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PANORAMA DA PRÁTICA EM ENF E DC DE ASTRONOMIA

3. Unidades de contexto

5.1. Descrição do método Delph

Para a consulta ao grupo de especialistas foi usado o método ou técnica Delphi.

O nome desta técnica tem origem no oráculo da Grécia Antiga – o Oráculo de Delphos – o qual profetizava o futuro no Templo de Apolo. A técnica Delphi foi desenvolvida por Olaf Helmer, do Institute for the Future, e Norman Dalkey, da Rand Corporation (órgãos associados à Defesa Norte-Americana) no início da década de 1950, em plena Guerra Fria (SILVA e TANAKA, 1999; YOUSUF, 2007; GRISHAM, 2009). O objetivo inicial era obter um consenso fiável de um grupo de militares especialistas em defesa, sobre um possível ataque atômico dos soviéticos (BOBERG, MORRIS e KHOO, 1992).

A partir dos anos 1960, a técnica começou a ser aplicada na previsão de acontecimentos em diversos outros sectores (SPÍNOLA apud SILVA e TANAKA, 1999) e, hoje em dia, é uma técnica amplamente usada em várias áreas, incluindo a Educação.

O Delphi,

“[...] através da busca de opiniões sem interação cara a cara é comumente definido como “um método de solicitação e coleta sistemática de opiniões sobre um tópico particular, através de um conjunto de questionários sequenciais elaborados cuidadosamente, intercalados com informação resumida e feedback de opiniões, derivadas de respostas anteriores”60

(DELBECQ, VAN DE VEN, GUSTAFSON apud OSBORNE et al, 2003, p. 697, tradução nossa).

É um método de encontrar consenso entre um grupo de especialistas em relação a um determinado assunto ou problema. (FAHEY, KING e NARAYANAN, 1981) ou ainda “Segundo Linstone e Turoff (2002), é um método para estruturar um processo de comunicação grupal de maneira que o processo seja efetivo e permita a um grupo de indivíduos, como um todo, lidar com um problema complexo” (KAYO, SECURATO, 1997, p. 54).

60 “by seeking opinions without face-to-face interaction and is commonly defined as “a method of systematic solicitation and collection of judgements on a particular topic through a set of carefully designed sequential questionnaires, interspersed with summarised information and feedback of opinions derived from earlier responses’’ (Delbecq, Van de Ven, & Gustafson, 1975) (OSBORNE et al, 2003, p. 697)

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Normalmente, o painel de especialistas é contatado via e-mail e convidado a responder a um conjunto de perguntas pela mesma via. O processo de construção da resposta do grupo dá- se em três fases, como descritas em (COHEN, MANION, MORRISON, 2010 e OSBORNE et

al, 2003):

• Fase 1: Os participantes são convidados a refletir e responder a um conjunto de questões abertas sobre o tema em questão.

• Fase 2: As respostas são analisadas qualitativamente, sendo agrupadas por tema e variação de opiniões dentro de cada tema. Como resultado da análise, é construído um segundo questionário, fechado, que é devolvido aos especialistas. Assim, cada especialista tem oportunidade de passar da sua resposta individual para uma resposta mais coletiva.

• Fase 3: O processo é repetido, ou seja, os temas e afirmações presentes no questionário são, se necessário, reajustados com base nos comentários e respostas e reenviados para que os respondentes confirmem ou alterem as suas respostas.

Usando esta técnica de questionários sucessivos podem identificar-se áreas de consenso e de desacordo entre os participantes (COHEN, MANION, MORRISON, 2010, p. 310).

Os resultados são analisados pelos pesquisadores entre cada ronda - são observadas as tendências e discrepâncias, bem como suas justificativas. A informação é compilada com afirmações anônimas dos participantes e análise estatística das respostas e reenviada ao grupo. Assim, depois de conhecerem as opiniões de outros membros e a resposta do grupo, os participantes têm a oportunidade de refinar, alterar ou defender as suas respostas e reenviá-las aos pesquisadores, para que estes alterem o questionário. O processo é repetido até se atingir um consenso. (FACIONE, 1990, p. 54; KAYO e SECURATO, 1997, p. 52; MIRANDA, NOVA e CORNACCHIONE JR., 2012, p. 5; SERRA et al, 2009; GRISHAM, 2009).

É importante sublinhar, como faz Facione (1990), que atingir o consenso por meio do Delphi não é uma questão de votar ou tabular dados quantitativos. Os especialistas caminham para o consenso partilhando as suas opiniões e estando dispostos a reconsiderá-las frente às objeções e argumentos dados pelos outros membros. As opiniões dissidentes e minoritárias

143 devem também ser partilhadas e relatadas para que o painel tenha acesso a elas e devem também ser analisadas nos resultados finais. É suposto que as pessoas partilhem as suas premissas e não apenas as suas conclusões (FACIONE, 1990).

Vários autores também frisam que a obtenção de consenso não é sempre possível ou até desejável. Por exemplo, para Fahey, King e Narayanan (1981), ao contrário de outros métodos de planeamento e previsão, o objetivo do Delphi não é chegar a uma reposta única ou a um consenso, mas simplesmente obter o maior número possível de respostas e opiniões de grande qualidade, de um grupo de especialistas, de modo a subsidiar tomadas de decisão. Tudo vai depender do caso particular em estudo.

Para atingir a comunicação estruturada pretendida com o Delphi, Linstone e Turoff (2002) dizem ser necessário garantir: anonimato nas respostas; feedback das contribuições individuais; maneira de aceder ao ponto de vista do grupo como um todo; oportunidade de os participantes reverem as suas opiniões e afirmações. Também Osborne et al (2003) e Rowe e Wright (1999) afirmam que as principais características que distinguem esta técnica de outros métodos de entrevista em grupo são: interação e respostas anônimas; iterações múltiplas de respostas do grupo com feedbacks no meio; apresentação de análise estatística dos resultados das respostas do grupo.

Assim, de acordo com os autores supracitados e também com Silva e Tanaka (1999) e Yousuf (2007) podemos definir as 4 principais características do Delphi:

• Anonimato

O anonimato é fundamental, pois existem fatores sociológicos que podem afetar a interação grupal numa reunião face a face. O anonimato evita

“um domínio psicológico por parte de alguns especialistas, seja por razões de personalidade, por deferência à autoridade ou qualquer outro motivo, de forma a permitir que todos participem e ofereçam a sua contribuição” (KAYO e SECURATO, 1997, p. 54).

• Feedback controlado

O processo de feedback tem como missão consolidar todas as opiniões manifestadas pelos respondentes na rodada anterior. Para o feedback ser efetivo é preciso apresentar-se um sumário de comentários que tenham sido feitos pelos respondentes na rodada anterior, principalmente se persistirem opiniões muito divergentes, assim como a análise estatística da

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opinião do grupo. Isto facilita a análise por parte daqueles que tenham posição contrária e lhes oferece a oportunidade de decidir se mantém ou não a sua opinião. A partir do feedback, é solicitado aos respondentes que reavaliem suas respostas anteriores em relação à opinião de todo o grupo e, havendo discordância, pede-se que se justifique tal posição (KAYO, SECURATO, 1997 p. 53; ROWE e WRIGHT,1999). O feedback controlado possibilita a redução na quantidade de desacordo entre os membros do painel (YOUSUF, 2007).

• Iterações repetidas

As várias iterações, associadas aos feedbacks que são disponibilizados ao painel de especialistas, permitem que os membros deste reavaliem as suas posições, ao compará-las com a opinião do grupo (YOUSUF, 2007).

• Análise estatística

A análise estatística serve para construir uma imagem da opinião do grupo como um todo e poder compará-la com as contribuições individuais. Em termos da estatística usada, é frequente a aplicação de distribuições de frequência absoluta, medidas de dispersão, medianas e quartis. Mas não pode ser apresentada só a análise estatística, esta deve ser aliada a excertos de opiniões de membros do painel que ajudem a construir a imagem da opinião do grupo ou que discordem com ela. (ROWE e WRIGHT, 1999; YOUSUF, 2007).

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