à lei posta, e não à interpretação conferida pelo órgão de jurisdição constitucional. Ao juiz a quo, porém, é conferida uma consequência específica no caso de repropositura da questão de legitimidade constitucional: ele não pode insistir na sua interpretação original, porque foi quem denunciou a suspeita de ilegitimidade, nem pode submeter novamente a mesma questão de legitimidade constitucional, devendo, apenas, adequar-se à interpretação da Corte ou, eventualmente, adotar uma interpretação que lhe pareça compatível com a Constituição.

O que se percebe é uma verdadeira crise quanto à eficácia das sentenças de interpretação proferidas pela improcedência da questão acerca da inconstitucionalidade da norma, pois se admite que os juízes se mantêm livres para interpretar a norma que devem aplicar aos casos concretos, não estando vinculados à interpretação adotada pela Corte. Essa liberdade judicial para interpretar a norma é flexibilizada quando o Órgão de jurisdição constitucional se posicionar contrário a uma interpretação específica, não podendo ser aplicada pelo juiz a quo na solução do caso sub judice, exatamente porque incompatível aos ditames constitucionais. (ZAGREBELSKY, 1988, p. 294).

quindi giudica su norme, ma pronuncia su disposizioni. Si disvela così, in tal caso, la funzione servente e strumentale della disposizione rispetto alla norma...‖.

Em relação aos demais juízes, não existem vínculos jurídicos, pois entende-se serem essas interpretações apenas orientações a serem seguidas, negada a eficácia vinculante às interpretações conforme a Constituição atribuídas às leis, com as quais a Corte Constitucional motivou as sentenças interpretativas de improcedência. Ocorre que, quando um juiz, diverso daquele que provocou a manifestação da Corte em sede de sentença interpretativa de improcedência, queira aplicar uma interpretação já anteriormente definida como inconstitucional pela Corte a um caso concreto, deverá submetê-la novamente à apreciação da Corte Constitucional que, então, reafirmará sua anterior decisão de desaplicar uma interpretação normativa porque inconstitucional – e a partir desse momento o então juiz a quo vincular-se-á a essa decisão no sentido de não aplicar tal interpretação para a solução do caso concreto –, ou ainda, proferirá uma sentença de acolhimento interpretativa, retirando erga

omnes, do ordenamento jurídico, determinada disposição extraída de uma norma.

Para que a atuação da Corte Constitucional Italiana não se esvazie na prática, de modo que as suas decisões não figurem apenas como ‗orientações‘ a serem seguidas pelos juízes que compõem o Judiciário, que por sua vez, podem, apenas eventualmente, sentirem-se ‗vinculados moralmente‘, é que o Tribunal Constitucional, cada vez mais, recorre a uma jurisprudência que faz prevalecer o chamado ‗direito vivente‘, i.e., diante de uma interpretação consolidada da disposição impugnada, a Corte não procura modificá-la propondo uma diversa, mas a julga de acordo com o significado normativo atribuído pela jurisprudência ordinária, ou seja, no significado em que ‗vive‘ na realidade jurídica. (CATELANI, 1993, p. 151–152).

É óbvio que se esta norma de direito vivente resulta incompatível com a Constituição, a Corte declarará a sua ilegitimidade e a sentença de acolhimento assumirá a função de impedir, erga omnes, a possibilidade de deduzir uma norma desta disposição impugnada.

A doutrina do direito vivente induz a Corte a não se contrapor aos juízes ordinários na interpretação das leis, motivo pelo qual as sentenças interpretativas pela improcedência tornaram-se menos frequentes.

Nesse momento, faz-se necessário que prestemos atenção para as seguintes considerações sobre as decisões interpretativas pela improcedência da inconstitucionalidade de uma norma: a função constitucional não se esvazia pelo fato dos juízes não estarem vinculados juridicamente a interpretação adotada pela Corte, isto porque, de um dispositivo legal podem ser extraídas normas distintas, as quais podem não ter sido todas observadas pela Corte Constitucional e, desde que constitucionais, podem – e devem – ser aplicadas pelos membros do judiciário para o deslinde dos casos concretos.

Em relação à interpretação não admitida pela Corte porque disforme à Constituição, a sentença que a profere, na prática, vincula inter partes, mas opera erga omnes, porque mesmo que os juízes não estejam obrigados a adotar a interpretação conferida pela Corte, e ainda que possam provocá-la para se manifestar sobre a mesma norma, a Corte Constitucional Italiana modificará o seu posicionamento quanto a norma interpretada, e, portanto, admitirá a sua inconstitucionalidade, desde que haja um motivo que justifique a mudança do seu entendimento, ainda não trazido à sua análise, para fundamentar tal decisão. Até porque, se assim não fosse, vislumbraríamos a possibilidade de uma atuação arbitrária da Corte Italiana, o que não penso ser a característica ideal para um Órgão de jurisdição constitucional.

Essas sentenças interpretativas pela improcedência da inconstitucionalidade normativa podem ser identificadas, também, como sentenças corretivas, quando a Corte as utiliza para fazer valer a interpretação jurisprudencial prevalente – e conforme a Constituição – contra a interpretação disforme – e de duvidosa legitimidade constitucional – proposta pelo juiz a quo, servindo para confirmar e reforçar o direito vivente. E quando a Corte utiliza as sentenças interpretativas pela improcedência da inconstitucionalidade para forçar a interpretação de leis novas conforme a Constituição, sobre as quais o direito vivente ainda não se formou, essas decisões são denominadas sentenze adeguatrici, que servem, então, para orientar a jurisprudência futura. (BIN; PITRUZZELLA, 2005, p. 435–436).

D) Procedência da Inconstitucionalidade da Norma

As sentenças pela procedência da inconstitucionalidade da lei são interpretativas – também conhecidas como manipulativas49–, quando, da disposição impugnada, for retirada norma diversa daquela indicada pelo juiz a quo, ou, então, quando o seu dispositivo não se limitar a simples declaração de incompatibilidade da lei ao texto constitucional mas, diversamente, quando a ilegitimidade for declarada ‗na parte em que‘ a disposição significa ou não significa qualquer coisa, ou seja, pela norma que se pode interpretar a partir da lei impugnada.

49 Existe uma séria dificuldade da doutrina em harmonizar todas as classificações das sentenças interpretativas pela procedência da inconstitucionalidade, visto a diversidade das sentenças proferidas pela Corte – que também é incapaz de classificar, numa terminologia sempre uniforme suas decisões. Para se ter um exemplo disso que está sendo aqui alertado, enquanto Bin e Pitruzzella entendem que a sentença manipulativa é sinônimo da interpretativa pela procedência da inconstitucionalidade, Zagrebelsky admite que as decisões manipulativas são espécie da interpretativa pela procedência da inconstitucionalidade. (BIN; PITRUZZELLA,