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2.4 INTER-RELAÇÕES: A INFRAESTRUTURA E A ESTRUTURA

2.4.1 Densidade populacional

Há algum tempo, estudos urbanos já consideram a densidade populacional como um aspecto relevante na caracterização de cidades e de áreas intraurbanas. Park (1967), por exemplo, já destacava a importância da densidade populacional, afirmando que a distribuição da população é o principal definidor da estrutura da cidade.

Antes dele, Jefferson (1909), no início do século XX, defendia o estabelecimento de uma definição de cidade com base na densidade populacional, argumentando que tal parâmetro é tão relevante que seria capaz de caracterizar zonas urbanas, suburbanas e rurais.

22 Texto original: “If we consider population and industry to be "spatial" parameters, described by type,

intensity, and location, it is clear that there is a "feedback" relationship between these parameters and the utility networks which service them. That is, the spatial parameters describe and create the "demand" for utility services, but at the same time the extension of a particular network into an area where there is no demand can encourage establishment of population or industry” (CLARK; STEVIE, 1981, p.18).

58 Fazendo uma análise de nove cidades com mais de um milhão de habitantes – St. Louis, Chicago, Filadélfia, Boston, Nova York, Viena, Berlim, Paris e Londres – o autor demonstra que a estrutura intraurbana dessas se caracteriza por um gradiente decrescente de densidade populacional, das áreas mais centrais às periferias. Nesses casos, as áreas centrais não estão correlacionadas ao centro comercial e de negócios, mas, geralmente, a áreas mais pobres e desprovidas de equipamentos urbanos. Nessa mesma linha, os estudos da Escola de Chicago, voltados às cidades norte-americanas, associavam as áreas intraurbanas centrais e de altas densidades com os segmentos mais pobres da população (JEFFERSON, 1909; TOURINHO, 2011).

Voltado à realidade latino-americana, em geral, o padrão de distribuição populacional na área da cidade parece ser semelhante, com altas densidades em áreas centrais e densidades mais baixas nas bordas urbanas. Entretanto, o conteúdo social se inverte: as áreas centrais e mais densas tendem a ser ocupadas por uma população de classe mais alta, enquanto as áreas periféricas e menos densas são habitadas pela população mais pobre. Com o passar dos anos, esse padrão foi modificado de diversas formas, havendo, nos centros, com alta densidade, ocupações de alta e baixa renda e, nas periferias, com baixa densidade populacional, também ocupações de alta de baixa renda (TOURINHO, 2011).

Assim, percebe-se que a densidade populacional e sua disposição no espaço é um aspecto relevante para o estudo da estrutura intraurbana. Além disso, a densidade populacional está diretamente relacionada à provisão de infraestrutura. Acioly Jr. e Davidson (1996, p.6, tradução nossa), afirmam que a densidade é “um indicador muito importante para a avaliação técnica e financeira da distribuição e consumo de terras, infraestrutura e serviços públicos em áreas residenciais”23.

Inicialmente, alguns estudos advogavam que quanto maior a densidade, melhor seria o aproveitamento da infraestrutura e da terra urbana, garantindo altas taxas de retorno dos investimentos públicos. Nesse sentido, a infraestrutura de abastecimento de água seria caracterizada por economias de densidade. Além disso, a ampliação da infraestrutura para área de maiores densidades populacionais, beneficiaria uma maior quantidade de pessoas. Seria, portanto, de interesse das cidades o incentivo ao adensamento de áreas com

23Texto original: “a very important issue for the technical and financial assessment of the distribution

andconsumption of land, infrastructure and public servicesin residential areas” (ACIOLY JR.; DAVIDSON, 1996, p.6).

59 infraestrutura consolidada e, por outro lado, o desenvolvimento da infraestrutura em áreas mais adensadas (ACIOLY JR.; DAVIDSON, 1996).

Observando com maior cautela, deve-se avaliar um ponto de equilíbrio entre a densidade populacional e a otimização no uso de infraestruturas. Enquanto baixas densidades aumentam custos per capita de terra e de infraestruturas pela subutilização desses investimentos, densidades muito altas podem sobrecarregar o funcionamento das redes e produzir ambientes muito preenchidos, prejudicando a qualidade de vida (ACIOLY JR.; DAVIDSON, 1996).

Buscando determinar esse ponto de equilíbrio, no qual a cidade teria um tamanho ótimo em termos de densidade populacional, de forma a reduzir ao máximo os custos com a infraestrutura, alguns estudos estabelecem valores de densidade ótima a serem atingidos pelas cidades. Zmitrwicz e De Angelis Neto (1997) afirmam que projetos habitacionais que preveem densidades brutas24 entre 200 e 300 habitantes por hectare (60 famílias por hectare25) devem ser priorizados, sendo a densidade de 50 habitantes por hectare (15 famílias por hectare) antieconômica, embora comum em cidades brasileiras. Já o estudo de Mascaró e Mascaró (2001) afirma que a densidade bruta mais adequada para cidades de porte médio varia entre 300 e 350 habitantes por hectare, sendo 40 habitantes por hectare o valor mínimo aceitável.

A partir dos valores apresentados pelos trabalhos de Zmitrwicz e De Angelis Neto (1997) e Mascaró e Mascaró (2001), é possível estabelecer uma classificação geral de densidade, apresentada no Quadro 1. Esses valores serão utilizados como referência no desenvolvimento do presente trabalho.

Quadro 1 – Classificação de densidade

Densidade (habitantes/ha) Classificação

1 a 50 Muito baixa

50 a 200 Baixa

200 a 350 Adequada

Acima de 350 Alta

Fonte: adaptado de Zmitrwicz e De Angelis Neto (1997) e Mascaró e Mascaró (2001).

24A densidade bruta corresponde ao número de habitantes em uma determinada área dividido pela área total,

delimitada por um polígono, incluindo equipamentos urbanos, vias, vazios, edificações etc. (SILVA, SILVA, NOME, 2016).

25As conversões dos valores de família por hectare para habitantes por hectare foram retiradas de Silva, Silva,

60 Entretanto, vale destacar que mais do que uma média de densidade da área urbana, importa para o desenvolvimento do sistema de abastecimento de água as densidades de áreas particulares da cidade, que variam significativamente. Como já apresentado no início do tópico, a diferença na densidade populacional entre áreas intraurbanas tem estreita relação com a divisão social da cidade, e também com a sua divisão econômica e, por isso, devem ser analisadas paralelamente (PRIETO; ZOFÍO; ÁLVAREZ, 2013; STEEL; MCGHEE, 1979).

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