• Nenhum resultado encontrado

Desafios Recentes Estatais ao Avanço das Capacidades Empresariais de Inovar

CAPÍTULO 3 O SISTEMA NACIONAL DE INOVAÇÃO CHINÊS

3.4. O APOIO ESTATAL À FORMAÇÃO DAS ROTINAS INOVADORAS DAS

3.4.2. Desafios Recentes Estatais ao Avanço das Capacidades Empresariais de Inovar

Antes das reformas as condições mercadológicas eram totalmente diferentes, as empresas não precisavam competir para comprar insumos ou para vender seus produtos e serviços, portanto, a mentalidade visava a constante melhora. Como resultado, no início das reformas, as

empresas relutavam em investir em processos inovativos, julgando serem desnecessários. Não apenas as empresas, mas o próprio Partido saiu de sua zona de conforto e até hoje reluta em abrir mão de controles das empresas. Além disso, as conexões entre os atores do SNI chinês eram fracas, já que muitas empresas, no início, não conseguiam absorver nem mesmo as novas tecnologias desenvolvidas no país (LIU e WHITE, 2001).

Quando se pensa nas dificuldades que as estatais chinesas passaram para aumentar suas eficiências, um grande fator se destaca. Este tipo de empresa, desde sua origem, carrega consigo uma importância social muito grande, mesmo que esta venha diminuindo com as reformas supracitadas. Durante muito tempo muitas delas foram criticadas por serem empresas “ruins”, entretanto, deve-se considerar que além do objetivo de produção e lucratividade, por trás dos planos estatais, as empresas tem responsabilidades de bem-estar social. Bai et al. (2006), atribuíram a baixa performance econômica de muitas empresas à natureza “multi-objetiva” de suas operações. As atividades incluem gastos com saúde, moradia e educação a seus trabalhadores, além de objetivos macroeconômicos como a manutenção da estabilidade social por meio do fornecimento de emprego e pela proteção do trabalhador, especialmente quando a segurança social é subdesenvolvida ou durante choques econômicos, quando empresas privadas naturalmente se protegeriam e possivelmente diminuiriam o número de empregos. Essas atividades visam o bem público e não a lucratividade individual, e são parcialmente compensadas por acessos privilegiados a recursos controlados pelo governo (terras, por exemplo), e como já explicado, a empréstimos e linhas de crédito especiais.

Mesmo com a redução do número de empresas integralmente estatais e o consequente aumento do número de “state-controlled shareholding enterprises”, outros problemas de governança ainda foram enfrentados, como a reclamação pela ainda existente interferência governamental nas operações empresariais e denúncias de corrupção. As atuais reformas continuam tentando solucionar os casos de corrupção, mas enfrentam dificuldades, pois o equilíbrio entre manter o controle interno (accountability) e delegar autoridade aos administradores é complexo, dado que essas pessoas muitas vezes têm uma rede de contatos ampla, com fortes ligações a membros influentes dentro do próprio partido (LEUTERT, 2016 apud SONG, 2018).

3.5. CONCLUSÃO PARCIAL

Desde a Revolução Comunista de 1949, a indústria chinesa passa por constantes reformulações, primeiramente para uma estrutura com bases soviéticas e com o poder centralizado no Estado. Entretanto, é a partir do discurso de Deng Xiaoping em 1978 que se percebe uma mudança na mentalidade do governo chinês, que admite a necessidade da renovação do país e inicia diversas reformas em busca de um Sistema Nacional de Inovação eficiente. As reformas aconteceram tanto no âmbito institucional, com a criação, por meio de leis e incentivos, de um ambiente favorável à inovação, quanto no âmbito organizacional, com a reformulação das empresas, universidades e institutos de pesquisa.

As reformas institucionais atraíram diversas empresas internacionais que antes não poderiam adentrar no país ou até mesmo não desejavam por não confiarem no ambiente empresarial chinês. A criação de legislações que abrangem leis de patentes e de propriedade intelectual somada à grande força de trabalho barata e as reformas organizacionais das entidades do país garantiram a entrada e a permanência do capital estrangeiro na China. Essas últimas aconteceram de duas formas, primeiramente as reformas organizacionais no sentido de renovação dos equipamentos e tecnologias utilizados na China, que foram atualizados por meio do licenciamento de tecnologias estrangeiras, joint ventures, instalação de institutos de pesquisa e subsidiárias internacionais e a importação de hardwares seguidos de engenharia reversa. Além disso, houveram reformas organizacionais estruturais em que se destacam o incentivo ao empreendimento privado local, a abertura do capital das empresas chinesas ao mercado internacional e a entrada de administradores estrangeiros nos conselhos de grandes empresas.

O apoio financeiro por parte do governo também fez parte da estratégia de renovação do SNI chinês, por meio da reforma do sistema bancário, abertura de linhas de crédito preferenciais e taxações específicas. O complexo educacional também foi reformado, agora com universidades voltadas à inovação autóctone e com iniciativas empresariais com bons resultados inovativos e financeiros. Assim, a enorme quantidade de capital investida durante todo o período estudado, os discursos oficiais do governo e os resultados empíricos demonstram que a China está comprometida com a estratégia de passagem de um país com alta capacidade imitativa e de geração de inovações incrementais para outro mais sólido, com base na definição de novas trajetórias tecnológicas e em áreas de conhecimento do atual paradigma. A China ainda deseja até 2049 se tornar a primeira potência mundial, quando comemorará o aniversário de 100 anos da proclamação da República Popular da China.

O caminho percorrido para a renovação do SNI chinês é demorado e ainda não está finalizado, com planos ainda em andamento como o Made in China 2025. Apesar disso, o país passou por fortes mudanças que explicam os grandes resultados econômicos apresentados no primeiro capítulo. A lógica que compreende esse raciocínio parte da premissa neoschumpteriana de que a inovação é a força motriz das economias capitalistas e que, portanto, com o aumento da lucratividade e da capacidade inovativa das empresas e universidades chinesas trazidas pelas reformas aqui apresentadas, a melhora econômica do país é compreensível. Evidentemente, fatores aqui não explorados (por falta de espaço) que englobam argumentos políticos, sociais e econômicos também corroboram para os resultados evidenciados, entretanto, deve-se afirmar que a reformulação do Sistema Nacional de Inovação do país e a visão do governo em busca da inovação foram pilares fundamentais para alcançar os extraordinários resultados citados, como o aumento do PIB de 2000 a 2018 em 1023%.