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Para Alves de Souza (1997) “[...] progressivamente, vêm despontando no debate contemporâneo questões que contemplam a descentralização do Estado como resposta à crise do welfare state, e que vêm ganhando amplitude, sobretudo, a partir dos anos 70. Dessa maneira, destacam-se os temas pertinentes à redefinição dos novos níveis de intervenção governamental, bem como as diferentes formas de prover políticas públicas, particularmente na área social”.

Partindo deste pressuposto, qualquer análise de governo local, principalmente os municipais, deve passar necessariamente por uma discussão sobre descentralização e federalismo, sem deixar de levar em conta as desigualdades regionais e o poder local.

Para entendermos melhor de onde emerge o atual processo de descentralização, faz-se necessário compreendermos alguns condicionantes conjunturais que ajudaram na sua “ebulição”. Partes destas condições, que muitas vezes nos passam despercebidas, e que são essenciais para nossas análises, vamos procurar recuperar nos próximos parágrafos, de maneira breve e simplificada, sem ser exaustiva.

Assim, podemos começar dizendo que um dos marcos do atual sistema, principalmente a partir da década de 30, foi a intervenção estatal, na qual o Estado, através de amplos aparatos burocráticos de políticas públicas e centralização do poder de decisão, expande-se na sociedade com uma rapidez fantástica, deixando a população à mercê de seu domínio.

Mas, já na década de 70, com o esgotamento de uma fase de expansão do capitalismo mundial, representado em parte pela crise fiscal e político-institucional do Estado8 , emergem muitas críticas a este modelo de acumulação capitalista e às próprias relações entre Estado e Sociedade. Na nova dimensão dos espaços de reprodução social, a descentralização e a valorização do espaço local são imprescindíveis ao exercerem o papel de mediadores, para compensar o problema da ampliação na mudança de escala de decisão. (DOWBOR, 1996). Os espaços locais assumem um potencial, tanto para contribuir no equacionamento das crises de financiamento e político-institucional do Estado liberal, quanto para gestar uma nova dimensão política de reconstituição de um projeto democrático. (GENRO, 1996).

Desta forma o debate sobre a descentralização ganha destaque na agenda internacional. Nestas relações, a descentralização foi vista, na agenda internacional, como um instrumento de democratização do processo decisório das políticas públicas, pois estas estariam voltadas a uma maior eficiência na gestão e maior eficácia na sua aplicação.

Para que possamos iniciar nossa dissertação sobre o tema, iremos buscar subsídios no período que nas Ciências Sociais se convencionou chamar de “período de expansão do pós-guerra” que vai de 1945 até meados da década de 70 e é marcado pelo avanço do sistema capitalista, e por um fantástico período de acumulação de capital.

No final da década de 60 e início dos anos 70, com a crise do petróleo e a queda da taxa de lucro das grandes empresas, conforme Bresser Pereira, (1998, p.53-54) “no primeiro mundo as taxas de crescimento reduziram-se para a metade em relação ao que foram nos primeiros 20 anos após a Segunda Guerra Mundial, enquanto as taxas de desemprego aumentaram, principalmente na Europa”. Isto tudo associado à “crise fiscal do Estado”, a crise da divida externa em países da América Latina e ao paradigma centralizante e intervencionista do Estado, fez com que o sistema comece a dar sinais de esgotamento.

8 Para O’DONNELL, na maioria dos países periféricos, além da crise social e econômica, o estado atravessa

uma profunda crise em três outras dimensões: a) da ineficiência das burocracias; b) da efetividade de sua lei e; c) da plausibilidade da afirmação de que o estado orienta suas decisões pela concepção do bem público. (1993)

Nos anos de funcionamento deste modelo, o Estado cumpre um papel central para sua afirmação. Novamente Bresser Pereira (1998, p.49) diz que “o Estado foi um fator de desenvolvimento econômico e social. Neste período, e particularmente depois da Segunda Guerra Mundial, assistimos a um período de prosperidade econômica e de aumento dos padrões de vida sem precedentes na história da humanidade”. Este sistema tinha como base um conjunto de processos utilizados para controlar o trabalho, cujo expediente é muito utilizado nos dias de hoje, quando as tecnologias, e conseqüentemente o “poder econômico” e “poder político”, não necessariamente nessa ordem, abrem espaço para a ampliação da “burocracia institucional”, a qual começa a planejar, de maneira mais racional e centralizada a política econômica de seus países.

O pensamento “Weberiano” sobre a burocracia toma corpo dentro das instituições públicas, uma vez que implantada, organiza e implementa políticas econômicas ou de cunho social, de maneira mais racional e eficiente que nos sistemas anteriores.

A intervenção do Estado, em todos os setores econômicos, era sempre justificada pelo “interesse público”, porque “a idéia de força na era do governo/Estado esteve centrada essencialmente no argumento de que a intervenção governamental representava a solução alocativa mais eficiente para superar as ineficiências geradas pelas falhas de mercado”. SOUZA, (1997, p.2).

Para que o Estado implementasse essas funções, ele assumiria uma série de novas obrigações, pois o Estado deve, para Harvey apud Souza (1997, p.2) “controlar ciclos econômicos a partir de uma combinação apropriada de políticas fiscais e monetárias”.

A atuação e expansão do Estado ocorrem principalmente em algumas áreas, e setores essenciais da economia, agindo como motor propulsor do “consumo de massas” e do crescimento econômico. Para aliviar os reflexos negativos desta intervenção na população, o governo implementa políticas compensatórias nas áreas da seguridade social, educação ou saúde.

Com a “crise fiscal do Estado”, expressa no final da década de 80, e a nova Constituição Federal de 1988, o tema “Descentralização” surge nos debates, tanto de analistas conservadores como de progressistas, como sendo sinônimo de democracia e eficiência.

Pode-se observar nos debates políticos, tanto de “esquerda” como de “direita”, “conservadores” ou “progressistas”, que todos defendem a descentralização, embora a óptica dos argumentos pode ser divergente. Não é nosso objetivo aqui, descrever os motivos pelos quais estas correntes políticas-ideológicas defendem a descentralização.

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