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Riqueza decorativa: Essa riqueza foi a implementação de elementos decorativos, itens de função técnica mais apurados e a qualidade de materiais utilizados nas obras Exemplos

disso estão o uso de revestimentos, como mármores e granitos, no uso dos brises, venezianas e persianas, e nos painéis artísticos, esculturas ou efeitos de cor. Essa

característica estava associada à vontade de enriquecer e qualificar a obra de arquitetura. No entanto existem vertentes que sinalizam o uso do concreto bruto como elemento principal. (BRUAND, 2008).

Enfim, essas eram as principais características que permearam a arquitetura brasileira até a década de 1960, que contou com um vasto campo de experimentação e consolidação de um estilo próprio, porém influenciados pelos principais movimentos internacionais.

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3 BELO HORIZONTE DAS MINAS GERAIS

3.1 Contexto de Belo Horizonte

Dentro do contexto brasileiro, Minas Gerais tem um papel importante na inserção do país na produção arquitetônica moderna. Carsalade descreve a história de Belo Horizonte como a história da produção de ícones urbanos e de novos espaços para a sociedade. (CARSALADE apud CASTRIOTA, 1998, p. 15). A cidade inicia-se moderna, porém infiel a si mesma, caracterizada por uma produção continuada, das modernidades em sucessão que vão marcando seu território. (CASTRIOTA, 1998, p. 20). É muito comum em cidades brasileiras a desvalorização da cultura anterior, e por consequência da própria arquitetura que é substituída por novas edificações e conceitos pertencentes a períodos mais recentes. Isso foi percebido por Claude Levi Strauss, que ficou espantado durante uma visita ao país, com a “falta de vestígios” que reconheceu como um elemento de sua significação: “a sua obsolescência é rápida demais, significando o passar dos anos para elas não uma promoção, como na Europa, mas uma decadência.” (STRAUSS in CASTRIOTA, 1998, p. 19).

Retrocedendo um pouco no período histórico, Minas Gerais, após a crise na mineração, deslocou o foco de investimentos econômicos, para a agricultura, pecuária e a indústria. Enquanto empobrecia a usina metalúrgica em Ouro Preto, Sabará, Congonhas do Campo, desenvolvia-se a Zona da Mata e o Triângulo Mineiro, com agricultura e pecuária, e Juiz de Fora, com a indústria. Dentro desse novo cenário econômico, essas regiões tiveram sua malha ferroviária aumentada, e um novo papel na produção de riquezas para o Estado. Com essa nova realidade, a Capital transferiu-se para a cidade de Belo Horizonte, cuja localização foi escolhida por um estudo que havia sido elaborado e pela escolha dos representantes políticos. (SIMÃO, 2008).

Belo Horizonte foi fundada em 12 de dezembro de 1897 no lugar de um antigo arraial, Curral del-Rei, e foi projetada pelo Engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Aarão Reis. Seu traçado geométrico, com ruas em formato de quadrículas e

avenidas no sentido diagonal foi inspirado nos modelos urbanos de Paris e Washington 4. A implementação da cidade foi marcada pela dualidade de uma condição tradicional rural com o sonho de modernidade de um futuro industrial e comercial que alavancaria a sociedade a um status próximo das cidades europeias. A ideia de progresso e de renovação que passou a vigorar com o advento da República, provocou uma série de medidas para legitimar o novo tempo. Um dos principais focos foi a cidade. A transferência da capital para uma nova cidade que poderia ser planejada, objetivava abandonar a herança colonial em um novo modelo de sociedade. (JULIÃO, 2011).

O planejamento da cidade baseou-se portanto em ideais sanitaristas, com liberdade de deslocamento, com amplas avenidas e grandes praças que caracterizariam uma ruptura radical com o modelo das cidades coloniais. (PASSOS, 2009). Conforme Bomeny (2002), a planta era dividida em três setores, o primeiro, urbano, com avenidas largas, lotes e quarteirões bem planejados cercados pela avenida do Contorno; o segundo suburbano, ruas estreitas e quarteirões irregulares; e o terceiro correspondia a pequena lavoura.

Entretanto, segundo Julião (2011) a ruptura com o passado colonial, e a tradição da antiga capital Ouro Preto, não foi imediatamente aceita. Lentamente as elites mineiras passaram a frequentar as largas avenidas, suas praças e bares presentes naquele novo cenário urbano. Alguns agentes foram importantes para essa apropriação do espaço. A imprensa, com a propaganda exaltada a nova cidade e a crítica aos padrões antigos cultuados pela sociedade. Pode ser destacada o processo de patrimonialização de Ouro Preto, em um reconhecimento histórico de sua importância que a insere em seu papel de passado da nação, abrindo portas para o futuro. Ainda pode ser destacada a presença de juventude em contato com a Europa e com os movimentos modernistas que impulsionaram um ambiente de efervescência cultural. A presença de artistas e intelectuais, principalmente literatos na década de 1930, finalmente colocaram Belo Horizonte no mapa dos centros urbanos do Brasil.

O projeto urbano de Aarão Reis para a nova cidade em pouco tempo ultrapassou os seus limites. Os investimentos públicos transformaram a cidade em um eixo social, econômico e cultural. (SIMÃO, 2008).

4 Disponível em https://www.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/turismo/5677-a-

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Segundo Bruand (2008), existia uma concordância entre a rigidez do plano urbanístico e a aparência neoclássica dos grandes edifícios públicos, principalmente naqueles que ficavam em torno da Praça da Liberdade, com seu arranjo compositivo com ênfase na perspectiva geral. Em relação às casas, Bruand (2008), ressalta que o estilo eclético era resumido em fachadas muitas vezes rebuscadas e mal executadas, criando uma certa monotonia no aspecto geral.

Segundo Ribeiro (1999), as construções do final dos anos de 1920, não respeitavam nenhuma diretriz quanto aos aspectos de implantação, locação, orientação solar. Existiam poucos profissionais especializados na elaboração de projetos, o que legava às residências uma uniformidade desoladora.

A arquitetura concebida até os anos de 1930 caracterizava-se por um ecletismo, numa tentativa de arquitetos experimentarem os novos materiais e técnicas, mantendo os valores arquitetônicos do passado. A construção dos edifícios oficiais, eram revestidos de uma aparência “afrancesada”, na tentativa de diferenciar do estilo da monarquia carioca, neoclássica. Apesar das críticas de especialistas, como a citada acima por Bruand (2008), ao estilo em voga, quanto à falta de originalidade e o interesse na imitação de obras europeias, esse estilo foi considerado o articulador para o desenvolvimento da crítica e da pesquisa arquitetônica modernista do século XX. (FABRIS, 1993).

O academicismo classicizante predominou no início do século XX, até a Primeira Guerra Mundial. Fato relacionado à orientação clássica de seus projetistas, e do desejo por imitarem estilos que caracterizassem a grandeza da civilização europeia. Os materiais industriais, ferro e concreto armado ainda não haviam encontrado seu estilo, apesar de já existirem no país desde o final do século XIX. (BRUAND, 2008).

O progresso dos anos de 1930 também está associado a industrialização com base em diretrizes econômicas de âmbito federal, que acarretarem em um crescimento acelerado da cidade de Belo Horizonte. Esse fato motivou o poder público a criar medidas de planejamento urbano, entre elas a elaboração de um plano regulador. Uma comissão técnica consultiva, que contou com Luiz Signorelli, Ângelo Murgel, Fábio Vieira e Lincoln Continentino, foi contratada para essa finalidade (BAHIA, 2005).