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Descrição, caracterização da Escola e da população escolar no contexto sociocultural

2. Enquadramento da escola, dos alunos e das estratégias utilizadas no processo do Ensino Aprendizagem

2.1. Descrição, caracterização da Escola e da população escolar no contexto sociocultural

A Escola EB 2/3, Secundária Dr. Azevedo Neves é a sede do Agrupamento de Escolas Dr. Azevedo Neves e situa-se na freguesia da Damaia, concelho da Amadora. É uma escola multicultural vocacionada para a integração social e profissional dos jovens e está empenhada na inclusão e na tolerância, ao atenuar as assimetrias de desenvolvimento entre os seus pares. É uma escola de formação, ao desvendar projectos de vida, ao reforçar relações de parceria com entidades e instituições de modo a favorecer a integração na vida activa, ao assegurar a igualdade de oportunidades para todos, sem deixar de estimular e desenvolver as potencialidades individuais.

A população da zona de influência da Escola tem vindo a sofrer um forte aumento da comunidade de origem africana, verificando-se, em consequência, uma percentagem de cerca de 80% de alunos oriundos desta comunidade na população escolar actual. Por outro lado, uma parte muito significativa dos alunos vive nos bairros degradados da zona dos quais podemos destacar Cova da Moura, 6 de Maio, Estrela de África e Estrada Militar que apresentam características de “pré-guetos”, com todos os problemas inerentes a esta situação: desinteresse pela Escola, quer dos alunos quer dos encarregados de educação, violência efectiva ou latente (não transportada para o interior da escola), problemas sociais de todo o tipo, consumo e tráfico de droga, entre outros. Alguns deles apresentam mesmo carências aos níveis alimentar e de higiene e outros sinais de negligência por parte dos seus encarregados de educação. Os casos de gravidez precoce estão a aumentar.

Este concelho é de constituição muito recente (1979) e resulta do desmembramento do concelho de Oeiras devido ao grande aumento do afluxo demográfico ocorrido na segunda metade do século XX. Situa-se na região de Lisboa e Vale do Tejo, no distrito de Lisboa, cidade com a qual faz fronteira a Leste, confinando a Sul com o concelho de Oeiras, a Oeste com o de Sintra e a Norte com o de Loures. A sua situação geográfica, na continuidade da cidade de Lisboa, e o crescimento demográfico explosivo que regista

40 conferem-lhe características de sub-urbanismo acentuado, com problemas de integração das suas comunidades e mesmo formação de pré-guetos. O concelho é constituído por nove freguesias (Alfragide, Brandoa, Buraca, Damaia, Falagueira, Mina, Reboleira, Venda Nova e Venteira) que ocupam uma área de 23,76 Km2, com uma população de 175 872 habitantes, segundo o censo de 2001, e que hoje se estima em cerca de 220 mil. Todas as freguesias apresentam índices de urbanização muito elevados só baixando um pouco na Mina e na Venteira. A organização do espaço do concelho é presentemente condicionada pelos grandes eixos rodoviários (IC19, CREL, CRIL), pensados em função da cidade de Lisboa. Cada vez mais este se torna um ponto de passagem das populações (próprias e dos concelhos limítrofes) de e para Lisboa, gerando fortíssimas pressões sobre os eixos viários que não foram concebidos para um tal tráfego pendular. Em termos humanos o concelho é caracterizado por uma população de 1ª e 2ª geração, isto é, famílias não nascidas no concelho mas que se vieram instalar definitivamente nele. As suas origens variam em função do período de chegada. Até ao 25 de Abril de 1974 provinham essencialmente de outras regiões do país, em especial dos concelhos próximos e do Alentejo. Após 74, os movimentos de chegada passam a ser preponderantemente originários dos PALOPs, especialmente de Cabo Verde, sendo hoje vulgar dizer-se que a Amadora é a maior cidade cabo-verdiana do mundo. Se bem que os dados disponíveis não sejam totalmente fiáveis, pois existem muitos elementos desta comunidade em situação ilegal e, portanto, não contabilizados, eles apontam para que entre 15 a 20 mil habitantes do concelho sejam dessa proveniência.

Trata-se de uma população ainda jovem, pois as comunidades recém-chegadas tendem a apresentar taxas de natalidade muito elevadas, se bem que a diminuir, não trazendo consigo os respectivos idosos. Começam a notar-se alguns sinais de envelhecimento que se podem atribuir à fracção dos chegados ao concelho nos anos 50 a 70 e, por outro lado, a uma diminuição da elevada taxa de natalidade das populações mais recentes. Por tudo isto, ao nível da organização familiar, é notória uma tendência para a diminuição do número de membros do agregado familiar e da sua ligação interna. Esta população apresenta também uma taxa de actividade muito elevada (46%) e, ao contrário do que seria de esperar, apresenta-se muito equilibrada na razão homens/mulheres, o que indica a vinda de emigrantes em agregados familiares e não individualmente. Reparte-se entre o sector secundário (1/3) e o terciário (2/3), sendo o primário praticamente inexistente. Isto deve-se à própria origem do concelho que começou por, nos anos 60 e 70, ser um pólo de atracção industrial, facto que ainda é

41 visível nas freguesias da Venda Nova, Buraca e Brandoa. O concelho torna-se então uma zona de habitação barata e, portanto, muito atractiva para uma urbanização rápida e para os trabalhadores recém-entrados no sector terciário. Como reflexo de tudo isto, verifica-se que cerca de 90% são trabalhadores por conta de outrem e que a parte de origem africana trabalha essencialmente nos sectores da construção civil (os homens) e nos serviços domésticos (as mulheres). As habilitações literárias da população são, em geral, baixas, com a taxa de analfabetismo a situar-se pelos 10%, possuindo a maioria (60%) apenas o 6º ano e sendo mais uma vez os originários dos países africanos os que apresentam habilitações mais diminutas.

Os equipamentos de saúde no concelho são razoáveis, dispondo de um hospital central e de centros de saúde espalhados por todas as freguesias. Quanto aos equipamentos educativos, conta com 9 centros infantis integrados na rede pública, 31 escolas de 1º ciclo, 8 de 2º e 3º ciclo e 7 escolas secundárias, bem como 1 escola e 5 centros de formação profissional. Dentro desta área existem ainda 2 equipas de Apoio Educativo. Em termos de equipamento de lazer existem 10 bibliotecas, 2 cine-teatros, 1 museu, 7 piscinas, 6 pavilhões gimno-desportivos, 7 campos de futebol e 70 a 80 associações culturais, desportivas e recreativas. Estão também à disposição da população 4 esquadras da Polícia de Segurança Pública e um corpo de Bombeiros Voluntários.

Este concelho debate-se, no entanto, com um grave problema no que concerne às condições de habitabilidade, pois uma fracção muito importante da população (25%) habita em bairros clandestinos e/ou degradados. Nestes bairros as condições de vida são muito problemáticas ao nível do saneamento básico, da dimensão da habitação e de equipamento e serviços sociais deficientes ou mesmo inexistentes sendo, por isso, um terreno propício ao aumento da criminalidade, do consumo e tráfico de droga, alcoolismo e violência que cada vez envolve mais a população jovem. O crescimento explosivo levou à formação de algumas “ilhas” de habitação clandestina e bairros degradados como, por exemplo, o Bairro 6 de Maio, o Estrela de África e a Estrada Militar do Alto da Damaia, e, ainda, envolvidos já noutras freguesias, o bairro da Cova da Moura, entre outros, o que levanta problemas de integração e de identidade social e territorial que se reflectem na Escola, pois é deles que provém uma grande parte dos seus alunos. Trata-se de uma escola tradicionalmente envolvida em projectos multiculturais, devido à especificidade da sua população estudantil. A população escolar é constituída por uma panóplia de nacionalidades: Cabo-Verdiana e Descendentes;

42 Angolana e Descendentes; Guineense e Descendentes; Brasileira; Ucraniana; Russa; Romena e Chinesa.