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7 VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5+6) 8 DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO

2.4.4 Demonstração do Valor Adicionado dos Bancos

A primeira parte da DVA, para as empresas industriais, comerciais e/ou serviços, apresenta o resultado das receitas diminuídas dos insumos adquiridos de terceiros. A riqueza gerada pela empresa é resultado do valor agregado em bens e insumos produzidos ou adquiridos de outra empresa, vendidos a outros. O valor adicionado é a diferença entre o valor das receitas de venda da produção e o valor pago para terceiros na compra de insumos intermediários consumidos. Nessa parte, as receitas financeiras são tratadas como valor adicionado gerado por outras empresas, recebidos por transferência, sendo apresentadas fora do valor adicionado bruto, gerado pelas atividades normais da empresa.

A segunda parte da DVA apresenta a remuneração dos agentes econômicos que participam do processo produtivo, quando se trata de uma empresa industrial, comercial e/ou de serviços. O capital de terceiros, dos financiadores, é remunerado com a distribuição de parte da riqueza gerada pela empresa.

Se os procedimentos descritos fossem considerados para bancos, o valor adicionado deles seria a diferença entre as receitas de prestação de serviços e os insumos adquiridos de terceiros. As receitas e as despesas financeiras não seriam incluídas no cálculo do valor adicionado gerado pelos bancos. Esses considerariam somente os serviços prestados aos seus clientes. O resultado, na maioria das vezes, poderia ser um valor adicionado negativo.

Contudo, nos bancos, as receitas e as despesas financeiras têm tratamento diferenciado das demais empresas, dadas as peculiaridades de suas atividades normais em realizar a intermediação financeira entre poupadores/aplicadores e tomadores de recursos (MARTINS, E., 1993). Consideram-se os benefícios gerados pela estrutura dos bancos para realizar, além dos serviços aos clientes, os serviços relativos de intermediação financeira que fornecerá aos bancos receitas financeiras líquidas.

Conforme Martins, E. (1998), a principal atividade operacional dos bancos é receber e pagar juros, que é uma parte da riqueza gerada por terceiros. Os juros são uma remuneração do capital que o banco empresta e transfere de seus poupadores/aplicadores a outros interessados. Essa intermediação realizada pelos bancos - entre os interessados em aplicar o capital e os de receber esse capital mediante empréstimos - é remunerada, ficando o banco com uma parcela dessa remuneração, que é considerada como atividade produtora de valor adicionado, fazendo parte do cálculo do valor adicionado bruto.

Vários países adotam metodologias diferentes para tratar o setor bancário no cálculo do valor adicionado. Martins, E. (1993) destaca a existência de uma convenção internacional que admite, apenas para as instituições financeiras, o tratamento diferenciado das receitas e despesas financeiras de serem empregadas na apuração das receitas líquidas - que são consideradas rendas produtoras de valor adicionado.

De acordo com Luca (1998, p. 85):

A forma de cálculo dos agregados macroeconômicos, em nível nacional, mais precisamente, do PIB, também obedece a esse mesmo tratamento particular. Assim, do somatório dos valores agregados de todos os setores é necessário elim inar a renda (juros) atribuída ao setor financeiro que foi produzida por outros setores e para ele transferida como remuneração de sua intermediação, evitando, assim a dupla contagem.

Troster (2002) comenta que o IBGE, órgão responsável pelo cálculo do PIB brasileiro, considera o caráter intermediário do setor bancário, e dá tratamento específico para os bancos, criando um setor fictício para a intermediação financeira que depois é deduzido. Esse fato é estabelecido na Contabilidade Nacional como Anomalia Bancária. Esse autor define Anomalia Bancária da seguinte forma (2002, p. 03):

A participação bancária é calculada criando um setor virtual que depois é deduzido do PIB estimado. O erro consiste em considerar o valor do setor virtual como real. Isto é parte da renda de outros setores que pagam juros é atribuída ao setor bancário, todavia, num regime de inflação, o valor do setor virtual aumenta em razão da elevação dos juros nominais.

Troster (2002) apresenta algumas sugestões para solucionar o problema da Anomalia Bancária:

> estimar taxa de juros “pura” - consiste em considerar para cada operação bancária uma estimação de um valor para o serviço da operação envolvida, retirando os juros cobrados dos bancos. Para esse autor, é uma proposta atrativa, mas na prática é inviável;

> tratar a atividade bancária como consumo do governo - parte do fato de que os gastos do governo são computados pelo valor de seu custo e fornecidos para o conjunto da comunidade, independentemente da sua eficiência ou necessidade; as atividades bancárias deveriam ter o mesmo tratamento das contas públicas; e

> tratar o dinheiro como insumo - o setor financeiro seria uma indústria ou comércio que compra e vende dinheiro.

Essa última sugestão, para Troster (2002), tem reflexos no valor adicionado nos demais setores da sociedade, em virtude do aumento de endividamento, pois todos os participantes da economia estariam comprando e vendendo os serviços financeiros. As alterações nos juros influenciariam diretamente no valor da produção da economia, por refletir nos demais setores, ocasionando distorções significantes pela necessidade de imputar a cada setor da sociedade uma parcela dos serviços bancários para compensar essas distorções.

Ainda que um banco gere pouca ou riqueza alguma, ele é importante para a economia de um país, pois possibilita transações entre aplicadores e tomadores de recursos que, juntos, efetivamente, geram riquezas. Todavia, mesmo não gerando renda em sua atividade de intermediação financeira, os bancos realizam a transferência de riqueza entre os diversos agentes econômicos que participam do seu processo produtivo. Então, para os bancos, a renda obtida é riqueza gerada, apesar de não ser considerada pela economia no momento do cálculo de agregação do valor adicionado no PIB, tendo em vista que se a riqueza gerada pelos bancos fosse considerada ocorreria dupla contagem do valor adicionado na economia.

Com relação à DVA destinada aos bancos, Martins, E. (1993, p. 132) indica que:

[...] para os bancos o modelo da Demonstração do Valor Adicionado é diferente: a) as receitas financeiras são consideradas geradoras de valor adicionado; e

b) as despesas financeiras são consideradas como redutoras das receitas financeiras no cálculo do valor adicionado, em vez de aparecerem como distribuição do valor adicionado.

Uma vez definido o conceito de receitas produtoras de valor adicionado para os bancos, os demais componentes da Demonstração do Valor Adicionado serão os mesmos, com diferença na parte da remuneração dos capitais de terceiros, no qual as despesas financeiras não são evidenciadas como distribuição do valor adicionado aos financiadores, pois estão incluídas no cálculo da apuração do valor adicionado.

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa enquadra-se na categoria dos trabalhos empíricos-analíticos que, conforme Martins, G. (1994, p. 26):

São abordagens que apresentam em comum a utilização de técnicas de coleta, tratamento e análise de dados marcadamente quantitativas. Privilegiam estudos práticos. Suas propostas têm caráter técnico restaurador e incrementalista. Têm forte preocupação com a relação causal entre variáveis. A validação da prova científica é buscada através de testes dos instrumentos, graus de significância e sistematização das definições operacionais.

Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de levantamentos bibliográfico e documental, de contatos com a FEBRABAN e com alguns bancos, diretamente.

De acordo com Oliveira (2001, p. 119), “A pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizarem sobre determinado assunto ou fenômeno”.

Na pesquisa bibliográfica, o material pesquisado constituiu-se de livros, manuais, artigos em revistas, jornais, anais de congressos e de seminários, periódicos, internet, dissertações, teses e outros.

Segundo Marconi e Lakatos (1991, p. 174), “a característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois”.

Na pesquisa documental, foram consultados: Balanços Sociais dos bancos,

demonstrações contábeis, relatórios de administração, normas, leis e projetos de leis que tratam do tema, além de outras publicações.

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