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Não existe no Brasil uma política pública voltada especificamente para enfrentar, de maneira planejada e institucionalizada, os empecilhos ao desenvolvimento da navegação de cabotagem. Isto pode ser constatado por diversos elementos como (TCU, 2019):

- Existem falhas na governança da política pública de transportes, no que tange a esse modal. Além disso, os instrumentos atuais de planejamento do governo federal aplicáveis ao sistema de transportes, Plano Plurianual (PPA) e Plano Nacional de Logística (PNL), não contemplam ações estratégicas, no nível tático e operacional, para o fomento da navegação de cabotagem;

- Os sistemas de informação governamentais são segmentados e não permitem integração de forma a produzir informações suficientes para o monitoramento das ações estratégicas da cabotagem, constantes na Política Nacional de Transportes (PNT). Além disso, a troca e o uso de informações relevantes para a gestão, fiscalização e regulação da cabotagem de contêiner entre os órgãos, bem como a divulgação de estatísticas, são dificultadas, por questões de sigilo fiscal aplicável aos dados nos sistemas aduaneiros. Há ainda dificuldades na integração dos dados de navegação, uma vez que estes são geridos por sistemas e entes diferentes, que os coletam e os medem em momentos distintos;

- A atuação dos órgãos e entes públicos não promove a operacionalização da multimodalidade (transporte de uma mesma carga por diferentes modais), o que prejudica o desenvolvimento da cabotagem. Há falhas de governança na Política Nacional de Transportes, do Ministério da Infraestrutura, no tocante ao estímulo aos operadores multimodais; e o sistema informatizado da Receita Federal utilizado pelos terminais portuários alfandegados não reconhece o Conhecimento de Transporte Multimodal de Cargas como documento válido.

Concluindo este capítulo, a revisão de literatura relacionada à cabotagem no Brasil, avançamos mais nas descobertas apontadas pelos autores pesquisados para esclarecer as perguntas da investigação – “ Quais as vantagens que a promoção da cabotagem pode trazer para um pais como o Brasil? e Quais os principais óbices que impedem o crescimento deste tipo de transporte no Brasil?”.

METODOLOGIA 4

Conceituação 4.1

A pesquisa é, segundo Burns (2000), uma investigação sistemática aplicada para esclarecer problemas específicos. A adequação e limitações dentro do método de pesquisa são cruciais para esmiuçar os problemas da investigação. Através deste insight, podem ser tomadas precauções, aumentando a validade e a confiabilidade do estudo (Miles e Huberman, 1994).

Segundo Neves (1996), a pesquisa qualitativa assume diferentes significados no campo das ciências sociais. Compreende um conjunto de distintas técnicas interpretativas (entrevista não estruturada, entrevista semi-estruturada, observação participante, observação estruturada, grupo focal) que visam descrever e decodificar os componentes de um sistema complexo de significados.

Dada a especificidade do tema proposto nas perguntas da pesquisa desta investigação, que têm como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para uma maior ocorrência do fenômeno da navegação de cabotagem no Brasil, esta investigação tem uma abordagem de características mais expositiva e descritiva.

No âmbito desta dissertação, a metodologia a utilizar basear-se-á a num modelo de pesquisa qualitativo, assentado primordialmente na realização de entrevistas não estruturadas realizadas a partir de guião de questões montado com base nos dados oriundos da contextualização do problema e da revisão de literatura. Maiores detalhes da metodologia serão apresentados a seguir.

Seleção e perfil dos entrevistados 4.2

Conforme previamente exposto, o cenário principal da cabotagem brasileiro é formado por poucos atores que são, eminentemente, divididos em empresas brasileiras de navegação de capital nacional, empresas brasileiras de navegação da capital estrangeiro, órgãos reguladores e áreas correlatas. Com base neste cenário, os entrevistados foram selecionados de forma a ter a maior abrangência possível no panorama da cabotagem nacional. Então, a partir da amostragem por julgamento, os participantes foram escolhidos por serem considerados referências na comunidade marítima brasileira no tema navegação de cabotagem, com visões estratégicas complementares do assunto (operador, regulador e

marinha). O processo de amostragem por julgamento é um procedimento comum nas ciências sociais quando se pretende trabalhar com categorias de pessoas que apresentam certas características previamente estabelecidas e consideradas relevantes para o estudo (Cooper & Schindler, 2003). Os nomes dos entrevistados e empresas não serão citados por questões de confidencialidade. Dessa maneira, os participantes serão classificados por número do indivíduo, quais sejam:

a) Representante da agência reguladora de transporte aquaviário brasileiro - Indivíduo 1;

b) Representante importante da comunidade marítima brasileira - Indivíduo 2;

c) Representante de associação de classe de Capitães da marinha mercante brasileira - Indivíduo 3;

d) Representante da autoridade marítima brasileira - Indivíduo 4;

e) Representante de empresa de navegação brasileira com capital estrangeiro - Indivíduo 5;

f) Representante da academia brasileira - Indivíduo 6;

g) Representante de empresa de navegação brasileira com capital nacional - Indivíduo 7.

Método de coleta de informações 4.3

Metodologia e método referem-se a diferentes níveis de aquisição do conhecimento; metodologia diz respeito ao processo de produção de conhecimento e método é uma ferramenta específica para adquiri-lo (Jones, 1993). Ou, na linguagem de Guba e Lincoln (1994), metodologia refere-se ao modo como o pesquisador deriva para encontrar o que ele acredita que pode ser conhecido. Isso mostra que as questões metodológicas não podem ser reduzidas a uma questão de método (ou técnica, como muitas vezes é denominado). Métodos devem ajustar-se a uma metodologia predeterminada que, por sua vez, deve-se ajustar a uma concepção ontológica sobre a forma e natureza da realidade (Guba e Lincoln, 1994: 108).

Procurando atender aos propósitos do estudo, utilizou-se a técnica de entrevistas não estruturadas para coleta de informações.

Então, com base na revisão de literatura e no enquadramento do problema geral da dissertação, foi montado guião de questões a fim de se obter informações a respeito das perguntas e dos objetivos da pesquisa, particularmente vantagens, óbices e ações para desenvolver a cabotagem no Brasil. As questões do guião eram ponto de partida e em algumas delas não seguiram a mesma sequência, conforme a evolução da entrevista e a característica do entrevistado. O guião modelo encontra-se no anexo 2 do trabalho.