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8. APÊNDICES 1 Etapa

8.4. Transcrição dos Depoimentos

8.4.1. Depoimento Taiane

Vamo lá. Eu vou contar como foi minha vivência da época de faculdade por ser uma mulher lésbica. Eu fiz um curso que a maioria das pessoas julgam as garotas serem lésbicas por causa do curso e mesmo assim eu sofri muito preconceito, teve muita piada, teve muita brincadeirinha e esbarrões na época, e muita gracinha feita principalmente por parte dos garotos que não respeitavam a minha orientação.

Eu fazia Educação Física. Quando era nas horas de aulas práticas tinha todas as piadinhas de " joga como homem" , " se você é assim é porque nenhum homem fez isso com você ", "porque você nunca isso", era todo esse tipo de piada . Na época, eu era um pouco mais fechada, eu não falava sobre, eu já sabia da minha orientação mas não comentava sobre, então tipo...as pessoas já me julgavam mesmo sem saber.

Eu comecei a me assumir, a conversar sobre isso realmente na faculdade, que foi quando eu me soltei mais e foi quando começaram as brincadeiras, os preconceitos até de pessoas que eu julgava ser minhas amigas, que até acabaram se afastando exatamente por isso, por acharem... por na cabeça delas eu ser lésbica, elas iam imaginar que com certeza eu ia querer ficar com todo mundo, tipo, não podia ver mulher, na cabeça delas; e outras porque eram muito religiosas e por coisas que dizem não ser "não é de Deus".

É... eu lembro que, na época, isso me chateava muito, muito tipo porque as pessoas se afastarem por algo que não é uma escolha sua, que você não acordou um belo dia e falou "opa... acho que hoje é isso aí ".

Me chateou muito por muito tempo as provocações, as piadinhas, é...até mesmo me tratarem como homem, sendo que eu não sou, tudo isso meio que mexeu bastante comigo na época e me ajudou dentro da faculdade é...eu fui me fechando mais, eu comecei a ficar mais no meu canto, eu participava pouco das aulas por causa das brincadeiras. Pela minha voz ser um pouco mais grave também tinha esse preconceito, "olha, ja nasceu com a voz grave" por gostar de mulher e tal, e com o tempo eu fui ficando meio saturada desse tipo de brincadeira, e uma vez eu... e vendo que a faculdade e vendo que professores, que ninguém fazia nada por mim, eu uma vez juntei todos esses meninos e entrei na sala e fechei todo mundo lá dentro e falei.

Acho que foi a primeira vez que eu realmente, tipo, desabafei sobre como eu me sentia, sobre como tava sendo ruim para mim a forma que eles me tratavam, é... e eu fiquei

por muito tempo, muito tempo falando. Depois eu abri a porta e pedi que eles saíssem.

Alguns não mudaram as atitudes porque, querendo ou não, tem gente que é cabeça dura, preconceituoso... não adianta. Um ou outro veio me pedir desculpa, nós somos amigos até hoje, mudou muita coisa e a vivência conforme foi passando o tempo, as pessoas começaram meio que a me respeitar , porque eu nunca busquei aceitação, eu buscava que as pessoas me respeitassem e até mesmo hoje em dia.

E na época, como eu já disse, a faculdade não fez nada, nem professores, nem ninguém. Eu era mais fechada, tipo, não gostava de falar sobre, busquei ajuda da faculdade acho que uma única vez, depois não fui mais porque eu não gostava de ficar batendo nisso, brigando por isso, e os professores viam nas aulas e então eu acabei "deixando para lá", literalmente.

E com o passar do tempo meio que...é meio ridículo mas eu comecei a não ligar porque o certo era eu continuar meio que me defendendo, me impondo, mas eu comecei a deixar para lá porque tem pessoas que não valem a pena a discussão porque elas não são capazes de te respeitar ou aceitar algo que é de você, não tem para quê você ficar brigando. E por muito tempo foi assim, até eu terminar faculdade, me formei e depois, quando eu saí da faculdade, que ainda tinham pessoas que a gente tinha contato...esse contato foi quebrando devido a esse mesmo preconceito, a mesma forma de me tratar, porque saindo da faculdade eu já não tinha mais obrigação de manter ninguém na minha vida, de lá, Ainda mais esse tipo de pessoa.

E acabou que terminou assim dentro do meu âmbito escolar da faculdade aquilo ali. E fora da faculdade já era outra coisa... já foram ameaças dentro de metrô por tá com roupa diferente, corte de cabelo, forma de falar, forma de me vestir é... isso a gente passa no dia-a-dia isso é normal, é, normal não é, isso a gente tem no dia-a-dia, preconceito de tudo quanto é forma. Até em emprego, que a gente acha que não vai ter, tem.

Teve uma certa vez que eu fui fazer uma entrevista de emprego e eu sempre tive uma forma de me vestir totalmente básica, e eu fui fazer essa entrevista e o empregador , ele começou a conversar comigo, fazer a entrevista, coisa básica de trabalho. Chegou uma hora da entrevista que ele me perguntou a minha orientação sexual, o que eu acho que não tinha que vir na... não tinha nada a ver, mas eu falei para ele que não sabia porque ele tava perguntando, não era pertinente ao cargo, a nenhum é no caso, mas ele falou que eu era aparentemente lésbica, que ele teve problema com outras garotas lá dentro e acabou que não contratou pelo fato da minha orientação sexual.

Eu cheguei em casa totalmente destruída, acabou comigo. E como eu sou, eu falei para as coisas que tinha que falar na hora, saí fora, não denunciei, não fiz nada porque também eu não ia ter como provar aquilo.

Mas foi algo que eu passei e que não esqueço, tanto da faculdade quanto do trabalho. E hoje em dia, no meu caso, eu tento deixar para lá esse tipo de coisa que passou e me esforçar para mostrar que o fato de eu ser ou não ser algo não muda a minha capacidade, não muda o meu esforço, não muda quem eu sou.

8.4.2. Depoimento Jardel