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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.2. A HUMANIZAÇÃO NA ORGANIZAÇÃO

4.2.1. Definição de humanização

Essa dimensão emerge da caracterização efetuada pelos participantes sobre a humanização nos cuidados de uma UTIN. Assim como a literatura é abrangente sobre a definição do tema, muitos participantes encontraram dificuldades em expressar com clareza o que é a humanização nos cuidados hospitalares. Entretanto, as diferentes formas de perceber o termo não implicam uma dissociação de suas práticas profissionais. Seja através de definições ou exemplos práticos do cotidiano de uma UCIN, todos os pertencentes perceberam o significado da humanização na assistência, conforme indica a Tabela 5.

Para Pinochet e Galvão (2010), a humanização pode ser entendida como um valor, na medida em que resgata o respeito à vida humana e abrange aspetos sociais, éticos, educacionais e psíquicos presentes nos relacionamentos humano. Segundo Luiz, Caregnato e da Costa (2017) não há uma definição única nem tampouco simples que permita assegurar exatamente como agir para ser humanizador. Para Moreira et al. (2015) o conceito de humanização é polissêmico e engloba inúmeros enunciados e é permeado por impressões. Entretanto, as formas de perceber a humanização podem ser compreendidas como um vínculo entre profissionais e usuários.

Tabela 5: Definição de cuidado humanizado

CATEGORIA TEMÁTICA - HUMANIZAÇÃO DIMENSÕES DE

ANÁLISE INDICADORES OCORRENCIAS

Definição de cuidado humanizado

Empatia Alice, Gracie, Emmy, Agatha, Amelie, Mia Conforto / Aconchego Alice, Gracie, Justin, Amelie, Chloe, Violet

Compaixão / Solidariedade

Rebecca, Stephanie, Anne

Cuidado holístico Emmy, Stephanie, Caroline, Rachel, Samantha Autonomia Barbara, Robert, Monica, Elisabeth, Daisy, Lily Participação da família Felicity, Shirley, Barbara, Rachel, Elisabeth,

Amelie, Stephanie, Sara, Dayse, Lily, Mia Individualização do

cuidado

Caroline, Robert, Agatha, Daisy Práticas como: ofuro,

canguru/colo, redução de luminosidade e ruído

Anne, Elisabeth, Chloe, Lily, Sara, Robert, Monica, Rachel

Muitos colaboradores correlacionam a humanização a empatia, a solidariedade e a compaixão, assim como a capacidade de se colocar no lugar do doente/família, sentir os sentimentos, ter a perceção deles da situação vivida.

Significa tentar ter um pouco mais de compaixão, de solidariedade, tentar entender um pouco melhor o que é estar do outro lado da situação. (Rebecca)

É a gente se colocar no lugar do outro, levar em conta não só a questão física, mas também emocional. (Gracie)

Os entrevistados no presente estudo fornecem a mesma definição de humanização descrita por Calegari, Massarollo e dos Santos (2015), onde os participantes também correlacionaram humanização à empatia. Colocar-se no lugar do paciente (ou da família),

permitindo assim, oferecer uma melhor assistência. Para alguns profissionais, a humanização é tratar o paciente como se fosse uma pessoa da família, ou alguém querido, e tratá-los como gostariam de ser tratados.

É acolher o paciente e seus familiares com respeito, compreensão e acima de tudo dar o nosso melhor para o paciente como se fosse da nossa família. (Mia)

Alguns colaboradores, por terem filhos, identificam-se com a situação. Inclusive dois entrevistados tiveram filhos prematuros internados em unidade de terapia intensiva.

Ainda foram mencionados a promoção do conforto e atenuação do sofrimento como definição de cuidado humanizado.

O cuidado humanizado é tratar o paciente da melhor maneira possível “medicamente falando”, mas oferecer menos sofrimento, ou seja, mais conforto para tratamento. Não é só tratá-lo. É tratar e evitar que ele sofra mais do que precisa. Ou seja, medidas de prevenção de sofrimento. (Justin)

Para muitos profissionais a participação e o envolvimento da família nos cuidados são sinônimos de humanização.

Dar assistência, confortar os pais, humanizar também os pais, tranquilizando eles. (Sarah)

Quando há a possibilidade de a mãe participar do banho, deixar ela dar o banho, que é um prazer para ela. Ou deixar a mãe dar a mamadeira [biberão], auxiliar na sucção, quando o bebê pode ir ao peito (...). Às vezes o pai quer pegar, mas tem medo. Tem as mães que não querem dar para o pai segurar, a gente conversa, os dois acabam participando.... Do meu ponto de vista, isso é humanização, é a forma humanizada. (Elizabeth)

A literatura aponta para uma mudança na assistência aos bebés em unidades de terapia intensiva, com a crescente participação da família. Segundo Gaíva e Scochi (2005) o acolhimento aos pais desempenha papel fundamental para que as experiências emocionais que ocorram nesse período sejam melhor aceites e o sofrimento dos pais minimizado. Ainda segundo essas autoras, a equipa deve estimular o encontro entre pais e bebés, de modo que os pais se sintam apoiados para fazerem a aproximação ao filho doente, quando sentirem-se preparados para tal.

Outro ponto abordado pelos participantes foi a individualização do cuidado do paciente e consequentemente uma forma de tornar o atendimento menos mecanizado ou repetitivo. Ainda, a importância de ter a pessoa (no caso o recém-nascido) como centro do cuidado e ter a visão holística do paciente.

Não padronizar o atendimento, o que é prioridade para um, não é para o outro. (Agatha)

Acho que a primeira coisa é ter em mente que estamos diante de gente e não de um órgão doente. É ter essa visão global do indivíduo. (Shirley)

Um olhar além da doença e da hospitalização. Olhar como um todo, a sua vida, seus desejos, as suas emoções. Entender o outro, ir além da hospitalização. (Samantha)

Segundo Moore (1999) a humanização significa que os cuidados de saúde devem estar, principalmente, relacionados com o ser humano na sua totalidade e não apenas como uma série de sintomas, doenças ou deficiências. Para Coelho (2000) é indispensável para a humanização dos cuidados uma atitude que tenha uma perspectiva holística da pessoa.

Entre os exemplos mais citados pelos participantes estão: o banho de ofuro (banho quente que caracteriza-se pela imersão em uma banheira apropriada Shantala), o colo e/ou a realização do Método Canguru (assistência onde o recém-nascido é colocado em contato com a pele da mãe ou do pai envolto por um pano) redução da luminosidade e do ruído dentro da UTIN, o aconchego do leito e o manuseio de modo gentil.

Alguns participantes também expressaram a preocupação em relação a humanização não só para os pacientes e as famílias, mas também para os profissionais da equipa.

Para mim humanização é o cuidado do paciente, da família do paciente envolvido e dos profissionais de saúde que estão lidando com ele também. Esse profissional precisa ser cuidado [...] E, na verdade, não vemos o cuidado com o profissional de saúde dentro das unidades. Eu vejo isso cada vez mais claramente. As pessoas estão ficando cada vez mais doentes porque o trabalho envolve coisas emocionais. (Shirley)

A autonomia para poder quebrar alguns protocolos, como a visita de um familiar, ou colocar um paciente grave no colo dos pais também foi colocada como uma prática a prestar no âmbito do cuidado humanizado.

É quando eu tenho a liberdade, quando eu pergunto se eu posso colocar esse bebé no colo da mãe, porque ele já tem tantos dias de nascido e nunca foi para o colo da mãe... Eu poder pegar aquele bebé, colocar no colo da mãe ou poder fazer um Canguru. (Elizabeth)

A própria PNH (Política Nacional de Humanização) fomenta a autonomia e o protagonismo dos trabalhadores em saúde ao afirmar que:

Incluir os trabalhadores na gestão é fundamental para que eles, no dia a dia, reinventem seus processos de trabalho e sejam agentes ativos das mudanças no serviço de saúde. (PNH, s/a; s/p)

Silva e Moreira (2015) referem que a realização dos trabalhos nos serviços de saúde requer uma relativa autonomia devido à imprevisibilidade que envolve o encontro do outro. Os autores valorizam a autonomia justamente para os casos singulares no cotidiano profissional.

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