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4.6 Intervenção de Enfermagem

4.6.3 Descrição da intervenção de Enfermagem

Para a realização da oficina e dos outros encontros que seriam aplicados os inquéritos CAP pós-testes, obteve-se um encontro com o coordenador do projeto com 15 dias de antecedência à realização da oficina, no qual foram descritas todas as atividades que seriam realizadas com as participantes do estudo, número de encontros, datas dos encontros e reforçada a necessidade de um espaço reservado, fixo, no qual seriam realizados todos os encontros.

Uma semana antes do início da oficina com as participantes, foram realizados dois encontros com as auxiliares da pesquisa, tendo como finalidade realizar orientações gerais, apresentar o roteiro da oficina (descrevendo todas as fases que comporiam a oficina e como se daria a participação de cada uma) e entregar blusa personalizada e crachá para serem utilizados durante todos os dias de realização das oficinas educativas.

A oficina educativa foi planejada para acontecer com 10 participantes por grupo, conforme orienta Gueller, Silva e Silveira (2012), totalizando quatro oficinas, abrangendo o quantitativo amostral de 40 participantes. Todavia, em virtude das dificuldades apresentadas pelas participantes para o comparecimento à intervenção de Enfermagem, como doença pessoal, dos filhos e outros parentes; resolução de problemas pessoais; não liberação do emprego; viagens e desinteresse demonstrado por algumas participantes foram realizadas 12 oficinas, com média de 3,91 participantes por oficina, totalizando 47 participantes nesta etapa da pesquisa. Várias estratégias foram realizadas para facilitar e/ou incentivar a participação das mulheres na oficina, como lanches, sorteios de brindes e nova data, caso a mulher não pudesse comparecer ao dia agendado. Cada grupo de mulheres participou de uma oficina educativa sobre o MDF.

Cada oficina teve duração máxima de duas horas, tempo que deve ser controlado com a finalidade de se evitar dispersão, cansaço e desinteresse dos participantes (MAIA, 2008). As oficinas seguiram o seguinte plano:

Quadro 5 - Relação das atividades que compuseram a oficina.

Fase Atividades Tempo (em

minutos)

1ª Exercício de apresentação: teia da Amizade. 15

2ª Exercício de integração: quem sou eu? 15

3ª Exposição dialogada sobre o tema da oficina com apoio visual de cartaz ilustrativo e o artefato (colar): método anticoncepcional do colar ou

método dos dias fixos.

4ª Construção do colar de contas, como artefato para o uso do MDF. 35 5ª Apresentação do material (colar de contas) construído pelas participantes. 10 6ª Avaliação da oficina: dinâmica do balão na roda. 15 Fonte: Elaborado pela autora.

Na primeira fase, foi realizado um exercício de apresentação, a fim de favorecer o conhecimento mútuo entre as participantes e facilitadoras da oficina.

As participantes foram dispostas em círculo. A facilitadora tomou nas mãos um novelo (rolo, bola) de cordão ou lã. Em seguida, prendeu a ponta do mesmo em um dos dedos de sua mão. Solicitou para as participantes prestarem atenção na apresentação que ela faria de si, abordando quem era, de onde vinha, o que fazia e jogou o novelo para uma das participantes à sua frente. Esta apanhou o novelo e, após enrolar a linha em um dos dedos, repetiu o que lembrava sobre a pessoa que havia terminado de se apresentar e que lhe jogou o novelo. Após fazê-lo, essa segunda pessoa se apresentou, dizendo quem era, de onde vinha, o que fazia e assim ocorreu sucessivamente, até que todas do grupo se apresentaram e disseram seus dados pessoais e se conheceram. Como cada uma atirou o novelo adiante, no final houve no interior do círculo uma verdadeira teia de fios que os uniu umas as outras. Ao final do exercício, foi solicitado a algumas participantes que expressassem o que observaram, o que sentiram, o que significava a teia e o que aconteceria se uma delas soltasse seu fio.

Na segunda fase, foi realizado um exercício de integração, a fim de favorecer um melhor relacionamento e integração interpessoal.

A facilitadora explicou que seria afixado às costas de cada participante um papel contendo a gravura de um personagem conhecido (novela/ficção) e que não deveriam pronunciar o nome dos personagens que se encontravam na gravura, pois a participante que a tinha nas costas não poderia sabê-lo. A facilitadora então fixou às costas de cada participante um papel contendo a gravura de um personagem conhecido. Tendo terminado de fixar os papéis em todas as participantes, a facilitadora explicou as regras do exercício: cada participante teve por objetivo descobrir quem era o personagem que estava em suas costas. Para esta descoberta, procurou uma colega do grupo e a ela realizou três perguntas quaisquer sobre o seu personagem. A sua colega somente respondeu com as palavras “sim” ou “não” e nenhuma palavra a mais. Em seguida, inverteram-se as funções e a colega quem realizou as três perguntas. Se com base nas respostas da outra colega, uma das duas descobrisse quem era o personagem inserido em suas costas, informariam à facilitadora e diria o personagem que ela representava naquele momento. Quando não descobriam, a dupla se desfazia e havia

procura por outra colega para reiniciar a sessão de três perguntas cada uma. E assim ocorreu sucessivamente. A dinâmica terminou quando uma boa parte do grupo havia conseguido descobrir "quem era"; quando a dinâmica excedeu o prazo estabelecido; ou quando o entusiasmo do grupo pela dinâmica começou a declinar.

Estudo realizado com 16 adolescentes do sexo feminino e masculino da região Sul de Belo Horizonte, Brasil, no qual foi desenvolvida uma oficina sobre sexualidade, observou que o momento inicial de descontração ou aquecimento é fundamental para o entrosamento do grupo e para dar continuidade às fases seguintes da oficina(AMARAL et al., 2005).

Após esse exercício, foi entregue um crachá e caneta para que cada participante se identificasse e foram orientadas para que ficassem dispostas em um semicírculo.

Na terceira fase, foi realizada a exposição dialogada sobre o uso do MDF. O tempo de exposição dialogada foi fundamentado em Institute for Reproductive Health (2010) e Gribble et al. (2008). O Instituto de Saúde Reprodutiva da Universidade de Georgetown relata que o aconselhamento do MDF leva em média de 20-30 minutos, em virtude de o método ser fácil para os prestadores ensinarem e as clientes aprenderem. Gribble et al. (2008) descrevem que a quantidade de tempo necessário para aconselhar as novas usuárias do MDF, geralmente, não ultrapassa o que é, em geral, atribuído nas normas do programa para consultas novas de planejamento familiar. Estudos de clientes simulados no Equador descobriram que a quantidade média de tempo para o aconselhamento foi de 20 minutos; estudos semelhantes em Honduras indicaram 25 minutos (GRIBBLE et al., 2008).

Nesse momento, foi utilizado um cartaz ilustrativo com as informações sobre o MDF para uso como apoio do facilitador (APÊNDICE-C), informe contendo o mesmo conteúdo do cartaz para cada uma das participantes e um colar de contas para demonstração do método. Foi entregue para cada participante um folheto educativo, pois se encontrou mediante revisão integrativa que o uso de folhetos melhora o conhecimento de mulheres e deve ser utilizado nos serviços que assistem mulheres quanto ao planejamento familiar (SMITH; WHITFIELD, 1995; LITTLE et al., 1998).

Nessa fase, aconteceu uma reflexão sobre o tema da oficina: método anticoncepcional do colar ou método dos dias fixos. Foi realizada uma exposição dialogada com apoio visual do cartaz ilustrativo e do artefato do colar, sobre definição do MDF, características do método, critérios para sua utilização, eficácia para concepção e anticoncepção e modo de uso acompanhado do artefato, o colar. Estes recursos, segundo Figueirêdo et al. (2012), facilitam a aprendizagem, a troca de saberes e articulam o conteúdo exposto.

Na quarta fase, foi realizada a construção do colar de contas por cada participante em pequenos grupos.

O colar de contas é um elemento essencial para o ensino e uso do MDF (GRIBBLE, 2003).

Cada participante recebeu um kit contendo contas em forma de gota de diversas cores (marrom, beje, rósea, branca, verde, vermelha, amarela e laranja) para personalizar o seu colar, seguindo o modelo original do colar (BRASIL, 2010); conta de cores variadas em formato diferenciado para finalizar o colar; anel flexível e resistente; fio de nylon; tesoura; presilha e alicate (APÊNDICE-D). Cada mulher recebeu em seu kit trêsopções de cores para personalizar o seu colar. A composição do kit para construção do colar foi realizada conforme assessoria de uma profissional artesã. Cada colar de contas teve um custo de R$ 5,40.

Após a exposição, as participantes foram divididas em pequenos grupos. Conforme Gueller, Silva e Silveira (2012). as atividades realizadas em pequenos grupos possibilita que todos os participantes recebam auxílio e facilita o aprendizado.

Para cada participante foi entregue um kit de materiais para construção do colar. Foi informado o tempo que elas possuíam para construção do colar, a facilitadora juntamente com as auxiliares demonstraram-se sempre acessíveis para o esclarecimento de qualquer dúvida. Durante esta fase, a facilitadora passou em cada grupo para observar como se encontrava o desenvolvimento da atividade proposta e observou se as participantes estavam trabalhando de forma integrada e compreenderam as características da construção do colar.

Na quinta fase, foi apresentado o material (colar de contas) construído pelas participantes.

Foi solicitado às participantes que ficassem dispostas em meio círculo, utilizando o seu colar de contas, ocasião na qual a facilitadora tomou uma foto do grupo e individualmente. Em seguida, cada participante de posse do seu colar apontou quais as contas representavam os dias férteis e inférteis.

Foi informado às participantes que seria entregue no próximo encontro (um mês após), como lembrança da oficina, uma cópia da foto individual retirada na oficina.

Na sexta fase, foi realizada a avaliação da oficina sobre o MDF, utilizando como estratégia o exercício do balão na roda.

Foi distribuído um pedaço pequeno de papel e uma caneta para cada participante, solicitando-as que as mesmas escrevessem o que acharam da oficina e classificasse-a em excelente/ótima/boa/regular/péssima. Quando alguma não quis escrever, recebeu ajuda de uma das enfermeiras que estavam auxiliando a pesquisadora na oficina. Foi dado um balão

colorido para cada participante (deixando que as mesmas escolhessem a cor), pedindo que fosse colocado dentro do balão o pequeno papel dobrado com a avaliação da oficina. Solicitou às participantes que enchessem o balão e que fosse dado um nó na ponta. Após todas encherem, foi pedido que todas jogassem os balões para cima, ao som de música animada, de maneira que todas tocassem, avisando-as de que nenhum balão poderia cair no chão. Após este momento de descontração, foi solicitado a cada participante que pegasse um balão de cor diferente do seu. Foi trocada a música, colocando uma música suave e solicitou ao grupo que ficassem dispostas novamente em círculo. Neste momento, foi pedido às participantes que estourassem o balão e foi solicitado aleatoriamente que realizasse a leitura da avaliação da colega, promovendo uma reflexão no grupo.

As participantes avaliaram as oficinas como excelente, ótima ou boa. Nenhuma participante avaliou como regular ou péssima.

Após este momento, foi encerrada a oficina, agradecendo a presença e o trabalho do grupo e foi oferecido um lanche para as participantes.

Esperava-se que, ao final da intervenção de enfermagem, as participantes fossem capazes de:

 Reconhecer o método do colar ou método dos dias fixos como um método anticoncepcional;

 Explicar em que consiste o MDF;

 Citar características do método e critérios para sua utilização;  Informar a eficácia do MDF para concepção e anticoncepção;

 Descrever o modo de uso do método acompanhado do artefato do colar.

Esses indicadores de resultado sobre o conhecimento foram avaliados imediatamente após a intervenção, pelo inquérito CAP.

A intervenção de Enfermagem foi descrita em várias fases apenas por uma questão didática, mas esta foi desenvolvida em um único encontro. Optou-se pela oficina, pois segundo Maffacciolli e Lopes (2005) a educação em saúde, conduzida por meio de trabalho com grupos, possibilita um enriquecimento das discussões e uma expansão de conhecimentos, viabilizando sentimentos de inclusão, equidade e valorização, pois as participantes se identificam entre si e desenvolvem um fortalecimento entre as relações humanas que, posteriormente, se transformam em aprendizado.