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3 O PROGRAMA MULHERES MIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS

3.1 Definindo Políticas Públicas

A sociedade de modo geral é repleta de conflitos, e segundo Rua (2009) uma das maneiras de administrar conflitos é por meio da política, que “consiste no conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica dos conflitos quanto a bens públicos.” (RUA, 2009, p. 16). Se a política serve para resolver conflitos quanto a bens públicos, então é inevitável falar em políticas públicas, e, para adentrarmos no assunto, trazemos um esclarecimento de Rua (2009) para o termo Políticas Públicas.

O termo “política”, no inglês, politics, faz referência às atividades políticas: o uso de procedimentos diversos que expressam relações de poder (ou seja, visam a influenciar o comportamento das pessoas) e se destinam a alcançar ou produzir uma solução pacífica de conflitos relacionados a decisões públicas. (p. 18).

Ainda sobre definição do que vem a ser Políticas Públicas, Souza (2006, p. 26) aponta que podem ser definidas,

[...] como o campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações (variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real.

As ações do governo e as propostas de mudanças devem atender às demandas da sociedade, no intuito de atingir mudanças reais e necessárias, priorizando aqueles excluídos socialmente. Oliveira (2010, p.3) salienta que “[...] os grupos de interesse10, organizados socialmente, traçam estratégias políticas para pressionarem o governo a fim de que políticas públicas sejam tomadas em seu favor”. Ou seja, os grupos de interesse e movimentos sociais, embora não tenham o poder de decisão quanto à criação de políticas públicas, conseguem influenciar em tal decisão, para que – ao menos em parte – suas reinvindicações sejam atendidas. Jardim, Silva e Nharreluga (2009, p. 17) ressaltam que,

Uma política pública não é apenas um conjunto de decisões. É concebida, formulada e implementada a partir de atores sociais diversos que se relacionam e se influenciam mutuamente em um ambiente de conflitos e consensos.

Ainda a respeito dessa relação sociedade/Estado/políticas públicas, Yazbek (1996, p. 19) ressalta que,

É importante lembrar que da sociedade civil partem demandas que o Estado deve atender. Ambos, sociedade civil e Estado, resultam de relações sociais contraditórias e produzem instituições e políticas voltadas ao atendimento das necessidades sociais e políticas da sociedade.

Diante disso, podemos inferir que o Programa Mulheres Mil é resultado dessa relação de conflitos e consensos da sociedade em busca de seus interesses, mas historicamente vemos prevalecer os interesses da classe dominante. No entanto, isso não se apresenta abertamente; muito pelo contrário, os benefícios adquiridos pela classe dominante aparecem como se fossem de interesse coletivo, como uma estratégia para garantir dominação e poder. Portanto, essa relação Estado/sociedade é “uma relação que, sob a aparência da inclusão, reitera a exclusão, pois inclui de forma subalternizada, e oferece como benesse o que é na verdade direito”. (YAZBEK, 1996, p. 22).

Considerando que o Brasil firma parcerias/acordos com outros países, como resultado dessas parcerias existe obrigações a serem cumpridas. Além disso, existem as conferências mundiais11, realizadas por organismos internacionais que

10 Oliveira (2010, p. 3) designa que os grupos de interesses podem ser “econômicos, étnicos, de gênero, culturais, religiosos, etc.”

11

Podemos exemplificar estes encontros internacionais como os que resultaram nas Metas do Milênio e as Metas Educativas.

também cobram um posicionamento dos países diante de problemas que estes apresentam, tendo como um dos resultados, as políticas sociais.

Chega-se, portanto, ao início do século XXI, com um Sistema de Proteção Social marcado pelos traços da reforma dos programas sociais, sob a orientação de organismos internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento, expresso pela descentralização, privatização e focalização dos programas sociais. (SILVA; YAZBEK, GIOVANNI, 2014, p. 23). As conferências mundiais acontecem por conta de interesses econômicos e sociais dos detentores de poder, mas também têm uma participação da população, que se mobiliza pressionando os governos em busca de melhorias para os excluídos socialmente. Não que as conferências atendam às necessidades dessa população, mas a partir dessas conferências, algumas ações são realizadas para abrandar a população.

De acordo com Yazbek (2006, p. 44-45)

O que se observa é que os trabalhadores pobres, as classes subalternizadas e submetidas à espoliação engendrada pela sociedade capitalista reagem à sua situação de pobreza de

diferentes formas, que muitas vezes se combinam: quer

desenvolvendo estratégias de sobrevivência extremamente diversificadas, quer vindo a constituir-se em demandatária dos

programas das políticas públicas, ou ainda, articulando-se em

movimentos que tem o Estado como alvo prioritário de suas lutas sociais. É a carência como uma situação social, e não como uma situação individual de alguns, que define o caminho das ações coletivas de enfrentamento da pobreza por parte dos subalternos. (grifos nossos).

Diante do exposto, reiteramos nosso entendimento de que o Programa Mulheres Mil é resultado dessa demanda social juntamente com a demanda de interesses políticos capitalistas, que acabam resultando em políticas distributivas que segundo Frey (2000, p. 223-224),

[...] são caracterizadas por um baixo grau de conflito dos processos políticos, visto que políticas de caráter distributivo só parecem

distribuir vantagens e não acarretam custos – pelo menos

diretamente percebíveis – para outros grupos. [...] Em geral, políticas distributivas beneficiam um grande número de destinatários, todavia em escala relativamente pequena: [...]. (grifo nosso).

Ou seja, são implementadas políticas compensatórias entendidas como:

[...] todo tipo de ação de governos que tem por objetivo minimizar carências nas condições de vida de estratos sociais específicos, vistos como prejudicados ou discriminados pelo padrão dominante de distribuição da riqueza social. (SILVA, 2010, n.p.).

Essas políticas visam atender - em parte – a algumas das reinvindicações dos grupos de interesse no intuito de atenuar problemas presentes no país (extrema pobreza, desemprego, desigualdade racial, desigualdade de gênero, etc.) e com isso diminuir sobre o governo a pressão exercida por estes grupos.

Após apresentarmos algumas informações relativas às políticas públicas de forma mais objetiva, no próximo item trazemos informações concernentes às políticas de gênero e geração de renda.