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Cabe aqui ressaltar algumas especificidades das ações objeto deste estudo empírico. Constatou-se que há o de uso de diferentes tipos de ações para se demandar questões envolvendo direitos sociais em juízo, sendo as mais utilizadas o mandado de segurança, a ação civil pública e a ação ordinária, e de forma bem mais esporádica a ação direta de inconstitucionalidade de leis34. A variedade de meios de provocação não se dá somente na diversidade de formas processuais possíveis, mas também na possibilidade de acesso a

32 Dessas, 132 eram apelações cíveis, 43 eram agravos de instrumento, 8 eram embargos de declaração, 6 eram

agravos internos, 1 era medida cautelar e 1 era ação direta de inconstitucionalidade.

33 Embargos de declaração, agravos internos, medida cautelar.

34 No caso, por se tratar de inconstitucionalidade de lei municipal, o Tribunal competente para julgá-la é o

diferentes níveis do Poder Judiciário, que pode ser feito por meio da justiça comum, justiça federal e Tribunais Superiores (Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal)35.

Nas 132 apelações objeto do estudo desde capítulo nota-se uma predominância da utilização das ações ordinárias, que somam 56% das demandas, seguindo-se dos mandados de segurança, que representam 42% (vide Gráfico 1). Foram encontradas apenas 2 ações civis públicas36 na busca realizada no banco de dados do TJ/SP. Estas, contudo, tem usos diferentes. Uma delas foi impetrada pelo Ministério Público em nome de pessoa idosa demandando do município de São Paulo o fornecimento de alimentação medicamentosa especial. A outra, única ação de caráter coletivo dentre as encontradas pela pesquisa no banco de dados do TJ/SP, diz respeito a demanda do Ministério Público para que o Poder Executivo realizasse reforma no Pronto Socorro Municipal Dr. José Sylvio de Camargo, no qual o Conselho Regional de Medicina havia encontrado irregularidades. Ambas ações foram julgadas procedentes.

Gráfico 1: Tipo de Ação

2% 42%

56%

Ação Ordinária Mandado de Segurança Ação Civil Pública

Fonte: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.

Uma constante em tais ações envolvendo direito à saúde é a de que o Poder Executivo apresenta-se sempre como réu. Contudo, mesmo sob este ponto de vista, não se encontra uma completa homogeneidade, pois as ações são interpostas de forma indistinta pelos autores

35 Dado obtido por meio de entrevista com membros da Procuradoria Geral do Município e da Assessoria

Jurídica da Secretaria Municipal de Saúde que serão melhor explorados no próximo capítulo.

contra os três níveis da federação (governos federal, estadual e municipal)37. No caso das decisões selecionadas para este estudo empírico, os réus são o Estado de São Paulo, o município de São Paulo, ou ambos, dada a competência recursal do TJ/SP38. Como o critério central de seleção das decisões aqui estudadas é o de ações que tenham sido interpostas contra o município de São Paulo, não se obteve dados a respeito daquelas interpostas apenas contra o Estado de São Paulo. Dessa forma, tem-se que das 132 apelações analisadas neste trabalho, 52% foram interpostas conjuntamente contra o município e o Estado de São Paulo, e 48% apenas contra o município (vide Gráfico 2). Isso significa que o enforcement de tais direitos pela via judicial ou mesmo a tentativa de alterar diretamente a política pública do Executivo não é uniforme no que diz respeito ao pólo passivo da ação. Além disso, salienta-se que na maior parte dos casos encontra-se uma sobreposição dos réus. Como veremos adiante neste capítulo, nos casos em que esta pluralidade de réus se apresenta, é comum que ambos entes federativos demandados sejam condenados ao cumprimento de um mesmo pedido.

Gráfico 2: Réus nas ações

52%

48% Município de São Paulo Município e Estado de São Paulo

Fonte: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

No que diz respeito ao resultado do julgamento das ações em primeira instância, observa-se que 88% das demandas dos autores foram julgadas procedentes no sentido de se condenar o(s) réu(s) a fornecer(em) os medicamentos solicitados e apenas 11% foram

37 Dado obtido por meio de entrevista com membros da Procuradoria Geral do Município e da Assessoria

Jurídica da Secretaria Municipal de Saúde que serão melhor explorados no próximo capítulo.

38 A União também é ré em ações que demandam questões ligadas ao direito à saúde, e em muitos casos,

conjuntamente com o Estado e/ou o Município de São Paulo. Contudo, quando a União é parte em uma demanda judicial, a competência para julgá-la é sempre da justiça federal. Na medida em que este trabalho se propõe a fazer um estudo da justiça comum, não estão incluídas demandas em que o Município é réu juntamente com a União.

julgadas improcedentes. Quando as apelações referentes a tais ações são julgados em segunda instância o número de decisões de procedência sobre para 92% e o de improcedência cai para apenas 2% dos casos (vide Gráfico 3). Em 2% dos casos na primeira instância e 6% na segunda os pedidos são julgados parcialmente procedentes, ou seja, a decisão não concede integralmente o pedido do autor. Nesses casos, ou é feita a ressalva de que o medicamento a ser fornecido deve ser aquele já regularmente distribuído no sistema público de saúde, e não de uma marca comercial especificada pelo autor (quando se tratar do mesmo princípio ativo), ou então que os medicamentos fornecidos devem ser apenas aqueles demandados na petição inicial, e não “todos os outros que vierem a se fazer necessários”, como solicitado pelos autores. 88%92% 11% 2% 2% 6% 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Procedente Improcedente Parcialmente Procedente

Gráfico 3: Resultado do julgamentos das ações na 1ª e 2ª Instâncias

1ª Instância 2ª Instância

Fonte: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Tratando-se das ações em si, 98% delas são propostas de forma individual e têm como pedido o fornecimento de medicamentos ou insumos para tratamento de doença, e boa parte de seus autores foram descritos nas decisões como pessoas economicamente hipossuficientes (não teriam recursos para pagar o tratamento). Das 132 apelações julgadas, apenas 3 não têm como pedido central medicamentos ou insumos. Uma delas é a já citada ação civil pública para reforma do Pronto Socorro Municipal Dr. José Sylvio de Camargo. As outras duas têm como pedidos tratamento dentário e gratuidade no transporte público para que um paciente com AIDS, sem recursos, possa continuar a freqüentar tratamento médico que realiza em hospital público.

Assim, apesar de haver diversas políticas públicas de saúde no município de São Paulo, as decisões aqui analisadas envolvem basicamente temas relacionados à Assistência Farmacêutica do Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, para um melhor entendimento dos argumentos encontrados nas decisões que serão analisadas adiante, é necessária uma breve apresentação desta política.