6 METODOLOGIA
6.3 Métodos de análise
6.3.1.1 Definição das dimensões e indicadores
De acordo com a metodologia desenvolvida por Alkire e Santos (2010), o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) revela uma combinação de privações que afetam uma família ao mesmo tempo, e sua mensuração requer a definição das variáveis e indicadores de pobreza que se deseja avaliar. Os indicadores definidos para compor o Índice de Pobreza Multidimensional encontram-se resumidos no Quadro 3.
Os indicadores foram selecionados considerando-se três critérios principais: confiabilidade das informações, disponibilidade de dados para os municípios pertencentes ao semiárido e consistência com a fundamentação teórica encontrada em diversos trabalhos de construção de Índice de Pobreza Multidimensional.
Portanto, levando-se em consideração esses critérios, o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) é resultado da agregação de 11 indicadores (Quadro 3).
Definição dos indicadores Obtenção dos indicadores Cálculo do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM)
Quadro 3– Matriz dos indicadores de pobreza utilizados na pesquisa
Indicador Descrição Justificativa Empírica funcional Relação Fundamentação teórica Fonte Ano
Percentual dos ocupados com rendimento de até 1 salário mínimo -18 anos ou mais
Razão entre o número de pessoas de 18 anos ou mais
de idade ocupadas e com rendimento mensal de todos
os trabalhos inferior a um salário mínimo de julho de
2010 e o número total de pessoas ocupadas nessa faixa
etária multiplicado por 100.
A renda é um importante meio de acesso a bens e serviços necessários ao
bem-estar e à sobrevivência, como alimentação, saúde, condições de moradia, portanto auferir uma renda igual ou inferior a um salário mínimo
contribui para um padrão de vida de privação das capacidades e oportunidades que expõe as pessoas à
vulnerabilidade e à pobreza.
+
Barros; Carvalho, Franco (2003; 2006); Barros et al. (2011);
Foster; Greer; Thorbecke (1984); Yohe; Tol (2002); Cutter et al. (2003); Fothergill;
Peek (2004); Vincent (2004); Brooks et al. (2005); Rygel et
al. (2005). PNUD 2010 Percentual da população ocupada no setor agropecuário - 18 anos ou mais
Razão entre o número de pessoas de 18 anos ou mais
de idade ocupadas no setor agropecuário e o número total de pessoas ocupadas
nessa faixa etária.
Elevado nível de emprego na agricultura demonstra maior número de pessoas dependentes das condições climáticas, especialmente das chuvas,
que no semiárido são muito irregulares. Valores elevados deste
indicador podem ser interpretados como ausência de atividades alternativas e baixa diversificação da
economia.
+
Cutter et al.(2003); Adger et al. (2004); O’Brien et al. (2004); Andersen et al. (2014); Wiréhn
et al. (2015).
IBGE 2006
Quadro 3– Matriz dos indicadores de pobreza utilizados na pesquisa (Continuação)
Indicador Descrição Justificativa Empírica funcional Relação Fundamentação teórica Fonte Ano
Proporção dos ocupados sem ensino médio completo - 18 anos ou mais
Razão entre a população de 18 anos ou mais de idade que não concluiu o ensino médio,
em quaisquer de suas modalidades (regular seriado,
não seriado, EJA ou supletivo) e o total de pessoas nesta faixa etária multiplicado por 100. Foram
consideradas como tendo concluído o ensino médio as
pessoas frequentando a 3ª série desse nível.
A educação capacita as pessoas para o mercado de trabalho. Um baixo nível de
escolaridade limita as oportunidades de emprego e as competências pessoais, inclusive para o exercício da cidadania e
participação na vida social e política. Pessoas com nível de escolaridade inferior ao ensino médio, geralmente trabalham em atividades braçais e pouco
valorizadas em termos de salário.
+
Alves (2009); Barros; Carvalho; Franco (2006); Carapiço (2012); Santos e Kerstenetzy (2010); Marin; Ottonelli (2008); Lacerda (2011). PNUD 2010 Taxa de analfabetismo (pessoas com 15 anos ou mais)Razão entre a população de 15 anos ou mais de idade que não sabe ler nem escrever um bilhete simples e o total de
pessoas nesta faixa etária multiplicado por 100 (%).
Maiores níveis de instrução favorecem o acesso às informações e aumentam a
capacidade de assimilar e criar estratégias para construir uma carreira
mais promissora. Pessoas com baixa escolaridade estão mais propensas à condição de pobreza e, geralmente, estão
mais propensas a ter menor expressão junto aos tomadores de decisão. Uma
vez que a educação repercute em diversos outros fatores como acesso ao
mercado de trabalho, participação na vida política e social, exercício dos direitos civis e de cidadania. Limita as oportunidades de escolhas, privação das
capacidades.
+
Haan et al. (2001); Moss et al.(2001); Cutter et al.
(2003); Adger et al (2004); O’Brien et al. (2004); Brooks et al. (2005); Briguglio et al. (2009); Gbetibouo et al. (2010); Bates et al. (2014); Angeon; Bates (2015); Comim (2008); Diniz e Diniz (2009); Lacerda (2011); Barros; Carvalho e Franco (2003; 2006); Araújo (2009). PNUD 2010
Quadro 3– Matriz dos indicadores de pobreza utilizados na pesquisa (Continuação)
Indicador Descrição Justificativa Empírica funcional Relação Fundamentação teórica Fonte Ano Taxa de Mortalidade Infantil - crianças até 5 anos de idade Probabilidade de morrer entre o nascimento e a idade
exata de 5 anos, por 1.000 crianças nascidas vivas (%).
Elevadas taxas de mortalidade costumam ocorrer em regiões pobres
onde há desnutrição infantil, condições de vida desfavoráveis e maior exposição a doenças, portanto,
vulneráveis à pobreza.
+
Ramachandran e Eastman (1997); Alkire e Santos (2010); Diniz e Diniz (2009); Comim (2008). PNUD 2010 Renda per capitaRazão entre o somatório da renda de todos os indivíduos residentes em
domicílios particulares permanentes e o número
total desses indivíduos. (Valores em reais de
01/agosto de 2010).
As pessoas pobres têm dificuldade de acesso à educação, infraestrutura
básica, tecnologia e melhores condições de moradia. Essas privações as tornam mais expostas e
lhes conferem baixa capacidade física para trabalhar e lutar por
melhor qualidade de vida.
-
Yohe e Tol (2002); Cutter et al. (2003); Fothergill e Peek (2004); Vincent (2004); Brooks et al. (2005); Rygel et al., (2005); Brouwer et al. (2006); Gbetibouo et al. (2010); Ward e Shively (2012); Andersen e Cardona (2013); Andersen et al. (2014). IBGE 2010 Proporção de pobres
Proporção dos indivíduos com renda domiciliar per capita igual ou inferior a R$ 140,00 mensais, em reais de
agosto de 2010 (%).
+
IBGE 2010Quadro 3– Matriz dos indicadores de pobreza utilizados na pesquisa (Continuação)
Indicador Descrição Justificativa Empírica funcional Relação Fundamentação teórica Fonte Ano
Proporção da população
sem acesso à água encanada
Razão entre a população que vive em domicílios particulares permanentes com água canalizada para um ou mais cômodos, e a população total residente em domicílios particulares permanentes, multiplicado por 100. A água pode ser proveniente de rede geral, de poço, de nascente ou de reservatório abastecido por água das chuvas ou carro-
pipa (%).
Pessoas sem acesso à água encanada apresentam maior risco de enfrentar problemas de falta de abastecimento e de água contaminada, estando,
dessa forma, mais vulneráveis e sujeitas a doenças.
+
Haan et al. (2001); Moss et al, (2001); Adger et al.
(2004); Brooks et al. (2005); IPCC (2007); Ward e Shively (2012); Alkire e Santos (2010); Lacerda (2011); Santos e Kerstenetzy (2010); Marin e Ottonelli (2008); Diniz e Diniz (2009); Barros; Carvalho e Franco (2003; 2006); Silva e Hasenbalg (2002); Araújo (2009). IBGE 2010 Proporção de pessoas em domicílios com abasteciment o de água e esgotamento sanitário inadequados.
Razão entre as pessoas que vivem em domicílios particulares permanentes cujo abastecimento de água não provem de rede geral e cujo esgotamento sanitário não é realizado por rede coletora de esgoto ou fossa
séptica e a população total residente em domicílios particulares permanentes,
multiplicado por 100.
O acesso à água potável para o consumo humano é imprescindível à
saúde, podendo sua falta acarretar doenças e limitar a capacidade laboral. Assim como a falta de esgotamento sanitário adequado que expõe as pessoas ao risco de doenças
pela proliferação de insetos e contaminação dos leitos dos rios e nascentes e poluição ambiental que comprometem significativamente a
qualidade de vida das pessoas.
+
Alkire e Santos (2010); Lacerda (2011); Santos e Kerstenetzy (2010); Marin e Ottonelli (2008); Barros; Carvalho e Franco (2003; 2006); Araújo (2009). IBGE 2010Quadro 3– Matriz dos indicadores de pobreza utilizados na pesquisa (Conclusão)
Indicador Descrição Justificativa Empírica funcional Relação Fundamentação teórica Fonte Ano
Proporção da população em domicílios sem banheiro e água encanada
Razão entre a população que vive em domicílios particulares permanentes sem água encanada em pelo menos um de seus cômodos e sem banheiro exclusivo e a população total residente em domicílios particulares permanentes, multiplicado por 100. Banheiro exclusivo
é definido como cômodo que dispõe de chuveiro ou
banheira e aparelho sanitário
As más condições de higiene e falta de acesso à água potável estão
diretamente relacionadas às condiçõies de saúde da população,
podendo ser um limitante à capacidade para o trabalho, restringindo o acesso à renda, bens e
serviços essenciais à vida. A inexistência de banheiro exclusivo também concorre para a proliferação
de doencas e baixa qualidade de vida.
+
Alkire e Santos (2010); Lacerda (2011); Santos e Kerstenetzy (2010); Marin e Ottonelli (2008); Diniz e Diniz (2009); Barros; Carvalho e Franco (2003; 2006); Araújo (2009). IBGE 2010 Percentual da população em domicílios sem acesso à coleta de lixoRazão entre a população que vive em domicílios particulares permanentes sem acesso à coleta de lixo
e a população total residente em domicílios particulares permanentes, multiplicado por 100. São considerados apenas os domicílios particulares permanentes localizados em
área urbana.
A ausência de coleta de lixo favorece a combinação de poluição das fontes
de água com dejetos humanos e facilita a disseminação de doenças. A
falta desse serviço em áreas urbanas é responsável por inundações e
poluição ambiental.
+
Baud et al., (2001); Henry et al., (2006); Al-Khatib et al. (2007); Lacerda (2011); Lwasa et al., (2009); Santos
e Kerstenetzy (2010); Barros; Carvalho e Franco
(2003; 2006); Araújo (2009).
IBGE 2010
Fonte: Elaboração própria .