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Depressão – definições

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1.4 Aspectos psicológicos do paciente adulto com lesão cerebral

1.4.2 Depressão – definições

Para Winnicott (1960), a depressão, apesar de ter dois significados distintos (psiquiatria e psicologia), possui semelhança entre as suas definições. É algo que merece ser estudado, pois a pessoa que está deprimida sofre, pode arruinar a si mesmo ou até chegar a colocar fim em sua vida. Dentro disso, há um espectro imenso de sentimentos que o indivíduo pode experimentar quando deprimido.

A depressão para o autor está totalmente ligada com a estrutura do ego, a segurança do self e com o descobrimento da identidade pessoal, além da dificuldade em lidar com

sentimentos de ódio, embora desde 1960 o autor já falasse na resistência em aceitarem as explicações inconscientes para depressão, e na existência de uma tendência às explicações bioquímicas, existentes até hoje.

Ela surgiria, para Winnicott (1960) da experiência de destrutividade e suas idéias que acompanham o amor, num desenvolvimento normal, e poderia ser superada espontaneamente pela estrutura interna do indivíduo (ou não), saindo desta situação de depressão ainda mais fortalecido, mais sábio e estável do que era anteriormente. Ela pode denotar, em alguns momentos, um evento disparador para a recuperação de um funcionamento psicológico mais adaptativo, principalmente frente algumas situações de adoecimento (PEREIRA; ROSA; HADDAD, 2007).

Entretanto, existem as psicopatologias da depressão: para o autor, encontram-se nuances, desde a depressão vivenciada como ameaça de desintegração e defesas psicóticas; a depressão com idéias delirantes e persecutórias; a depressão com sintomatologia hipocondríaca; a depressão com defesas maníacas (total negação da depressão); a dissociação entre depressão e mania e por fim, o mau humor e melancolia crônicos.

Assim, a depressão pode ser passageira, ou durar toda a vida, dependendo das condições internas do indivíduo. Está diretamente relacionada com o luto, com a capacidade de lidar com a culpa, e com o amadurecimento individual.

Para a psiquiatria, a depressão é uma síndrome (conjunto de sintomas), que como muitas outras desordens mentais é diagnosticada pelos sintomas descritos pelo paciente. Segundo o DSM-IV (1995), a depressão (episódio depressivo maior e transtorno depressivo maior) pertence à classe dos transtornos do humor, e tem como principal característica o humor triste, persistindo por mais de duas semanas, ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades da rotina deste indivíduo. Também pode apresentar outros sintomas, como alterações no apetite ou peso, sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldades para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida (ver anexo A). A depressão pode apresentar sintomas psicomotores importantes para o seu diagnóstico (SOBIN; SACKEIM, 1997); apesar de pouco utilizados, eles são completamente observáveis e muito freqüentes, e incluem principalmente nível de atividade motora total, movimento discreto do corpo, dos membros, tronco, cabeça, da fala e tempo de reação motora. No DSM-IV (1995), a depressão

no AVC é caracterizada como Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral, considerada uma conseqüência fisiológica direta de uma condição orgânica do paciente.

A maioria dos estudos de depressão e AVC não distingue o tipo de depressão, nem quais os critérios utilizados para diagnosticá-la; muitas vezes o diagnóstico da depressão não é feito e apenas pequena parte dos pacientes recebe tratamento adequado (FRÁGUAS; CARVALHO, 2001). Os que definem, utilizam os critérios do DSM- III ou DSM-IV (FUJIKAWA; YAMAWAKI; TOUHOUDA, 1993; LEENTJENS; ABEN; LODDER; VERHEY, 2006; LIEBETRAU; STEEN; SKOOG, 2008; STOROR; BYRNE, 2006; WILLIAMS, 2005) ou as Escalas para depressão, como de Zung (OHIRA; ISSO; SATOH; SANKAI; TANIGAWA; OGAWA; IMANO; SATO; KITAMURA; SHIMAMOTO; SIMONS, 2001), Escala de Depressão de Hamilton (DESMOND; REMIEN; MORONEY; STERN; SANO; WILLIAMS, 2003; LEENTJENS et al., 2006; STOROR; BYRNE, 2006), entre outras escalas para depressão ou entrevista (ALEXOPOULOS; MEYERS; YOUNG; KAKUMA; SILBERSWEIG; CHARLSON, 1997; BARNES; ALEXOPOULOS; LOPEZ; WILLIAMSOM; YAFFE, 2006; EVERSON; ROBERTS; GOLDBERG; KAPLAN, 1998; JONAS; MUSSOLINO, 2000; LARSON; OWENS; FORD; EATON, 2001; SALYACIK; KELLY-HAYES; BEISER; NGUYEN; BRADY; KASE; WOLF; 2007; STEFFENS; HELMS; KRISHNAN; BURKE, 1999). Esses dados nos mostram que ainda não há um consenso para a avaliação, diagnóstico, tratamento e intervenções para a depressão.

Fráguas e Carvalho (2001), ao estudarem depressão em doenças neurológicas, relatam que algumas características da depressão em neurologia (ou em todo contexto médico) permitem supor tratar-se de uma depressão distinta da depressão encontrada em enfermarias psiquiátricas, e colocam: “dentre essas características podemos salientar: menor incidência de transtornos do humor em familiares, e maior importância dos acontecimentos de vida (fatores de estress) no início da depressão” (FRÁGUAS; CARVALHO, 2001, p. 6). A depressão pós- AVC, por exemplo, tem como especificidade, a labilidade emocional e presença de défice cognitivo, não encontrada em outras doenças clínicas.

De acordo com Williams (2005), a metodologia é a principal dificuldade para avaliar o funcionamento mental em pacientes com lesão cerebral, pois além de avaliar o transtorno do humor, deve-se estabelecer uma metodologia para avaliá-lo em pacientes com alterações cognitivas, como défices de atenção, de linguagem, entre outras que podem surgir com a lesão.

Trata-se de uma doença incapacitante, que pode prejudicar o desempenho do indivíduo em várias esferas (familiar, trabalho, cuidados com a sua saúde, entre outros). Pellegrino-Rosa (1997) descreve que os sintomas da depressão em idosos podem tornar-se ameaça à pessoa e sua organização psíquica.

Uma grande dificuldade é o indivíduo buscar ajuda para esse tipo de doença: muitas pessoas nem sequer sabem que estão doentes ou sofrendo esse tipo de sintomatologia e, portanto, nem chegam a procurar tratamento. “É bem provável que falte compreensão das relações internas ou psíquicas e das relações com o mundo externo (e suas exigências) para poder interpretar seus sentimentos e, consequentemente, se cuidar” (PELLEGRINO-ROSA, 1997, p. 187).

Podemos observar que, independente da definição, como diz Winnicott (1960), esta sempre será uma perturbação dos afetos, e impressiona pela desorganização do eu quando o indivíduo não encontra uma solução para sua ‘guerra interna’.

Será descrito a seguir a depressão após o AVC, para posteriormente introduzirmos a depressão como fator de risco.

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