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3.4 Avaliação de Ciclo de Vida

3.4.2. Etapas da Avaliação do Ciclo de Vida

3.4.2.1 Definição do Objetivo e Escopo

O objetivo de uma ACV deve apresentar a aplicação pretendida do estudo, declarando as razões para sua execução, o público a quem pretende-se comunicar os resultados obtidos, e também se existe a intenção de utilizar os resultados em afirmações comparativas a serem divulgadas publicamente (ABNT, 2009a; WILLERS et al., 2013).

O escopo deve ser suficientemente bem definido para certificar que a abrangência, detalhamento e profundidade do estudo sejam compatíveis e suficientes para atender o objetivo declarado (ABNT, 2009a). Portanto, é de suma importância atentar aos seguintes itens: sistema de produto, função, unidade funcional, fluxo de referência, fronteira do sistema, procedimentos de alocação, metodologia para avaliação de impactos e tipos de impactos, tipo e fonte de dados, comparação entre os sistemas e considerações quanto a análise crítica.

 Sistema de produto, função, unidade funcional e fluxo de referência

O sistema de produto compreende as etapas a serem estudadas pela ACV. Este item agrupa unidades de processo conectadas, por fluxos de energia e materiais, que realizam uma ou mais funções definidas (ABNT, 2009a).

A função e a unidade funcional são os elementos centrais do estudo de ACV e equivalem à especificação qualitativa e quantitativa, respectivamente, do objeto analisado. A função do produto expressa suas características de desempenho. A unidade funcional é a unidade referência do estudo, onde todos os fluxos de entrada e saída do sistema de produto serão relacionados a esta unidade; logo essa unidade necessita ser bem definida e mensurável. Posteriormente a definição da unidade funcional, será definido o fluxo de referência, que é a

Etapa 1 Objetivo e Escopo Etapa 2 Análise do Inventário Etapa 3 Avaliação de Impacto Eta pa 4 Int er p ret aç ão Usos: o Desenvolvimento e melhoria do produto; o Planejamento estratégico; o Elaboração de Políticas Públicas; o Marketing; o Outras.

medida da saída de um processo necessária para realizar sua função expressa pela unidade funcional (ABNT, 2009a; ROSSI, 2013; IBICT, 2015).

 Fronteira do Sistema

A fronteira do sistema estabelece os limites para o estudo, definindo quais processos específicos, fluxos elementares, tipo de atividades e estágios do ciclo de vida serão incluídos e quais serão omitidos do sistema (Figura 6). As escolhas destes processos específicos dependem do objetivo e escopo definidos, do público alvo e da aplicação pretendida, das restrições de dados e custos, dos pressupostos adotados e critérios de corte. Os critérios utilizados para a definição da fronteira do sistema são essenciais para garantir o grau de confiabilidade nos resultados e possibilidade de se atingir o objetivo do estudo (ABNT, 2009a).

Ao estabelecer-se a fronteira do sistema, deve-se levar em consideração a aquisição de matérias primas; entradas e saídas na cadeia principal de processamento; transporte; produção e uso de combustíveis, energia e calor; uso e manutenção de produtos; disposição final dos resíduos; recuperação de produtos usados, incluindo o reuso, reciclagem; manufatura de materiais auxiliares; operações adicionais como iluminação e aquecimento (ABNT, 2009a).

De acordo com Rossi (2013) apud Rosado (2015) os estudos de ACV podem incorporar todas ou apenas algumas etapas do ciclo de vida de um produto. Assim, as fronteiras dos sistemas podem ser descritas da seguinte forma:

 Berço ao berço (cradle-to-cradle): abordagem específica; a etapa de eliminação usualmente considera um processo de reciclagem, gerando produtos semelhantes aos originais produzidos no processo em questão ou novos produtos.

 Berço ao túmulo (cradle-to-grave): todas as etapas são consideradas, desde a extração de matéria prima até a disposição.

 Berço ao portão (cradle-to-gate): as etapas iniciais são consideradas, extração de matéria prima e manufatura do produto.

 Portão ao portão (gate-to-gate): processo de produção é considerado.

Portão ao túmulo (gate-to-grave): etapas relacionadas ao uso e disposição final são consideradas.

Produtos Fluxos elementares Fluxos elementares Fluxos de Fluxos de Produtos Fronteira do sistema

Meio ambiente do sistema

Figura 6. Fluxograma de um sistema de produto para ACV.

Fonte: elaborado pelo autor baseado em NBR 14.040 (ABNT, 2009a).

 Procedimentos de Alocação

A alocação é a divisão apropriada dos fluxos de entrada e saída de um processo entre o sistema de produto em estudo e outros sistemas de produto. O procedimento de alocação é adequado quando se tratar de sistemas que envolvem diversos produtos e sistemas de reciclagem (ABNT, 2009a).

 Metodologia para avaliação de impactos do ciclo de vida e tipos de impactos

Nesta etapa determina-se quais as categorias de impacto, os indicadores das categorias e os modelos de caracterização que serão utilizados no estudo, os quais devem estar relacionados com o objetivo do estudo (ABNT, 2009b).

 Tipo e fonte de dados

No escopo da ACV determina-se a qualidade desejada dos dados que serão obtidos. Esses dados podem ser classificados em:

Produção Aquisição de matérias-primas Transporte Uso Reciclagem/ Reuso Tratamento de Resíduos Suprimento de energia Outros sistemas Outros sistemas Produção

o Dados primários: Refere-se àqueles obtidos direto na fonte, sendo coletados nos locais de produção associados aos processos elementares dentro da fronteira do sistema (ABNT, 2009b; ROSSI, 2013).

o Dados secundários: obtidos em banco de dados próprios para ACV, tendo referência em literatura específica ou sendo fornecidos por empresas, órgãos governamentais, laboratórios de análise, entre outros (ROSADO, 2015).

Estes dados podem ser utilizados juntos, porém devem ser documentados e as escolhas justificadas (ABNT, 2009b; EUROPEAN COMISSION, 2010).

 Requisitos de qualidade de dados

A qualidade almejada dos dados deve ser descrita no escopo da ACV. Esta qualidade está atrelada a precisão, completeza do inventário, consistência, reprodutibilidade das informações, tipos de fontes de dados e respectivas incertezas dos dados (ABNT, 2009b).

O requisito de representatividade dos dados deve envolver as perspectivas temporais, geográficas e tecnológicas. A representatividade temporal indica se os dados são coerentes com a atualidade, expressando a idade dos dados e o tempo mínimo o qual os dados deveriam ser coletados. A representatividade geográfica identifica se os dados do inventário são próximos da localização do estudo. E por fim, a representatividade tecnológica expõe se os dados do inventário – documentação e/ou especificação descritiva – são verdadeiros em relação ao processo e produto. Todos esses aspectos são importantes por causa das alterações de dados segundo a necessidade de cada local (ABNT, 2009b; ROSSI, 2013).

 Comparação entre sistemas

Quando ocorrer o estudo comparativo, é ideal que os sistemas sejam comparados utilizando a mesma unidade funcional e metodologia equivalentes, como desempenho, fronteiras do sistema, qualidade dos dados, procedimentos de alocação, regras para decisões dos fluxos de entradas e saídas e avaliação de impacto (ABNT, 2009b).

 Considerações quanto a análise crítica

A análise crítica pode ser efetuada por um especialista interno ou externo, desde que não tenham participado do estudo da ACV; a necessidade de ser feita deve ser definida no escopo do estudo, bem como o método e a forma de conduzi-la. Os resultados da análise devem ser incluídos no relatório (ABNT, 2009b; ROSSI, 2013).

As ABNT NBR 14040 e 14044 estabelecem diretrizes para o objetivo e escopo do estudo, porém a ACV é uma técnica interativa, portanto a medida que se obtém maior avanço no trabalho, pode-se reformular a definição do escopo. É essencial que as modificações e tais justificativas sejam documentadas (ABNT, 2009a; ABNT, 2009b).

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