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Wagner Faria de Oliveira

Mestrando em Economia, UFRGS e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas -FGV. wagner.econ@gmail.com

O objetivo deste artigo é fazer uma interpretação do princípio da precaução à luz dos fundamentos filosóficos do Desenvolvimento Humano, baseados, sobretudo, na obra de Amartya Sen. O princípio é utilizado como uma justificativa para ação diante da incerteza quanto aos impactos de uma atividade potencialmente danosa ao ser humano, como é o caso da emissão de gases que provocam o fenômeno da mudança climática ou a utilização de pesticidas na produção agrícola. Nesse sentido, ele está associado a uma questão ética trans- geracional, pois é invocado como uma forma de responsabilidade para com pessoas que podem ter seus direitos de integridade física violados, tanto no presente quanto no futuro. Pretende-se apresentar o debate em torno das distintas interpretações teóricas do princípio, colocando de um lado visões deontológicas, que o tratam como uma forma de priorizar direitos sobre análises de bem-estar (rights-based approach); e, de outro, visões consequencialistas baseadas em análises de custo/benefício, essencialmente assentadas sobre a ideia de maximização da utilidade agregada (utility based approach). Após o exame dos pontos fortes e limitações de cada visão, pretende-se realizar uma contribuição para a discussão à luz dos conceitos de Amartya Sen, mostrando como a avaliação conjunta de processos e consequências, o escrutínio público e a análise de rankings parciais podem sinalizar para uma visão do princípio da precaução que não esteja essencialmente assentada apenas sobre um arcabouço ético. Essa nova interpretação pode contribuir para o entendimento do princípio como um guia para política pública aplicável a contextos diversos, levando em conta suas especificidades.

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Judging equity through the capability approach

Cristina B. de Souza Rossetto

Doutoranda em Desenvolvimento Econômico, Universidade Federal do Paraná -UFPR. csouza.economia@gmail.com

The objective of this paper is to draw a general understanding of equity in Amartya Sen’s capability approach (CA). I discuss the emergence of equity in different approaches, such as the utilitarian, rawlsian and libertarian. According to Sen (2009), as these theories restrain a priori what the important features for a fair or good society should be, they lack in supplying freedom for its citizens. The CA, conversely, has freedom as its most fundamental feature. He calls “functionings” the elements that one should look at to assess how much freedom one is having. Sen, however, does not propose a closed form of analysis to judge equity, for it would contradict the principle of freedom. Moreover, I will discuss how the complexity of the CA makes it very hard to come up with a comprehensive index that could be used to measure capability and equity, as a consequence.

What is, then, Sen’s suggestion to the pursuit of equity? First, he does not intend to place it a definite primordial matter. Secondly, he believes there are certain situations where injustices are so evident, that not much of a theory is necessary for one to see the inequity. From that comes the idea of basic capability. Finally, a distinguishing feature of his framework is that he gives public reasoning a major role in defining whether equity should matter and, most importantly for this discussion; it should also define what counts when assessing justice and equity. As a conclusion, the various methods scholars are proposing to rank or chose functionings or evaluate wellbeing, fairness or equity, etc., if coherent to the CA, will always be contributions to public reasoning, but limited in range or/and restricted to certain environments

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A domesticação do homem e o sentimento de justiça: reflexões sobre a genealogia

da moral

Alexandre Teles

Doutorando em Filosofia, UFRGS. selettelesa@gmail.com

Podemos abordar a gênese da consciência moral e a racionalidade a ela associada de duas perspectivas, ao menos: analisando a história dos indivíduos, ou, a história da humanidade como um todo. A doutrina psicanalítica nos oferece elementos para compreender ambas as perspectivas, mas Nietzsche, na “Genealogia da Moral”, não só antecipa algumas teses psicanalíticas, mas oferece detalhes interessantes a respeito da gênese da racionalidade e da consciência moral que nos permitem refletir sobre o significado psíquico das noções morais mais fundamentais.

Nietzsche propõe que isso que podemos observar no indivíduo moderno psiquicamente saudável, que é uma capacidade de livre arbítrio, de escolher racionalmente o seu destino e o de seus impulsos, seria um resultado. Um resultado de uma história. A história de domesticação de um animal homem que, paulatinamente, se tornou um ser civilizado. Uma história sangrenta e dolorosa que é explicada através de alguns pressupostos metapsicológicos, entre os quais: o homem é um animal em que o esquecimento é uma força ativa e a memória é seletiva – (ii) o homem é um animal capaz de fazer promessas. De modo tal que o homem se domesticou à medida que experimentou punições e presenciou seus semelhantes serem punidos. Como resultado desta história, o homem passa a se dispor do modo recomendado por uma sociedade, se enxerga como bom ou justo e recalca quase que completamente seus impulsos agressivos, bem como toda a sensação dolorosa associada a punições.

A partir dessa análise de Nietzsche, abordaremos questões como: qual é o papel da punição em termos psíquicos? Como o Estado intervém nas emoções de injustiçados? Quais são os efeitos colaterais da civilidade?