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A DEFESA DOS INCENTIVOS, SUBSÍDIOS E CONTROLE DE PREÇOS E TARIFAS

A DEFESA DAS ESTATAIS

A DEFESA DOS INCENTIVOS, SUBSÍDIOS E CONTROLE DE PREÇOS E TARIFAS

Em sua fase nacional-desenvolvimentista a Folha de São Paulo assumiu também a defesa de uma política de incentivos e subsídios para a indústria nacional e o controle de preços e tarifas pelo Estado. No editorial Inflação e Subsídios, ao comentar um documento da FGV e do Instituto Brasileiro de Economia sobre o diagnóstico e a estratégia de combate à inflação, opinava de que tal combate não se daria com medidas de curto prazo. Não se eliminaria o déficit público com cortes nas despesas públicas de bens e serviços, mas pelo combate à especulação financeira, pela mudanças da política de endividamento externo e pela ampliação do giro da dívida pública. O déficit seria culpa de uma política monetarista desavisada que procurava absorver a emissão de cruzeiros decorrente do endividamento externo das empresas e pelo respaldo do processo de especulação financeira e não por investimentos ou consumo do Estado.

Também seria errado suspender bruscamente subsídios, porque nem todos eram irracionais e inflacionários e o impacto de curto prazo sobre os preços fortaleceria a crença do seu descontrole para a população. Considerava pertinente, entretanto, a necessidade de revisão dos subsídios para uma supressão gradual e seletiva daqueles que apenas transferiam rendas e fomentavam a especulação e a inflação (29/09/79,p.2).

Na questão do controle de preços, o editorial defendia uma política fiscalizadora dos abusos de uma espiral inflacionária provocada por espectativas de inflação futura, pela carência de alimentos e pela especulação financeira. Caracterizava os regulamentos e critérios do CIP rigorosos mas necessários, para a fiscalização de aproximadamente 30% do PIB, que correspondia aos setores oligopolizados da

economia brasileira. Tal política beneficiaria os seus principais críticos: os empresários (que teriam os custos de sua produção diminuídos) e as produtoras ou comercializadoras de bens de consumo, que se favoreceriam da limitação do custo de vida e pela redução das percentagens de reajustes salariais (Preços na Berlinda, 20/10/79,p.2).

Neste mesmo contexto, em Discutir o controle, propunha uma maior abrangência da intervenção estatal no mercado para controle dos preços pela limitação de exportações, aumento de importações e de incentivos à produção de produtos. Tal política justificava-se pela existência de enormes conglomerados econômicos privados cujas ações tinham repercussões sociais significativas e que precisavam ser controlados em nome da sociedade. O problema estaria, entretanto, na ausência de uma legislação específica que fixasse princípios que garantissem a predominância do social sobre os interesses das grandes empresas, ao mesmo tempo que desse garantias de defesa para as empresas que sofressem diferentes tipos de intervenção. Pois até aquele momento,

A ação governamental, nesses casos, tende a basear-se em expedientes no mais das vezes casuísticos e arbitrários. Pior ainda, são hoje medidas que provêm de um governo autoritário, sem legitimidade eleitoral e que não se encontra submetido, de fato, a nenhuma forma de controle democrático (26/01/80,p.2).

Em Intervenção na economia, exemplifica esses tipos de intervenção arbitrária. A siderúrgica Santo Amaro do Grupo Votorantim, foi punida pelo governo federal com o corte de crédito em estabelecimentos oficiais por pratica de preços acima do estabelecido pela tabela do CIP. A justificativa de Antônio Ermírio de Moraes foi de que seus preços estavam fora de realidade do mercado, visto que suas fábricas de aços não-planos estavam com os preços mais baixos que os de aço plano das siderúrgicas estatais. Na ocasião, a Folha denominou a atitude do CIP como inibidora da iniciativa

privada e sem preocupação com o acompanhamento da evolução dos preços e das condições de funcionamento e sobrevivência da empresa (11/02/80,p.2).

Este caso, entretanto, não significou a adesão do jornal às teses anti- intervencionistas. No mesmo editorial, utilizava a falência do consórcio Almeida Prado14 como prova de que a fiscalização estatal estava falha e não abusiva e desnecessária. Como solução de problemas como aqueles, propunha a limitação do poder dos técnicos do CIP, pela criação de mecanismos públicos de controle do orgão, de forma a salvaguardar os interesses da população (no combate aos aumentos dos preços) e dos empresários ( na defesa de excessos cometidos pelo Conselho).

Dois dias depois em A Carne é fraca, tomando como gancho o boicote da carne bovina15 questionava a efetividade de ações populares como esta, quando o governo controlava salários - que não seriam os maiores responsáveis pelo aumento de preços - e deixava os juros bancários livres, para fazer a mesma proposição:

Enquanto a sociedade não encontrar livremente os meios para estabelecer os mecanismos e os limites das relações entre o Estado e a economia privada, ditados pelo interesse público democraticamente expresso, a intervenção estatal continuará balançando entre dois pesos e duas medidas. (13/02/80,p.2)

Ou seja, o problema não seria a intervenção estatal em si, mas a falta de controle dos organismos de fiscalização pela sociedade a favor de um pretenso "interesse público" apresentado como algo genérico e abstrato.

A discussão sobre controle de preços ficou esquecida pelo jornal até o dia 05/07/83, onde no editorial O CIP e a Indústria, fez críticas mais pesadas ao controle de

14O consórcio chegou a ter 149 grupos além do máximo permitido - autorizados pelo Banco Central. Com a sua falência, o Banco

Central arcou com o prejuízo e financiou os bens com juros subsidiados aos consorciados lesados.

preços, acusando-o de extremamente rígido, sem compreensão da realidade do setor industrial e realizado por burocratas míopes ou incompetentes na criação de mecanismos alternativos. A imposição de mesmas regras para diferentes ramos da atividade industrial, que utilizavam diferentes componentes e custos, evidenciava esta limitação da entidade.

Até aqui, entretanto, a Folha não condenava de forma explícita o controle de preços, mas já não se percebia uma justificação de sua existência como ocorria em outros editoriais.

Já em As novas regras do CIP, comentando a nova postura de fiscalização do órgão, que substituia a política de reajustes automáticos pelo de reajustes justificados para conter a espiral inflacionária via desindexação parcial, criticou o governo por não aplicar sobre si a mesma orientação, já que os preços de tarifas das estatais estavam sendo reajustadas além da ORTN (o que era proibida à iniciativa privada). Tal fato tornava questionável a autoridade e a respeitabilidade do Estado em impor uma desindexação que ele mesmo não praticava. Entretanto o jornal ainda justificava a necessidade do monitoramento de preços numa economia oligopolizada e sem concorrência estrangeira como a brasileira (24/02/84,p.2).

Seu discurso tornou-se menos ácido em Retorno do CIP, quando após um período de cinco meses de liberdade de preços, o governo retomou o controle sobre a indústria automobilística que havia majorado seus preços acima da inflação. Embora o jornal explicasse os motivos dos aumentos como descompasso entre custos de produção e controle prolongado dos preços, pelos diferentes impactos que a inflação teria sobre produtos distintos, justificava a adoção da medida com a tese da oligopolização da economia e pelo caráter psicológico da inflação nacional. O tabelamento não poderia, entretanto, tornar-se uma política antiinflacionária

permanente, mas um ganho de tempo até a implementação de uma política indutora de uma maior competitividade industrial, que seria a solução para uma inflação por escassez de consumo como a brasileira (11/01/85,p.2).

Este editorial marcará a última defesa da Folha no controle de preços pelo governo federal. Em editorial de 15/06/85, Controle de Preços, ela já afirmava que a fiscalização de preços era prejudicial à economia pois somente o empresário teria condições de saber a defasagem entre preço e custos de produção do seu setor e da indústria, se estava operando com prejuízo ou não. A inflação seria causada por déficits

públicos e só através de cortes nas despesas do governo domar-se-ia os preços.

O ano de 1985, será o ano dessa virada editorial da FSP no tocante à função estatal no desenvolvimento econômico do país. Vamos no próximo capítulo analisar as características destas novas idéias, buscando compreendê-las juntamente com as mudanças de ordem político-institucional que o país estava passando com o fim do regime militar em 1985, com o Congresso Constituinte de 1988 e com a eleição presidencial de 1989.

IV.1