• Nenhum resultado encontrado

4. METODOLOGIA

4.5. Definição dos setores censitários tratados e de controle para o Pró-Gavião

de uma variável binária, seja por meio de sua incidência) é direta por meio da variável proveniente do Censo Agropecuário de 2006, como se viu na seção anterior. O Pró-Gavião, por outro lado, exigiu trabalho adicional para que fossem identificados os setores censitários onde ocorreu.

Em termos municipais, o Pró-Gavião esteve em 13 municípios localizados na região centro sul do estado da Bahia. Os 41 municípios localizados ao redor desses forneceram os setores censitários que poderiam formar o grupo de controle. Essa definição decorreu da suposição do modelo de estimação de impactos utilizado de que todos os setores teriam seguido uma tendência paralela na ausência da intervenção. Ainda que não se possa atestar essa hipótese, é importante considerar um grupo de não tratados mais similar possível, reduzindo o risco de que os setores tenham sido afetados por eventos diferentes. Assim, considerou-se que os municípios vizinhos ou pertencentes às mesmas microrregiões (ou das microrregiões vizinhas) dos municípios tratados fossem boas aproximações de onde poderiam ser retirados setores censitários bem similares.

Na Tabela A.1 do Apêndice A encontram-se listados os 54 municípios em que toda a análise feita neste trabalho se baseia. Esses municípios podem ser melhor

visualizados no mapa a seguir (Figura 3) que mostra o estado da Bahia com sua divisão de municípios, conforme o mapa digital do Censo Agropecuário de 2006.

Figura 3 - Municípios com Pró-Gavião e municípios de possíveis controles, Bahia Fonte: Elaboração própria com mapas digitais do IBGE (2006).

Uma vez definido de onde seriam retirados os setores censitários de controle, outra questão extremamente importante refere-se ao critério que define se um setor censitário foi tratado ou não pelo Projeto Pró-Gavião. Como já fora mencionado, as comunidades que participaram desse projeto foram identificadas por meio de um trabalho de campo, onde foram coletadas as coordenadas geográficas de pontos específicos de cada comunidade. Com essa informação, procedeu-se à vinculação de cada comunidade ao setor censitário correspondente no Censo de 2006, como mostra a Figura 4.

Nesta figura, estão os 13 municípios focalizados pelo Pró-Gavião, as divisões deles em setores censitários e cada comunidade participante do Projeto (indicadas pelos pontos de coordenadas geográficas colhidos em campo) (Figura 4).

Figura 4 - Municípios do Pró-Gavião, setores censitários e comunidades tratadas Fonte: Elaboração própria com mapas digitais do IBGE (2006).

Cada comunidade participante do Projeto foi representada por um único ponto de coordenada geográfica. Sempre que possível, utilizou-se um ponto que indicasse uma construção que representasse o centro comunitário, como Igreja, escola, associação, campo de futebol, etc. Nos demais casos, as comunidades foram representadas pela coordenada geográfica de uma casa beneficiária do programa24.

Com as informações das coordenadas geográficas das comunidades tratadas, podem-se definir duas formas diferentes de se identificar o setor tratado. A forma mais direta é considerar como tratado o setor onde se encontra o ponto específico em que a coordenada foi coletada. Entretanto, visto que cada comunidade é representada por uma única coordenada, essa definição poderia subestimar o tamanho da comunidade e conseqüentemente a população tratada. Uma forma de lidar com esse problema é a utilização de uma definição de tratados que leve em conta a possível dispersão de moradores de uma mesma comunidade. Em termos práticos, isso pode ser feito considerando um raio ao redor do ponto coletado. Embora não se espere que os moradores dessas comunidades estejam igualmente distribuídos ao redor de um ponto comum, como uma escola, também não se pode supor que essas comunidades sejam limitadas a um único ponto no espaço.

Sabe-se que diferentes comunidades podem se espalhar geograficamente de formas diferentes, entretanto, considerar um raio comum de beneficiários é uma

24 Uma importante fonte de informações utilizada neste trabalho refere-se aos mapas digitais

fornecidos pelo IBGE, que possibilitaram a construção de mapas e a análise das informações geográficas da região analisada. Para organização dos dados, elaboração de mapas e vinculação das coordenadas em setores, foi utilizado o software ArcGis 10.2.

tentativa de definir de forma menos rígida a comunidade participante do Projeto Pró- Gavião.

Por meio de observações feitas em campo, definiu-se que um raio de 2,5 quilômetros ao redor dos pontos de coordenadas geográficas coletados seria uma boa aproximação da realidade dessas comunidades. Assim, os setores censitários dentro desse raio (ou tocados pelo raio) foram considerados tratados, representando possíveis moradores dispersos de uma mesma comunidade. A Figura 5 mostra o raio de 2,5 quilômetros ao redor de cada ponto.

Figura 5 - Municípios do Pró-Gavião, setores censitários e raio de 2,5km ao redor das comunidades tratadas

Fonte: Elaboração própria com mapas digitais do IBGE (2006).

Diante disso, têm-se duas definições diferentes quanto aos setores pertencentes ao grupo de tratamento. Na Tabela 3, mostram-se os números de setores censitários tratados e o número de estabelecimentos, conforme cada uma dessas definições. Vale ressaltar que todos os setores identificados como tratados na abordagem que considera pontos específicos estão contidos no conjunto de setores tratados pela abordagem de raios, embora o contrário não seja verdade. Esses números referem-se à base de dados formada apenas pelos pequenos estabelecimentos agropecuários (com área de 50 hectares ou menos).

Conforme dados do FIDA (IFAD, 2003), cerca de 17.000 famílias foram beneficiadas pelo Pró-Gavião. Embora seja difícil estender o conceito de estabelecimento agropecuário para o conceito de família, observa-se na Tabela 3, que ambas as definições de tratados oferecem aproximações razoáveis: cerca de 18.000

quando consideram-se os raios e cerca de 13.000 na definição pontual (no ano de 1996).

Tabela 3 - Número de setores censitários tratados e de estabelecimentos, em cada abordagem quanto à definição do grupo tratado

Fonte: Dados da Pesquisa.

Uma vez definidos os grupos de tratamento, os demais setores censitários da área analisada formam o grupo de possíveis controles. Todos os setores censitários não tratados que pertencem aos 13 municípios onde houve o Pró-Gavião e os setores dos demais municípios (41 municípios) fazem parte desse grupo. Se o grupo de tratamento é definido por meio da abordagem dos pontos, restam 679 setores censitários como possíveis controles no Censo de 1996. Por outro lado, com a definição de raios, 650 setores podem ser utilizados como controles com o Censo de 1996.

4.6. Construção de Áreas Mínimas Comparáveis

Uma vez que em cada Censo Agropecuário um número diferente de setores censitários foi delineado pelo IBGE, foi necessária a construção de áreas mínimas comparáveis (AMC's) em nível de setores que permitissem a comparabilidade dos dados das duas pesquisas em consideração. Muitos setores censitários foram criados, divididos ou agregados a outros entre 1996 e 2006. Assim, a vinculação desses setores ao longo do tempo precisava levar em consideração cada um desses casos. Para permitir maior robustez à esse método de agregação, duas abordagens diferentes foram empregadas: uma baseada em rotina de vinculação dos setores fornecida pelo IBGE25 e outra com base na visualização dos mapas de setores censitários em ambos os anos.

25 O IBGE forneceu uma planilha de dados que permite vincular o código de cada setor censitário de

2006 ao seu código correspondente nos Censos anteriores, indicando aqueles que se dividiram ou que incorporaram outros.

1996 2006 1996 2006

Número de setores 151 189 108 119

Número de estabelecimentos 18.162 20.082 13.82 14.531 Raios de 2,5km Pontos exatos

Como exemplo, a Figura 6 a seguir mostra a divisão de Anagé, um dos municípios com Pró-Gavião, em setores censitários do Censo de 1996 e de 2006. Nota-se que grande parte dos setores mudou pouco entre os anos, visto que as fronteiras em geral coincidem. Entretanto, alguns setores de 1996 foram divididos em 2006.

Figura 6 - Município de Anagé - BA, divisão em setores censitários conforme os Censos Agropecuários de 1996 e de 2006

Fonte: Elaboração própria com Mapas Digitais do IBGE.

Com a rotina fornecida pelo IBGE, a vinculação dos setores no tempo se deu de forma automática. No entanto, o outro método de vinculação baseou-se na observação dos mapas de cada ano com vistas a identificar manualmente cada caso.

Uma área mínima comparável deveria unir o menor número setores possível que resultassem em uma área similar entre os anos. Assim, mais uma vez, utilizando o município de Anagé, a Figura 7 a seguir mostra a divisão das áreas mínimas comparáveis construídas manualmente por meio dos mapas digitais do IBGE. Percebe-se que alguns setores foram agregados para que formassem uma AMC, mas grande parte dos setores permaneceram tal como na Figura 6.

Observa-se que as AMC's consistem nas áreas mais similares possíveis entre os anos, embora as suas fronteiras não tenham permanecido perfeitamente definidas.

Figura 7 - Município de Anagé - BA, divisão em áreas mínimas comparáveis (AMC's) dos setores censitários dos Censos Agropecuários de 1996 e de 2006 Fonte: Dados da Pesquisa com Mapas Digitais do IBGE.

Um importante critério utilizado para construção das AMC's como na Figura 7 foi a exclusão de setores censitários estritamente urbanos. Esses setores alteraram significativamente suas fronteiras entre 1996 e 2006, e então optou-se por não considerar aqueles que fossem urbanos em qualquer ano ou em ambos. Essa exclusão não traz maiores problemas à análise visto que essa pesquisa foca precisamente na situação dos produtores agropecuários rurais, aqueles beneficiários do Projeto Pró-Gavião.

Para comparação, a Figura 8 a seguir mostra o resultado da divisão de Anagé em AMC's segundo a rotina fornecida pelo IBGE. Nota-se que essas AMC's são menores em termos de área e de setores que agregam, e portanto são um pouco mais imprecisas. Nota-se que as fronteiras que se alteraram relativamente pouco entre 1996 e 2006, foram mantidas como se pertencessem aos mesmos setores. Ou seja, mantém-se um setor censitário separado de outros se a maior parte de sua área permanece inalterada entre os anos (ainda que tenha havido alguma modificação em sua fronteira) (Figura 8).

Por outro lado, quando os mapas dos dois anos são confrontados, as fronteiras são levadas em conta de forma mais rígida, resultando em menor número de AMC's, formadas por maior número de setores (Figura 7).

Figura 8 - Município de Anagé - BA, divisão em áreas mínimas comparáveis (AMC's) dos setores censitários dos Censos Agropecuários de 1996 e de 2006, rotina de vinculação do IBGE

Fonte: Dados da Pesquisa com Mapas Digitais do IBGE.

Uma vez que tratam-se de dados agregados essas imprecisões não devem se refletir em diferenças grandes das estatísticas conforme o tipo de AMC considerado. Entretanto, em toda a análise que se segue os dois tipos de AMC's foram utilizados para fins de comparabilidade e de robustez das estimativas.

A Tabela 4 a seguir mostra o número de AMC's resultantes conforme cada método de vinculação, tratando exclusivamente de setores censitários rurais e dos pequenos estabelecimentos.

Como era esperado, as duas abordagens de agregação de setores resultaram em números de AMC's significativamente diferentes: 501 na construção por meio de mapas digitais e 618 baseada na vinculação do IBGE. A diferença neste número surge da concepção divergente quanto ao nível de alteração das fronteiras dos setores entre os anos, como pôde-se observar nas Figuras 7 e 8 acima.

Tabela 4 - Números de estabelecimentos, de setores e de AMC's nos 54 municípios baianos analisados, Censos Agropecuários de 1996 e 2006

Fonte: Dados da Pesquisa

1996 2006

Número de estabelecimentos 87.023 94.972

Setores Censitários 818 1.034

AMC's criadas com mapas digitais AMC's criadas pela rotina do IBGE

501 618

Com a identificação dos setores tratados pelo Pró-Gavião (pelo ponto da comunidade tratada ou pelo raio de 2,5km ao redor dela), as AMC's tratadas foram definidas. Uma vez que algumas AMC's agregaram setores, essas AMC's tratadas acabaram incorporando setores que antes não eram considerados tratados. Na Tabela 5, estão os números de setores, de estabelecimentos e de AMC's consideradas tratadas pelo Pró-Gavião em cada abordagem. Da comparação com a Tabela 3, nota- se na Tabela 5 que os setores tratados sobem de 151 para 168 em 1996, se considera- se a definição quanto aos raios ao redor da comunidade. Mas se a definição de tratados é feita com base em pontos específicos, o número de setores tratados pelo Pró-Gavião sobe de 108 para 139 em 1996.

Tabela 5 - Número final de setores tratados pelo Pró-Gavião depois da agregação em AMC's

Fonte: Dados da Pesquisa.

Observa-se que o número de AMC's definidas como tratadas por meio da consideração dos pontos das comunidades é de 77 com AMC's construídas e de 98 com AMC's do IBGE. Essa abordagem oferece um baixo número de observações tratadas, que pode comprometer as estimativas (Tabela 5).

Além disso, alguns setores censitários apresentaram dados faltantes (missing values) devido à restrição imposta pelo IBGE de manutenção do sigilo das informações dos Censos Agropecuários26. A imposição do sigilo foi responsável por reduzir o número de setores e conseqüentemente de AMC's tratadas ainda mais, em qualquer definição do grupo de tratamento.

Diante dessas questões, optou-se por considerar como tratados aqueles setores que se encontraram no raio de 2,5 quilômetros do centro da comunidade (ou de uma casa dessa comunidade). Com essa definição, espera-se captar melhor os efeitos do Programa sobre as comunidades rurais e não sobre pontos específicos onde foram colhidas as coordenadas geográficas.

26 Conforme a regra de disponibilidade dos dados dos Censos Agropecuários do IBGE, setores

censitários com menos de dez informantes em cada variável não puderam ter valores mostrados.

1996 2006 1996 2006

Número de estabelecimentos 19.268 21.082 16.354 18.532

Setores 168 213 139 183

AMC's criadas

AMC's IBGE 142 98

Raios de 2,5km Pontos exatos

Quanto às definições das AMC's não tratadas, a Tabela 6 a seguir mostra o número de estabelecimentos, de setores e de AMC's que poderiam formar o grupo de controle. Em termos de todas as unidades não tratadas têm-se 398 áreas mínimas comparáveis construídas por meio de mapas digitais e 476 AMC's quando utiliza-se a construção segundo o IBGE.

Deve-se ressaltar que as intervenções realizadas pelo Pró-Gavião no contexto da construção de infraestrutura (como pontes, cisternas, barragens e ampliação da rede elétrica) podem ter envolvido benefícios que se espalharam entre comunidades não tratadas. Uma vez que existe tal possibilidade, o grupo de comparação utilizado para se estimar o impacto do Pró-Gavião excluiu as AMC's que compartilham fronteiras com aquelas tratadas. Nesse sentido, são AMC's vizinhas às tratadas 54 AMC's quando se utiliza a abordagem das AMC's construídas e 69 AMC's segundo a definição do IBGE. O grupo de onde foram selecionadas as AMC's de controle foi formado por 407 AMC's não vizinhas (segundo definição do IBGE).

Tabela 6 - Número de setores censitários e AMC's nos grupos de possíveis controles, considerando a abordagem do raio de 2,5km para definição das tratadas

Fonte: Dados da Pesquisa.

Com a áreas mínimas comparáveis construídas e definidas, podem-se passar à análise dos resultados encontrados.

1996 2006 Vizinhas Não vizinhas

Número de estabelecimentos 67601 73890 - - Setores 650 821 - - AMC's criadas 54 344 AMC's IBGE 69 407 398 476

Documentos relacionados