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3. BASE CONCEPTUAL

3.2. Deficiência Motora

Existe um número cada vez mais elevado de pessoas com deficiência em todo o mundo e consequentemente também em Portugal. Segundo informação dos censos 2001 sobre a população com deficiência, o número de pessoas com deficiência recenseadas em Portugal era de 634 408, o que corresponde a 6,1% da população residente (INE, 2001).

Figura 3.4 - Grupo de pessoas que apresentam mobilidade condicionada Fonte: (Gomes & Santana , s.d.)

27 Apesar de ter havido censos em 2011, os mesmos, segundo a Associação Portuguesa de Deficientes (APD) não foram conclusivos e não permitiram apurar com clareza, qual o universo das pessoas com deficiência em Portugal e qual o seu enquadramento, pelas omissões graves, que de acordo com a associação, apresentavam. Desta forma, continua a utilizar-se como referência os censos de 2001 (APD, 2014).

Pode-se englobar na área da deficiência, a deficiência intelectual, a multideficiência e a deficiência física, da qual fazem parte: a motora, a sensorial e a orgânica.

A deficiência motora pode ser caracterizada por uma perda de capacidades que afeta o aparelho locomotor, que compromete a mobilidade do indivíduo e que pode atingir, não somente a estrutura óssea, mas também a estrutura muscular, articular e a nervosa (Rodrigues, 2002). Em 2009, a OMS defende que esta perda de capacidades pode ser de carácter congénito ou adquirido e que pode ter origem em lesões neurológicas ou neuromusculares, ortopédicas ou devido a malformações. De acordo com as partes do corpo afetadas, a OMS classifica a deficiência motora em diferentes tipos: monoplegia (paralisia de apenas um membro); hemiplegia (paralisia de metade do corpo); paraplegia (paralisia dos membros inferiores); tetraplegia (paralisia dos membros superiores, inferiores e tronco) e amputação (falta de um ou mais membros do corpo) (OMS, 2011). Em 2005, o Ministério da Educação português refere que a deficiência motora é aquela que se demonstra em crianças e jovens que apresentam limitações ao nível das funções corporais. Estas limitações podem impedir a atividade e a participação escolar destas crianças e jovens, devido a dificuldades, por vezes acentuadas em mudar de posição, proceder à transferência do corpo, manter a posição corporal, levantar ou mover objetos, realizar ações coordenadas de motricidade fina (movimentos de precisão), andar ou deslocar-se. Se as limitações ou restrições são significativas ao nível da atividade e participação, então estes alunos são considerados com NEE e as mesmas podem ser facilitadas ou dificultadas, em função dos fatores ambientais em que se inserem (ambiente físico, social e atitudinal).

Apesar da deficiência motora implicar alterações no aparelho locomotor, estas não devem ser impeditivas do desenvolvimento individual de cada criança ou jovem. Este desenvolvimento pressupõe uma educação adaptada às suas necessidades, com estratégias específicas e orientadas, e compete à escola fazer um esforço adicional e continuado, para que qualquer criança, independentemente da sua limitação, se sinta enquadrada e

28 confortável. Por este motivo, os deficientes motores fazem parte do grupo alvo da Educação Especial, com a nomenclatura de deficiência e incapacidade neuromusculo- esquelética. As causas da deficiência motora são diversas e podem ocorrer durante a gestação, no nascimento, na infância ou ao longo da vida. Pode resultar de traumatismos, malformações congénitas, lesões no sistema nervoso central, periférico, amputações, etc. (Sousa, 2009).

Segundo Correia (1999), as deficiências motoras podem classificar-se, de uma forma geral, em: lesões cerebrais (ex. paralisia cerebral e espinha bífida), lesões medulares e miopatias ou distrofias musculares (ex. distrofia muscular de Duchenne).

A paralisia cerebral é um distúrbio postural e dos movimentos, causado por danos permanentes e não-progressivos numa parte do cérebro, localizado no sistema nervoso central ou periférico, durante os primeiros estágios de desenvolvimento, ainda no período embrionário. Em crianças prematuras, as lesões normalmente ocorrem no período pós- natal, muitas vezes em consequência de problemas do decorrer do trabalho de parto. Dependendo do local onde ocorre, pode afetar diferentes partes do corpo associadas a dificuldades de movimento. É uma desordem permanente que, embora definitiva, não é imutável, ou seja, podem ocorrer algumas melhorias associadas a um tratamento adequado (Lundy-Ekman, 2008). A paralisia cerebral não é uma doença evolutiva, como por exemplo um cancro, no entanto, as consequências da lesão variam ao longo do desenvolvimento da criança, pelo que é desejável um tratamento e uma educação adequada, o mais precocemente possível. Os efeitos funcionais da doença podem ser divididos em: espasticidade (aumento do tónus muscular, ou seja, contrações musculares excessivas), atetose (dificuldade no controle de movimentos voluntários), ataxia (dificuldade em medir a força, a distância e a direção dos movimentos) e rigidez (impedimento total dos movimentos) (Basil, 1995).

A espinha bífida, outras das lesões cerebrais, é caracterizada por uma malformação congénita da coluna vertebral, devido a um defeito do tubo neural, quando este não encerra adequadamente nos primeiros 28 dias após a conceção do embrião. As estruturas que protegem a medula (meninges) e a própria medula não se formam completamente. Existem vários graus desta lesão que vão desde o mais ligeiro (espinha bífida oculta) até ao mielomeningocelo, que corresponde à medula não protegida, tendo como principais consequências: ausência de reflexos, descontrolo dos esfíncteres e perda de sensibilidade em toda a região abaixo da lesão. Os sintomas decorrentes da espinha bífida não são

29 apenas físicos, estes alunos poderão apresentar também problemas de aprendizagem, como dificuldades na atenção, na leitura e nos conceitos matemáticos.

Por sua vez, as deficiências motoras que resultam de lesões medulares, são causadas por um traumatismo da coluna, o qual danifica o sistema nervoso periférico. Ocorrem na sua grande maioria, devido a algum acidente e a gravidade da lesão é determinada pela seção da coluna que fica afetada. Se a lesão ocorrer na seção superior da medula espinal, todos os membros, superiores e inferiores, ficam afetados (tetraplegia ou quadraplegia). Se a lesão for abaixo da linha da cintura, afeta somente a parte inferior do corpo (paraplegia). Por último, das miopatias ou distrofias musculares, a mais comum na infância, mas também a mais grave, é a Distrofia Muscular de Duchenne (DMD). É uma doença hereditária, incurável e que afeta todos os tecidos musculares do corpo, incluindo o tecido cardíaco. Caracteriza-se pela destruição e degeneração das fibras musculares, que vão sendo progressivamente substituídas por tecido fibroso e adiposo (gordura). A doença no entanto, não afeta as capacidades intelectuais e mentais das crianças. A DMD só atinge rapazes pois é uma doença de transmissão recessiva localizada no cromossoma X, pelo que as raparigas não apresentam a doença, no entanto podem ser portadoras e suas condutoras. As crianças não vivem muito tempo, normalmente nem chegam à idade adulta, no entanto frequentam a escola, pois a sua componente cognitiva não é afetada. A deficiência motora, pelo que foi referido anteriormente, em muitos casos, não tem qualquer implicação no nível intelectual dos alunos que a apresentam e, como tal, o conhecimento aprofundado das causas da deficiência motora deve ser útil para a adoção de atitudes mais preventivas. Estas atitudes podem passar por duas dimensões: a médica e a educacional. A nível médico, compete à comunidade médica o aconselhamento, a melhoria das condições e o controlo dos cuidados pré-natais, diminuindo o número de crianças com lesões. A nível educacional, a prevenção consiste na intervenção precoce e na promoção de recursos e meios adicionais, para apoiar estas crianças e jovens.

Sempre que se perspetivar uma intervenção a nível educacional, esta deve ser o mais normalizada possível, valorizando as capacidades de cada aluno com problemas motores e não permitindo a sua imobilidade, ou seja, devem ser criados espaços e meios que permitam a um aluno com deficiência motora, explorar e atuar sobre o ambiente que o evolve, contribuindo desta forma, para o seu desenvolvimento pessoal e social (Sousa, 2009).

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