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BILIDADE. Existência de provas que indicam que o sócio da executada primitiva administrava as contas bancarias de agravante, cujos sócios eram seu irmão e seu so- brinho. Tese de que o sócio era empregado que não se sustenta. Evidenciada a utili- zação da empresa agravante para ocultar e proteger o patrimônio do sócio, de modo a criar obstáculos para execução de seus bens. Aplicação da teoria inversa da desconsi- deração da personalidade jurídica, a qual autoriza o redirecionamento da execução à

Também tem cabimento em ações de fixação ou revisão de pensão, na qual o alimentante e, sócio de empresa utilize-a para esconder bens próprios, e assim também se beneficiar, quando numa possível fixação ou aumento no valor da pensão alimentícia devida.

Não raras vezes, também, o pai esconde seu patrimônio pes- soal, na estrutura societária da pessoa jurídica, com o reprová- vel propósito de esquivar-se do pagamento de pensão alimen- tícia devida ao filho. (GONÇALVES, 2017, p. 263).

Por tanto ocorrerá a desconsideração inversa no tocante a alimentos, quando o alimentante dissimular, aproveitando-se do manto da pessoa jurídica para ludibriar e ocultar a verdadeira capacidade econômica que possui a pessoa física, que é quem legalmente responde pelos alimentos devidos. (STARLING, 2015)

Em análise pelos processos que tem como tema a questão de alimentos, não é difícil perceber que tem sido costumeira a atitude, pelo alimentante, de dificultar a correta percepção da ca- pacidade financeira que este possui, principalmente quando ele é sócio de empresa, e aproveitando-se disto para agir protegido sob o véu empresarial, mantem uma vida e atividades que clara- mente não condizem com o seu miserável estado de quase indi- gência que tentam fazer parecer, considerando os baixos rendi- mentos que alcança com o pró labore retirado da sociedade. Isso o mesmo não simula a própria saída da sociedade, quando na verdade continua atuante na mesma. (STARLING, 2015)

Deste modo, em muitos casos o alimentante de forma ir- responsável e insensível, se utiliza da pessoa jurídica da qual é sócio para montar uma verdadeira estratégia com a mesquinha intenção de impedir a demonstração pelo alimentado, dos reais rendimentos que o alimentante percebe ou mesmo os bens que

empresa em que o sócio da executada primitiva venha a fazer parte. Redirecionamento da execução mantido. Agravo de petição da executada a que se nega provimento. (TRT- 4 – AP: 00211853520175040302, Data de Julgamento: 31/05/2018, Seção Es- pecializada em Execução).

este possui.

Assim atua também de forma fraudulenta, o ex-cônjuge que não presta alimentos declarando possuir baixos rendimen- tos, porém sua conduta pública não condiz com a presente pos- tura processual, haja vista que o mesmo ostenta riqueza e luxo. Com isso a aplicação da desconsideração inversa da personali- dade jurídica juntamente ao princípio da aparência será a justa solução para o litígio alimentar. (STARLING, 2015)

Como dito o instituto da desconsideração inversa da per- sonalidade tem como principal finalidade responsabilizar o pa- trimônio da pessoa jurídica por obrigações contraídas pelo sócio, que na tentativa de esconder bens o transfere para a pessoa jurí- dica, como nos esclarece o ilustre doutrinador Didier Jr. (2015, p. 514): “[...] a técnica de suspensão episódica do ato constitu- tivo da pessoa jurídica, de modo a buscar bens no patrimônio da pessoa jurídica, por dívidas contraídas pelo sócio”.

Nesta mesma linha de raciocínio segue Coelho (2014, p. 44-45) ao comentar acerca da desconsideração inversa:

Trata-se de responsabilizar a sociedade por dívidas do sócio, caso este, para perpetrar fraudes a seus próprios credores, transfere seus bens para a empresa, continuando a fruí-los li- vremente (...) A desconsideração inversa pode vir a ser medida de extrema utilidade em matéria de Direito de Família, consi- derando a possibilidade de um dos cônjuges transferir bens de valor para a empresa que integre, com o escopo de fraudar fu- tura partilha.

Tal entendimento é consoante ao que prescreve Primon (2016), assim vejamos:

Trata-se, na verdade, de mecanismo de efetivação do princípio do resultado da tutela executiva, bem como a ocorrência da de- vida responsabilização civil pelas dívidas contraídas, garan- tindo, assim, mais uma medida para proteção ao credor quando constatadas medidas abusivas do devedor.

Porém, o magistrado ao aplicar o instituto da desconsi- deração inversa deve-se ter a plena convicção e comprovação do nexo entre o prejuízo e o ato praticado, ou seja, que realmente a função da personalidade jurídica foi extrapolada e, usada de

maneira abusiva e por isso deve ser relativizada, para que assim, não reconhecer os efeitos de tais abusos contra os rendimentos do credor alimentar.

Importante destacar ainda, que a jurisprudência tem se direcionado no sentido de que esta desconsideração inversa, não deva ser aplicada somente nos casos em fique demonstrada a transferência fraudulentas de bens do patrimônio particular do sócio controlador-devedor para a pessoa jurídica, haja vista que, em determinadas situações como, frustradas as diligências reali- zadas, é evidente que, na condição de “dono” ou “sócio de fato” ou “controlador” da pessoa jurídica, desde demonstrado a retira de caixa, necessário para a sua manutenção e de sua família, ponto este também entendido pela jurisprudência pátria.7

Por tanto pode-se perceber que além das situações des- critas e já sedimentadas em nosso ordenamento, a jurisprudência tende ao entendimento pela proteção dos direitos dos cônjuges e dos filhos de boa fé, em detrimento àquele que tenta utilizar a pessoa jurídica com abuso, mesmo que não consiga a demons- tração da prática do abuso (teoria maior subjetiva).

CONCLUSÃO

7 Ementa: Agravo de Instrumento. Desconsideração da Personalidade Jurídica. Possi-

bilidade. Assim, diante das inúmeras e infrutíferas tentativas de localizar bens em nome dos executados capazes de garantir o juízo executório, bem como da confusão havida entre o patrimônio de seu sócio majoritário, ao lado de sua esposa, e da socie- dade que o mesmo integra, possível afigura-se a desconsideração inversa da persona- lidade jurídica determinada na origem. Em decisão monocrática, dou provimento ao agravo de instrumento. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul – Vigé- sima Câmara Cível/ Agravo de Instrumento Nº. 70041914102/ Rel. Desembargador Glênio José Wasserstein Hekman/ Julgado em 04.04.2011)

Ementa: Apelação Cível. Locação. Embargos de Terceiros. Penhora. Desconsideração

de Personalidade Jurídica Reconhecida, na forma inversa. Existência de dados fáticos que autorizam a incidência do instituto. Possibilidade da penhora de bens da empresa autorizada diante das circunstâncias excepcionais comprovadas nos autos e já desta- cadas pela sentença, que vai confirmada por seus fundamentos. APELO IMPRO- VIDO. (Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul - Décima Sexta Câmara Cível/ Apelação Cível Nº 70017992256/ Rel. Desembargadora Helena Ruppenthal Cunha/ Julgado em 07.03.2007).

Pelo exposto no presente trabalho o princípio da segu- rança jurídica é basilar em uma sociedade democrática de direi- tos, e o grande responsável por regular as relações dentro da so- ciedade, permitindo e garantido que seus indivíduos realizem suas funções da melhor maneira possível, sem se preocupar com a segurança dos direitos adquiridos e dos negócios realizados com o passar do tempo.

Outra questão importante abordada no presente estudo foi o da personalidade jurídica, principalmente com relação a questão da separação patrimonial, que permitiu uma grande evo- lução a sociedade como um todo, porém também permitiu um uso amplo e incontrolado, favorecendo assim, a utilização abu- siva e fraudulenta, inclusive no campo das relações familiares.

Diante disso, a jurisprudência estrangeira e a doméstica, evoluíram no sentido de coibir o abuso da personalidade jurí- dica, para que esta apenas cumprisse com o seu papel social, e não como escudo para a prática de atos fraudulentos, o que pos- teriormente resultou na positivação de dispositivos no direito material.

Por fim, percebeu-se que a prática de utilizar o princípio da autonomia patrimonial para esconder bens de credores, tam- bém era utilizado de forma inversa por sócios dessas pessoas ju- rídicas para que estes se beneficiassem em casos de direito de família, ocultando bens de cônjuges, filhos e herdeiros. Assim em harmônico entendimento com a doutrina, acolheu-se a Des- consideração da Personalidade Jurídica em sua forma inversa, também inicialmente acolhida pela jurisprudência, mas também sendo posteriormente positivado com o advento do Código de Processo Civil 2015, sendo inegável o atual uso da desconside- ração inversa, especialmente em casos de direito de família.

Assim a desconsideração inversa da personalidade jurí- dica poderá concretizar o princípio da segurança jurídico aludido no inicio deste trabalho, afinal sendo devidamente comprovado

(entendido aqui como o respeito a ampla defesa, ao contraditório e ao devido processo legal) o desvio de patrimônio por parte do sócio para o nome da pessoa jurídica, a parte que seria prejudi- cada possui uma maneira de evitar o prejuízo que seria praticado pela outra.

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