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A partir da decadência da cafeicultura na Região na década de 1980 em

virtude de diversos fatores, dentre eles o desgaste dos solos e o envelhecimento dos

cafezais, secas, queda nos preços, verificou-se a emergência da fruticultura como

principal produto da agropecuária regional, ocupando a lacuna deixada pela

cafeicultura. Contudo, cabe destacar o avanço da pecuária, representado pela

expansão das pastagens a partir desta época sobre terras antes ocupadas pela

cafeicultura, já que a viticultura ocupa áreas reduzidas e pode proporcionar elevado

valor de produção59.

59

Cabe destacar que a fruticultura regional vem enfrentando forte crise, e atualmente fica difícil falar em elevado valor de produção para alguns produtos.

A importância da pecuária leiteira é crescente e passou a ser relevante

na reprodução social dos pequenos e médios proprietários rurais, na medida em que

proporciona um fluxo regular de renda, que não é oferecida por nenhum outro produto

agrícola aos pequenos e médios proprietários rurais da Região, tendo em vista a falta

de capitais para investimentos em infra -estrutura, correção de solos, fertilizantes, sementes, máquinas, dentre outros, procedimentos indispensáveis à dedicação a uma

outra atividade agrícola. È sabido que todos estes procedimentos também são

necessários para a produção de leite, no entanto, os produtores de leite conseguem

produzir a partir de sistemas produtivos bastante precários.

Dada a complementaridade de renda proporcionada pela pecuária

leiteira aos pequenos proprietários rurais, Lopes et al (1999) ressalta que:

A pecuária leiteira tem importante papel junto ao setor agrícola brasileiro, tanto sob o ponto de vista econômico, quanto sob o prisma social. Por um lado, sua participação é fundamental na formação de renda de um grande número de pequenos produtores agrícolas, e mesmo na renda nacional; por outro, merece destaque a esfera econômica, onde essa atividade representa cerca de 8% do Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário nacional. Possui ainda, expressiva participação junto ao setor industrial, onde participa simultaneamente como fornecedora de matéria-prima e como demandante de insumos. Além dessas questões, há que se realçar sua contribuição como alimento básico à população infanto-juvenil quanto adulta. (LOPES et al, apud OLIVEIRA, p. 61- 62, 2003).

Justamente por conta da ausência de capitalização, que muitos

produtores de leite vêm encontrando sérios obstáculos para permanecerem no setor, já

que com as mudanças macro -econômicas e tecnológico-normativas apontam para a

necessidade de inversões na aquisição de tanq ue de resfriamento, ordenhadeira

mecânica, melhorias na alimentação do rebanho, de modo a buscar uma maior

produtividade, reduzir custos e sobreviver neste novo cenário que se apresenta

No Oeste Paulista, de modo geral, a partir da decadência das lavouras,

no caso o café, o que se viu foi o avanço e o predomínio da pecuária, sobretudo a de

corte praticada em moldes extensivos. Para os pequenos proprietários rurais, restou-

lhes como alternativa serem pecuaristas também, mas tendo como atividade principal o

leite e não a engorda de bovinos para o corte. Esta atividade, além da renda obtida com a comercialização do leite produzido, também proporciona a eles utilizarem os

“descartes”60 para serem vendidos aos frigoríficos e a açougues. Outra estratégia é a

cria e recria de bovinos, que depois são vendidos aos pecuaristas de corte. Todas estas

possibilidades oferecidas pela atividade acabam fazendo com que a pecuária leiteira

seja extremamente interessante ao pequeno proprietário rural.

Cabe lembrar que estas estratégias adotadas pelos produtores de leite

de se protegerem dos riscos representados pela atividade no Brasil são fatores

responsáveis pelo atraso tecnológico e a baixa produtividade da pecuária leiteira. Como

também é responsável pela não-especialização dos produtores de leite, que para se

protegerem dos riscos da atividade, dedicam-se simultaneamente a produção de outros

produtos. De acordo com as mudanças que vêm ocorrendo no setor, a busca pela

especialização tem sido extremamente relevante para buscar produtividade e

competitividade. Portanto, a ausência de especialização tem sido um dos principais

fatores que têm causado a marginalização dos produtores de leite.

60

Termo utilizado pelos produtores para se referirem aos animais que nascem e que, por motivos genéticos ou outros, se mostram pouco apropriados à atividade leiteira.

Figura 11 – Motivos da dedicação dos proprietários rurais à pecuária leiteira

25%

75%

Outros maior liquidez

Fonte: Trabalho de campo, 2004. Org. Evandro C. Clemente.

De modo a ratificar o que foi exposto anteriormente, basta verificar a

Figura 11, na qual destacam-se as respostas referentes à renda e liquidez

proporcionada pela pecuária leiteira. Neste contexto, o leite vem sendo relevante para a

manutenção da estrutura fundiária regional, juntamente com a viticultura, na medida em

que tem possibilitado renda mensal e viabilizado a reprodução social dos pequenos e

médios proprietários rurais. Assim, a ampla difusão da pecuária leiteira dentre os

pequenos proprietários rurais se deve à renda mensal que a atividade proporciona.

Diferentemente de outros produtos agrícolas, que não oferecem renda mensal, a

pecuária leiteira mesmo com todos os problemas e riscos enfrentados, continua sendo

uma opção para os pequenos proprietários rurais.

Conforme se observa pela Figura 09, 32,90% dos produtores afirmaram

que os filhos não pretendem continuar trabalhando com a pecuária leiteira, enquanto

que 36,80% afi rmaram que seus filhos pretendem continuar, mesmo alegando algumas

dificuldades. Porém, 30,30% dos produtores não têm certeza a respeito da continuidade

não pretendem continuar com a pecuária leiteira, com os que afirmaram que a

continuidade ainda é incerta, chega-se a 63,20% dos produtores pesquisados, o que é

uma parcela significativa dos produtores, que não sabem se continuam produzindo

leite, dada as incertezas estruturais que a atividade vem apresentando, além dos baixos

preços pagos aos produtores.