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DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS ATIVIDADES DO DIA 28/02/2011 E SÍNTESE

No documento Dissertação (páginas 76-81)

CAPÍTULO 3 – PLANIFICAÇÃO, INTERVENÇÃO E REFLEXÃO

3.5. PLANIFICAÇÃO, DESENVOLVIMENTO E ANÁLISE REFLEXIVA DA 5ª SESSÃO (DIA

3.6.3. DESCRIÇÃO ANALÍTICA DAS ATIVIDADES DO DIA 28/02/2011 E SÍNTESE

Na segunda-feira, dia 28, as atividades iniciaram-se com as crianças a dirigirem-se para o tapete, para que se explicasse como seria feita a laçada dos atacadores - a tarefa mais difícil da atividade proposta. Tal como na atividade anterior, também esta foi, inicialmente, apresentada para o grande grupo e concretizada ao mesmo tempo que ocorre a explicação. Quando a investigadora fez a explicação, o “Rodrigo“ encontrava-se alheio e ia apanhando algumas pedrinhas que encontrava no chão. As crianças com autismo apresentam uma incapacidade para processarem grandes quantidades de informação verbal; logo, é provável que eles “desliguem ou recorram a comportamentos autoconsoladores nos momentos em que o educador está a dirigir-se verbalmente ao grupo” (Hewitt, 2006, p. 35).

A investigadora referiu que existem duas formas de fazer a laçada - uma fácil e outra difícil. O grupo diz, prontamente, que quer fazer a difícil, já que, de uma forma geral, as crianças querem muito fazer coisas de dificuldade acrescida, aceitando bastante bem esses desafios. A forma difícil é considerada como tal por ter mais instruções, podendo, desta forma, baralhar as crianças.

Depois da explicação, as crianças foram para os respectivos lugares e com vontade de tentarem executar sozinhas. Esta atividade, também, requer muito apoio individualizado por parte da educadora e da investigadora. Foram explicando, individualmente, de mesa em mesa, para que vissem e depois tentassem fazer sozinhas. Algumas crianças, ao fim de algumas tentativas, conseguiram; no entanto, tratando-se de uma atividade difícil, nem todas conseguiram aprender num só dia, havendo necessidade de treinar com alguma frequência e noutro dia.

Com o “Rodrigo“, o procedimento foi o mesmo que na atividade do dia 25, ou seja, a investigadora colocou-se por trás e fez com as mãos dele. O “Rodrigo“ olhava, mas com ar de quem não entendia o que fazia. Cada passo foi explicado e concretizado ao mesmo tempo, para que ele entendesse o pretendido.

Ao “Rodrigo“, só foi feita a explicação da maneira difícil – várias vezes. Ia fazendo estereotipias com as mãos e pedia socorro; tentava fazer a laçada, enrolava o atacador todo e, então, fazia, novamente, estereotipias ao mesmo tempo que batia com as mãos no peito. O “Rodrigo” não conseguiu atar os sapatões com sucesso; no entanto, e como já referido, este procedimento teria de ser treinado até se obter sucesso.

Estas atividades, à semelhança das anteriores, também tiveram um cariz direcionado para um sistema educativo mais disciplinado, no que se refere à sua execução. As atividades apresentadas foram mais curtas, favorecendo uma explicação mais minuciosa, dado as crianças terem sido, todas, muito acompanhadas. Como se tem vindo a verificar, o “Rodrigo“ aprecia mais e participa com maior entusiasmo nas atividades que está habituado a realizar no quotidiano, resistindo às actividades novas que desconhece.

O professor tem de ter em atenção à forma como comunica com a criança autista. Nas atividades expostas, foram sempre dadas instruções verbais simples, sempre seguidas do respectivo gesto para que ele pudesse verificar o que lhe estava a ser pedido. É necessário, por isso, que a criança entenda o que lhe é pedido, para poder concretizar a tarefa com sucesso.

Obviamente que esta tarefa terá de ser repetida, mais vezes, até conseguirem concretizá-la, mas tanto é necessário repetir para o “Rodrigo“, como para o restante grupo; no entanto, para ele, possivelmente, terá de ser efetuada um maior número de vezes. Na opinião de Nielsen (1999, p.41) “o processo de aprendizagem tem uma base visual” daí que seja importante esta atividade seja repetida com o modelo da investigadora para que ele compreenda o que fazer e como fazer.

Como síntese reflexiva, ressalta, desta sexta e sétima sessão, que as crianças autistas têm uma grande resistência à novidade, a tudo o que lhes é desconhecido ou familiar. Assim, o “Rodrigo“ foi acusando, por diversas vezes, esse receio da novidade, evocando por socorro, parecendo dever-se ao fato de estar perante determinada tarefa que não conhece. Nielsen (1999, p.40) refere que as crianças autistas “têm uma “dependência de rotinas e resistência à mudança”. No entanto, terão de ser estimuladas para este tipo de aprendizagens, nomeadamente o laçar dos sapatos, que consiste numa tarefa que lhe dará, obviamente, mais autonomia.

3. 7. ANÁLISE TRANSVERSAL DAS SÍNTESES REFLEXIVAS DAS

SEIS SESSÕES

No quadro seguinte estão sistematizados de modo integrado e por categoria, os resultados das sínteses das seis sessões, apresentadas anteriormente. Desta análise emergiram as conclusões do estudo.

«Categorias»

Sustentação empírica e teórica de cada «categoria» a partir das sínteses reflexivas das seis

sessões

Socialização

Ao longo das seis sessões de intervenção, o “Rodrigo” foi-se manifestando alheado do que o rodeia. Concentrava-se em algo que se interessa e não revelou qualquer tipo de reacção às explicações veiculadas, a não que fosse chamado à atenção para olhar; no entanto, quando tal acontecia, era por poucos segundos. Como se verificou ao longo do estudo, uma das áreas onde as crianças com autismo manifestam mais dificuldades é na interação com o outro. Pelo contrário, a maioria das crianças gostam de brincar com outros colegas, de fazer novas amizades, de interagir com o outro. As crianças autistas que frequentam o ensino regular, diariamente, são confrontadas com situações sociais. Perante estes desafios diários de socialização, não conseguem reagir de uma forma adequada. Hewitt (2006, p. 13)

Comportamentos

ritualísticos

Um dos comportamentos também muito frequentes no “Rodrigo” foram as estereotipias. Durante as sessões de intervenção, várias vezes recorreu a estereotipias (bater com as mãos). Asperger (cit. por Cavaco, 2009) refere-se aos gestos efetuados pelos indivíduos com autismo, como vazios de significado e estereotipados. Quando confrontado com o início de uma atividade, com a dificuldade perante a sua execução ou com o sucesso da sua resolução, o “Rodrigo” reagia com batimentos de palmas ou das mãos no seu peito. Assim, verifica-se que os comportamentos ritualísticos são comuns nos autistas.

Estes comportamentos repetidos têm lugar porque os autistas não conseguem aceder a formas comportamentais mais complexas.

Resistência à

mudança

Nesta categoria foram bem evidentes as dificuldades apresentadas pelo “Rodrigo”. Sempre que lhe era proposto fazer alguma actividade que implicasse um elemento novo, reagia com estereotipias, pedindo socorro.

A literatura refere que as crianças autistas necessitam de um ensino estruturado, de forma a antecipar as suas rotinas; assim, quando confrontada com uma mudança à sua rotina, a criança autista irá reagir de uma forma

abrupta. Kanner (1943) referia que uma das características principais do autismo era a insistência obsessiva em manter as rotinas, manifestando resistência às propostas de novas atividades. Os autistas têm dificuldade em antecipar o futuro;assim, o presente tem de ser muito bem definido,para que se possam inteirar dos acontecimentos no «agora».

Dificuldade no

contato visual

Durante as seis sessões, o “Rodrigo” manteve pouco contacto visual; as poucas vezes que olhava, revelava distanciamento. Asperger (cit. por Cavaco, 2009) refere que as crianças autistas evidenciam uma dificuldade em fixar o olhar em situações sociais, revelando breves olhares e de uma forma periférica. A maior parte das vezes, o “Rodrigo” alheava-se e amontoava pequenos grãos de areia, mesmo assim, enquanto alheado a executar esta acção (brincadeira com a areia), desvia o olhar. Sempre que solicitado a olhar, olhava mas esse comportamento verificava- se apenas por breves instantes.

Vocalizações

As vocalizações foram outro comportamento frequente no “Rodrigo”, sendo este repetido diversas vezes. Em determinadas ocasiões, as vocalizações eram acompanhadas, ao mesmo tempo, por movimentos com as mãos; no entanto, os sons eram uma constante. Por vezes, cantava canções que conhecia e repetia diversas vezes até ser chamado à atenção. O “Rodrigo” adquiriu a linguagem mas apresenta dificuldade em estabelecer trocas bilaterais recíprocas. Quando questionado sobre algo responde mas depois alheia-se. As vocalizações são uma constante, assim e segundo a opinião de Pereira (1986, cit. por Cavaco, 2009), os problemas de comunicação verificam-se através de um uso idiossincrático de palavras.

No documento Dissertação (páginas 76-81)