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Capitulo III DIZER E O FAZER: UMA DICOTOMIA REAL?

3.2 Descrição e análise das aulas

3.2.3 Descrição e análise da aula 3 – Dia 29/11/

Atividade 1: Encenação – O professor (P2) explica aos alunos o contexto da encenação: Houve um roubo na noite anterior e uma grande quantia em dinheiro foi roubada. Os alunos deverão descobrir quem cometeu o crime. Para isto, a turma é dividida em dois grupos: o primeiro grupo que deverá preparar perguntas que possibilitem a solução do mistério. Dois alunos estão excluídos dos dois grupos e devem sair da sala enquanto os grupos discutem as perguntas. Estes dois alunos são o suspeito e seu álibi. Os passos são os seguintes:

1: Os grupos iniciam a elaboração das perguntas que devem totalizar 10 questões. O professor distribui 10 cartões onde as perguntas finais deverão ser escritas.

2: Os dois alunos que deixaram a sala são orientados pelo professor para combinarem cada detalhe de suas ações na noite do crime. Os alunos começam a combinar os detalhes relativos aos lugares que visitaram, os horários e as ações que executaram.

3: Os dois alunos – o suspeito e o álibi retornam à sala e cada um se dirige a um grupo. As perguntas elaboradas pelos grupos são feitas a cada um individualmente.

4: Os dois alunos trocam de grupos. As mesmas perguntas são feitas agora ao segundo aluno.

5: O suspeito e seu álibi deixam novamente a sala para que os grupos comparem as respostas dadas por ambos às mesmas perguntas.

6: Os dois retornam para esclarecer as dúvidas a cada grupo com relação às contradições encontradas pelos grupos ao compararem as respostas. Os dois têm direito à defesa após cada questionamento.

7: Os grupos apresentam seus vereditos.

Observação: Esta aula foi uma preparação para uma atividade de avaliação que acontecerá na próxima aula. A avaliação será feita em duplas e, por esta razão, os alunos são convidados a apresentarem os nomes de suas duplas já combinadas na aula de hoje. O professor copia esta relação no quadro e determina os horários em que as duplas deverão chegar.

Análise da aula 3 em relação aos princípios da AC:

O professor (P2), que já está com este grupo há um semestre, se dirige a eles de forma amistosa. Cada aluno que chega demonstra uma boa integração com o grupo e com o professor. Os cumprimentos são feitos em inglês:

P2: Hi everybody! Everything ok? Are you ready to begin a very interesting activity today? F: Teacher, I forgot my book! Is it really necessary today?

P2: No. Don’t worry. By the way, we are not going to use the book today because what today we are doing a role-play.

LLL: A what?

P2: A role-play. Let me explain: Last night, there was a robbery! At 8 p.m. A large amount of money was stolen. But there is a suspect! You’re going to find out if he did it or not.

LLL: But how?

P2: I would like to ask M1 and F1 to be the suspect and the alibi. You have to leave the classroom for a few minutes because two groups are going to be organized here and they’ll have to prepare 10 good questions to ask you! Remember they’re investigating a robbery and you, M1, are the suspect. So the questions are going to include places, times and actions. You, F1, are going to be your friend’s alibi. If you really want to prove that he is not guilty, your answers must be the same. You were together and that’s why he did not commit the crime, alright?

M1: I get it!

P2: That’s right! So, let’s go? 2 groups and you 2 please leave the room for a few minutes. Let’s go! We don’t have much time: it’s 2:15 already!

Muito importante notar que, primeiramente, P2 e os alunos se comunicaram somente na língua-alvo. A interação foi feita exclusivamente em inglês.

Nota-se, também, que não há qualquer hesitação por parte de P2 com relação à velocidade com a qual se expressa – ou com sua fluência. Trata-se, como mencionamos anteriormente, de um grupo de alunos de nível avançado de proficiência. Professor e alunos se comunicam com desenvoltura e naturalidade ao elucidar suas dúvidas e apresentar suas explicações.

O ambiente em sala de aula é amistoso e nota-se que os alunos não se sentem constrangidos ou envergonhados de manifestar, por exemplo, a dúvida com relação ao significado do termo role-play. Houve, certamente, durante o semestre, um trabalho de motivação dos alunos e observa-se um clima de confiança e cordialidade entre os alunos entre si e com o professor.

P2: Ok! Your friends have left. 2 circles, please.

Os alunos se conhecem e formam seus grupos de 6 membros cada um. Enquanto fazem isto, alguns contam piadas tanto em português quanto em inglês:

M: Oh no! YOU in my group! Você me persegue mesmo, não é?

F: Você é um “pentelho” sabia?! But I’ll stay here. Not because of you but because of my friend.

P2 explica:

P2: Now I’ll give you 10 cards. Each card must have one question. They are the questions which are going to solve this crime, so think they over! You’re investigators now! And you have 15 minutes to conclude your questions.

Os alunos começam a discutir as perguntas e, novamente, alguns comentários são feitos na língua materna:

M:Tirei zero na prova hoje.

M: Você já faz faculdade, né? Engenharia Ambiental?

M: É. Não tive tempo de estudar, cara. But what do we have to do? Questions about the place?

F: The first question should be about the places they were last night and what time. Don’t you think?

LLL: Yeah.

Os alunos começam a elaborar as perguntas que, em sua maioria, estão no tempo passado: Where did you go, Who did you see, etc. Os alunos cometem alguns erros que P2 não corrige na hora. Ele está observando e ouvindo seus alunos com uma caderneta na mão. Nesta caderneta são anotadas as perguntas que contêm algum erro. A explicação destes itens gramaticais será feita com base nesta necessidade demonstrada pelos alunos. Podemos destacar que não há sistematização em termos do ensino de estruturas gramaticais.

Em determinado momento da atividade, uma aluna se dirige a P2: M: Teacher? I’m happy today.

P2: Did anything special happen today?

M: No, Teacher. Nothing! I’m like that. I’m just happy. Nothing really special happened. Um momento de compartilhamento muito interessante. A atmosfera amistosa e descontraída entre alunos e professor se evidencia em vários momentos da aula. O ambiente desta sala de aula encoraja os alunos que se sentem confortáveis para se expressarem, mesmo quando o assunto não diz respeito diretamente à atividade da aula.

O tempo termina e P2 pede que os alunos parem de discutir pois chamará o suspeito e seu álibi.

P2: Ok. Come on in. Ready to be questioned?Let’s go?

Cada um se senta no círculo de um dos grupos. A entrevista tem início: M: What was the weather like?

M1: It was a beautiful day. M: What did you do after school? M1: I went home and I watched TV. F: You’re lying! How did you get there? M1: By taxi.

Importante notar que os alunos do grupo estão tomando nota das respostas. Até aquele momento, tinham discutido as perguntas entre si e agora anotam as respostas. Existe, portanto, uma integração natural das habilidades - speaking and listening, reading and writing. A escrita foi naturalmente incorporada à atividade em curso através da tarefa de transcrição das perguntas e respostas propostas pelos alunos.

F: Did your boyfriend go? F1: Yes, he did.

M: Did you see the film after or before your shopping? F1: Before.

Os alunos parecem se divertir muito com a análise das respostas e com a sua investigação. Eles riem, prestam atenção e participam ativamente da atividade.

M: Why were you together? F1: We like each other.

F: What did you do after the cinema? F1: MacDonald’s.

M: Do you love your boyfriend?

F1: That’s too personal. I don’t have to answer that. F: What time start the film?

Este é um dos momentos em que P2, sem interromper a atividade, toma nota em sua caderneta. O erro gramatical novamente é anotado para posterior correção.

F1: 5 p.m.

As 10 perguntas foram feitas e o suspeito troca de lugar com seu álibi para que o outro grupo o questione. As respostas estão totalmente desencontradas e os alunos dão risada. Eles realmente estão se divertindo e se comunicando na língua-alvo.

M: What film did you watch? F1: I don’t know.

M: You don’t know?!?! Do you have the ticket? F1: No, I don’t.

M: What was the weather like? F1: Cold.

M: Cold???

Os alunos riem muito neste momento. As respostas do suspeito e do álibi se contradizem o tempo todo. Ao realizarem esta tarefa de investigação, notamos que a motivação dos alunos é alta e, na busca por desvendar o mistério, eles buscam as informações com interesse, autoconfiança e sem ansiedade. Estes fatores afetivos que fazem parte do conceito de filtro afetivo proposto por Dulay e Burt (1977) se relacionam com o processo de aquisição de uma língua estrangeira ou de uma segunda língua, devendo estar baixos para que esta realmente ocorra.

Como podemos notar, através da transcrição abaixo, os comentários engraçados são feitos na língua-alvo:

F: Look. He said you didn’t buy the ticket. You’re lying! How can you lie like that? It’s amazing!

F1: I’m not lying. I just forget a few details… F: A few details???

F1: Nothing really important…

Novamente P2 interrompeu a atividade e pediu que o suspeito e seu álibi deixassem a sala para que os grupos chegassem a uma conclusão.

P2: Any contradiction? LLL: YES!!!

O professor explica na língua-alvo que os alunos deverão chegar a um veredicto: P2: You now have to decide if the suspect is guilty or not guilty. You should also define the penalty. Please, compare your answers and come to a conclusion. One of you should write down the verdict.

A expressão escrita passa novamente a fazer parte do conjunto da atividade. Há uma preocupação, por parte do professor, em promover o desenvolvimento integrado das quatro habilidades, conforme preconiza um dos principais princípios da AC.

A discussão continua: F: Daniel is lying.

M: She’s lying too. F: They were not together. M: The days are wrong. F: They didn’t go together.

M: The answers are different and I think they should go to jail for a week. F: They have the right to have a lawyer. They’re teenagers.

LLL: Jail! M: 3 years in jail! F: No. Social work! LLL: Yeah! That’s it! M: Do you all agree? LLL: Yes!

O professor interrompe a discussão e pede aos alunos que formem grupos, sentem em um semicírculo e deixem duas cadeiras para o suspeito e seu álibi. Os dois alunos – o álibi e o suspeito – são chamados de volta para o anúncio da sentença ou veredicto.

P2: I’d like you to stop now because we’re running out of time and sit in a semi-circle. All of you: groups 1 and 2 together. Let’s leave two chairs here so that the suspect and his alibi may sit here in order to hear your decision. Let’s go.

Os dois alunos – suspeito e álibi – retornam à sala e se sentam um ao lado do outro, de frente ao semicírculo para ouvirem a sentença.

O professor escreve no quadro: Guilty or not-guilty? O professor convida uma aluna a ser o porta-voz. P2: Amanda, could you be the spokesperson?

F3: Yes, ok. We believe that both are guilty. Most of the answers given were different and contradictory. One example is the weather. He said it was pleasant and she said it was cold. F1: I’m wearing a coat today. I think it’s cold today. He’s not wearing a coat. For him, it’s not cold. So, what? We can have different opinions!

F3: You also said that you were at different places! You said she chose the film and she doesn’t remember the film! Weird! Very weird! We really believe that they are guilty and should either spend 5 years in jail or do community work.

M3: As the representative of group 2, we agree. Our verdict is also guilty. They gave different information about where they sat, the amount of money they spent, the figures they gave, the prices of things he bought!

F1 + M1: We’re innocent! We didn’t commit any crime!

M3: And they also didn’t keep any receipt. They spent the money and didn’t ask for any receipt. It’s very suspicious!

P2: Does the fact that they didn’t keep any receipt prove anything?

M3: Yes, it does! The answers were contradictory! And you teacher, you’re trying to defend them. This is not fair. They’re guilty!

Como podemos notar, mais uma vez, a interação se faz na língua-alvo. Podemos notar que o aluno na sala de aula tem uma boa participação e autonomia na expressão de suas idéias e opiniões. Ele aprende a comunicar-se, comunicando suas mensagens.

O professor, por sua vez, facilita a aquisição da língua-alvo ao propor a atividade e acompanhar as tarefas que a compõem. Ele é um facilitador e um gerenciador do processo, responde às dúvidas dos alunos e as elucida. Professor e aluno participam juntos do processo de aquisição desta língua-alvo.

P2: Ok. You have decided. They are guilty!

Os alunos aplaudem a sentença e a decisão dos grupos.

P2 pede a atenção dos alunos e começa a transcrever algumas frases no quadro. Estas frases são as seguintes:

1. How much did you spend with the meal? 2. What time started the film?

3. What time did you left? 4. Where you sat?

5. He wasn’t with she.

6. They were there at Wednesday.

A análise dos erros gramaticais acontece após a troca de mensagens entre os alunos. O professor pede para que os alunos analisem e corrijam as frases. Eles o fazem, apontando os erros:

LLL: Preposition. Preposition. Spend on, not with! LLL: Her. Her.

LLL: On Wednesday. Days of the week. Did! Did!

Vemos que a gramática está presente com suas regras que são claramente elucidadas. A AC não descarta, como já enfatizamos, a explicação da estrutura gramatical da língua-alvo. Este segundo professor fez o que se espera dentro dos princípios comunicativos. Ele promoveu o desenvolvimento de uma atividade comunicativa. Ao mesmo tempo, ao perceber a necessidade da correção de certos itens gramaticais, os anotou e, ao final da tarefa, os corrigiu. Fluência e acuidade foram respeitadas.

No final da aula, pediu para que os alunos se organizassem em pares para a realização de uma avaliação oral que acontecerá na aula seguinte e que será observada e analisada por nós.