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Deficiência: um tema de interesse Geral

No documento Edição Completa (páginas 176-178)

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2. Deficiência: um tema de interesse Geral

Feitas as considerações iniciais, pretende-se abordar aspectos que devem compor a imperiosa mudança de paradigma das escolas regulares, que é o olhar para o outro e a so- lidariedade. E tudo isso se torna relevantíssimo quando se trata de educação para pessoas com deficiência. Até porque, não podem as escolas fugir do tema, já que no Brasil, segun- do o Censo do IBGE de 2010, 23,9 % da população apresenta alguma deficiência (ou seja, quase 45 milhões de pessoas)7. Além desse expressivo número, não se pode olvidar

que, como já fora apresentado nas notas introdutórias, a educação inclusiva é boa para todos os alunos (com ou sem deficiência) e para toda a sociedade.

7 IBGE. Censo Demográfico 2010: características gerais da população, religião e pessoas com deficiência.

IBGE, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/cen- so2010/caracteristicas_religiao_deficiencia/default_caracteristicas_religiao_deficiencia.shtm>. Acesso em: 01 mai. 2015.

O tema deficiência, as questões a ele pertinentes, os direitos, garantias e a luta por seu reconhecimento e efetividade, parecem restritos ao âmbito das famílias e das (poucas) pessoas que a ele se dedicam. No entanto, a deficiência pode ser impactante para muitas pessoas, já que ela faz ou pode fazer parte da vida de muitas delas. O “Relatório Mun- dial Sobre a Deficiência-2011”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) esclarece:

A deficiência faz parte da condição humana. Quase todas as pessoas terão uma deficiência temporária ou permanente em algum momento de suas vidas, e aqueles que sobreviverem ao envelhecimento enfrentarão dificul- dades cada vez maiores com a funcionalidade de seus corpos. A maioria das grandes famílias possui um familiar deficiente, e muitas pessoas não deficientes assumem a responsabilidade de prover suporte e cuidar de parentes e amigos com deficiências.8

Então, importante estabelecer que o conceito de deficiência ora adotado é aquele da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Convenção da ONU)9,

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas. (artigo 1º, segunda parte).

Vale ressaltar, também, a importância da utilização de termos e da nomenclatura adequada a respeito das pessoas com deficiência, já que, com o passar do tempo, várias expressões foram usadas e hoje se tem como a mais indicada aquela adotada pela já citada Convenção da ONU (“pessoa com deficiência”). A mesma convenção reconhece que “a deficiência é um conceito em evolução” (preâmbulo, letra “e”). Apesar da Constituição pátria ainda utilizar formalmente a expressão “pessoa portadora de deficiência”, a expres- são “pessoa com deficiência” também foi abraçada pelo ordenamento jurídico brasileiro, em função do status de emenda constitucional da aludida Convenção da ONU. A legis- lação pátria em geral, da mesma forma que a Constituição, ainda faz uso de expressões como “deficiente”, “portador de deficiência” ou “portador de necessidades especiais”, 8 ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). BANCO MUNDIAL. Relatório mundial sobre

a deficiência 2011. Lexicus Serviços Linguísticos (trad.). São Paulo, 2011, p. 3. Disponível em: <http://

whqlibdoc.who.int/publications/2011/9788564047020_por.pdf>. Acesso em: 7. maio. 2015.

9 BRASIL. Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007 (Convenção da ONU). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2007-2010/2009/decreto/d6949.htm>. Acesso em: 04 maio. 2015.

necessitando de atualização. De notar que a preocupação com o uso das expressões corre- tas se justifica, já que grupos que sofrem discriminação almejam, em termos políticos, a libertação de estigmas históricos, como afirma Fonseca10. Costumeiramente são adotados

eufemismos e expressões que trazem o peso da exclusão social e da inferiorização para qualificar as pessoas com deficiência11. Como bem ilustra Roberta Cruz da Silva

(...) partindo do que as necessidades e valores sociais consideram ade- quado ou inadequado, em cada momento da história, tem-se uma ideia do que é concebido como deficiência. A expressão passou por um longo período de ressignificação, a partir do contexto histórico cultural, ado- tando-se expressões como invalidez, incapacidade, ou deficiência.12

Com efeito, “a deficiência é inerente à pessoa que a possui. Não se carrega, não se porta (...). Tampouco deficiência traz alguma sinonímia com doença e não é expressão antônima de eficiência (que tem o seu contrário em ineficiência).”13 A deficiência é re-

sultante “da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pessoas”. (Convenção da ONU, preâmbulo, letra “e”). Por isso, importante que a sociedade em geral, e o próprio Estado estejam pre- parados a exercer suas atividades e conviver com as pessoas com deficiência, sem discri- minação ou preconceito, proporcionando a necessária acessibilidade e inclusão em todos os ambientes.

Ademais, é expressivo o número de pessoas com deficiência no mundo e no Brasil especificamente, o que dá maior importância e repercussão ao tema, inclusive da educa- ção inclusiva, objeto deste estudo. No “Relatório Mundial Sobre a Deficiência - 2011”,14

encontra-se a estimativa de que entre 93 milhões e 150 milhões de crianças de 0 a 14 anos possuem deficiência (2011, p. 213; 236). E no Brasil, segundo o Censo 2010 “em rela- ção à proporção de pessoas com pelo menos uma das deficiências investigadas segundo os grupos de idade, constatou-se que 7,5% das crianças de 0 a 14 anos de idade apresentaram pelo menos um tipo de deficiência.”. Desse percentual de crianças, 0,9% tem deficiência

10 Idem, p. 22.

11 FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. O Novo Conceito Constitucional de Pessoa com Deficiência: um ato de coragem. In: FERRAZ, Carolina Valença et al. (coord.). Manual dos direitos da pessoa com

deficiência. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 22.

No documento Edição Completa (páginas 176-178)