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A PESQUISA E SUA METODOLOGIA

4.1 Definindo o campo de investigação

De acordo com a Secretaria de Educação e Cultura da Bahia, a educação profissional do estado será oferecida prioritariamente em Centros de Educação Tecnológica –CETEB, administrados por Organizações Sociais, a fim de implementar a política educacional profissionalizante preconizada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96 e pelo Decreto 2208/97, ambos federais.

Além das escolas voltadas para os setores secundários e terciários da economia, três, das nove escolas agrotécnicas existentes na Bahia, serão transformadas em Centros de Educação Tecnológica: Vitória da Conquista, Juazeiro e Barreiras. As demais (Irecê, Ipiau, Wagner, Ribeira do Pombal, Amargosa e Feira de Santana) serão agregadas a esses centros.

Para financiar a reforma do ensino profissionalizante, o Governo Brasileiro assinou, em 24 de dezembro de 1997, um contrato de financiamento com o Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, no valor de US$ 250 milhões, aos quais se soma uma contrapartida nacional de mais US$ 250 milhões, perfazendo um total de US$ 500 milhões.

Através do financiamento, o governo busca desenvolver ações integradas da educação com o trabalho, a ciência e a tecnologia, objetivando a implantação de um novo modelo de Educação Profissional, que propicie a ampliação de vagas, a diversificação de oferta e a definição de cursos de forma adequada às demandas do mundo do trabalho e às exigências da moderna tecnologia. O Projeto de Reforma do Ensino Profissionalizante abrange as inovações introduzidas pela LDB, Decreto 2.208 e Portaria 646, tais como a melhoria de aspectos técnico-pedagógicos e a expansão da rede de Educação Profissional mediante parcerias com os Estados e com instituições do Segmento Comunitário.

Dentre os níveis de atuação do Programa de Expansão da Educação Profissional – Proep situa-se o redimensionamento da Educação Profissional, envolvendo aspectos de adequação e atualização de currículos, oferta de cursos baseada em estudos de mercado e contemplando como itens financiáveis nos projetos escolares, a construção, a ampliação ou reforma de infra- estrutura, a aquisição de equipamentos e materiais de aprendizagem e a capacitação de recursos humanos.

Foram aprovados, até 2001, 117 projetos, assim distribuídos: 42 convênios com instituições federais, 48 convênios com instituições do Segmento Comunitário, e 27 com instituições estaduais. O segmento comunitário (das Organizações Sociais) também foi responsável pela maior captação de recursos do Proep.

A primeira escola profissionalizante da Bahia que teve sua gestão publicizada foi a Áureo Filho, de Feira de Santana. Esta escola passou por um longo processo de reforma pedagógica, teve suas instalações reformadas e foi reequipada com recursos do Proep.

Com a reforma da educação profissional, a escola foi transformada em Centro de Educação Tecnológica da Bahia - Ceteb, ofertando cursos orientados para atender ao segmento industrial. O novo Centro passou a ser gerido por uma Organização Social (OS), nos termos da Lei Estadual 7.027, de 29 de janeiro de 1997. A OS gestora do Ceteb foi criada em 29 de julho de 1998, como pessoa jurídica de direito privado, constituída com o nome de Associação Centro de Educação Tecnológica da Bahia – Asceteb, formada, inicialmente, por 23 empresas. O quadro social da Asceteb é, portanto, constituído de pessoas jurídicas, fundamentalmente, de empresários da cidade de Feira de Santana. No lugar de uma organização social isonômica constituída pelos professores e funcionários da antiga escola, surge uma organização controlada pelos empresários da indústria, do comércio e dos serviços da cidade de Feira de Santana. O contrato de gestão entre o Governo da Bahia e a Asceteb foi assinado em maio de 2001.

A emergência da gestão escolar pública não-estatal descortina um novo e promissor campo de investigação científica para os pesquisadores e educadores brasileiros. De acordo com as políticas do Estado, as organizações sociais terão uma presença crescente como gestoras das escolas profissionalizantes do Estado. É uma iniciativa completamente nova do governo, assentada sobre pressupostos econômicos e políticos que carecem de confirmação científica. Estudar esse fenômeno da publicização, a partir dos casos concretos, é fundamental para compreendê-lo sob outra perspectiva, a científica pois. a pesquisa empírica do caso concreto de uma escola com a gestão publicizada confirmará ou não os pressupostos do Estado, além de contribuir com novos conhecimentos para aprimorar o modelo e os contratos futuros de gestão.

Assim, tomando o caso da Escola Áureo Filho, hoje Centro de Educação Tecnológica da Bahia, desenvolveu-se a investigação conduzindo-a em dois campos. O primeiro, de caráter

teórico, apoiado na literatura, teve uma perspectiva mais reflexiva, de concepção política mais geral de gestão pública no qual procurou-se articular as dimensões técnica e política da gestão pública. O segundo, de caráter empírico, buscou levantar dados que permitissem mensurar e avaliar indicadores de modo a aceitar ou rejeitar os pressupostos econômicos político- institucionais do Estado que fundamentaram sua decisão de implementar a publicização da gestão escolar.

Como mencionado anteriormente, o fenômeno da publicização da gestão escolar na Bahia é muito recente, de maio de 2001, quando teve inicio a experiência objeto dessa investigação.Assim, as avaliações de projetos em fase inicial de execução, ainda não consolidados, requerem cuidados nas inferências, nas conclusões que podem ser precipitadas e nas generalizações. Afirma-se desse modo, que algumas expressões dessa publicização só serão passíveis de serem avaliadas, com maior segurança, com um tempo maior de execução. No entanto, o fenômeno pode e deve ser estudado sob variadas dimensões, representando um campo novo, rico e desafiador para a investigação sobre a gestão escolar. Ressalta-se então que este estudo focaliza apenas algumas das dimensões que as circunstâncias objetivas permitem investigar.

Com base no quadro referencial teórico que fundamenta a investigação foram formuladas as seguintes hipóteses orientadoras da pesquisa:

• a autonomia da organização social gestora para captar recursos de outros órgãos públicos das esferas federal e municipal, de entidades privadas, de associações empresariais e de fundações possibilitará à OS diversificar suas receitas de modo que as receitas captadas através do contrato de gestão com o Governo do Estado representará, apenas, uma das fontes de receitas da gestora;

• a autonomia da OS para negociar e estabelecer internamente formas de estímulo à dedicação, à qualificação e à produtividade dos seus servidores possibilitará a essa organização obter padrão de qualidade superior no desempenho de suas atividades (maiores eficácia e eficiência) se comparada à atuação de escolas geridas segundo o modelo tradicional;

• no processo de publicização, os servidores mais vinculados ao sindicato da categoria tenderão a permanecer no quadro de funcionários do Estado, enquanto os de menor vínculo tenderão a optar pela sua transferência para a ASCETEB/Associação Centro de Educação Tecnológica da Bahia

Considerando-se então as questões propostas para este estudo e os limites já anunciados em função do tempo ainda curto dessa experiência foram formulados os objetivos do trabalho explicitados no item a seguir.

4.2 Objetivos

4.2.1 Geral

Caracterizar o fenômeno da publicização escolar e avaliar o desempenho do modelo de gestão.

4.2.2 Específicos

• Aferir o grau de eficácia e de eficiência do modelo de gestão escolar publicizado com organizações sociais em uma escola pública da Bahia

• Identificar vantagens e desvantagens do modelo de gestão escolar publicizado e propor medidas para aperfeiçoá-lo.

• Produzir conhecimento teórico-prático sobre gestão publicizada para apoiar as ações de gestão escolar.

• Investigar as motivações e traçar o perfil dos docentes e funcionários que optaram pela nova organização social e os que preferiram permanecer na administração estatal.