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Dependência do idoso com demência

No documento Mafalda Sofia Barreto Santos Batalha Vigia (páginas 47-51)

CAPÍTULO II. A DEMÊNCIA NO IDOSO

2.4. Dependência do idoso com demência

A partir dos 40 anos de idade verifica-se o início de um declínio funcional influenciado por diversos fatores fisiológicos (como a fragilidade física, os problemas de mobilidade e as patologias), psicológicos (pode fazer-se referência aos transtornos cognitivos e às alterações de personalidade) e sociais (como as atitudes e os comportamentos das pessoas que o rodeiam, podendo promover a autonomia ou contrariamente a dependência) (Grelha, 2009; Pinto et al., 2009).

Ao longo do processo de envelhecimento vai-se manifestando a impossibilidade de realização de determinadas tarefas de forma independente, provocada sobretudo por duas causas: (I) uma ou várias doenças crónicas derivadas de processos crónicos fortemente associados à idade (e.g. a demência); e/ou (II) pela perda geral das funções fisiológicas, devidas ao processo global de envelhecimento e a perda de vitalidade (Figueiredo, 2007).

Hoje em dia estima-se que 80% das pessoas com 65 ou mais anos de idade sofrem pelo menos de uma doença crónica, realçando assim aquilo que a investigação tem vindo a demonstrar relativamente à relação entre a idade e a dependência, isto é, que uma percentagem razoável de indivíduos apresenta limitações funcionais de acordo com o avançar da idade (Figueiredo, 2007).

A prevalência de patologias como a demência é superior na população idosa em relação aos adultos e é considerada uma das principais causas de incapacidade e dependência desses indivíduos. Julga-se importante salientar que os estados de dependência e independência estão presentes ao longo do percurso de vida de cada, independentemente do grau apresentado, não sendo assim representativo de deficiências, doenças, incapacidades ou “velhice” (Pinto et al., 2009) e pode-se tratar de um traço da personalidade, dependente, inclusive, de fatores culturais e sociais (Paschoal, 2000a).

A dependência é definida por Figueiredo (2007) como a necessidade de apoio para a execução de atividades de vida diária (AVDs), de modo a que o indivíduo se ajuste e relacione com o meio.

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De acordo com o Conselho da Europa (1998, citado por Figueiredo, 2007) a dependência é definida como o

(…) estado em que se encontram as pessoas que por razões ligadas à perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, têm necessidade de assistência e/ou ajudas importantes a fim de realizar os atos correntes de vida diária e, de modo particular, os referentes ao cuidado pessoal (p. 64).

Amaral e Vicente (2000) defendem o mesmo conceito afirmando que a dependência consiste na necessidade que o indivíduo tem de ajuda, com o intuito de realizar determinada atividade de vida diária (AVD), por razões ligadas à perda de autonomia física, psíquica ou intelectual.

O Conselho da Europa (1998, citado por Figueiredo, 2007) defende a existência de três fatores presentes na dependência: uma limitação física, psíquica ou intelectual que comprometa certas capacidades; a incapacidade em executar as suas próprias AVDs; e a necessidade de cuidados ou ajuda por parte de terceiros.

Conforme Figueiredo (2007) a dependência é o resultado de um processo que surge de um défice no funcionamento corporal, como efeito de uma doença ou acidente, e que acarreta uma limitação na atividade do indivíduo. Quando esta limitação não é colmatada mediante a adaptação ao meio, provoca uma restrição na participação dos indivíduos nas atividades, levando assim a que ele dependa cada vez mais da ajuda de outras pessoas para realizá-las.

A demência implica necessidades ao nível pessoal, social e físico, exigindo a supervisão constante nas AVDs dos doentes. Durante a evolução da doença as limitações cognitivas vão aumentando, exigindo aos idosos demenciados, a necessidade de ajuda no processo de tomada de decisão e no planeamento da sua vida (Figueiredo, 2007). Quanto maior for o comprometimento cognitivo, ou seja, o grau de demência apresentado, maior vai ser o comprometimento funcional do mesmo (Quadro 2).

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A funcionalidade diz respeito à capacidade do indivíduo em se adaptar às dificuldades e exigências que surgem no dia-a-dia e é avaliada consoante a capacidade e autonomia da elaboração das atividades de vida diária (Botelho, 2000). Neste sentido pode-se afirmar que a capacidade funcional é um indicativo importante na QdV do idoso.

Torna-se pertinente identificar o grau de incapacidade funcional do idoso dependente, com o objetivo de determinar os cuidados que o mesmo necessita. O grau/tipo de dependência, em termos metodológicos, tem sido avaliado por escalas de capacidade funcional, que pretendem obter o grau/tipo de dependência e proporcionar um conjunto limitado de categorias, alcançadas por um índice elaborado, que permite reconhecer os idosos dependentes (Grelha, 2009).

2.4.1. Tipos de dependência do idoso com demência

José, Wall e Correia (2002) classificam a dependência do idoso como baixa, média e elevada. Aqueles que apresentam baixa dependência necessitam apenas de supervisão na realização de algumas atividades, uma vez que possuem autonomia ao nível da mobilidade e da realização de determinadas atividades básicas de vida diária; o idoso com dependência moderada necessita não só de supervisão como também de apoio de terceiros para o desempenho de atividades específicas; o idoso com dependência elevada necessita de ajuda intensiva diariamente, ou seja, não tem capacidade para executar um determinado conjunto de tarefas elementares.

De modo a determinar se o idoso é dependente ou não, nos seus estudos, Katz, Ford, Moskowitz, Jackson e Jaffe (1963) e Lawton e Brody (1969) consideram que o indivíduo necessita de ajuda na realização de dois grupos de atividades: as atividades básicas de vida diária (AbVDs) e as atividades instrumentais de vida diária (AiVDs).

As AbVDs refletem-se na capacidade para o autocuidado básico, ou seja, em atividades relacionadas com a alimentação, a higiene pessoal, a mobilidade e o controle esfincteriano (Grelha, 2009). Por sua vez, as AiVDs são mais complexas e dizem respeito à capacidade do idoso de utilização dos recursos disponíveis na comunidade

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onde se encontra inserido, para a execução de tarefas diárias, tais como a preparação de refeições, a realização de compras, a utilização de meios de transporte, a utilização do telefone, a administração de contas e até a toma de medicação (Figueiredo, 2007; Paschoal, 2000a).

Tendo em vista a realização da avaliação do estado funcional do idoso, Erminda (1996) defende que a forma mais adequada de o fazer é em contexto domiciliário, pois o idoso encontra-se inserido na sua própria realidade social, fator este que poderá facilitar o processo de avaliação. Contudo, julga-se importante ter em conta as possibilidades e capacidades de resposta da família às necessidades do idoso.

De modo a avaliar o tipo de dependência do idoso, pode-se recorrer a diversos instrumentos, sendo que os mais utilizados são o Índice de Barthel (1965) e o Índice de

Lawton (1969), dos quais será efetuada uma breve descrição no Capítulo V – Metodologia – da presente dissertação.

Síntese Conclusiva

O surgimento de um quadro patológico no idoso, como a demência, apresenta repercussões negativas e limitadoras, como a dependência, na sua vida bem como na daqueles que o rodeiam. É de salientar que o idoso dependente é um ser humano e como tal, possui um conjunto de necessidades e direitos que devem ser satisfeitas, com ou sem ajuda de terceiros (Grelha, 2009).

A dependência é considerada um grave problema de saúde, sobretudo sendo um fator que influencia a Qualidade de Vida do idoso e/ou do seu cuidador. Neste sentido, é essencial a concretização de intervenções em contexto individual, social e governamental, com o objetivo de promover a autonomia, a confiança e a auto- valorização do idoso e também daqueles que dele cuidam (Grelha, 2009).

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CAPÍTULO III. OS CUIDADOS INFORMAIS E OS CUIDADORES

No documento Mafalda Sofia Barreto Santos Batalha Vigia (páginas 47-51)

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