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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.8 Definição de termos

No estudo do período composto, as orações coordenadas, tradicionalmente, são classificadas como assindéticas ou sindéticas. Quando não há presença de conectivo, elas são

chamadas de assindéticas e, quando há presença de algum conector, de sindéticas, que podem ser assim classificadas: aditivas, adversativas, explicativas, alternativas e conclusivas. As relações lógicas são responsáveis por essa classificação, ainda que, na maioria dos casos, o reconhecimento do uso de determinadas conjunções ou de locuções conjuntivas ajude o leitor a compreender com mais precisão o tipo de relação sintático-semântica que se estabelece entre as orações.

Como nosso estudo se voltou para a investigação de processamento de leitura de períodos coordenados, com foco no período coordenado em que haja oração sindética adversativa, e para investigação de leitura de períodos subordinadas, com foco no período subordinado em que haja oração adverbial concessiva, procuraremos definir, a seguir, o que caracteriza cada uma dessas orações.

2.8.1 Oração coordenada sindética adversativa versus oração subordinada adverbial concessiva

Nesta seção, apresentaremos diferentes definições acerca de orações coordenadas sindéticas adversativas e de orações subordinadas adverbiais concessivas, as quais fazem parte desta pesquisa. Dada a proximidade semântica entre as duas, procuraremos analisá-las conjuntamente.

Segundo Dubois (1984, p. 27), denominam-se adversativos a conjunção ou advérbio que marcam oposição, como mas, porém, todavia, contudo, entretanto, etc. Em consequência do uso desses conectivos, é comum se ter construção de orações sintaticamente independentes, pois, ao usá-los, comumente, obtém-se período composto com a presença de orações coordenadas sindéticas adversativas. Para Matos e Prada (2004, p. 701), “as adversativas têm valor de contraste”. As autoras ainda definem “contraste como a relação de não compatibilidade que, explícita ou implicitamente, se estabelece entre propriedades ou situações denotadas por duas expressões linguisticamente articuladas” (MATOS; PRADA, 2004, p. 702).

No uso das adversativas, chama a atenção o comportamento com advérbios de polaridade e uma estrutura elíptica, o que não é permitido às orações concessivas. Essa diferença de estrutura pode ser percebida nos seguintes exemplos:

(13) Ela não gostou da escola, mas do professor sim. [mas gostou do professor sim] – adversativa;

Observemos, então, que, em (13), a elipse verbal não causou nenhum problema em relação ao entendimento da sentença; já, em (14), a omissão da estrutura verbal causou mudanças de sentido na construção da sentença. Na construção do período composto, as orações adverbiais concessivas expressam uma concessão, uma exceção, em relação à oração a que se relaciona. Trata-se de um tipo de contraste, mas, segundo Flamenco Garcia (1999) e Varela (2000), “as concessivas expressam a contraditória de uma causa e as adversativas a contraditória de uma consequência.”. Sabemos também que nem todas as concessivas encontram paráfrases adversativas. Uma característica distintiva entre elas é a mobilidade, pois, como já foi mencionado anteriormente, a oração coordenada não aceita a mobilidade, uma vez que, quase sempre, esse movimento reproduz estruturas agramaticais. Já as orações concessivas permitem a propriedade da mobilidade, como se pode ver nos exemplos:

(15) Maria estudou bastante, embora não tenha sido aprovada. (sem mobilidade) (16) Embora não tenha sido aprovada, Maria estudou bastante. (com mobilidade)

Segundo Dubois (1984, p. 135), uma oração subordinada é chamada concessiva [itálico do autor] quando indica a razão que poderia opor-se à ação expressa pela principal. Nessa perspectiva, esse tipo de oração é, quase sempre, introduzido pelas conjunções ou locuções conjuntivas se bem que, embora, apesar de que, ainda que, mesmo se, por mais que, etc.

Outro dado a acrescentar em relação aos nexos coordenativos é o fato de as palavras porém, contudo, entretanto, no entanto e todavia serem classificadas como conjunção, mas apresentam características que as assemelham a advérbios, como a mobilidade de posição na frase. Além disso, essas palavras, comumente usadas para estabelecer relações lógicas de oposição entre as orações coordenadas, comportam-se como equivalentes de “ainda assim”, “infelizmente”, “pelo contrário”, “apesar disso”, etc.

Já uma base essencialmente argumentativa de construção concessiva exige que sejam examinadas as similaridades e as diferenças entre concessivas e adversativas. Para Neves (2011, p. 878), por exemplo, o raciocínio pode ser encaminhado com uma correlação: i) das formulações concessivas em que o falante refuta uma objeção; ii) com possíveis formulações do tipo adversativo, em que o falante admite uma proposição. As concessivas são tradicionalmente subordinadas enquanto que as adversativas são coordenadas. Nos quadros abaixo, observamos a correlação entre um tipo e outro de oração:

Quadro 4 – Período composto por subordinação com oração adverbial concessiva CONSTRUÇÃO CONCESSIVA (SUBORDINAÇÃO)

ORAÇÃO CONCESSIVA ORAÇÃO PRINCIPAL

EMBORA eu não assistisse a todas as aulas

começava também a aprender com elas.

POR MAIS QUE me esforce não consigo reter as suas feições. AINDA QUE se arrebente todo ele prefere ser lançado contra as pedras.

Fonte: Neves (2011)

Quadro 5 – Período composto por coordenação com oração sindética adversativa

CONSTRUÇÃO ADVERSATIVA CORRESPONDENTE (COORDENAÇÃO)

PRIMEIRA ORAÇÃO COORDENADA ADVERSATIVA

Eu não assistia a todas as aulas mas começava também a aprender com elas.

Esforço-me mas não consigo reter as suas feições.

(ele) arrebenta-se todo mas ele prefere ser lançado contra as pedras.

Fonte: Neves (2011)

Como podemos notar, há uma aproximação semântica entre as orações coordenadas sindéticas adversativas e as orações subordinadas adverbias concessivas. Optamos por explorar esse par de orações porque seria possível, a nosso ver, em um mesmo universo semântico – a oposição, sobretudo, investigar o custo de processamento de leitura de períodos compostos que apresentem, separadamente, estrutura coordenada e estrutura subordinada, mas que mantenham entre si correlação semântica.

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