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Capítulo 2 – Enquadramento Teórico e Revisão da Literatura

2.3 A Insegurança Laboral (“job insecurity”)

2.3.1 Definição

O aumento da preocupação pela comunidade científica europeia e americana com o estudo da problemática da insegurança laboral, a que a literatura internacional designa de “job insecurity”, deveu-se sobretudo às mudanças ocorridas no mercado de trabalho, sendo atualmente um dos assuntos mais estudados (Sverke, Hellgren, & Näswall, 2002).

Segundo Sverke, Hellgren e Näswall (2002), na década de 1960-1970, a insegurança laboral era considerada como um motivador (segurança laboral), ao passo que, a partir dos anos 1980, ela passou a ser vista como um stressor, originando diversas consequências negativas quer para os trabalhadores, quer para as organizações.

Observa-se, assim, uma clara evolução da definição de insegurança laboral, existindo várias definições por inúmeros autores, das quais se exemplificam algumas das mais importantes no Quadro 3 seguinte.

Quadro 3. Definições de Insegurança Laboral e respetiva referência bibliográfica.

Definição Referência (autores)

«Perceção de impotência em manter uma continuidade desejável perante uma situação ameaçadora de perda de emprego»

Greenhalgh e Rosenblatt (1984, p. 438)

«Expectativas em relação à continuidade da situação de emprego»

Davy, Kinicki e Scheck (1997, p. 323)

«Antecipação subjetiva de um acontecimento involuntário relacionado com a perda de emprego»

Sverke, Hellgren e Näswall (2002, p. 243)

«Perceção de ameaça de perda de emprego e preocupações associadas a esta ameaça»

De Witte (1999, p. 156)

Preocupação genérica acerca da existência continuada do trabalho no futuro, mantendo as suas características atuais

Hartley, Jacobson, Klandermans e van Vuuren (1991, citados por De Witte, 2005)

Fonte: Elaboração própria.

No entanto, a definição de insegurança laboral pode verificar-se de um ponto de vista mais objetivo ou mais subjetivo.

Para autores como Sverke, Hellgren e Näswall (2002), a insegurança laboral é um fenómeno objetivo que ocorre independentemente das experiências dos sujeitos e da interpretação da situação, por exemplo, mediante um processo de downsizing, de uma mudança estrutural na organização ou de recessão económica, entre outros fatores. Já a insegurança laboral subjetiva, tem a ver com as experiências e perceções negativas que a insegurança laboral pode ter sobre o indivíduo.

Na verdade, a maior parte das definições de insegurança laboral parecem assentar numa base subjetiva (De Witte, 1999; Van Vuuren, 1990, citado por Sverke et al., 2002), dado que é a experiência do indivíduo que implica a sua visão e perceções sobre a realidade objetiva e como que seleciona a forma pela qual as perceções formam esta realidade subjetiva. Nesta medida, dois trabalhadores em exercício no mesmo posto de trabalho e com as mesmas condições contratuais, podem experienciar diferentes níveis de insegurança laboral, pois, enquanto indivíduos, podem ter perceções e fazer interpretações de modo diverso da realidade que vivenciam.

Também não se pode deixar de considerar que, associada à definição de insegurança laboral, está ainda a característica da involuntariedade (Greenhalgh, & Rosenblatt, 1984), visto que grande parte dos trabalhos realizados sobre este tema debruçam-se sobre os trabalhadores que não escolheram deliberadamente ter um emprego incerto, por ser mais adequado às suas necessidades atuais.

Há ainda quem defenda que os trabalhadores inseguros experienciam uma discrepância entre o nível de segurança que gostariam de ter e o nível percecionado de segurança que o empregador oferece (Hartley, Jacobson, Klandermans, & van Vuuren, 1991, citados por Sverke et al., 2002 e De Witte, 2005). A este propósito e, para além desta discrepância, é também mencionado por todos estes autores o sentimento de impotência percecionado pelos trabalhadores.

Por outro lado, as várias definições de insegurança laboral dos diversos especialistas referidos no Quadro 3, procuram sobretudo distinguir o conceito de “insegurança laboral” do conceito de “perda de emprego”. E essa distinção é principalmente caracterizada por uma diferença na natureza da experiência em si (Sverke, Hellgren, & Näswall, 2002).

Quer-se com isto dizer que, a perda de emprego é uma situação imediata. Já a insegurança laboral, diferentemente, envolve uma experiência contínua e diária, bem como uma prolongada incerteza em relação ao futuro, sendo por essa razão uma potencial fonte de ansiedade (Sverke, Hellgren, & Näswall, 2002).

A propósito do conceito de ansiedade, ainda que muito sinteticamente, Pereira (2004) refere que a “maioria dos autores deriva a ansiedade do medo, isto é, antecipação da própria destruição, lesão ou punição mais ou menos iminente” (p. 248), o que poderia levar determinada pessoa a retrair-se de executar inúmeras tarefas, não conseguindo compreender nem consciencializar as razões por que o faz. Contudo, tal posição não é unânime, pois, com os avanços das neurociências, sabe-se que a ansiedade “depende dos neuromediadores sinápticos”, sendo em grande parte uma disposição hereditária.

Voltando à terminologia adotada, Borg (1992, citado por De Witte, 2005) faz uma distinção entre insegurança laboral cognitiva (probabilidade de perder o emprego) e insegurança laboral afetiva (medo de perder o emprego).

E por fim, Sverke e Hellgren (2002) fazem ainda uma distinção entre insegurança laboral qualitativa e insegurança laboral quantitativa.

Na ótica de Sverke, Hellgren e Näswall (2002), a insegurança laboral qualitativa significa a perceção de potenciais perdas na qualidade do trabalho, como por exemplo, a deterioração das condições de trabalho, diminuição do salário, inexistência de oportunidades de carreira ou maior carga de trabalho.

A insegurança laboral quantitativa relaciona-se com o sentimento da continuidade (ou a perda) do trabalho em si (Sverke, Hellgren, & Näswall, 2002).

Não obstante o abrangente elenco de definições de insegurança laboral, ao longo deste estudo debruçar-nos-emos numa conceção mais ampla do conceito, baseado no facto de haver uma preocupação genérica acerca da existência continuada do trabalho no futuro, sendo essencialmente uma perceção subjetiva, o que significa que os trabalhadores não sabem se irão manter os seus postos de trabalho ou se serão deles dispensados (De Witte, 1999).

Assim, insegurança laboral fica definida nesta dissertação como sendo aquela que observa um caráter subjetivo e quantitativo com base nas perceções subjetivas dos indivíduos a estudar, tendo em conta a visão, experiências ou pontos de vista de cada um, traduzindo-se na incerteza diária e contínua quanto ao seu futuro no que respeita ao medo de perder o seu trabalho.

No documento TelmaReis Dissertação ISLA MGRH 2015 (páginas 58-61)