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3.1 Planejamento Metodológico

3.1.2 Definição do objeto de pesquisa e da unidade de análise

Na pesquisa sobre transições de regimes sociotécnicos, para Geels e Schot (2007), o objeto de pesquisa é associado ao conceito de campo organizacional, definido por Dimaggio e Powell (1983) como sendo as organizações que, no agregado, constituem uma determinada área reconhecida, com seus fornecedores chaves, consumidores de produtos e recursos, agências regulatórias e outras organizações que produzem produtos ou serviços similares (GEELS; SCHOT, 2007). O campo organizacional selecionado, ou ainda o objeto de pesquisa, está associado aos atores que fazem a produção vitivinícola na Campanha Gaúcha e suas ligações. Para aplicação neste trabalho, compreende-se por objeto de pesquisa como sendo o local onde é realizada a investigação de campo, onde são coletados os dados e ouvidas as pessoas.

Sendo desta forma apontado o objeto de pesquisa como um campo organizacional inserido na Campanha Gaúcha. Assim sendo seguem aqui algumas considerações que se fazem necessárias em torno dessa Região.

A Região da Campanha Gaúcha faz parte do Pampa, também conhecido por Pampa Gaúcho. Localizada na metade meridional do estado do Rio Grande do Sul, a palavra “Campanha”, faz referência a campo extenso e plano, assim como a conjunto de manobras militares contra forças inimigas, dentre outras significações (BARSA, 2005). A denominação evidencia os aspectos fisionômicos peculiares da

região, com horizonte largo e colinas brandas, conhecidas como coxilhas. Este ambiente bucólico e rústico se caracteriza por uma longa vegetação rasteira, interposta por capões de matas e arbustos. Já a palavra “Pampa” é de origem indígena, que significa campos planos e tal denominação é oriunda da terminologia utilizada para se referir a um dos seis biomas característicos do Brasil.

Ambas as denominações, Campanha e Pampa, são permeadas de valores e significados para o povo destas terras, inclusive quando acompanhadas pela expressão Gaúcho. Estes nomes despertam o imaginário das pessoas o que contribui para fortalecer e perpetuar uma cultura, considerada, mesmo que de senso comum, forte, arraigada e que faz referência à história, à reminiscência, ao patrimônio natural, cultural, material e imaterial do povo que habita essa região.

Para uma compreensão da distinção entre as denominações, a Campanha Gaúcha está inserida no Bioma Pampa, que compreende um espaço de maior proporção. Este se estende, inclusive, por países fronteiriços ao Brasil. O Bioma Pampa é formado por um conjunto de vegetação de campo em relevo de planície e dentro do território brasileiro está restrito ao estado do Rio Grande do Sul. Ocupa uma área de 176.496 km², correspondendo a 63% do território do estado do e a 2,07% do território do Brasil. Além das planícies, este também possui um cenário composto por serras, morros rupestres e coxilhas (IBGE, 2015).

A região da Campanha Gaúcha também é conhecida como Fronteira, por ter seus limites estabelecidos com os países vizinhos Uruguai e Argentina. Isso é evidenciado na elaboração da Zona de Demarcação de Produção Vitícola - Fronteira, contudo no mesmo documento também é aceita a denominação Campanha Gaúcha. Na elaboração da Nota Técnica da referida demarcação, é destacado que a Campanha possui distintas denominações no decorrer do tempo para atender a objetivos específicos (HOFFMANN et al. 2005).

A Campanha Gaúcha, objeto de estudo desta pesquisa, como unidade geográfica, é uma das sete Mesorregiões do Estado do Rio Grande do Sul (Figura 9), denominada Mesorregião Sudoeste segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEEDADOS, 2016). Esta é composta por três Microrregiões, que são: Microrregião de Campanha Central, Microrregião de Campanha Meridional e Microrregião de Campanha Ocidental. A Mesorregião Sudoeste, ou ainda, a Campanha Gaúcha referida neste trabalho, é identificada na figura 10 pela legenda de número 6.

Figura 10 – Mapa das Mesorregiões geográficas do Rio Grande do Sul.

Fonte: FEE Dados, 2016.

Conforme a FEE (2016) os municípios que compõem a Mesorregião Sudoeste são: Rosário do Sul, Santa Margarida do Sul, Santana do Livramento, São Gabriel, Aceguá, Bagé, Dom Pedrito, Hulha Negra, Lavras do Sul, Alegrete, Barra do Quaraí, Garruchos, Itaqui, Maçambará, Manoel Viana, Quaraí, São Borja, São Francisco de Assis e Uruguaiana.

No sentido de uma organicidade da presente pesquisa foram reunidos na figura 11 os municípios considerados pertencentes a Campanha Gaúcha segundo a FEE, a Associação Vinhos da Campanha e a Nota Técnica que trata da demarcação da Zona de Produção Vitivinícola - Fronteira. Desta forma o trabalho foi delimitado considerando apenas os municípios da Associação Vinhos da Campanha, pois este reúne Candiota que também é mencionado pela Nota Técnica da Zona de Produção. Inclui também Itaqui, Maçambará e Rosário do Sul que foram excluídos pelo documento da Zona de Produção, mas são considerados municípios da Campanha segundo a FEE.

Figura 11 – Quadro dos municípios da Campanha Gaúcha.

Fonte: FEEDADOS, 2016; ASSOCIAÇÃO VINHOS DA CAMPANHA, 2010 – Estatuto; HOFFMANN et al., 2005 (Nota Técnica).

A unidade de análise pode ser um indivíduo ou indivíduos, um evento ou entidade. É considerado o “caso” em que se coletam informações mais relevantes e está associada às questões iniciais do estudo. Para tanto, se fazem necessárias proposições que auxiliem na formação de limites exequíveis para a investigação (Yin, 2001). Nesse sentido a unidade de análise foi definida como o regime sociotécnico da produção vitivinícola da Campanha Gaúcha. O conceito de regime sociotécnico, como apresentado a priori, é um conceito analítico interpretativo que está por trás das atividades dos atores que reproduzem um sistema de elementos tangíveis e intangíveis. Recordando que os elementos intangíveis se referem às crenças, heurísticas, rotinas, modos padronizados de fazer as coisas, paradigmas políticos, visões, promessas, expectativas sociais dos atores. E, os sistemas

tangíveis observáveis podem ser infraestrutura, artefatos, participações de mercado, regulamentações etc. (GEELS, 2011).

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