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4.3.1 Descrição particular

A entrevista com Alex foi realizada nas dependências da biblioteca da Universidade Estadual de Londrina, por escolha do próprio entrevistado. Nessa data, Alex tinha 26 anos de idade e atuava como professor da rede pública, em séries do Ensino Fundamental e Médio, e também no Ensino Técnico. Alex nos relatou que pretendia ser pesquisador na área de ciências biológicas, no entanto, como o curso de Biologia é realizado em

turno integral e ele necessitava trabalhar, optou pelo curso de Licenciatura em Matemática que poderia ser cursado no turno da noite. Ele nos relatou que durante o segundo ano do curso de Licenciatura em Matemática passou a se identificar com a profissão de professor de Matemática. Segundo ele, essa identificação foi motivada por disciplinas como Didática e Psicologia. A idéia de ser professor tornou-se ainda mais efetiva no momento em que realizou o estágio supervisionado durante o terceiro ano do curso.

Alex demonstrou ser um tanto descrente quanto ao uso de metodologias e práticas discutidas nas disciplinas de Prática e Metodologia do Ensino da Matemática, cursadas durante seu processo de formação inicial. Segundo ele, “se você pensar na prática e na teoria são umas coisas

assim que não batem. Não pela disciplina, mas pela estrutura que tem uma escola, um colégio. Pela própria formação das pessoas que estão lá. Isso que a gente estuda aqui, pouca coisa a gente usa, mas mínima coisa mesmo. Entendeu? O próprio sistema mesmo impede que você utilize essas coisas. Então eu não via por que... Eu estudei isso e hoje eu não estou usando”.

Alex disse que, desde o momento em que concluiu o curso de graduação, passou a estudar e revisar conteúdos de algumas disciplinas, tais como, Análise Real, Cálculo Diferencial e Integral I e II, Álgebra Linear e Estatística.

Para Alex, seus alunos vêem a Matemática como um conhecimento difícil de ser alcançado. Segundo ele, os alunos têm uma visão negativa da Matemática por não compreenderem sua aplicação no dia-a-dia, em comparação com disciplinas como Língua Portuguesa e Biologia. Diante desse fato, ele entende que ser um bom professor de Matemática consiste em cumprir seu papel na transmissão de informações úteis para que o aluno possa desenvolver conhecimentos “específicos ou gerais” relacionados a sua disciplina.

4.3.2 Produção de significados para a disciplina de Filosofia da Matemática a partir dos resíduos de enunciações de Alex

Durante a entrevista, Alex nos relatou que “a disciplina não se

aprofundou muito”. Entendemos que em sua perspectiva a professora não se

aprofundou em uma reflexão filosófica, ou seja, a disciplina ocupou-se de traçar um panorama das idéias de alguns filósofos e de localizá-los dentro de um contexto histórico.

Essa disciplina não se aprofundou muito. Ela tratou das questões básicas da Filosofia, mas na questão da Filosofia teórica [...] Não entrou assim em lógica, propriamente em Lógica Filosófica. Ela deu raciocínio lógico que até muitos alunos pediram, pois era época de concurso. Aí a professora deu uma matéria de raciocínio lógico com resolução de problemas direcionados para concursos. Ela ficou mais na parte teórica.

Em nossa interpretação, entendemos que Alex se refira à abordagem da história de alguns filósofos e suas contribuições para a Filosofia da Matemática quando menciona questões básicas da Filosofia e a Filosofia teórica.

Inferimos, a partir dessa fala, que Alex compreende que as questões de lógica abordadas na disciplina de Filosofia da Matemática não correspondem às mesmas tratadas na disciplina de Introdução à Lógica, mas demonstra entender, por outro lado, que não foi dada a abordagem que ele esperava. Ou seja, quando Alex mencionou a expressão “lógica filosófica”, inferimos que ele estivesse sugerindo que as questões da Lógica fossem abordadas a partir de uma análise sistemática sobre seus fundamentos, sua origem, suas causas e conseqüências.

gerais da Filosofia. Entendemos, a partir daí, que ele se refira às questões fundamentais de uma filosofia positivista: “O que é?”, “Por que é?” e “Como é?”. Ou às perguntas fundamentais da Filosofia praticada atualmente: “O que existe?”, “O que é o conhecimento?” e “O que vale?”. Em algumas falas, Alex permite-nos entender que tais questões deveriam ser abordadas em sua formação de modo a produzir conhecimentos mais amplos sobre conhecimentos gerais e mesmo sobre a Matemática. Ele disse:

[...] talvez, não sei se há tempo para tanto, mas talvez você poderia falar um pouco sobre Filosofia mesmo. Filosofia propriamente dita. Mas como é um curso de licenciatura, então é mais direcionado para a educação, então são coisas diferentes.

Ele declarou que as discussões e reflexões promovidas durante a disciplina ocuparam-se em tematizar as questões referentes ao ensino da Matemática.

Essa parte teórica relacionava a Filosofia da Matemática com o ensino da Matemática. Ela não era propriamente a Filosofia, era a Filosofia cognitiva.

Quando se refere à expressão “Filosofia cognitiva”, entendemos que se refira a questões relacionadas ao ensino da Matemática que, segundo Alex e outros depoentes, foram discutidas durante o curso da disciplina.

Em uma fala, ele revela que percebeu relação entre a disciplina de Filosofia da Matemática com outras disciplinas de conteúdo matemático, dizendo:

[...] essa disciplina teve muito a ver com a Análise e a Lógica na minha visão. A Lógica, pela relação que tem a Lógica com a Filosofia, a Lógica Matemática, a Lógica Filosófica com a Filosofia. Mas a Análise justamente por essa questão da dedução, do raciocínio dedutivo, demonstração, de você investigar. Isso que a Filosofia me ajudou bastante.

Alex nos relata ainda que a disciplina contribuiu para mudar sua perspectiva quanto à Matemática. Segundo suas próprias palavras:

[...] eu via a matemática estritamente como uma coisa fechada. E na disciplina de Filosofia, por exemplo, já vi que não era toda a Matemática. Inclusive quando a gente viu essa parte histórica de filosofia, a gente fez uma reflexão histórica na parte de filosofia, a gente viu que toda a parte de Matemática começou com o pessoal da filosofia, os pensadores. Que eles começaram a pensar sobre a matemática para resolver problemas locais deles. Então a gente viu que tudo ali começou com a filosofia. E o quanto a Filosofia é importante, e o quanto a gente tem que pensar. A cada dia está melhorando mais.

A partir dessa fala de Alex, percebemos que, ao serem discutidas questões que envolviam a Matemática e a Filosofia em torno de problemas comuns, ele pode perceber algumas relações da Matemática com outras áreas do conhecimento. Inferimos que Alex tenha percebido que, durante seu desenvolvimento, a Matemática constitui-se como uma área do conhecimento que sofre influências de fatores externos relacionados à atividade humana.