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Existe uma pluralidade de definições que acercam a concepção de jornalismo. Neste capítulo, propomos articular três conceitos sobre jornalismo: i) prática jornalística (LAGE, 1974, 2005; BAHIA, 1990) como uma disciplina, ii) o campo científico Jornalismo (GROTH; ZELIZER; MEDITSCH, 1992); e como a iii) instituição imprensa (LIPPMANN, 1922; PARK). Já no século XVII, o pesquisador alemão Tobias Peucer refletiu sobre as diferenças entre o jornalismo e história, ao comparar o modo como os acontecimentos eram relatados. Para ele, há um tipo de relatione periodística cujos exemplos “contêm a notificação de coisas diversas acontecidas recentemente em qualquer lugar que seja (...) para que o leitor curioso se sinta atraído pela variedade de caráter ameno e preste atenção” (PEUCER, 2000, p. 202). Segundo Peucer (2000, p. 211-212) os periódicos têm como finalidade trazer aos homens “o conhecimento de coisas novas acompanhadas de certa utilidade e atualidade”. Otto Groth, sociólogo alemão, também contribui com a elaboração de um referencial teórico para a formulação e a sistematização das concepções acerca do jornalismo. Para ele, o século XIX foi caracterizado pelo surgimento de uma nova ciência, a ciência periodística, com seus próprios objeto e método. Assim, Groth rejeita a ideia de que o jornalismo seja visto como uma técnica e passa a encará-lo como uma ciência que comportaria quatro elementos que o caracterizariam: i) a periodicidade; ii) a atualidade; iii) a universalidade e iv) a difusão53.

Marques de Melo (1998), em um consenso mais científico, observa o jornalismo como uma ciência que estuda o processo da transmissão de informações da atualidade através dos veículos de difusão coletiva por oportunizar ao leitor conhecimento das notícias, suas interpretações e opiniões. Beltrão (1992) define o jornalismo como a informação de fatos correntes, devidamente interpretados e transmitidos periodicamente à sociedade. O pensamento de Beltrão, segundo Demeneck (2009) vai de

53 O intuito deste capítulo não é fazer um estudo da arte sobre os trabalhos de Otto

Groth, no entanto cabe ressaltar que Otto Groth, segundo Demeneck (2009) procurar formalizar um campo científico para a área, usa explicitamente a terminologia ciência da cultura (Kulturmacht). Cultura no sentido abrangente, “como o conjunto de criações humanas, de sentido que está em constante crescimento e mutação”. O jornalismo como “uma ciência de obras culturais, uma ciência da cultura” (GROTH, 2007, p.187).

encontro às ideias defendidas por Lippmann ao assinalar os objetivos da difusão de conhecimento e de orientação da opinião pública, em favor do bem comum. Lage (2003) assevera que o jornalismo na sociedade contemporânea cumpre uma função de mediação social, as novas tecnologias e produtos exigem que o conhecimento de mundo seja sempre atualizado. Segundo Bahia (1990), jornalismo significa apuração, reunião, seleção, e difusão de notícias, ideias, acontecimentos e informações gerais com veracidade, exatidão, clareza, rapidez, de modo a conjugar pensamento e ação. Ao falar sobre a notícia, ele afirma que (1990, p.9) “como qualquer informação jornalística, a notícia deve reunir interesse, importância, atualidade e veracidade”.

O jornalismo surge com o desenvolvimento das relações capitalistas, Genro Filho (1987, p.47) discute o jornalismo imerso na funcionalidade capitalista, mas que este pode extrapolar o seu modo de produção.

Embora o jornalismo expresse e reproduza a visão burguesa do mundo, ele possui características próprias enquanto forma de conhecimento social e ultrapassa, por sua potencialidade histórica concretamente colocada, a mera funcionalidade do sistema capitalista.

Historicamente, o jornalismo é uma prática social que constitui um dos elementos de formação da opinião pública. Organizada de modo capitalista, a mídia jornalística é parte da esfera pública onde se formata esse fenômeno de difícil definição chamado opinião pública (RÜDIGER, 2003). Nesse sentido, Genro Filho (1987) assevera que “o modo de produção capitalista não existe apenas para satisfazer particularistas da burguesia, mas também como um momento da história universal.”. Ainda no século XIX, Karl Marx tenta provar a falácia de um conhecimento puro e objetivo ao introduzir o elemento social-econômico na configuração da realidade. Para ele conhecer não é contemplar, é lidar com as coisas. Assim, criamos o mundo na medida em que agimos sobre ele e o conhecimento é sempre impuro e condicionado pela configuração socioeconômica da época.

Thompson (1995, p. 89) descreve o percurso das indústrias de mídia até os anos 1980 indicando que a concentração e diversificação dos mercados têm suas origens com mudança da base econômica dos jornais ingleses no século XIX:

[...] os jornais se tornaram cada vez mais empreendimentos comerciais de grande porte que exigiam relativamente grandes quantidades de capital para começar a se manter devido à intensa

competição crescente. Por conseguinte o

tradicional proprietário-comunicador, que possuía um ou dois jornais como um negócio familiar, deu

lugar, de forma sempre crescente, ao

desenvolvimento de organizações de grande porte de muitos jornais e muitos meios.

Sodré, no seu livro História da imprensa no Brasil (1999), realiza algumas considerações sobre os meios de comunicação que nos auxiliam a compreender tanto o surgimento da Folha de São Paulo, como a conjuntura política econômica à época de sua fundação. Sodré considera que a passagem entre os séculos XIX e o século XX trouxeram mudanças significativas no jornalismo. A imprensa industrial começou a substituir a artesanal, além disso, o jornalismo brasileiro começava a se aproximar dos padrões e das características de uma sociedade burguesa. Assim, a transição entre os séculos XIX e XX marcou a mudança da pequena à grande imprensa, os jornais de pequenos portes, de estrutura simples, começaram a perder lugar às empresas jornalísticas de estrutura mais complexas, ou seja, com os modos de produção mais sofisticados com a aquisição de novas máquinas de equipamentos gráficos e de impressões, por conseguinte a produtividade começou a se desenvolver rapidamente. Para o autor, essa transformação no campo do jornalismo tinha uma conotação mais ampla, significava a ascensão da burguesia e o avanço das relações capitalistas com repercussões mais abrangentes que atingiram diferenciados setores do país. Para Sodré, após a Primeira Guerra Mundial, um jornal se caracterizava como uma empresa nitidamente estruturada conforme os modelos capitalistas. O autor pontua a virada do século como a fase de transição. Os pequenos jornais, de estruturas simples, as folhas tipográficas, cedem lugar às empresas jornalísticas, com estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de sua função. Se for assim afetado o plano de produção, o da circulação também o é, alterando-se as relações do jornal com o anunciante, com a política, com os leitores (SODRÉ, 1999, p. 275). A empresa jornalística assumiu, portanto as dimensões e as complexidades para que o capital encontrasse um meio para se reproduzir, no entanto estava disponível para poucos.

5.2 O JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO – BREVES