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Desafios para a educação contemporânea

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CAPÍTULO 1 – REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA, SOCIEDADE DA

1.4 Desafios para a educação contemporânea

A reorganização dos processos produtivos com alteração sobre o conteúdo do trabalho, tem gerado maior esforço para os formuladores das políticas de qualificação profissional. Diante do perfil da força de trabalho requerido pelo mercado de trabalho, impera a ideologia fundamentada na nova teoria do capital humano e na abordagem das competências. “A noção de competências vincula-se à perspectiva da reestruturação produtiva de caráter flexível” (BATISTA, 2011, p. 153).

Apesar de o termo competência ser utilizado desde a idade média no entendimento jurídico, como incumbência, responsabilidade para julgamento e pareceres, no contexto organizacional é tido como emergente.

Após a segunda guerra mundial com a publicação do paper Testing for

Competence rather than Intelligence por McClelland (1973), a Psicologia

Organizacional passou a considerar o estudo das competências no contexto organizacional e na área da administração. Assim, o fenômeno ganhou relevo na década de 1990 (BRANDÃO, 2007; MONTEZANO, SILVA e COELHO Jr., 2015).

Considerando a pluralidade do estudo de competências que é multifacetado e complexo, a aplicação nas organizações possui diferentes níveis de entendimento. Le

Boterf (1995) situa competência em três pilares, formados pela pessoa (biografia, socialização), por formação educacional e por experiência profissional.

Para Durand (1998), a competência é consequência da sinergia resultante de conhecimentos, habilidades e atitudes interdependentes e, sobretudo, necessárias ao alcance de um objetivo específico.

Nos estudos realizados por Zarifian (2001), competência é a capacidade de reagir a novas situações apoiando em conhecimentos adquiridos em práticas passadas, quanto mais aumenta a complexidade das situações. No entendimento de Hirata (1997, p. 129), “o enfoque pela competência é que ele permite concentrar a atenção sobre a pessoa mais do que sobre o posto de trabalho”.

Dessa forma, o trabalhador, para responder cada vez mais às exigências das organizações, deve buscar o aprimoramento das competências técnicas e genéricas bem como a capacidade de adaptação às mudanças, sendo o especialista, essência do fordismo, substituído pelo generalista.

Sob esse aspecto, a educação como fator de produção tem referência nas ciências econômicas. Na escola clássica liberal com Smith (1988), relaciona esforço de cada indivíduo em melhorar sua própria condição de vida (prosperidade) pela educação, em uma situação de livre mercado com pouquíssimas funções do Estado; Marshall (1988), trata de qualidades e habilidades dos trabalhadores, só que considerava responsabilidade do Estado e dos pais o incentivo e o investimento na educação.

Assim, reforça a tese que o trabalho humano, principalmente quando capacitado por meio da educação, é um dos mais importantes meios para a ampliação da produtividade econômica.

Nesse contexto, Schultz (1962) praticamente inicia um debate mundial entre pesquisadores como Becker (1964), Mincer (1974), Griliches (1960), Lucas Jr., (1988), Romer (1990) mostrando a relevância do investimento em capital humano.

Schultz (1962) assevera que a acumulação de capital humano é fundamental para a compreensão do crescimento econômico no longo prazo, pois ele é a fonte principal desse processo. A posteriori, Lucas Jr. (1988) em seus estudos ratifica a relevância do tema na geração de externalidades positivas, ao longo do tempo, para o crescimento das economias e aumento da renda per capita.

Por Capital Humano, entende-se que,

[...] é o conjunto de investimentos destinados à formação educacional e profissional de determinada população. O índice de crescimento do capital humano é considerado um dos indicadores do desenvolvimento econômico. O termo é utilizado também para designar as aptidões e habilidades pessoais que permitem ao indivíduo auferir uma renda. Esse capital deriva de aptidões naturais ou adquiridas no processo de aprendizagem. Nesse sentido, o conceito de capital humano corresponde ao de capacidade de trabalho (SANDRONI, 1994, p.41)

Dessa forma, a escolarização do indivíduo passa a ser verdadeiramente importante para a aquisição de emprego, acrescidos de outras competências como experiência, “a capacidade de adaptação a novas situações, da compreensão global do conjunto de tarefas e das funções conexas” (MACHADO, 1992, p.165).

Nessa acepção, a educação adquirida representada por novas habilidades e maior capacidade produtiva, permitirá o aumento do capital intelectual e consequentemente aferição de maior renda, visto como um caminho de estabelecer igualdade de oportunidades por meio dos próprios méritos, talentos, preferências e esforços.

Portanto, há um elemento de fundo na teoria do capital humano de que a educação promove o desenvolvimento econômico dos seus indivíduos. Logo, ela é democrática porque todos os indivíduos têm acesso ao conhecimento, propiciando, desta maneira, sua empregabilidade, produtividade e rendimento potencial.

Embora sob a teoria do capital humano e capitalismo global verifica-se maior escolaridade dos indivíduos, isso não garante acesso ao competitivo mercado de trabalho contemporâneo, pois a categoria trabalho também está em transformação. Especialmente, em cenário de competitividade global e de transformações tecnológicas, onde se fala da nova revolução industrial, intitulada de Indústria 4.0.

Esta nova fase, tem sido impulsionada por um conjunto de tecnologias disruptivas como robótica, inteligência artificial, big data, impressão 3D, internet das coisas, biotecnologia entre outras soluções.

Segundo Harari,

No século XXI, o desafio apresentado ao gênero humano pela tecnologia da informação e pela biotecnologia é indubitavelmente muito maior que o desafio que representaram, em época anterior, os motores a vapor, as ferrovias e a eletricidade (HARARI, 2018, p.58).

Assim, para reduzir os níveis de desigualdades sociais e melhorar os resultados educacionais das crianças e dos jovens torna-se imperioso para os governantes, ações eficazes de adaptação às mudanças contemporâneas. Diferentes categorias de trabalho, particularmente as que requerem habilidades físicas, foram e ou estão sendo automatizadas e, quanto as habilidades cognitivas, as novas tecnologias (algoritmos) estão superando o humano.

Segundo Frey e Osborne (2017) a era organizacional contemporânea é diferente de outras revoluções tecnológicas, pois as mudanças em curso são de máquinas capazes de realizar tanto tarefas rotineiras e repetitivas quanto as que envolvem habilidades cognitivas mais elaboradas.

Nesse sentido, para a ocupação dos empregos que serão gerados para atender essas demandas, “[...] provavelmente exigirão altos níveis de especialização, e, à medida que a IA continua a se aperfeiçoar, os empregados humanos terão de adquirir constantemente novas habilidades e mudar de profissão” (HARARI, 2018, p. 59). E muitas profissões que serão requeridas, ainda, não existem.

E é justamente neste contexto de competências, reestruturação produtiva, globalização, elevadas taxas de desemprego, que os jovens mais escolarizados se deparam com um mercado de trabalho cada vez mais restrito. Para lidar com as rupturas tecnológicas e econômicas inéditas do século XXI, faz-se necessário desenvolver novos modelos sociais e econômicos (HARARI,2018, p.61).

Assim, a educação, como capital humano, é um instrumento valioso para reduzir as desigualdades socioeconômicas, associadas a outras políticas sociais e econômicas para gerar desenvolvimento do território. E o grande desafio da sociedade contemporânea é ter consciência, que a única constante são as mudanças e para se manter competitivo, inovação é a palavra de ordem na sociedade do conhecimento.

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