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3. RESULTADOS

3.1 Definição das dimensões teóricas do conceito

Com o objetivo de melhor se compreender o construto a ser medido entendeu-se que seria essencial um correto conhecimento e definição dos conceitos que se consideraram orientadores da construção do instrumento - autocuidado, dependência, potencial e processo psicológico.

Relativamente ao conceito de autocuidado assumiu-se a relevância da definição originária do ICN (2017, [s.p.]), “Atividade executada pelo próprio: tratar do que é necessário para se manter; manter-se operacional e lidar com as necessidades individuais básicas e íntimas e as atividades de vida diária”. No que comporta ao conceito de dependência, adotou-se a definição procedente do Decreto-Lei n.º 101/2006 de 6 de junho, que explica a dependência como “a situação em que se encontra a pessoa que, por falta ou perda de autonomia física, psíquica ou intelectual . . ., não consegue, por si só, realizar as actividades da vida diária” (p. 3857). Já em relação ao conceito de potencial foi fundamento a definição proveniente da ISO 18104 (2014), na qual potencial se refere à “inherent capacity for coming into being” (p. 4), podendo este ser descrito através de “risco para” ou de “oportunidade para”. Neste caso em concreto releva o descritor “oportunidade para”, no

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sentido em que se prevê que seja uma oportunidade para a pessoa dependente melhorar o autocuidado.

A respeito do conceito processo psicológico, “Processo” (ICN, 2017, [s.p.]), entendeu-se a centralidade que este assumia no desenvolvimento do instrumento de avaliação. Por isso, e uma vez que os conceitos possuem diversas dimensões (Fortin, 2009), pensou-se que seria importante perceber-se as que integram este construto e a relevância que as mesmas assumem para a avaliação do potencial que a pessoa dependente no autocuidado tem para melhorar. Sendo o instrumento no domínio dos processos psicológicos, fazia-nos sentido que as dimensões que suportam o conceito processo psicológico fossem, também elas, as dimensões constituintes da toolkit.

Tal como foi referido no Subcapítulo 2.4 (p. 58), no âmbito das atividades desenvolvidas pelo grupo de docentes que integra o projeto “Selfcare@Potential”, a primeira reunião com o grupo de peritos já tinha sido concretizada. Nesta reunião ambicionava-se, tendo por base os fatores apurados capazes de influenciar a capacidade da pessoa dependente para melhorar a autonomia no autocuidado, perceber quais as dimensões que seriam importantes constar da toolkit.

Através da interação e da troca de “ideias e opiniões de forma aberta e construtiva” (Ruas, 2017, p. 139), tinha-se chegado ao consenso de que, no domínio dos processos psicológicos, seria pertinente a inclusão de dimensões que expressassem os 12 fatores influenciadores que se expõem no Quadro 2.

QUADRO 2: Fatoresinfluenciadores apurados no 1º focus group (no domínio dos processos psicológicos). FATORES INFLUENCIADORES APURADOS NO DOMÍNIO DOS PROCESSOS PSICOLÓGICOS

(1º focus group)

Experiências anteriores Consciencialização

Crença Autoestima

Expetativas Volição

Adaptação Aceitação

Esperança Medo

Envolvimento Disponibilidade para a mudança

Como processo psicológico se trata de um foco da CIPE®, entendeu-se que para a

definição das dimensões teóricas fazia sentido consultar-se, também, quais os conceitos que dele derivavam ontologicamente. Verificou-se, pois, que a atitude, a cognição, a emoção e a memória são termos com origem neste foco (ICN, 2017).

Página | 67 Procurando estabelecer uma correspondência entre os fatores influenciadores apurados no 1º focus group e os conceitos que derivam ontologicamente de processo psicológico, constatou-se a existência de homogenias entre as duas procedências. Assim, pode consultar-se na Figura 6 que a crença, a autoestima, a expetativa, a volição, a adaptação, assim como a aceitação se relacionam com a atitude; a consciencialização, por sua vez, tem o seu princípio na cognição; e a esperança e o medo possuem a sua origem na emoção (ICN, 2017). Entendeu-se, desta forma, que tais conceitos – “Atitude”, “Cognição” e “Emoção”, se apresentavam apropriados para a enunciação de dimensões teóricas.

FIGURA 6: Correspondência entre os fatores influenciadores apurados no 1º focus group e os conceitos que derivam ontologicamente de processo psicológico.

Relativamente à memória, “atos mentais através dos quais são armazenadas e recordadas sensações, impressões e ideias” (ICN, 2017, [s.p.]), percebeu-se que apesar da cognição e da memória surgirem na CIPE®, afetos a processo psicológico, como conceitos

distintos, a memória trata-se de uma manifestação da cognição, sendo que esta última reflete um “processo intelectual que envolve todos os aspetos da perceção; pensamento; raciocínio e memória” (ICN, 2017, [s.p.]). Pinto (2001) menciona que a cognição e a memória são interdependentes e que “esta interdependência ocorre porque a estrutura e significado do “material-a-ser-aprendido” está em grande parte dependente . . . daquilo que a pessoa já sabe e é capaz de recordar” (p. 17). Dada esta relação de dependência mútua decidiu-se que a memória se iria, também, incluir no instrumento na dimensão previamente definida por “Cognição”.

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Após definidas as três primeiras dimensões teóricas – “Cognição”, “Atitude” e “Emoção”, tentou-se compreender a pertinência dos restantes fatores influenciadores apurados pelo grupo de peritos – experiências anteriores, envolvimento e disponibilidade para a mudança.

Assim sendo, e porque a disponibilidade se encontra estritamente relacionada com o envolvimento da pessoa no seu processo de transição (Meleis et al., 2000), apurou-se que os fatores envolvimento e disponibilidade para a mudança poderiam ser agrupados numa única dimensão designada por “Disponibilidade para aprender”. De acordo com o ICN (2017) o termo disponibilidade para aprender tem a sua origem na disponibilidade, estando esta última relacionada com “estar preparado ou disponível para ação ou progresso” ([s.p.]).

Entendeu-se a apropriação da dimensão teórica “Disponibilidade para aprender”, uma vez que esta se encontra diretamente associada aos processos de aprendizagem e revela-se extremamente significativa quando se pretendem enunciar diagnósticos de enfermagem tradutores de potencial (Regufe, 2015).

Relativamente às experiências anteriores, sabe-se que estas são reconhecidas como facilitadoras do processo de reconstrução da autonomia, estando relacionadas com os saberes adquiridos pela pessoa que já vivenciou outra situação semelhante (Lourenço, 2015). Como tal, pensou-se que a inclusão da dimensão “Experiências anteriores” seria também conveniente. Não obstante, e tal como se pode confirmar na revisão da literatura efetivada no Capitulo 1 (p. 38), Petronilho (2012) apresentou uma síntese dos fatores determinantes do autocuidado agrupados por sete dimensões, sendo que as experiências anteriores de saúde-doença se encontravam presentes e classificadas pelo autor na dimensão psicológica.

Para além dos fatores influenciadores apurados no 1º focus group, da revisão da evidência disponível, entendeu-se que os “Significados atribuídos” poderiam ter, também, influência sobre o potencial da pessoa dependente para melhorar o autocuidado e, por isso, seria importante a sua inclusão enquanto dimensão teórica do instrumento. Uma vez mais, Petronilho (2012) classificou o significado atribuído à condição de saúde fator integrante da dimensão psicológica dos determinantes do autocuidado. Meleis et al. (2000) acrescentam que podem existir significados positivos, neutros ou negativos acerca do valor e da importância de alguma coisa. Se após o evento gerador de dependência a pessoa adota uma nova visão de si mesma, este é um fator positivo para a reconstrução da autonomia. Pelo contrário, se a pessoa atribui, e.g., um significado negativo à dependência ou à utilização de equipamentos, este pode afigurar-se como um fator dificultador (Maciel, 2013).

Designadas as dimensões teóricas, considerou-se que o construto a ser medido ficaria definido se o domínio dos processos psicológicos da Toolkit de Avaliação do Potencial da Pessoa Dependente para Melhorar o Autocuidado se compusesse pelas seis dimensões supramencionadas e exibidas na Figura 7.

Página | 69 FIGURA 7: Definição das dimensões teóricas da toolkit.