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Descrição metodológica dos jogos utilizados na coleta com as crianças

CAPÍTULO 3. A PESQUISA

3.3. Descrição metodológica da pesquisa

3.3.1. Descrição metodológica dos jogos utilizados na coleta com as crianças

a) “Vamos brincar de escolinha?”

Ao fazer uso do jogo protagonizado como recuso metodológico investigativo, estabeleceu-se quatro momentos consecutivos com respectivos princípios norteadores: definição dos papéis no jogo; organização do espaço físico; seleção dos objetos e brinquedos; o desempenho durante o jogo e a interação entre os papéis desempenhados.

Esses princípios norteadores foram estabelecidos com a intenção de que pudessem servir posteriormente para a organização das categorias de análise.

Os momentos e os princípios norteadores do jogo:

1- Definição dos papéis: Deixar que as crianças escolham coletivamente os papéis que serão representados (professores, alunos, diretores, coordenadora, merendeira, porteiro etc.) e quem os executará.

• Pretendeu-se assim observar e analisar entre outras coisas: o grau de importância dado pelas crianças a cada papel exercido dentro da escola; as relações sociais estabelecidas nesses papéis e as características apontadas como necessárias para o desempenho das mesmas.

2- Organização do espaço físico: Deixar que as crianças elaborem e delimitem o espaço (fazendo uso de um rolo de barbante, disposto no chão) de acordo com os papéis e as necessidades da brincadeira (sala de aulas, diretoria, cozinha, pátio, parquinho, brinquedoteca, biblioteca, etc.).

• Pretendeu-se assim observar e analisar entre outras coisas: a percepção e representação que as crianças têm sobre os espaços que compõe a escola, através da proporção e localização geográfica destinada aos ambientes; da atenção, do tempo e

do entusiasmo empreendidos na preparação de cada ambiente; do “clima” que a utilização de possíveis objetos possa sugerir.

3- Seleção e organização dos objetos e brinquedos: Oferecer um grande “baú de trecos”, contendo vários objetos distintos (cadernos; régua; folhas pautadas; folhas de papel sulfite; lápis pretos; lápis coloridos; canetas esferográficas azul e vermelha; jogos de construção; flores; fitas de vídeos; livros de histórias infantis; livros infantis emborrachados e de leitura iconográfica; caixas de diferentes tamanhos e formatos, potes e embalagens de plástico e papelão de diversos tamanhos e formatos; teclado de computador; lousa pequena; travesseiros pequenos; baldes, pazinhas e forminhas de areia; panelas, pratos, garfos, e colheres de plástico; panelas, pratos, garfos e colheres de metal; pote cheio de clips; bola; carrinhos; corda; vai e vem; boneca e bonecos; caminha de boneca; mamadeira; chupeta; telefone; jogos educativos; rádio de plástico; diversos instrumentos musicais;embalagens vazias de massinha de modelar, de lápis de cor, de giz e de giz de cera; alfabeto móvel emborrachado; ábaco de plástico; gibis; brinquedos de pelúcia; almofadas maiores e menores; tecidos variados etc.).

• Pretendeu-se assim observar e analisar entre outras coisas: A escolha dos objetos e brinquedos (considerando-se que a psicologia histórico-cultural entende o brinquedo como suporte da brincadeira) que poderá servir de pista para a compreensão das representações infantis.

4- O desempenho durante o jogo e a interação entre os papéis: procurar observar a interação exposta no ato do jogo (sendo observadora ou se necessário, assumindo um papel e fazendo parte da brincadeira).

• Pretendeu-se assim observar e analisar entre outras coisas: como as crianças vêem, sentem e representam as relações humanas e as ações pedagógicas que se estabelecem dentro da instituição escolar.

Procedimento metodológico:

Primeiramente realizaram-se alguns encontros entre a pesquisadora, as crianças e a professora da turma, com a intenção de apresentar o objetivo da pesquisa e da

presença da pesquisadora e estabelecer vínculos, além de oportunizar a observação e a participação em momentos da rotina escolar.

Um dos encontros foi destinado ao jogo protagonizado onde as crianças escolheram o tema/argumento do jogo e brincaram livremente com os brinquedos e objetos existentes na própria escola. Combinou-se então, que no encontro seguinte, a brincadeira teria como tema “a nossa escola”.

Procurando seguir os princípios norteadores estabelecidos, efetuou-se o encontro destinado a utilização do jogo protagonizado como instrumento de coleta.

Encaminhadas pela pergunta da pesquisadora - “quem faz parte da nossa escola e pode estar na brincadeira?”- as crianças, sentadas no chão com a pesquisadora, definiram os personagens e quem os executariam.

Após o tempo destinado para a definição dos papéis, uma nova pergunta foi lançada - “onde podemos montar nossa escolinha e quais espaços teremos que ter nela?”. Ofereceu-se nesse momento, alguns rolos de barbante para que as crianças delimitassem os espaços que a brincadeira exigiria.

Em seguida, a pesquisadora apresentou o “baú de trecos”, caixa contendo vários objetos e brinquedos, perguntando “o que podemos usar daqui, onde e como?”. Foi aí reservado um tempo para que as crianças explorassem os materiais enquanto discutiam sobre onde e por quem os mesmos poderiam ser utilizados.

Depois de organizado o espaço e distribuídos os objetos reservou-se um tempo para o desempenho do jogo e a interação entre os papéis.

Ao final do encontro, as crianças ajudaram a “desmontar a escolinha” e guardar os brinquedos, enquanto conversavam com a pesquisadora sobre alguns fatos ocorridos. É importante ressaltar que na escola de Educação Infantil foi possível fazer uso do Jogo protagonizado “Vamos brincar de escolinha?” em seus quatro momentos previstos.

Na escola de Ensino Fundamental, diante das dificuldades de acesso (que dependia da autorização da direção e das professoras) e do tempo mais restrito permitido junto às crianças por encontro, optou-se por fazer uso apenas dos dois primeiros momentos para buscar dados sobre a representação infantil sobre a escola.

Obedecendo a estrutura e as regras de um Jogo de trilha (antigo jogo de tabuleiro, também conhecido por Jogo de Percurso, por apresentar um caminho a ser percorrido pelos participantes), o jogo “Trilhando nossa escola” envolveu situações previamente elaboradas visando explorar as perspectivas infantis com relação às instituições escolares analisadas.

Buscando permitir a expressão das opiniões diretas das crianças referentes às respectivas instituições, cinco questões mais amplas foram estabelecidas para que servissem posteriormente como categorias de análise.

Questões:

Você gosta da escola? O que você vem fazer aqui? O que você mais gosta na escola? O que você menos gosta na escola?

Se tivesse um ‘saquinho de pó mágico’ o que você faria para deixar a escola melhor?

Observação: Empregou-se no decorrer do jogo um saquinho de tecido vermelho contendo purpurina dourada, que foi apresentado ludicamente para as crianças como um “saquinho de pó mágico” que seria capaz de ‘mudar o que quisessem’ na realidade escolar.

Intercalada às cinco perguntas (categorias) já anunciadas utilizou-se também durante este jogo uma estratégia metodológica denominada “escala simétrica”. A escala foi abordada por meio de um material confeccionado e denominado pela pesquisadora como “Cartões de carinhas” - três cartões por criança, confeccionados em cartolina com desenho de expressões faciais, com as seguintes associações:

- - -

- Carinha feliz = gosto muito .

. .

. Carinha séria = gosto um pouco /

/ /

/ Carinha triste = não gosto

A escala simétrica foi solicitada durante a trilha por outras cinco perguntas (categorias) mais especificas que associavam a expressão do aspecto afetivo-emocional infantil aos espaços físicos e momentos das rotinas escolares. Em seguida, as respostas

obtidas por intermédio dos cartões eram aprofundadas e justificadas verbalmente, por meio de depoimentos livres das crianças.

Essas outras cinco perguntas ficaram assim estruturas: CER:

Quando estou no parque eu (MOSTRAR CARINHA) porque (DEPOIMENTO LIVRE)

Quando estou na sala estruturada eu ... Quando estou no tanque de areia eu ... Quando estou na brinquedoteca eu ...

Quando estou na sala de multirecursos eu ... Ensino Fundamental:

Das aulas de artes eu (MOSTRAR CARINHA) porque (DEPOIMENTO LIVRE) Da sala de aula eu...

Quando é hora da educação física eu...

Nas atividades feitas na sala de informática eu ... Quando é hora do recreio eu ...

Para dar a dinâmica do jogo e com a intenção de que as crianças brincassem explorando o movimento corporal, além das dez “casas” contendo as perguntas estruturadas o material do jogo foi elaborado contendo outras duas com os comandos:

‘Volte para a casa número 3 e junto com sua equipe faça caretas’ ‘Avance duas casas e junto com sua equipe imite um animal’.

Assim, para o jogo “Trilhando nossa escola” foram necessários os seguintes materiais: Doze (12) placas de 40 cm por 40 cm, confeccionadas em material emborrachado (EVA) e enumeradas de um a doze;

Duas placas que demarcavam respectivamente o espaço de SAÍDA e CHEGADA; Um dado colorido de 15 cm por 15 cm, confeccionado em papelão e revestido por material emborrachado (EVA);

Doze (12) arcos plásticos/bambolês, representando as ‘casas’ do tabuleiro do jogo; “Cartões de carinhas” para cada criança;

“Saquinho de pó mágico”; Cartões de perguntas e tarefas.

Procedimento metodológico:

Inicialmente, as crianças tiveram um tempo para explorar livremente o material do jogo. Posteriormente, as regras foram apresentadas e combinadas entre as crianças e a pesquisadora.

Na sequência, a pesquisadora apresentou a função dos “Cartões de carinhas” e explicou que quando as mesmas fossem mostradas deveriam permanecer um tempo para que fossem registradas por fotografia. As crianças então brincaram, imitando com o corpo as expressões faciais solicitadas.

Com o auxílio dos participantes, a trilha foi montada no chão da área externa das respectivas escolas para que posteriormente se iniciasse o jogo.

As crianças, separadas em dois grupos, escolheram um participante de cada equipe para desempenhar o papel de ‘peão”, posicionando-se no lugar marcado para a saída e, um participante para jogar o dado. Esses papéis foram constantemente revezados ao longo do jogo.

Ao “peão” foi incumbida à tarefa de se deslocar pela trilha, de acordo com o número indicado pelo dado. A pergunta e/ ou tarefa correspondente a “casa” foi lida pela pesquisadora e respondida ou executada pelas duas equipes.

O Jogo de regras “Trilhando nossa escola” foi utilizado em 2009 com as crianças tanto na Escola de Educação Infantil como na Escola de Ensino Fundamental.

c) “Simon diz”

Mediante os fatos ocorridos no final de 2009 e a decisão de expansão do período de coleta por mais um semestre letivo, este jogo foi utilizado junto ao grupo de crianças participantes decorrente do primeiro ano do Ensino fundamental em 2010. Como no grupo tínhamos a presença de quatro crianças que já haviam participado da coleta no ano anterior no CER, optou-se por fazer uso do bloco das cinco questões mais amplas do jogo ‘Trilhando nossa escola’ por meio de uma nova proposta lúdica.

O jogo consistiu-se em uma série de comandos que só podiam ser obedecidos pelos participantes quando o mesmo fosse anunciado pela expressão “Simon diz”. Quando o comando fosse dado sem a “permissão de Simon” os participantes deveriam

permanecer imóveis. Exemplos de comandos usados: sentar; gargalhar; dançar; fazer caretas; colocar mãos na cabeça; mãos nos pés; mãos no nariz; etc.

Deu-se procedimento ao jogo, obedecendo a sua estrutura e regras próprias, porém, o mesmo foi compatibilizado com o questionário previamente elaborado. Para tanto, combinou-se que nos momentos em que alguém não seguisse o comando, o grupo bateria palmas para o colega (com a intenção de não enfatizar o aspecto negativo do erro contido no jogo) e a pesquisadora faria uma pergunta para ser respondida e debatida pelo grupo.