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Demanda Química de Oxigênio (DQO) dos lixiviados dos protótipos de

4. MATERIAL E MÉTODOS

4.4. Monitoramento dos protótipos de solo e de solo + 70% ADF

4.4.1. Demanda Química de Oxigênio (DQO) dos lixiviados dos protótipos de

Foram realizados os ensaios de Demanda Química de Oxigênio (DQO) nas amostras de lixiviado coletadas dos protótipos de solo e de solo + 70% ADF, em triplicatas. Os testes foram realizados no Laboratório Físico-Químico da Faculdade de Tecnologia – FT, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.

Após coleta, as amostras de lixiviados foram mantidas em vidro âmbar e as análises realizadas no mesmo dia da coleta, respeitando o período de preservação das amostras.

Inicialmente, devido aos altos valores de DQO encontradas nas primeiras coletas de lixiviado, foi necessário realizar uma sequência de diluições nas amostras, as quais foram definidas nas proporções de 1, 2 e 4% para o solo e 1, 3 e 6% para a mistura de solo + 70% ADF, respectivamente, determinadas a partir das leituras preliminares de DQO realizadas nas amostras no equipamento de espectrofotômetro. A água de diluição era por solução tampão fosfato, solução de sulfato de magnésio, solução de cloreto de cálcio e férrico. Entretanto, ao longo do processo de monitoramento, as análises passaram a ser realizadas sem diluição, devido ao baixo valor de DQO (próximo ao branco de referência) em razão dos processos de biodegradação de resíduos orgânicos.

Para o preparo dos frascos com reagentes para DQO foram utilizados 3,5 mL de solução catalizadora com ácido sulfúrico (H2SO4), 1,5 mL de solução

digestora com dicromato de potássio (K2Cr2O7) e 2,5 ml das amostras em triplicatas.

Esses fracos foram então colocados em um bloco digestor, da marca Ação Científica modelo AC750, por um período de 2 horas à 150 °C, para posterior leitura dos valores de DQO no espectrofotômetro.

O equipamento utilizado para leitura da DQO foi o espectrofotômetro da marca Hach modelo DR 2000. O método utilizado foi o Método 5220 D - Closed Reflux, Colorimetric Method, de acordo com APHA (2012).

4.4.2. Monitoramento da movimentação vertical (recalques) dos protótipos

Os recalques em aterros sanitários correspondem à redução de volume do maciço, devido à biodegradação dos resíduos sólidos e dos processos decorrentes da compactação e compressibilidade, com consequente redução de vazios e expulsão de lixiviados e gases (ARAÚJO NETO, 2016; FARIAS, 2014).

Desta forma, para determinar os recalques ocorridos em cada protótipo durante o período de monitoramento, construiu-se um dispositivo (perfilômetro) composto por 8 hastes de alumínio, semelhante à metodologia adotada por Monteiro

et al. (2006). Este dispositivo foi posicionado sobre a camada superficial de cada

protótipo, através dos apoios laterais da estrutura (Figura 7). A movimentação horizontal das hastes do perfilômetro foi verificada durante 18 meses.

Figura 7. Perfilômetro de hastes verticais para medição dos recalques dos protótipos de solo e de solo + 70% ADF

Fonte: Autora, 2017.

4.5. Processo de desmontagem dos protótipos e metodologia para obtenção de amostras semi-indeformadas dos protótipos

Após o período de 24 meses de monitoramento, os protótipos foram desmontados e foram obtidas amostras semi-indeformadas para análises microbiológicas, físico-químicas e hidráulicas, e assim verificar possíveis alterações nas camadas de resíduos orgânicos e respectivas coberturas (solo ou solo + 70% ADF).

A extração das amostras semi-indeformadas foi realizada com auxílio de fôrmas de PVC com 5 cm de diâmetro interno e 10 cm de altura (Figura 8a), cravadas de forma manual (Figuras 8b e 8c) para obtenção das amostras semi- indeformadas dos protótipos (Figura 8d).

Figura 8. Extração das amostras semi-indeformadas dos protótipos

8a. Fôrma de PVC 8b. Fôrma cravada no protótipo

8c. Extração manual das amostras semi- indeformadas

8d. Amostra semi-indeformada extraída dos protótipos

Fonte: Autora, 2019.

4.6. Análises realizadas nas amostras semi-indeformadas extraídas dos protótipos de solo e de solo + 70% ADF

4.6.1. Determinação do coeficiente de permeabilidade (K) das amostras semi-indeformadas, obtidas após o monitoramento dos protótipos.

Devido à necessidade de se avaliar a permeabilidade do maciço de materiais que compuseram os protótipos (solo e solo + 70% ADF) e resíduos sólidos orgânicos, foi proposta uma metodologia para se utilizar as amostras semi- indeformadas nos permeâmetros, para obtenção do K à carga variável, adaptando- se a NBR 14545 (2000).

As amostras semi-indeformadas foram obtidas em 3 alturas diferentes de cada protótipo, considerando a seguinte sequência:

- Altura 1: correspondente a camada de cobertura final dos protótipos (de encerramento);

- Altura 2: correspondente às camadas de coberturas diárias e intermediárias dos resíduos sólidos;

- Altura 3: correspondente à camada de fundo, ou camada mais profunda dos protótipos.

Dessa forma, seguiu-se a sequência de extração das amostras respeitando as alturas acima descritas: solo1, solo2, solo3 e solo + 70%ADF1, solo +

70% ADF2, solo + 70% ADF3, conforme demonstra a Figura 9.

Figura 9. Alturas das extrações das amostras semi-indeformadas nos protótipos

Para tal extração, montaram-se os permeâmetros com as próprias fôrmas de PVC utilizadas na extração das amostras semi-indeformadas (Figura 8). Isso foi necessário devido a possível desagregação das amostras com a retirada das mesmas das fôrmas. Os permeâmetros adaptados foram preparados conforme as seguintes etapas:

- Desenvolvimento de tampa com rosca e anel vedante superior com orifício central para introdução de mangueira acrílica para entrada de água dentro dos corpos de prova em tubos de PVC (Figura 10a);

- Desenvolvimento de tampa com rosca e anel vedante inferior com micro furos para saída de água infiltrante dos corpos de prova em tubos de PVC (Figura 10b);

- Acoplagem do corpo de prova no permeâmetro e na mangueira acrílica utilizada para entrada de água no sistema (Figura 10c e 10d);

- Realização do ensaio de permeabilidade à carga variável adaptado, monitorando o tempo de ensaio necessário para se obter uma variação na coluna de água (bureta) passiva de mensuração (Figura 10e).

Figura 10. Desenvolvimento de permêametros com os corpos de prova utilizados para extração das amostras semi-indeformadas dos protótipos

Fig. 10a. Tampa vedante superior para entrada de água no permeâmetro

Fig. 10b. Tampa inferior vedante para saída de água do permeâmetro

Fig. 10c. Inserção do corpo de prova no fundo do permeâmetro

Fig.10d. Acoplagem da mangueira acrílica no permeâmetro

Fig. 12e. Ensaio de permeabilidade à carga variável

4.6.2. Quantificação de bactérias heterotróficas e fungos em amostras de solo e de solo + 70% ADF extraídas dos protótipos

A quantificação de micro-organismos – bactéria heterotróficas e fungos, foi realizada nas amostras dos protótipos de solo e de solo + 70% ADF. As análises, para cada amostra de solo e de solo + 70% ADF obtidas em 3 diferentes alturas de cada protótipo (solo1, solo2 e solo3; solo + ADF1; solo + ADF2; solo + ADF3), foram

montadas em placas de Petri esterilizadas, em duplicatas, conforme prescreve norma técnica L5.201 (CETESB, 2006).

Para o preparo das águas de diluição foi utilizado 1 g de peptona para cada litro de água destilada, colocados em agitador magnético por 15 minutos. Os frascos foram preparados com 90 ml dessa solução e autoclavados a 121ºC por 15 minutos e depois armazenados em geladeira. Para cada 10 g das amostras de solo e da mistura de solo + 70% ADF foram utilizadas 90 ml de água de diluição. A Figura 11 ilustra a sequência adotada para as diluições e a técnica de Pour-Plate adotada de inoculação de micro-organismos (CETESB L5.201, 2006).

Figura 11. Sequência de diluições seriada das amostras e inoculação Pour-Plate de micro-organismos

O esquema de diluições seguiu a seguinte proporção: 10 ml do frasco do frasco anterior adicionados a 90 ml do frasco de diluição seguinte, assim até completarem 8 diluições subsequentes, atingindo a concentração de 10-8g.

Adotou-se a técnica de inoculação em profundidade de Pour-Plate, a qual garante maior disponibilidade dos meios de cultivo às bactérias e fungos, recomendada pela L5.201 (CETESB, 2006), seguindo os métodos descritos para tal análise (AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, 2012).

Foi inoculado 1 ml da água de diluição com amostra de solo e solo + 70% ADF nas diluições de 10-2 a 10-5g de concentração para bactérias, e 10-4 a 10-8g

para fungos, respectivamente, e desta forma, vertidos os meios de cultura nas placas de Petri (Figura 12).

Figura 12. Preparo das concentrações das Placas de Petri

Fonte: Autora, 2019.

Para os preparos dos meios de cultura, foram adicionados, para cada litro de água destilada, 23,5 gramas de Plate Count Agar (PCA) e 65 gramas de

Sabouraud Dextrose Agar (SDA), para cultivo de bactérias e fungos,

respectivamente, e mantidos em frasco âmbar na geladeira.

As placas foram incubadas na estufa à 35,5oC por 48 horas e 28oC por 72

horas para contagem de bactérias e fungos, respectivamente.

Após este período de incubação foram selecionadas as placas em duplicatas que apresentaram de 30 a 300 colônias. Calculou-se a média aritmética

das contagens e multiplicou-se o valor pelo inverso da diluição utilizada, obtendo-se desta forma a densidade de bactérias heterotrófica e fungos em cada placa selecionada (equação 2). Os resultados foram expressos em UFC/g (unidades formadoras de colônias por grama) de acordo com L5.201 CETESB, 2006.

(2)

4.6.3. Demanda Química de Oxigênio (DQO) dos extratos solubilizados de amostras sólidas extraídas na desmontagem dos protótipos de solo e solo + 70% ADF

Os ensaios de análise da Demanda Química de Oxigênio (DQO) foram realizados nas amostras extraídas dos protótipos e identificadas em função do material utilizado como cobertura e da profundidade de extração (solo1, solo2 e solo3;

solo + ADF1; solo + ADF2; solo + ADF3).

Por se tratarem de materiais sólidos, foram preparados extratos solubilizados. Para isso, fez-se a diluição de 100 g dos materiais secos em 400 mL de água destilada, que foi levada ao agitador mecânico por tombamento (Tumbler), com rotação de 30 rpm, durante 24 h (Figura 13). Após este processo de homogeneização, os extratos foram deixados em repouso por cerca de 1 h e o sobrenadante coletado para análise.

Figura 13. Processo de homogeneização das amostras dos protótipos de solo e de solo + 70% ADF

4.6.4. Determinação dos índices físicos das amostras semi- indeformadas extraídas após a desmontagem dos protótipos

A determinação da massa específica dos sólidos, referente às amostras semi-indeformadas, extraídas dos protótipos após o monitoramento, teve como objetivo principal verificar as possíveis alterações nos materiais utilizados como cobertura das camadas de resíduos orgânicos. Esse índice físico foi obtido a partir dos procedimentos descritos na NBR 6458 (ABNT 2016). As Figuras 14a e 14b mostram as etapas de montagem dos picnômetros e aplicação de vácuo que correspondem às etapas deste ensaio.

Figura 14. Ensaio de determinação de massa específica dos sólidos das amostras extraídas dos protótipos

Fig.14a. Sequência de picnômetros utilizados para ensaio de massa específica das amostras

retiradas dos protótipos

Figura 14b. Aplicação de vácuo nos picnômetros

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Caracterização dos materiais (solo, ADF e solo + 70% ADF)

5.1.1. Análise granulométrica dos materiais (solo, ADF e solo + 70% ADF)

As curvas granulométricas, obtidas a partir dos ensaios de granulometria para as amostras de solo, ADF e mistura de solo + 70% ADF, estão apresentadas na Figura 15.

Figura 15. Curvas granulométricas dos materiais (solo, ADF e solo + 70% ADF)

Para auxiliar na análise dos dados, obteve-se alguns parâmetros relativos à granulometria, os quais estão apresentados na Tabela 6.

Tabela 6. Resultados das texturas dos materiais (solo, ADF e solo + 70% ADF)

Legenda: (-): valor não obtido.

Com relação à textura, o solo foi classificado como uma argila areno- siltosa, apresentando 60% de argila, 18% de silte e 22% de areia. Ainda, de acordo com análise granulométrica apresentou 99,68% de partículas passantes na peneira n°10 (#10), 95,23% na peneira n° 40 e 80,95% na peneira n° 200).

A amostra de ADF apresentou 15% de areia fina e 85% de areia média, o que corrobora as informações obtidas na literatura, indicando que os tamanhos das partículas variaram entre 0,2 mm a 1 mm (American Foundrymen’s Society, 2004). Ainda, esta ADF apresentou diâmetro efetivo (Defet = D10) de 0,1 mm, coeficiente de

não-uniformidade (CNU) de 2,8 e coeficiente de curvatura (Cc) de 1,14, indicando a

alta permeabilidade (K= 1 cm/s) e distribuição granulométrica uniforme.

Já a mistura de solo + 70% ADF apresentou textura de material arenoso, com 22% de argila, 3% de silte e 75% de areia, classificada como areia argilosa pela classificação USCS (SM-SC). Em relação à classificação HRB, a mistura apresentou classificação A-2-4 e considerando a MCT, passou a ter comportamento laterítico arenoso (LA’).

Portanto, ao realizar a estabilização do solo argiloso com 70% ADF, foi possível obter um material com características granulométricas desejadas aos materiais utilizados como cobertura diária e intermediária de resíduos em aterros sanitários. Tais características granulométricas contribuem diretamente com a percolação de líquidos pelo maciço (DOMINGUES et al., 2018; LEME e MIGUEL, 2018). Desta forma, a composição granulométrica da mistura de solo + 70% ADF

Material % Argila % Silte % Areia

Solo 60 18 22

ADF 0 0 15 (areia fina)

85 (areia média)

Solo + 70% ADF 22 3 75

Solo (LEME e MIGUEL, 2018;

MIGUEL et al. 2012) 37,7 44 18,1

Solo (DOMINGUES et al., 2018) 55 22 23

Solo (MIGUEL et al., 2012) 49 29

1 (areia grossa) 7 (areia média 14 (areia fina)

poderá facilitar a percolação de lixiviados dentro do protótipo representativo de um maciço sanitário, facilitando os processos de biodegradação e estabilização da carga orgânica dos mesmos. Deve-se destacar ainda, que a utilização de um material com características granulares pode contribuir para a redução dos processos de escarificação, necessários para promover a aderência entre as camadas de resíduos e sucessivas coberturas.

5.1.2. Índices físicos dos materiais (solo, ADF e solo + 70% ADF)

As Tabelas 7 e 8 apresentam, respectivamente, os resultados dos ensaios de limites de consistência do solo e da ADF, e índices físicos das amostras de solo e solo + 70% ADF. Em relação aos índices físicos, deve-se ressaltar que que os valores de massa específica natural (ρnat); massa específica aparente seca (ρd) e

umidade ótima (ωot) foram obtidos através do ensaio de compactação na energia

normal (método Proctor), e os demais valores foram obtidos através de equações de correlação. A tabela 8 também contém dados obtidos na literatura para materiais similares, os quais foram considerados nas discussões destes parâmetros.

Tabela 7. Resultados dos ensaios de limites de consistência e de plasticidade das amostras de solo e ADF

Material Limites de consistência (%)

LL LP ÍP

Solo 41 31 10

ADF - - -

Legenda: LL: limite de liquidez; LP: limite de plasticidade; IP: Índice de plasticidade. (-): valor não obtido.

Tabela 8. Comparação dos valores dos índices físicos obtidos para as amostras de solo e solo + 70% ADF com a literatura

Material ρs (g/cm³) ρnat (g/cm³) ωot (%) ρd (g/cm³) e Ƞ (%) Sr (%) Solo 2,79 1,961 23,4 1,589 0,76 43,05 86,38 Solo + 70% ADF 2,69 2,163 12,32 1,926 0,40 28,40 83,55 Solo+70% ADF (QUINALHA, 2019) 2,69 2,120 9,82 1,93 0,39 28,25 67,08 Legenda:

ρs: massa específica dos sólidos

ρnat: massa específica úmida ou natural

ωot: Umidade ótima

ρd: massa específica seca máxima

e: Índice de vazios Ƞ: Porosidade

Sr: Grau de saturação

Os valores de LL, LP e IP do solo foram coerentes aos encontrados na literatura para solos argilosos (MIGUEL et al., 2012; SARRO, 2017; TEIXEIRA, 2014; HEMSI, BOSCOV e SHACKELFORD, 2002). Miguel et al. (2012) apresentaram LL de 45 e 47%, e IP de 17 e 18% para dois solos argilosos extraídos da região sudoeste de São Paulo. Hemsi, Boscov e Shackelford (2002) analisaram cinco amostras de solos tropicais caracterizados como argilosos da Região de Campinas – São Paulo e obtiveram limites de liquidez e plasticidade de 45 e 15% respectivamente.

Deve-se salientar que a mistura de solo + 70% ADF não apresentou limites de consistência por apresentar parcela de finos não plásticos, os quais são responsáveis pela plasticidade dos solos.

O sistema de classificação unificado (UCS) utiliza os dados de granulometria e plasticidade. Conforme a carta de plasticidade, o solo utilizado nesta pesquisa foi classificado como CL (argila de baixa plasticidade).

Em relação aos índices físicos da mistura de solo + ADF, a estabilização do solo argiloso com ADF proporcionou o aumento do ρd e redução do índice de

vazios (e) e da porosidade (Ƞ). Esse comportamento pode ser justificado pela redução do teor de umidade, necessário à compactação da mistura de solo + 70% ADF, em função da menor área superficial, o que já foi relatado na literatura (PINTO, 2006; SARRO, 2017). Ao comparar tais valores com a literatura, verifica-se que são semelhantes (QUINALHA,2019).

5.1.3. Ensaios de compactação Proctor Normal

As curvas de compactação, obtidas pelo método Proctor e energia normal, da amostra de solo e da mistura de solo + 70% ADF estão apresentadas na Figura 16.

Figura 16. Curvas de Compactação do solo e da mistura de solo + 70% ADF, obtidas pelo método Proctor e energia normal

Os resultados obtidos quanto aos valores de massa específica aparente seca máxima (ρd) e umidade ótima (ωot) para o solo e para mistura de solo + 70%

ADF foram de 1,58 g/cm3 e 24,5%, e 1,93 g/cm3 e 12%, respectivamente.

Os resultados obtidos para a amostra de solo argiloso (ωot = 24,5% e ρd =

1,58 g/cm3) corroboram com as informações da literatura para solos semelhantes (QUINALHA, 2019; MIGUEL et al., 2012). Miguel et al. (2012) utilizaram amostra de solo argiloso para a montagem de lisímetros representativos de aterros sanitários, onde o valor da umidade ótima também foi alto (28,5%). Isso ocorre por apresentar uma maior área superficial devido tamanho dos grãos finos, quando comparado aos solos granulares, além dos argilominerais que proporcionam a adsorção parcial da água.

Hemsi, Boscov e Shackelford (2002) também analisaram solos argilosos tropicais compactados na energia Normal do ensaio de Proctor, e obtiveram uma umidade ótima de 26,3% e massa específica seca máxima de 15,7 kN/m3.

Ao comparar estes dados com aqueles obtidos para a mistura de solo + 70% ADF, verifica-se que o objetivo de estabilizar granulometricamente o solo argiloso, transformando-o em material granular, foi atingido (ωot = 12% e ρd = 1,93 g/cm3). Quinalha (2019), que também estudou a estabilização de solo argiloso com

ADF, obteve ρd igual ao desta pesquisa (1,93 g/cm3) para umidade ótima de 9,9%,

utilizando a mesma energia de compactação.

O conhecimento e controle destes parâmetros são essenciais durante o espalhamento e compactação dos materiais utilizados como cobertura das camadas de resíduos sólidos, o que facilita a execução destas etapas e aumenta a estabilidade do maciço (DOMINGUES et al., 2018).

5.1.4. Permeabilidade do solo e da mistura de solo + 70% ADF

A Tabela 9 apresenta os valores de coeficiente de permeabilidade (K), obtidos em ensaios de permeabilidade a carga variável, com corpos de prova de solo e da mistura de solo + 70% ADF, compactados na energia normal.

Tabela 9. Coeficientes de permeabilidade (K) dos materiais utilizados na montagem dos protótipos (solo e solo + 70% ADF)

Material K (cm/s)

Solo puro 10-7

Solo + 70% ADF 10-7

Os dois materiais (solo e solo + 70% ADF) apresentaram valores médios de K que atendem ao limite imposto aos aterros sanitários, conforme normas NBR 13896 (ABNT, 1997) e EPA 542-F-03- 015 (2003), que limitam o K ao valor máximo de 10-6 cm/s para materiais definidos como cobertura de aterros sanitários.

Observa-se o valor médio do K foi de 10-7 cm/s mesmo com a substituição

de solo por material granular (ADF). Desta forma, a incorporação da ADF na estabilização do solo argiloso (estudados nesta pesquisa), não interferiu no

coeficiente de permeabilidade, mantendo a condição preliminar do solo, além de viabilizar o alto consumo do resíduo como matéria-prima alternativa.

Ao comparar os dados da literatura com aqueles obtidos com o solo argiloso e a mistura de solo + ADF, verifica-se que os mesmos são semelhantes. Domingues et al. (2015) também obtiveram este mesmo valor de K para misturas compostas com o mesmo solo desta pesquisa e outra amostra de ADF.

As análises de solos residuais tropicais, extraídos da região de Campinas, São Paulo, demonstraram baixa permeabilidade (K = 10-9 cm/s), característica de

solos argilosos (LEME e MIGUEL, 2018).

Ao atender ao coeficiente de permeabilidade da NBR 13896 (ABNT, 1997) e EPA 542-F-03-015 (2003), que dispõem sobre a execução e operação de aterros sanitários de resíduos não perigosos, a mistura de solo + 70% ADF pode ser indicada como material paras as coberturas diárias e intermediárias, além da cobertura de encerramento. Destaca-se que estas normas restringem o K ao valor máximo de 10-6 cm/s para os materiais definidos para compor as camadas de

cobertura, porém não especificam o K indicado particularmente para cada camada. Ao considerar o K e a granulometria da mistura de solo + ADF, juntamente com o comportamento hidráulico do protótipo composto com ADF, é possível concluir que esse material é adequado para uso em coberturas camadas diárias e intermediárias de resíduos sólidos orgânicos em aterros sanitários. Isso é justificado pelo maior volume de lixiviado gerado, melhorando o desempenho do maciço frente às condições técnicas e ambientais.

5.1.5. Composição química dos materiais (solo, ADF e solo + 70% ADF), obtida através das análises de Fluorescência de Raios X (FRX)

Os compostos químicos presentes nas amostras de solo, ADF e mistura de solo + 70% ADF, e respectivos teores (%), assim como os dados dos principais trabalhos relacionados a esta pesquisa estão apresentados na Tabela 10.

Tabela 10. Resultados da análise de FRX na ADF, solo puro e solo + 70% ADF, em porcentagem, e comparativo com a literatura

Material SiO2 Al2O3 SO3 Fe2O3 CaO Cr2O3 K2O TiO2

Solo 48,77 22,03 - 13,93 0,14 - 0,29 2,4

ADF 71,46 18,38 2,35 2,25 1,02 0,73 0,20 0,18

Solo + 70% ADF 82,55 7,06 - 3,82 0,15 - 0,13 0,65

ADF (MATOS et al.,

2020) 78,1 9,69 1,21 3,5 0,98 - 1,1 -

ADF (KAUR, SIDDIQUE e RAJOR,

2012)

83,8 0,81 - 5,39 1,42 - 1,14 0,21

ADF (IQBAL, LIU e

AZIM, 2019) 87,22 3,35 0,81 0,83 1,83 - - 0,23 Solo (LEME e MIGUEL, 2018) 74,3 14 - 4,10 - - - 0,85 Solo (MORAIS, 2017) 65,54 15,27 - 5,05 0,14 - 1,77 - Solo (FREMPONG e YANFUL, 2008) 55 – 66,3 13,9 - 21,4 - 4,3 – 8,1 0,08 - 2,23 - - 0,9 - 1,3

Legenda: (-): não detectado

Os principais minerais que compõem a ADF também estão presentes nos solos argilosos (óxidos de sílica e óxidos de alumínio). O alto teor de sílica (SiO2 =

71,5%) na amostra de ADF confirma as propriedades inorgânicas e origem deste resíduo. Os teores dos óxidos de alumínio e de ferro das amostras de solo e ADF foram reduzidos após a estabilização granulométrica do solo com ADF. Isso pode ser justificado pela redução da presença de argilominerais na mistura de solo + ADF em relação ao que ocorre no solo puro.

Ainda, observou-se a redução do teor de óxidos de ferro com a incorporação da ADF, o que pode melhorar a classificação do material segundo

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