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5. Questões de investigação

5.1. Descrição das variáveis

Do ponto de vista económico, o comportamento do indicador compósito de stress financeiro, um índice macroprudencial, pode depender de algumas ferramentas macro, pelo que o nosso modelo pretende comprovar a intensidade desta interligação. De maneira a avaliarmos o impacto da crise da dívida soberana, utilizamos dados desde o 1º trimestre de 2010 até ao 4º trimestre de 2021, num total de 48 trimestres, estando-se a trabalhar com variáveis contínuas e números cardinais, ou seja, as observações assumem valores numéricos que têm um significado económico. Para além disso, usamos como fontes para a compilação da base de dados as plataformas digitais do Banco de Portugal e da Euribor Rates.

As variáveis utilizadas no modelo são: o indicador compósito de stress financeiro - ICSF - (que resulta da conjugação de cinco subíndices, a saber: mercados monetário, obrigacionista, acionista, cambial e intermediários financeiros), a taxa de inflação - Inflacao - (dada pelo índice harmonizado de preços no consumidor), a taxa Euribor a 3 meses - EURIBOR, o rácio de exposição indireta do setor bancário ao setor imobiliário - Exposbanca, o crédito concedido aos particulares - Creditopartic, o rácio Tier 1 - Tier1, o Produto Interno Bruto (PIB) - lnPIB, e a

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Dívida Externa Líquida (DEL) - lnDEL. Notar que todos estes indicadores referem-se a Portugal, pelo que o nosso modelo é um estudo de caso português. Escolhemos estas variáveis visto serem índices de estabilidade macroeconómica e, igualmente, de fácil acesso ao público em geral.

É de salientar ainda que na base de dados construída todos os valores das variáveis indicadas anteriormente encontram-se em percentagem, à exceção das rúbricas PIB e DEL que são apresentadas em milhões de euros. Assim, de forma a obtermos uma melhor regressão e sem dados enviesados, decidimos logaritmizar as variáveis PIB e DEL, pelo que trabalhar-se-á sempre com o logaritmo destas duas componentes.

A Tabela 3 revela as estatísticas descritivas das variáveis em estudo. É possível verificar que existem outliers, sendo a mais notória a variável Exposbanca. Notar que estes valores, dado que se diferenciam drasticamente de todos os restantes, podem enviesar os resultados da nossa regressão.

Tabela 3 - Descrição das variáveis em estudo

Fonte: Elaboração própria

Através da variância percebemos que os valores da Euribor, da lnPIB e lnDEL estão próximos da média, o que não acontece com as restantes variáveis, principalmente o outlier Exposbanca. Pelas três últimas colunas da Tabela 3 verificamos o tipo de distribuição que cada rúbrica assume, sendo que o ICSF, a Inflacao, a Euribor, a Exposbanca e o Creditopartic apresentam uma distribuição assimétrica positiva, assumindo uma maior concentração nos valores mais reduzidos da amostra. Já as restantes variáveis, isto é, o Tier1, a lnPIB e a lnDEL exibem uma distribuição assimétrica negativa, onde a concentração está nos valores mais elevados da amostra.

Variável Média Desvio-padrão Variância Mínimo Máximo P50

ICSF 0,2252 0,1804 0,0325 0,0120 0,6730 0,1768

Inflacao 1,0799 1,1793 1,3908 -0,4333 3,7667 0,7667

EURIBOR 0,0612 0,5376 0,2891 -0,5590 1,3140 -0,1210

Exposbanca 106,7854 22,9528 526,8315 81,1000 158,7000 95,8000

Creditopartic -0,5000 2,7146 7,3689 -4,2333 4,0000 -0,4333

Tier 1 12,4654 2,5962 6,7405 7,8300 16,4300 12,2250

ln PIB 10,7598 0,0469 0,0022 10,6381 10,8487 10,7624

ln DEL 12,0729 0,0711 0,0051 11,9117 12,1594 12,0976

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No tocante à correlação entre a variável dependente (ICSF) e cada variável independente (taxa de inflação, taxa Euribor, rácio de exposição indireta do setor bancário ao setor imobiliário, crédito concedido aos particulares, Tier1 e logaritmo do PIB e da DEL) é possível constatar as mesmas através da análise dos seguintes diagramas de dispersão.

Gráfico 1 - Diagrama de dispersão da Inflacao

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 2 - Diagrama de dispersão da EURIBOR

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 3 - Diagrama de dispersão da Exposbanca

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 4 - Diagrama de dispersão do Creditopartic

Fonte: Elaboração própria

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Gráfico 5 - Diagrama de dispersão do Tier1

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 6 - Diagrama de dispersão do lnPIB

Fonte: Elaboração própria

Gráfico 7 - Diagrama de dispersão do lnDEL

Fonte: Elaboração própria

Pelos gráficos supra verificamos uma forte correlação entre os dados, pelo que é de esperar que os resultados da regressão sejam estatisticamente significativos, assim como é provável que o teste de Durbin-Watson comprove que o modelo está em presença de autocorrelação.

As variáveis Inflacao, Euribor e Exposbanca exibem uma correlação positiva, enquanto o Tier1, o lnPIB e o lnDEL revelam uma correlação negativa. Relativamente ao indicador Creditopartic verificamos que não existe nenhuma correlação aparente entre esta variável e o indicador compósito de stress financeiro, pelo que a correlação é nula.

O Gráfico 1 indica que quando a taxa de inflação aumenta, o indicador compósito de stress financeiro também sofre um aumento. Do ponto de vista estatístico, esta relação é forte e economicamente esta análise está correta. O aumento da taxa de inflação leva a uma

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instabilidade do setor financeiro5, pelo que é de esperar que o ICSF aumente, uma vez que este irá capturar mais fragilidades no mercado. A mesma linha de raciocínio pode ser tomada aquando do estudo do Gráfico 2, uma vez que o aumento da taxa Euribor vai desencadear um aumento no ICSF. Tendo em consideração que a Euribor é a taxa de juro de referência aplicada a empréstimos, quando esta aumenta, os agentes económicos preveem um período de instabilidade no mercado, além de que passam a existir custos superiores associados aos investimentos realizados.

Relativamente à exposição indireta do setor bancário ao setor imobiliário, verificamos pelo Gráfico 3 que quando este rácio aumenta, o ICSF segue a mesma tendência. Uma vez mais, estatisticamente esta correlação é forte, visto a dispersão entre os valores ser reduzida. Do ponto de vista económico, o setor imobiliário está muito dependente do setor bancário e da abertura que este tem para conceder crédito. Assim sendo, quanto maior for a exposição do setor bancário, mais risco este assumirá e, consequentemente, mais fragilidades trará para o sistema financeiro.

No que toca ao crédito concedido aos particulares, espera-se, economicamente, que quanto mais crédito as instituições financeiras atribuam, mais risco estas tenham nos seus balanços, uma vez que a probabilidade de incumprimento por parte dos particulares é maior. Caso tal aconteça, o mercado financeiro capta esta vulnerabilidade, sendo que, dependendo do grau de incumprimento e das repercussões na saúde financeira do banco em causa, não é à primeira vista espectável que o sistema financeiro seja abalado. Assim sendo, este indicador torna-se particularmente interessante para a análise do ICSF, apesar de pelo Gráfico 4 não revelar uma relação estatisticamente significativa com este.

Tal como indicado anteriormente, aquando da crise bancária de 2010 na Europa, uma das alterações efetuadas na regulação e que deu origem a Basileia III foi a alteração do rácio Tier1, um indicador de capital que mede a saúde financeira de um banco, isto é, o seu capital core em relação ao total de ativos ponderados pelo risco (Risk-weighted Assets – RWA). De acordo com Basileia III, as instituições financeiras devem manter um índice mínimo de capital Tier1

5 Veja-se o caso atual da guerra na Ucrânia (com início em fevereiro de 2022) que contribuiu para o forte aumento das taxas de inflação, fazendo com que estas atingissem máximos históricos, o que levou o BCE a aumentar as taxas de juro, para fazer face à descontrolada subida da inflação. Esta instabilidade gerada nos mercados está a colocar a maior economia europeia, a alemã, numa eminente recessão, acontecimento que terá impacto em todos os países europeus.

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para garantia contra perdas inesperadas, pelo que houve uma alteração do rácio de um mínimo de 9% em 2011 para 10% em 2012.

Neste sentido, um maior valor deste indicador revela uma maior proteção do setor financeiro, pelo que quer do ponto de vista económico quer estatístico, a relação entre o Tier1 e o ICSF é negativa, tal como evidenciada pelo Gráfico 5.

O Produto Interno Bruto, nesta análise dado pelo logaritmo do PIB, assume pelo Gráfico 6 uma relação negativa com o ICSF. Economicamente, o PIB representa a riqueza gerada por uma economia, pelo que quanto maior for este valor, melhores resultados este país apresenta.

Assim sendo, é de esperar que à medida que o PIB aumenta, as fragilidades da economia e, por consequente, do sistema financeiro diminuam.

Por fim, o indicador da dívida externa líquida, dado pelo logaritmo da DEL, traduz a diferença entre os passivos e os ativos de dívida, pelo que caso esta assuma valores positivos, e quanto maiores forem, maior será a responsabilidade do país face ao exterior. Desta forma, seria de esperar que a DEL tivesse uma relação direta com o ICSF, visto que o aumento da dívida traria maiores debilidades ao sistema financeiro. Contudo, o que observamos pelo Gráfico 7 é que estas variáveis assumem uma relação inversa. Do ponto de vista económico, esta ligação não é a expectável, pois um país endividado face ao exterior não é credível para os stakeholders, além de que se insere numa série de custos, nomeadamente o pagamento de taxas de juro, que não são favoráveis à imagem financeira um país.

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