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Em derradeiro termo, a recorrente defende que é válida a estipulação do termo na renovação do contrato de trabalho a termo em causa, que o contrato

cessou legalmente, por caducidade, e que não se verifica o despedimento ilícito do autor.

A este propósito, a sentença da 1.ª instância concluiu nos seguintes termos:

«Resultou provado, pois, que para a instalação do seu estabelecimento/

delegação, celebrou a Ré um contrato de arrendamento (cfr. alínea X) e art.º 40.º da matéria de facto provada). Com vista a equipar o referido

estabelecimento/delegação, adquiriu a Ré os equipamentos a que aludem as alíneas Z) a M’) da matéria de facto provada (cfr. art.º 41.º da matéria de facto provada). Veja-se que, em Maio de 2003, foi ao Autor proposta a chefia da, a constituir, delegação de Setúbal da ora Ré, proposta que o Autor aceitou em Agosto do mesmo ano, passando a acompanhar de perto a implementação da dita delegação (cfr. artigos 3.º, 4.º e 5.º da matéria de facto provada). O

estabelecimento/delegação iniciou a sua actividade em 1 de Outubro de 2003 (cfr. artigo 9.º da matéria de facto provada). Mais resultou provado que, não

obstante a Ré desenvolver uma actividade em todo o território nacional, a abertura da delegação/estabelecimento de Palmela se enquadrou num programa de expansão da sua actividade comercial restrita ao distrito de Setúbal e distritos limítrofes (artigos 13.º, 15.º, 16.º e 33.º da matéria de facto provada). Acresce que, tal como se infere da matéria de facto provada sob os artigos 5.º, 11.º, 43.º e 46.º da matéria de facto provada, a abertura da

delegação/estabelecimento da Ré importou a contratação de pessoal, “maxime

”, e como se infere da própria questão que nos autos se discute, a contratação do Autor. Mas mais, com vista [à] implementação da Delegação da Ré no

mercado, “maxime”, o mercado referente ao Distrito de Setúbal e distritos limítrofes, foi, em alternativa à exigência de garantias bancárias aos clientes nos quais fossem realizados determinados tipos de investimentos e apesar desta exigência nunca ter sido abandonada (era uma das políticas da Ré, tal como se extrai do artigo 34.º da matéria de facto provada), permitida a exigência de letras contra a realização desses investimentos. Com vista ao funcionamento da dita delegação e, sobretudo, à sua implementação no mercado, foram realizados investimentos estruturais na contratação de pessoal, equipamentos, viaturas e “merchandising” (porta-guardanapos, bandejas, placas de porta) — cfr., por tudo, o artigo 45.º da matéria de facto provada.

Ante, pois, a matéria de facto dada como provada, não poderemos deixar de concluir que, de facto, ao fundamento aposto no contrato de trabalho

celebrado entre Autor e Ré corresponde uma realidade alicerçada em dados concretos e verídicos. A Ré abriu, efectivamente, como do aludido contrato consta, uma delegação/estabelecimento em Setúbal e contratou o Autor para a chefiar. A abertura da referida delegação/estabelecimento determinou a

celebração de um contrato de arrendamento onde a mesma passou a

funcionar, foi a referida delegação equipada, foi contratado pessoal, sendo certo que a sua actividade se expandia numa zona específica e determinada.

Dúvidas não restam, pois, quanto à veracidade dos factos fundamentadores da contratação a termo.

Defende o Autor que a referida delegação mais não significou senão o

alargamento do departamento comercial da Ré. Tanto não foi o que resultou provado, uma vez que o que, efectivamente, se prova é que a abertura da referida Delegação se destinou à expansão da sua actividade comercial. Seja como for e ainda que se diga que a terminologia usada significa, praticamente, o mesmo, parece-nos evidente que a expansão de uma actividade comercial, envolvendo a criação, “ex novo”, como foi o caso, de uma delegação, com uma estrutura e raio de actividade próprios e específicos, envolve, também ela, um risco que, no ver do Tribunal, justifica a contratação a termo. É certo que, tal

como resultou provado, a Ré já agia em todo o território nacional. De todo o modo, sempre se dirá que a decisão de instalação de uma delegação/

estabelecimento num determinado local importa um investimento considerável cujo risco importa acautelar, já que, certamente, o seu raio de actividade se destina não só à clientela já angariada mas também, atenta a proximidade, à angariação de nova clientela, potenciada por essa mesma proximidade. Ainda que se desconheçam as razões que estiveram subjacentes à criação da

delegação/estabelecimento da Ré em Setúbal, para além da referente à expansão da sua actividade comercial, que, de resto, não custa a crer ser a razão que, em regra, está subjacente a qualquer investimento ou criação de estabelecimentos de natureza comercial, não custa a crer também que tanto poderá ter sido determinado por questões de proximidade com clientela — já existente ou em potência — que se afigurou vantajosa do ponto de vista comercial, sendo, em todo o caso, importante ponderar o risco que tanto envolvia, uma vez que uma situação que se prefigura como vantajosa pode, depois, assim se não revelar, sendo importante acautelar tal risco e, durante um determinado lapso temporal, averiguar das potencialidades do mercado, naquela zona, justificadoras da manutenção de uma delegação centralizada e destinada a uma clientela localizada numa zona específica. Acresce que a abertura da delegação da Ré importou um investimento considerável e importou, inclusivamente, uma alteração ou, se se quiser, uma concessão no que respeita à sua política de acção no mercado, política essa tendente, naturalmente, à sua implementação e angariação de clientela. Assim, pretender qualificar a abertura da Delegação da Ré como um mero

alargamento da sua actividade comercial parece-nos, em face do que se deixou exposto, um tanto ou quanto redutor, sobretudo quando é evidente que a tal abertura estiveram subjacentes investimentos importantes e, sobretudo e de certa forma, uma inversão naquela que, até aí, tinha sido a única política de actuação da Ré no mercado.

Por tudo, pois, quanto antes se deixou exposto, não vislumbra o Tribunal que os fundamentos que estiveram subjacentes à contratação a termo do Autor não correspondessem, por um lado, à verdade, e, por outro lado, não

estivessem em estrita correlação com a realidade e com [a] expansão da

actividade comercial da Ré, a qual, naturalmente, postulava, como na cláusula 1.ª, n.º 4, do contrato de trabalho, se refere, o conhecimento das

potencialidades do mercado.

Ante o exposto, não se prova que a cláusula ora em apreço se destinasse a iludir as disposições que regulam a contratação a termo, pelo que cumpre concluir pela sua validade e veracidade dos seus fundamentos no momento da contratação.

Já no que concerne ao momento da renovação do contrato de trabalho, que não restam dúvidas ter sido operada, tal como se infere da matéria de facto provada (cfr. a redacção da cláusula 1.ª do contrato de trabalho e a própria data da comunicação ao Autor da caducidade do contrato de trabalho, a que se alude na alínea I) da matéria de facto provada), a mesma conclusão, no ver do Tribunal, se não impõe.

Aquando da renovação — operada em 1 de Outubro de 2004 — há muito tinha cessado a fase de abertura, “strictu sensu”, da Delegação da Ré, aqui

consubstanciada na instalação de equipamentos necessários ao seu

funcionamento: veja-se que as datas constantes dos documentos enunciados em Z) a M’), da matéria de facto provada, correspondem aos meses de Agosto, Setembro e Outubro de 2003, isto é, precisamente à fase de arranque da

aludida delegação (e por isso ser este um dos fundamentos que nos levou a concluir pela validade inicial dos fundamentos que presidiram à contratação a termo). Isto é, à data da renovação, nada se prova por reporte à necessidade de suprir a delegação da Ré [com] novo material destinado ao seu

funcionamento, situação que até seria perfeitamente verosímil, uma vez que o equipamento necessário ao funcionamento da dita delegação pode não se revelar como sendo uma situação delimitada no tempo, sendo de admitir novas necessidades decorrentes já do próprio funcionamento da delegação e esforço quanto à sua efectiva afirmação no mercado ao qual se destinava. O

funcionamento da delegação poderia, pois, determinar ajustamentos ao nível do material e equipamento necessário ao seu (bom) funcionamento.

Restaria, assim, aferir da própria implementação no mercado e continuidade da necessidade do seu estudo e potencialidades à data da renovação do contrato de trabalho celebrado entre Autor e Ré. Seria perfeitamente

verosímil que, decorrido que fosse um ano após a abertura da Delegação da Ré, tal trabalho estivesse ainda em curso e não fosse, ainda, possível aferir, com rigor, das potencialidades de continuidade de laboração da dita

delegação. Sucede que, quanto a tanto, nada resultou provado, isto é, não se prova que, efectivamente, à data da renovação do contrato de trabalho

celebrado entre Autor e Ré estivessem ainda em curso estudos quanto à viabilidade comercial da Delegação da Ré. Aliás, veja-se que, já no ano de 2004, mais propriamente a partir do segundo trimestre (cfr. artigo 37.º da matéria de facto provada), logo em momento anterior à renovação do

contrato, a Ré decidiu regressar à política de exigência de garantias bancárias contra a realização de determinados investimentos como modo único de

actuação no mercado, tendo abandonado aquela que, em determinada fase, tinha sido também a sua política de actuação, qual seja, a exigência de letras contra a realização de investimentos nos clientes. Tanto denota, pois, um

reflexo do conhecimento do mercado e dos meios de actuação no mesmo que, no ver do Tribunal, acabam por reforçar a conclusão a que se chegou relativa à inexistência de fundamentos fácticos que, no momento da renovação do contrato de trabalho celebrado entre Autor e Ré, se verificassem e que determinassem tal renovação.

Vale o exposto por dizer que, no momento em que [se] operou a renovação, por seis meses, do contrato de trabalho celebrado entre Autor e Ré, inexistem quaisquer factos que, provados, permitam aferir ou concluir pela subsistência dos fundamentos que presidiram à contratação a termo. Alegou a Ré que a tal renovação presidiu a circunstância de o Autor não ter atingido os objectivos fixados no contrato de trabalho, “maxime”, os atinentes ao volume de vendas.

Ora, não só tanto se não provou como, acima de tudo, não se provou que os ditos objectivos fossem uma condição da subsistência ou renovação do vínculo laboral. O que resultou provado foi que tais objectivos estavam

correlacionados com a contratação do Autor e não que existia uma relação de dependência entre uns e outros. De todo o modo se dirá que tais objectivos, se parâmetros consubstanciassem no que concerne à evolução do mercado para efeitos de aferição da implementação da delegação da Ré no mesmo, da cláusula ora em apreciação teriam que constar, quanto mais não seja para efeitos do seu controlo e aferição por banda do trabalhador, no caso, o ora Autor.

Assim sendo, ao abrigo das disposições conjugadas dos arts.º 42.º, n.º 3, da LCCT, e 3.º/2, da Lei n.º 38/96, de 31 de Agosto, na redacção introduzida pela Lei n.º 18/2001, de 3 de Julho, é inválida, por se não verificarem os respectivos fundamentos no momento da renovação do contrato, a estipulação do termo, devendo o vínculo estabelecido entre o Autor e a Ré ser considerado de duração indeterminada (veja-se, ainda, a propósito o disposto no art.º 44.º/4, da LCCT).»

E, neste particular, o acórdão recorrido teceu as considerações seguintes:

«A única renovação automática do contrato a termo que a lei permite ou contempla é a que resulta do artº 46.º, n.º 2, da LCCT (ou actual n.º 2 do artº 140.º do CT), que opera ope legis e resulta da falta de comunicação da

vontade de não o renovar. Todas as demais, que envolvam a continuidade de uma vinculação inicialmente assumida a termo, exigem novo ajuste contratual com verificação de todos os requisitos formais e materiais da celebração do contrato a termo.

Tal não é muito condizente com a solução encontrada pela Ré de, logo aquando da celebração do contrato inicial e no próprio clausulado desse

contrato, prever uma eventual renovação (para a hipótese de a caducidade do contrato não operar no termo do prazo inicial) mas por prazo inferior ao

primitivo. Admitimos, no entanto, como boa a tese da 1.ª instância para

considerar verificados os requisitos formais dessa renovação. Porém, a Ré não estava dispensada de alegar e provar que aquando da renovação subsistiam fundamentos para a contratação a termo prosseguir, não beneficiando nesse domínio de qualquer presunção, nem podendo aceitar-se que funciona

qualquer justificação automática ou objectiva pelo período equivalente a dois anos em que tal forma de contratação pode subsistir. A prorrogação do

contrato a termo, especialmente quando o período da prorrogação é diferente do estipulado para a sua vigência inicial, está sujeita às mesmas exigências de forma e de substância que a contratação inicial, mormente à prova de que são reais os motivos que justificam a subsistência da contratação a termo, prova essa que impende sobre a entidade empregadora.

É, assim, que alinhamos pelo entendimento da 1.ª instância, ou seja, que pela falta de prova, aquando do momento da renovação, de que se verificavam os elementos que permitiam a continuidade da contratação a termo, o contrato entre as partes celebrado tem de considerar-se sem termo, face ao disposto no n.º 3 do artº 4[2].º da LCCT e artº 3.º da Lei n.º 38/96 (redacção da Lei n.º 18/2001) e, hoje, face ao que estabelece o n.º 4 do artº 140.º do CT.

Por isso, a caducidade do contrato que a Ré pretendeu fazer operar como se de contrato a termo se tratasse não pode valer como tal, antes representa uma resolução por iniciativa do empregador que, por não ter sido precedida de qualquer procedimento, nem basear-se em justa causa, acarreta que se considere tratar-se de um despedimento ilícito com as legais consequências (artºs 429.º e ss. do CT).»

Subscrevem-se, no essencial, as considerações que se deixaram transcritas e confirma-se o julgado, com remissão para os seus fundamentos, daí que improcedam as conclusões 12.ª a 14.ª e 15.ª, na parte atinente, da alegação do recurso de revista.

6. Atenta a improcedência do recurso de revista, fica prejudicado o exame das

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