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3 MÉTODO

3.1 DELINEAMENTOS DO ESTUDO

A definição e a transparência dos procedimentos metodológicos que orientam uma pesquisa são essenciais para que o pesquisador possa atingir os seus objetivos. Estudos de caso, de um modo geral, podem categorizar-se como unicamente qualitativos ou quantitativos, mas ainda existem estudos do tipo mistos, qualitativos e quantitativos. A abordagem metodológica adotada na presente pesquisa esteve vinculada ao paradigma construtivista ou naturalístico, consistindo como estratégia de pesquisa estudo de caso do tipo múltiplo e qualitativo. Os casos são professores brasileiros e argentinos. Mazotti (2006) explicita que na área da educação é mais comum o estudo de caso que tenha uma unidade de análise, mas que também encontramos casos múltiplos que enfocam vários indivíduos, várias instituições, etc. Para Yin (2005) os estudos de caso múltiplos estão aos poucos tendo predomínio. Destacando ainda que casos únicos impedem a replicação de informação, podendo oferecer conclusões analíticas pouco contundentes, mas o importante não é o número de casos, mas o pesquisador analisar profundamente cada um deles.

Merriam (1988) destaca que à estratégia do estudo de caso é uma descrição densa e holística de um fenômeno ou de um programa, de uma instituição, de uma pessoa, de um processo social. Yin (2005) explica que holística é um termo que vem do grego “holos”= igual ao todo.O termo indica uma tendência de ver o todo além das partes.

Outro aspecto a pontuar é que a escolha realizada da estratégia de pesquisa, o estudo de caso, deve-se pela sua apropriação para a área educacional e ainda pelo desejo de conhecer realidades diferentes. Para Lincoln e Guba (1985), é a metodologia ideal para a área educacional, pois oferece a possibilidade de descrições densas que permitem fazer julgamentos, é um retrato da situação, de várias realidades. Na pesquisa qualitativa, o estudo de caso é considerado o design

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ideal para lidar com situações complexas e ricas da área educacional (CASTRO, 1993).

Ainda, para os autores Lincoln e Guba (1985), o estudo de caso é considerado a forma ideal de relatório de pesquisa para o paradigma naturalista ou construtivista. Enquanto a pesquisa tradicional se apoia em uma única realidade e fragmentada, ele aponta diversas realidades que são elaboradas de maneira holística. São formas singulares de estudos, trazendo construções e reflexões sobre o objeto da pesquisa, podendo surgir novas variáveis ao longo da análise frente ao estudo. Além disso, ele pode levar em consideração, colocar no domínio da ciência, os valores e crenças do pesquisador, ou seja, analisam fenômenos sociais complexos.

Stake (1998) salienta que o estudo de caso permite que o pesquisador procure as peculiaridades e complexidades de um caso em particular ou de mais de um, como, por exemplo: o estudo de um grupo de alunos, professores, um determinado movimento de profissionais, uma equipe médica que pretende compreender melhor os casos de crianças com alguma doença. O autor enfatiza que as pesquisas de estudo de caso em educação e em serviços sociais constituem, quase sempre, programas, grupos de alunos e educadores ou uma comunidade.

Completando o pensamento de Stake, a abordagem qualitativa metodológica do estudo de caso é uma das possibilidades de método de pesquisa adequado para estudos em ambientes educacionais, porque as relações que se estabelecem são complexas e inexiste o controle sobre o comportamento humano (YIN, 2005). Neste sentido, ele é favorecido por aspectos relacionados à subjetividade da pessoa que conhece (pesquisador) sobre quem é conhecido (sujeitos da pesquisa). No paradigma positivista é atribuída a objetividade, ou seja, a separação entre sujeito da pesquisa, pesquisador e objeto de estudo. Os conhecimentos prévios e as interrogações, o contato do pesquisador com o objeto de estudo são importantes porque enriquecem a investigação. Yin (2005) esclarece que o grau de qualidade do estudo de caso está na habilidade de o pesquisador examinar as evidências, uma vez que não existem receitas ou fórmulas fixas para orientar a análise. É necessário ter a habilidade em incorporar à investigação as percepções ou “insights”, as emoções e as intuições, ocorrendo a entrega ou o envolvimento do pesquisador com

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o objeto. A pesquisa é marcada por valores, não existindo neutralidade, e sim um posicionamento epistemológico transparente.

Assman (1996) explicita as características de um bom paradigma, que deve incluir ser exato, consistente, amplo, simples e útil. É importante reconhecer o processo de pesquisa que é realizado por seres humanos, vivendo a experiência de forma integrada. “Assim todos os insights, emoções, intuições são incorporados de uma forma sistemática no processo de pesquisa. O paradigma naturalístico é reconhecido e incorporado ao decurso da investigação” (CASTRO, 1994, p. 57).

Outro aspecto a ressaltar é que a perspectiva naturalística inicia-se dentro de ambiente natural, pois, independente do nosso objeto de estudo, ele adquire sentido e significado no seu contexto original de ocorrência, utilizando a observação (CASTRO, 1994). O pesquisador, com sua experiência, bagagem de conhecimentos, é parte integrante do processo da pesquisa, como instrumento humano, e suas capacidades e competências pessoais (ler, escutar, olhar) vão dar direção, enriquecer ou limitar a produção do conhecimento. Através das experiências, vão sendo adquiridos conhecimentos e sendo construídas novas relações, associações, significados que levam a novas ideias. Além disso, no paradigma naturalístico ou construtivista, a amostra é intencional, sendo definida, tendo em vista os objetivos do estudo, que, no decorrer do processo da realização, vão se esclarecendo.

Pesquisas nessa perspectiva valorizam a construção do conhecimento pelo sujeito através da experiência, considerando os conhecimentos prévios, conjunto de valores e crenças das pessoas envolvidas na aprendizagem. A ação construtivista é reflexiva, numa visão de compreensão, construção e reconstrução.

O estudo, dentro de uma abordagem qualitativa, possibilita uma visão frente às diferentes concepções da realidade. Ele pode lidar com muitas variáveis e recursos, como documentos, leis, planos, programas educacionais, entrevistas, observações.

Bogdan&Biklen (1994, p. 49) esclarece que:

A abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a idéia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para

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constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora de nosso objeto de estudo.

A metodologia de pesquisa qualitativa se opõe à pesquisa tradicional, porque a realidade é compreendida de forma mais complexa, podendo ser construída pelo sujeito que conhece. Além disso, numa perspectiva qualitativa, o pesquisador entra em contato com o fenômeno de seu interesse sem a obrigação de assumir uma postura de neutralidade diante da pesquisa. Com isso, tem-se a compreensão e descrição das experiências pessoais do fenômeno, sendo que as abordagens qualitativas são sensíveis a situações locais, condições e necessidades dos interessados (JOHNSON E ONWUEGBUZIE, 2004).

A marca desta pesquisa é a abordagem qualitativa na busca do significado humano dos fenômenos, na tentativa de compreender os fenômenos do ponto de vista daqueles que o vivenciam.

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