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ISTO POSTO

2. A Organização Internacional do Trabalho: o direito do trabalho como direitos humanos

2.2. Produção Normativa da OIT

2.2.1. Convenções Internacionais do Trabalho

2.2.1.1. Denúncia das Convenções Internacionais do Trabalho

Um membro pode se liberar das obrigações oriundas das convenções ratificadas, incluindo as obrigações constitucionais daí advindas, por meio da denúncia. Há dois tipos de denúncia: aquela resultante da ratificação de uma convenção que revisa uma ratificação anterior, de que forma a atualizá-la; e a denúncia pura e simples, decorrente da comunicação dirigida

ao Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho, conforme veremos abaixo155.

Regra geral, esclarece Sussekind156 que os prazos relativos à denúncia das Convenções Internacionais do Trabalho observam a seguinte sistemática: a. a convenção entrará em vigor em relação a cada Estado- membro 12 meses após a data em que houver sido registrada a sua ratificação, desde que já vigore internacionalmente; b. o prazo de validade de cada ratificação é de 10 anos; c. após esses 10 anos, o Estado-membro poderá denunciar a ratificação, mediante comunicação oficial dirigida ao Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho (RIT), para o devido registro. Tal denúncia surtirá efeito somente após 12 meses do registro; d. não o fazendo, verifica-se renovação tácita da ratificação. Tal procedimento repete-se a cada decênio de vigência da ratificação.

A posição majoritária no âmbito da OIT entende que o decênio se conta da data em que teve início a vigência internacional da convenção. Sussekind, ao contrário, partindo de uma interpretação sistemática e teleológica, defende que o decênio concerne à vigência da ratificação nacional. Aduz que afronta o bom senso admitir-se que um Estado possa denunciar um tratado que ratificou poucos dias antes pelo simples fato deste já vigorar no campo internacional há 10 anos157.

A Constituição da OIT, em seus artigos 1º e 3º, deixa claro que suas convenções, precisamente porque visam à incorporação das suas normas no direito interno, atribuem a faculdade da denúncia ao Membro, ou seja, ao Estado, e não ao respectivo governo – que são, evidentemente, figuras distintas.

Portanto, para a OIT, será Membro o Estado e não o seu Governo. E Estado na acepção ampla, consentânea com sua estrutura tripartite: não apenas a sua concepção jurídico-política, mas também outros

155 SERVAIS, Jean-Michel. Internacional Labour Law. p. 79. 156 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 236. 157 Idem. p. 239.

segmentos configuradores de Nação, a saber, os representantes dos empregados e dos empregadores158.

2.2.2. Recomendações

As recomendações visam o legislador nacional de cada Estado-membro. Neste sentido, sugerem normas que podem ser adotadas por quaisquer fontes diretas ou autônomas do Direito do Trabalho. Assim como as convenções, as recomendações devem ser submetidas à autoridade nacional competente. Nesse caso, não para a ratificação, posto que não é tratado, mas sim para a adoção das normas constantes da recomendação.

Dita obrigação é de natureza formal, já que a autoridade nacional é soberana na deliberação que julgar conveniente tomar. A recomendação simplesmente “convida os Estados-membros a adotar medidas ou, ao menos, certos princípios, porém não cria nenhum vínculo de direito”159.

Citada autoridade nacional competente poderá transformar em lei todos, alguns ou apenas um dos dispositivos da recomendação, adotar outras medidas em relação a eles, ou simplesmente deles tomar conhecimento, sem aprovar qualquer ato correlacionado a ele. Contudo, qualquer que tenha sido a posição adotada, o governo dos Estados-membros deve informar à Repartição Internacional do Trabalho o estado de sua legislação e da efetiva aplicação dos assuntos insculpidos na recomendação.

Com efeito, ensina Carlos Roberto Husek que “[a]s Recomendações advêm da mesma gestação das Convenções. Deste ventre legislativo internacional pode nascer uma Convenção ou uma Recomendação, que na sua base têm igual estrutura. Tudo dependerá da aprovação em uma outra forma. Normalmente, a Conferência se utiliza das Recomendações (...) para disciplinar sobre temas ainda não completamente aceitos; sobre regras

158 Idem. p. 237.

159 RAMANDIER. Conventions ET recommandations de L´ Organization du Travail in Droit

Social, Paris, 1951, p. 598. apud SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p.

mais avançadas para os Estados, como promoção para universalizá-las; sobre regulamentação e aplicação dos princípios inseridos em muitas das Convenções. “160

O controle exercido quanto à submissão do texto à autoridade nacional competente “tem concorrido, em inúmeros casos, para que as regras consubstanciadas nas recomendações se convertam em leis ou atos de natureza regulamentar integrantes do direito nacional dos Estados-membros. A recomendação cumpre, assim, a função de fonte material de direito”161.

No entanto, segundo alguns críticos162, quando se trata de direitos absolutamente essenciais, o meio adequado para tutelá-los ainda é a convenção, pois o controle exercido sobre as recomendações é excessivamente fraco se comparado aos relatórios exigidos pelo artigo 19 da Constituição da OIT.

2.2.3. Resoluções

São medidas de mero expediente, sem valor normativo expresso, coercitivo por assim dizer. Explica Süssekind:

“As resoluções (...) não acarretam qualquer obrigação, ainda que de índole formal, para os Estados-membros, destinando-se a convidar organismos internacionais ou governos nacionais a adotarem medidas nelas preconizadas; a comentar, apoiar ou combater determinada orientação suscetível de exercer influência na solução dos problemas sociais; (...) etc”.163

Depreende-se do acima exposto que as resoluções são os meios adotados pela OIT para fomentar os debates sobre tópicos considerados sensíveis ou polêmicos por parte de seus membros, permitindo que a discussão amadureça com a contribuição dos diferentes delegados e

160 HUSEK, Carlos Roberto. Curso básico de Direito Internacional Público e Privado do

Trabalho. p. 120.

161 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3p. 196.

162 PENNINGS, Fran. The Protection of Working Relationships – A Comparative Study. p. 194. 163 SUSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. p. 182.

possibilitando que, futuramente, o assunto seja efetivamente normatizado internacionalmente.

Jean-Michel Servais164, por sua vez, agrupa as resoluções no mesmo grupo das declarações, estatuindo que ambas cobrem instrumentos de diversas origens e variados conteúdos. Ambos são adotados pela própria Conferência Internacional do Trabalho, pelo Conselho de Administração ou por outro órgão da OIT. O termo “declaração”, segundo o autor, enfatizaria a importância do seu conteúdo e o desejo de expressar certa solenidade ao editar o texto nela contido.

O conteúdo de ambos, declaração e resolução, variará consideravelmente de acordo com as circunstâncias, podendo proclamar princípios fundamentais, os objetivos da Organização Internacional do Trabalho ou mesmo conter parâmetros técnicos.

2.2.2.4. Declaração da OIT Sobre os Princípios e Direitos