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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.5 Disponibilidade e Demandas Hídricas da Barragem Bocaina

3.5.2.1 Demanda atual

a) Demanda para abastecimento humano

Não foi constatada nenhuma retirada de água do reservatório Bocaina para fins de abastecimento da população da área de influência. O abastecimento humano (urbano e rural) dos municipais Bocaina, Sussuapara e Picos é feito atualmente através de poços.

b) Abastecimento animal

A população animal, geralmente, é contemplada no abastecimento rural dos municípios, já que se supõe que esta está concentrada nos povoados e localidades rurais, exceto aquele rebanho localizado próximo à fonte hídrica que se abastece diretamente dela, seja esta rios, lagos naturais e artificiais.

O consumo “per capita” considerado, correspondente aos animais de médio e grande portes, foi a BEDA (Bovinos Equivalentes para Demanda de Água), utilizada no Projeto Áridas (1995). Para o cálculo deste consumo os diversos elementos pecuários são transformados nessa unidade hipotética, denominada BEDA.

A BEDA agrega projeções dos bovinos, equinos, ovinos, caprinos e suínos, ponderando o que cada espécie utiliza de água em relação ao bovino, da seguinte forma:

BEDA = ΣBovinos + ΣBubalinos + ((ΣEquinos + ΣMuares + ((ΣAsinino)/1.25) +

((ΣOvino+ΣCaprino)/6.25)+(ΣSuino/5)+Σ(Aves/250) (3.12)

Para o cálculo da demanda de água do rebanho foi aplicado o mesmo índice de demanda da Beda (IDBEDA) utilizado pelo Projeto ÁRIDAS (1995) que admitiu que o consumo de um bovino é da ordem de 50 l/unidade/dia.

IDBeda = 50 l/BEDA/dia (3.13) A demanda para o abastecimento animal (QDAA) determina-se através da seguinte expressão:

QDAA(l/s) = BEDA X IDBeda (litro/BEDA/dia) (3,14) 86400 s/dia

As demandas para o abastecimento animal foram definidas com base no rebanho que se abastece com a água regularizada pela Barragem Bocaina e que pertence aos municípios localizados na margem do Rio Guaribas a jusante do barramento até a confluência com o rio Itaim, isto é, Bocaina, Sussuapara e Picos.

Grande parte do rebanho animal da bacia se encontra nas áreas rurais dos municípios, mas não necessariamente próximos ao rio regularizado pelo reservatório em estudo. Ou seja, do total do rebanho registrado pelo IBGE não todo ele é abastecido com água do reservatório Bocaina.

Por exemplo, para o rebanho de Picos e de Bocaina foi estipulada uma porcentagem do total do rebanho por cada município considerando a relação dos habitantes dos povoados localizados na faixa de 1km de cada margem do rio Guaribas, a jusante do barramento - considerando esta distância como suficiente para o deslocamento do rebanho - com o total da população rural do município correspondente, já que estes municípios têm áreas rurais afastadas do rio Guaribas. Já para Sussuapara foi considerado todo o rebanho pela localização do município, tanto das áreas rurais como da área urbana.

Na faixa estipulada a jusante da barragem, foram detectados 28 povoados, dos quais 14 pertencentes a Picos, 09 a Sussuapara e 05 a Bocaina; além desses povoados, as sedes municipais de Picos, Bocaina e Sussuapara ficam nessa área, como mostrado na Figura 3.10.

Figura 3.10.- Povoados na faixa de regularização do rio Guaribas

Fonte: SEMAR/PI

Com a contagem desta população e a relação com a quantidade total da população rural dos municípios envolvidos resultaram as seguintes porcentagens que foram aplicadas para

estimar a população animal para os horizontes atual e futuro, atendida pela água da barragem: Bocaina 95%, Picos 20%, e Sussuapara 100%.

O último censo do rebanho animal disponível no IBGE foi o de 2001, assim, foi necessário aplicar uma taxa de crescimento para estimar a população do horizonte considerado atual neste estudo.

Foram calculadas as taxas de crescimento da população animal, ano a ano, com base na equação 3.15 para cada município.

2 1 1 * 1 2 t t op op P i P    (3.15) onde

Pop2 e Pop1 = populações censitárias para os anos t2 e t1, respectivamente; i = taxa de crescimento da população

Com as taxas de crescimento calculadas foram obtidas curvas de regressão por ajuste linear, polinomial, exponencial, logarítmicos e potência, para cada rebanho e para cada município. Foi escolhida, em cada caso, aquela com melhor ajuste para a projeção da população animal correspondente.

c) Demanda para irrigação - QDirr

A demanda para irrigação considerada neste estudo foi a estimada no Relatório de cadastramento de usuários do Rio Guaribas - Reservatório Bocaina elaborado pela ANA e a SEMAR em 2013, informação mais recente de que se dispõe.

O cadastramento foi realizado ao longo do rio Guaribas, a jusante da barragem até a confluência com o rio Itaim, em ambas as margens. Foi motivado pela situação emergencial decorrente do baixo nível de água do reservatório Bocaina em 2013 e do fato de que a água liberada no reservatório não estaria atingindo o trecho mais baixo do rio Guaribas, de Picos até a confluência do rio Guaribas com o rio Itaim.

Essa situação trouxe graves implicações econômicas e sociais para os irrigantes da região que perderam as suas plantações e, principalmente, para a Cooperativa Mista Agroindustrial Vale do Guaribas - COMAVEG, importante empreendimento na região que produz e comercializa doces de goiaba e banana utilizando como material prima as frutas provenientes da agricultura irrigada dos cooperados. A previsão era de que a situação se agravasse por causa do prolongamento da seca que tinha iniciado em 2010 e se alastrava até a época.

O objetivo do cadastramento era conhecer a demanda hídrica existente para esta atividade e subsidiar com bases técnicas a otimização da operação da barragem, de responsabilidade do DNOCS.

Foram cadastrados os usuários que utilizam bombas para irrigar áreas localizadas no entorno do lago formado pelo reservatório da barragem Bocaina e o trecho do rio Guaribas entre o barramento e a confluência com o rio Itaim, em ambas as margens.

Foram levantadas informações gerais como: tipo de captação, corpo hídrico de captação, localização da captação, vazão de captação e operação. Foram levantados 203 usuários e 212 pontos de captação (há usuários com mais de um ponto de captação).

No relatório supracitado, a estimativa da demanda de irrigação foi feita de acordo com a metodologia recomendada no "Manual de procedimentos técnicos e administrativos de outorga" da ANA seguindo as recomendações específicas da FAO. Também os dados meteorológicos e parâmetros agronômicos necessários para as estimativas das demandas de irrigação foram obtidos da base de dados meteorológicos dessa instituição.

A partir dos coeficientes de culturas calculados com base no calendário de culturas informado pelos usuários para cada sistema de irrigação, foram calculados coeficientes de cultura equivalentes mensais para cada ponto de captação, por meio da ponderação dos coeficientes de cultura de cada sistema de irrigação pela respectiva área irrigada.

O volume mensal de captação necessário para atender a área irrigada pelo ponto de captação foi obtido transformando a lâmina em volume por hectare, utilizando o fator 10, que considera a relação 1mm = 1,0 L/m² = 10,0 m³/ha.

As horas mensais consideradas de operação dos sistemas foram: até 744 nos meses com 31 dias, 720 nos meses com 30 dias e 672 em fevereiro. A vazão de captação contínua ao longo do tempo foi a vazão usada para a totalização das demandas hídricas para a irrigação.

Nas estimativas das demandas de irrigação em ANA (2013), utilizadas neste estudo, foram considerados os aspectos do uso racional da água preconizados no artigo 8 da Resolução ANA nº 707/2004.

Foi aplicada uma eficiência média ponderada do uso da água na irrigação no ponto de captação igual a 54,8%, calculada ponderando a área de cada sistema de irrigação atendido no ponto com a eficiência (em %) compatível com o sistema de irrigação existente na área e considerando todas as perdas de água no sistema irrigado, desde a captação até a aplicação.

Não foram consideradas nas estimativas de eficiências de irrigação, as perdas no trecho de rio entre o reservatório e o ponto de captação. A Tabela 3.18 mostra as eficiências

utilizadas para a ponderação, correspondentes a cada tipo de sistema de irrigação existente na região.

Tabela 3.18.- Eficiências mínimas dos sistemas de irrigação - Resolução ANA 707/2004

Sistema de Irrigação Eficiência de

Irrigação (%) Sistema de Irrigação

Eficiência de Irrigação (%)

Sulcos 60 Pivô central 85

Inundação 50 Microaspersão 90

Aspersão convencional 75 Gotejamento 95

Autopropelido 75 Tubos perfurados(tripas) 85

Fonte: ANA (2013)

d) Demanda para Piscicultura

Na Barragem Bocaina existe um projeto de piscicultura intensiva, com tanques- rede, implantado com apoio da CODEVASF e manejado pela Cooperativa Aquícola Regional de Picos (COAP) que tem impulsionado a economia da região devido à diversificação da atividade econômica que se reduzia à agropecuária e ao comercio, ao bom retorno econômico associado ao crescimento do poder aquisitivo da população e ao aumento da demanda por ser um produto aceito na sociedade de consumo. Segundo CODEVASF (2012), o empreendimento teve início em 2005, com o fornecimento, por parte da CODEVASF, de 70 tanques-rede e insumos. A partir daí, o arranjo produtivo local de piscicultura se consolidou.

Atualmente, a COAP conta com 43 piscicultores cooperados dos municípios de Picos, Sussuapara, Bocaina e região. Juntos, eles produzem cerca de 320 toneladas de tilápia do Nilo ao ano, contando com cerca de 510 tanques-rede. A área total explorada é de 0,22 ha e a principal espécie de peixe cultivada é a Tilápia do Nilo. Segundo dados do PERHPI - RT6, em 2009 a produção atingida foi de 72 t.

A piscicultura intensiva desenvolvida na barragem não é uma demanda hídrica consuntiva pois os tanques-redes foram implantados dentro do lago. A restrição deste tipo de piscicultura está na área disponível que deve cumprir com os requisitos técnicos do criatório de forma a assegurar espaço mínimo, níveis de oxigênio necessário, evitar desestratificação, evitar o comprometimento da qualidade da água para o próprio cultivo e para outros usos a que a reserva hídrica se destina, para isto deve ser assegurado o regime de renovação da água que não é regular pois depende do regime de chuva (há maior renovação na época de chuva e menor na estiagem). Assim, o empreendedor deverá avaliar a possibilidade de aumentar ou diminuir a intensidade de produção dependendo da maior ou menor renovação da água do reservatório.

Em novembro de 2012 a barragem atingiu 30% da sua capacidade e a produção de peixe caiu pela metade, segundo os cooperados (http://www.riachaonet.com.br/ de 25/11/2012) o que trouxe um grande prejuízo na economia da região. Esta situação se prolongou durante os anos de 2013, 2014 e 2015 pois com a prolongação da seca, o nível da barragem atingiu 14,3% da sua capacidade e a produção de peixes continuou diminuindo.

Neste estudo não será considerada uma demanda hídrica para a piscicultura, apenas, no confronto de oferta x demanda hídrica será analisada a situação de armazenamento da barragem com relação ao atendimento das demandas, como subsidio de alerta aos piscicultores na necessidade de aumentar ou diminuir a produção.

e) Demanda Ecológica

A vazão ecológica é comumente considerada como 10% da vazão regularizada com garantia mensal de 90%. Vestena et al. (2012) definindo a vazão ecológica e disponibilidade hídrica na bacia das Pedras, Guarapuava, no Paraná, relacionaram os critérios utilizados por vários estados da federação para fixar as vazões de outorga e ecológica. No caso da existência de barramentos em rios intermitentes Bahia e Pernambuco utilizam como vazão ecológica 5% da Q90; Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, utilizam 10% de Q90. O Piauí não estabeleceu esse critério ainda.

Como o rio Guaribas, rio represado pela barragem Bocaina bem como os seus principais afluentes são intermitentes, a vazão ecológica considerada neste estudo foi de 10% da Qreg90, mesmo critério utilizado pelos estados Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

3.5.2.2 Demanda futura

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