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Capítulo 5 – Estudo de caso – inovação do modelo de negócio do jornal Público

5.2. Descrição do estudo de caso

O Público é um jornal nacional diário generalista, que iniciou a sua atividade em 1990. Desde a sua fundação, a publicação faz parte do grupo empresarial Sonae, sendo atualmente detido pela Sonaecom, subholding do primeiro. Neste mesmo grupo empresarial em que está inserido o periódico, encontram-se empresas que operam nas seguintes áreas de negócio: “Software e Sistemas de Informação (Bizdirect, S21sec, WeDo e Saphety); Media (Público); Telecomunicações (NOS)” (Sonaecom, S.d., consultado em 20 de setembro de 2015).

Segundo o site da Sonaecom (S.d., consultado a 20 de setembro de 2015), o “Público é o jornal diário de referência em Portugal e é o quarto entre os jornais diários em termos de circulação.” O mesmo site explica que o “Público é líder online e regista, mensalmente, 1,6 milhões de visitantes.” A natureza multiplataforma desta publicação também é destacada na informação do espaço online do grupo a que pertence, que refere que o periódico recorre aos suportes papel, Internet e mobile para a entrega dos conteúdos (Sonaecom, S.d., consultado a 20 de setembro de 2015).

42 A 14 de novembro de 2013, o Público introduziu um sistema paywall, para o acesso aos conteúdos por si disponibilizados na versão online do jornal. Uma paywall é um sistema de pagamento para o acesso a conteúdos digitais, que tem vindo a ser adotado por diversos jornais do mundo ocidental, como o The New York Times ou o The Times. No caso do jornal Público, a paywall permite o acesso gratuito a 20 artigos por mês, limite a partir do qual o leitor é “convidado a fazer uma assinatura para poder continuar a ler mais”26

A propósito da cobrança pelo acesso aos artigos no online, os jornais foram adaptando a sua oferta, das mais diversas formas, de modo a tornarem-na mais apetecível para o leitor. Por exemplo, a estratégia de marketing da The Economist apela às várias funções que distintos formatos permitem, quanto à experiência de leitura. Assim, enquanto o site impele a uma leitura mais interessada, em que o utilizador está inclinado para a frente, sobre o monitor, o jornal impresso ou a versão para tablets, smartphones e outros dispositivos eletrónicos (como o Kindle) permitem uma leitura

(Editorial, 2013).

Se até então o jornal selecionava os artigos que disponibilizava no site, a partir do momento em que instalou a paywall, passou a oferecer ao leitor online todos os conteúdos que produzia para a versão em papel (e, ainda, outras regalias, como o acesso ao arquivo do jornal, desde a sua fundação, em 1990).

Esta estratégia de introdução da paywall foi assumida como um “passo, que faz parte de uma estratégia conjunta que envolve a internacionalização do jornal e o desenvolvimento de novos projectos, [e que] é uma forma de garantir a sustentabilidade do próprio PÚBLICO” (Editorial, 2013).

A nível internacional, o britânico Financial Times é um caso emblemático da adoção deste sistema de pagamento. Ainda que a versão impressa continue a ter importância nas receitas do jornal, a empresa alterou o foco da sua estratégia para a versão online, tendo reorganizado a redação para a produção primordialmente de conteúdos online – a versão impressa será o resultado dos conteúdos produzidos ao longo do dia para a versão digital –, a publicação dos materiais é feita nas horas em que há maior afluxo ao site, e as várias edições que existiam em papel ficaram reduzidas a uma única (Pereira, 2013).

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As principais modalidades de assinatura do Público são a mensal (pelo valor de €9,99 mensais) e a anual (por €99,99). Há outras opções, que incluem, nomeadamente, a assinatura do jornal impresso, mas estas são aquelas às quais é dado destaque em qualquer parte do site.

43 mais relaxada. Paralelamente, o jornal apostou num “estilo editorial único (os artigos não são assinados e têm um forte pendor analítico)” (Pereira, 2013). Em termos financeiros, em muito contribui para a sustentabilidade da empresa o facto de a revista pertencer a um grupo com outros negócios, nomeadamente, de organização de conferências especializadas (Pereira, 2013).

Nos Estados Unidos da América, o modelo paywall foi amplamente adotado, sendo que, no fim de 2012, 40% dos jornais desse país já tinham implementado algum sistema de paywall (Madeira, 2013). O The New York Times implementou um sistema paywall a 1 de outubro de 2011 e, desde essa data até 31 de março de 2012, aumentou a circulação em 73% durante a semana e em 50% ao domingo, tendo aumentado as assinaturas digitais em meio milhão. Neste caso, o leitor não-assinante do jornal pode ler um máximo de 10 artigos por mês (Abreu, 2012).

Em Portugal, o Público foi o primeiro jornal nacional generalista diário a adotar a paywall, a 14 de novembro de 2012. Cerca de seis meses depois, o Expresso – um jornal semanário – iniciou publicações diárias no seu site, pelas quais começou também a cobrar, através de uma paywall. Assim, o Expresso introduziu uma nova modalidade – a publicação diária – associada ao sistema de cobrança pela leitura dos artigos online. Se se visitar o site do semanário, sem assinatura, tem-se acesso a um resumo dos artigos que se podem ler na íntegra, mediante assinatura.

O Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, ambos jornais diários generalistas nacionais do grupo Controlinveste, sugerem outra forma de rentabilização do online. Assim, a proposta de pagamento para acesso aos artigos não recai sobre aqueles que são disponibilizados nos respetivos sites, mas antes sobre uma versão digitalizada do jornal impresso (e-paper).27

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E-paper é uma tecnologia, por exemplo, um software ou um aparelho, que permite a leitura de um jornal em formato digital.

As vantagens para a assinatura parecem residir, sobretudo, nas funcionalidades que o e-paper oferece, face à alternativa em papel: para além de a versão online ficar mais económica, está disponível em diversos suportes, como o computador, o tablet e o smartphone, o que permite ao leitor estar em qualquer parte do mundo e ter acesso ao jornal e é “(…) mais cómodo, mais rápido, mais prático, mais inteligente, mais amigo do ambiente” (Diário de Notícias, S.d.). O leitor pode optar por comprar uma edição avulsa, pelo valor de €0,49, ou assinar o jornal por um mês (€9,90), três (€25,90) ou seis (€52,90) meses, ou um ano (Diário de Notícias, S.d.).

44 A nossa escolha para o estudo de caso recaiu sobre o jornal Público pelo facto de este jornal ter sido o primeiro a adotar o sistema de pagamento paywall em Portugal, nos jornais de expressão nacional. Neste sentido, revelou-se verdadeiramente pioneiro, sob o risco de ficar isolado da concorrência.

Passados quase dois anos dessa decisão, apenas o Expresso (jornal nacional semanário) seguiu o exemplo e implementou uma paywall. Ao mesmo tempo, o facto de terem já passado quase dois anos desde a sua implementação permite-nos aferir de que forma o modelo escolhido para a rentabilização da versão online poderá estar a garantir o seu propósito.

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