• Nenhum resultado encontrado

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA (1994) E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA À LUZ

Em 1994, de 7 a 10 de junho, a Conferência Mundial de Educação Especial contou com a representação de 88 governos e 25 organizações internacionais, na cidade de Salamanca, Espanha. O governo da Espanha e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) elaboraram o mais importante documento relacionado à educação inclusiva, uma vez que este se tornou uma referência em escala mundial. A Declaração de Salamanca aborda os Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, cujo objetivo é a reafirmação do compromisso “Educação para Todos”, firmado no ano de 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, realizada em Jomtien, Tailândia, promovida pelo Banco Mundial. A partir da Declaração de Salamanca, crianças, jovens e adultos com necessidades educacionais especiais14 têm o direito de ingressar nas escolas regulares de ensino, pois todo indivíduo possui características, habilidades e necessidades de aprendizagens diferentes uns dos outros, “a menos que existam fortes razões para agir de outra forma.” (UNESCO, 1994, p. 2).

Será objeto de análise o item três da Declaração de Salamanca, Estrutura de Ação

em Educação Especial, que aborda com ênfase a educação inclusiva, analisada nesta

dissertação no sentido de tratar a educação inclusiva com maior amplitude e abrangência de seu significado, conforme a educação inclusiva à luz da diversidade em articulação com a Constituição Federal, apresentada brevemente no início deste Capítulo.

A proposta deste subitem será apresentar e analisar o item três da Declaração de Salamanca referente à Estrutura de Ação em Educação Especial, sendo que

O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas [sic] ou outras. Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes a minorias lingüísticas [sic], étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados. Tais condições geram uma variedade de diferentes desafios aos sistemas escolares. No contexto desta Estrutura, o termo "necessidades educacionais especiais" refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem. Muitas crianças experimentam dificuldades de aprendizagem e, portanto possuem necessidades educacionais especiais em algum ponto durante a sua escolarização. Escolas devem buscar formas de educar tais crianças bem-sucedidamente, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas. Existe um consenso emergente de que crianças e jovens com necessidades educacionais especiais devam ser incluídas em arranjos educacionais feitos para a maioria das crianças. Isto levou ao conceito de escola inclusiva. O desafio que confronta a escola inclusiva é no que diz respeito ao desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criança e capaz de bem- sucedidamente educar todas as crianças, incluindo aquelas que possuam desvantagens severa [sic]. O mérito de tais escolas não reside somente no fato de que elas sejam capazes de prover uma educação de alta qualidade a todas as crianças: o estabelecimento de tais escolas é um passo crucial no sentido de modificar atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras e de desenvolver uma sociedade inclusiva. (UNESCO, 1994, p. 3-4).

Observa-se que a própria Declaração de Salamanca apresenta inicialmente a inserção dos diversos, sejam eles possuidores de diferenças físicas, intelectuais, emocionais, sociais, linguísticas, dificuldades de aprendizagem, dentre outras. O referido documento menciona a inclusão e ao mesmo tempo retrata que as escolas regulares deveriam promover princípios e práticas inclusivas para evitar as atitudes discriminatórias que acontecem no meio escolar e social. (UNESCO, 1994).

Mas, nos parágrafos seguintes, a Declaração de Salamanca ao referenciar “Educação para Todos” em uma escola inclusiva, diverge do próprio discurso, pois faz um recorte, destinando o próprio documento às pessoas com necessidades educacionais especiais15 e dificuldades de aprendizagem. É importante lembrar que “[...] o termo ‘necessidades educacionais especiais’ refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem.” (UNESCO, 1994, p. 3-4).

Para Silva (2009, p. 145), a Declaração de Salamanca contribui para incentivar que

[...] todos os alunos em termos das suas potencialidades e capacidades, para o que, currículos, estratégias pedagógicas e recursos a utilizar adequados, organização escolar facilitadora destas medidas e da cooperação entre docentes e comunidade, são condições fundamentais a ter em conta.

A diversidade é a soma dos diversos e não um estado em si. Desta forma, independentemente da classe econômica e social, a pessoa com deficiência poderá sofrer preconceitos e/ou consequências, além da deficiência, por pertencer a este ou àquele grupo social.

Convido à reflexão: uma pessoa com deficiência e de cor negra, sofrerá ou não um duplo preconceito? Como falarmos de educação inclusiva e ao mesmo tempo excluir o sujeito da escola e sociedade? Quais os impactos psicológicos desta ação repudiante para o sujeito? Um indivíduo branco, que anda em uma cadeira de rodas não motorizada, mora em áreas de riscos e não tem veículo próprio é visto de maneira diferente de um indivíduo branco, que mora em área privilegiada, com veículo próprio, adaptado, e dono de uma cadeira de rodas motorizada. Neste exemplo fictício, podemos observar as situações: ambos brancos, com deficiências, porém o que os difere é o ambiente onde moram, as condições sociais e econômicas, tornando-se fatores geradores da exclusão no contexto das diversidades.

Outra situação, também fictícia: um homem negro, trabalhador, morador do centro da cidade e que tem uma boa situação social e financeira. Apesar da situação social e econômica favorável, o que pesa sobre seus ombros é a discriminação da cor da pele, pois, mesmo sentindo-se incluído em alguns momentos de sua vida social e econômica, em outros momentos este mesmo homem negro se sentirá excluído por sua cor/raça.

Agora, se apresentarmos uma mulher branca e outra mulher negra, ambas trabalhadoras, temos as seguintes indagações: as mulheres receberam o mesmo salário que os homens quando exercerem a mesma função? A mulher branca é vista da mesma maneira que a mulher negra? A empresa que disponibilizar uma vaga de emprego contratará a mulher negra ou a mulher branca? E se esta vaga de emprego for concorrida por homens e mulheres, quem será o beneficiado com a oportunidade de emprego? São situações imaginárias, mas questões que nos fazem pensar, refletir e indagar sobre que tipo de inclusão estamos discursando e proporcionando aos sujeitos?

As diferenças se distribuem na população de um modo complexo, pois, além daquelas que podem ser identificadas no plano de cada indivíduo específico, não há como negar que há diferenças grupais devidas a gênero, idade, cultura, étnico-racial e até mesmo condições físico-geográficas do ambiente imediato. (OMOTE, 2006, p. 253).

Novamente, convido a refletir: como pensar em inclusão sem contextualizá-la em relação às diversidades existentes? Como incluir a pessoa com deficiência no ambiente escolar e social e, ao mesmo tempo, excluí-la devido às condições sociais e econômicas?

Porque desvincular educação inclusiva de diversidade? O que se questiona é uma educação para todos com o intuito de promover a educação inclusiva na tentativa de erradicar a exclusão na sociedade como um todo.

3 O SENAC NO BRASIL, EM SANTA CATARINA E NA REGIÃO DA AMUREL

Este Capítulo tem por objetivo apresentar uma breve caracterização socioeconômica da AMUREL – Associação dos Municípios da Região de Laguna, localizada na região sul do Estado de Santa Catarina, que constitui o contexto no qual se situa o SENAC de Tubarão/SC. Posteriormente, será apresentado um histórico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC em nível nacional, estadual e na região da AMUREL16 e o perfil dos alunos dos Cursos Superiores de TGRH e TPG da Faculdade de Tecnologia SENAC Tubarão, no ano de 2013.

3.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICA DA ASSOCIAÇÃO DE MUNICÍPIOS DA