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Declaração de Utilidade Pública

Capítulo II Revisão da literatura

4. As IPSS

4.6.3. Declaração de Utilidade Pública

A declaração de Utilidade Pública, carateriza-se essencialmente pela atribuição de um conjunto de regalias e isenções de natureza fiscal anteriormente referidas, assim como pela obrigatoriedade de alguns deveres para com a administração pública. As Fundações de Solidariedade Social beneficiam do apoio do Estado e das Autarquias Locais a concretizar através de acordos de cooperação, ficando sujeitas à tutela administrativa do Estado. De acordo com o 41.º do LQF estas ficam sujeitas a acompanhamento e fiscalização por parte da entidade competente para o reconhecimento: Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social e da Inspeção das Finanças que podem efetuar inquéritos, sindicâncias, inspeções e auditorias às Fundações de Solidariedade Social.

As Fundações de Solidariedade Social adquirem automaticamente o estatuto de Utilidade Pública com o respetivo registo junto das autoridades competentes, gozando deste estatuto enquanto estiverem regularmente registadas ao abrigo do respetivo regime especial.

Em caso de extinção, os bens das Fundações de Solidariedade Social revertem a favor de outra IPSS ou, nos casos em que tal não seja possível, para um serviço ou estabelecimento oficial com fins análogos.

4.7. O Controlo Interno Vs donativos

Segundo a perspetiva de Ahmed (2004), os controlos de gestão em organizações sem fins lucrativos e organizações com fins lucrativos não seguem caminhos semelhantes, pois os objetivos das organizações sem fins lucrativos são mais diversificados. O investigador refere que os sistemas de Controlo Interno tradicionais são mecanicistas tendo sido criticados por diversos pesquisadores, argumentando que os sistemas tradicionais ignoram sua relação com o contexto em que operam.

Ahmed (2004) aponta como problemas mais comuns enfrentados pelas organizações sem fins lucrativos: a tendência para a vaga dos objetivos organizacionais; dificuldades em monitorizar o desempenho de forma eficaz; a necessidade de equilibrar responsabilidades múltiplas de um leque de partes interessadas, dentro e fora da organização; a evolução das estruturas de gestão; e a necessidade de manter os valores organizacionais ao longo do tempo, demonstrando ações efetivas ao longo do tempo.

Petrovits et al. (2011) referem como estas Instituições não têm como objetivo maximizar o lucro. Os gestores destas Instituições são responsáveis perante os doadores e o Estado que lhes fornecem a fonte de capital. Para as investigadoras o Controlo Interno neste tipo de organizações é uma área relativamente inexplorada, referindo ainda que há muitas questões que deixaram de ser abordadas. De acordo com as investigadoras, qualquer divulgação de fraqueza do Controlo Interno está associada a quedas futuras no que diz respeito ao apoio público.

Relativamente aos doadores (por exemplo organizações ou particulares), as investigadoras supramencionadas referem que se uma organização sem fins lucrativos relatar um problema de Controlo Interno, os doadores podem optar por apoiar uma outra organização, onde, presumivelmente, a capital é usado de forma mais eficiente. Portanto, a divulgação de uma deficiência de Controlo Interno pode resultar em contribuições posteriores inferiores, referindo ainda que pelo facto destas organizações não terem por objetivo o lucro, os doadores não acompanham da mesma forma a organização, assim, alguns doadores podem não ter conhecimento da existência de problemas de Controlo Interno ou não se preocupar. Para as investigadoras a divulgação, ou não de um problema de Controlo Interno poderá ou não estar relacionado com contribuições posteriores. Estas terminam deixando em aberto, a questão de quais são os tipos de doadores que têm em conta as informações relativas ao Controlo Interno para efetuarem doações subsequentes.

Harris et al. (2015) efetuaram um estudo sobre o efeito da qualidade da gestão nas organizações sem fins lucrativos nos donativos. Da mesma forma como Petrovits et al. (2011), as investigadoras referem que existem vários investigadores que defendem que a qualidade

Levantamento e análise do Controlo Interno numa IPSS

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como as organizações sem fins lucrativos gerem as organizações podem não influenciar as decisões dos doadores pelas seguintes razões:

 Citando Fama & Jensen (1983), os doadores muitas vezes não beneficiam diretamente das atividades de uma organização sem fins lucrativos;

 Alguns doadores observam diretamente o desempenho da organização no âmbito da caridade, não estando preocupados como a mesma está a ser gerida;

 Citando Glazer & Konrad (1996), alguns doadores são motivados por outras considerações como um aumento no status social entre os colegas e outros benefícios particulares, referindo ainda que este tipo de doadores têm menos tendência a usar informações sobre a qualidade da gestão, limitando-se a doar;

 E por fim, alguns doadores podem não saber como interpretar e utilizar informações de governança de forma adequada.

Para Harris et al. (2015), a forma como as organizações sem fins lucrativos gerem a organização está associada positivamente com o nível de doações recebidas, deixando, no entanto, em aberto no final do seu estudo se forma como as organizações são dirigidas e controladas melhora, ou não, o desempenho real de uma organização. Apesar de considerarem esta ser uma área difícil de ser estudada, as investigadoras consideram extremamente importante fazer um estudo sobre o quanto é que uma organização está a servir a sua comunidade e, se a forma como as organizações são dirigidas e controladas podem ajudar a organização no cumprimento da sua missão de caridade.

Petrovits et al. (2011), citando Hogan & Wilkins (2008) referem que os custos da realização de auditorias aumentam com a presença de problemas no Controlo Interno. Uma análise do custo-benefício em alguns casos indica existir um benefício global na realização de auditorias periódicas e completas aos Controlos Internos. No entando, como os relatórios de Controlo Interno emitidos por auditores externos por vezes têm um custo proibitivo, estas aconselham as Instituições a procurar apoio na melhoria dos seus Controlos Internos por exemplo às organizações de tecnologia, pois estas muitas vezes doam suporte técnico a Instituições desta tipologia.