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O professor não pode ser considerado somente como aquele que "ministra aula", que transmite informações e depois aplica avaliações específicas para esse fim. Sua atuação não se esgota nos limites da universidade e, nela, não se apresenta somente como representante da profissão, mas como uma pessoa que é constituída de saberes, experiências, dúvidas, aspirações, conflitos e necessidades pois, não tem como se separar o professor do sujeito, do ser humano.

É papel do corpo docente compartilhar, socializar e contribuir com a disseminação do conhecimento científico e potencializar a relação com o meio social e profissional, motivos que descrevem a sua importância. Além disso, a universidade necessita reelaborar a percepção de que o ambiente acadêmico, encontra-se em constante desenvolvimento, o que por sua vez intensifica as exigências e cobranças internas por parte das instituições por resultados, entre eles, a necessidade de que seu corpo docente esteja atuando ativamente para atingir as demandas impostas institucionalmente, o que pode vir a fomentar a competição, estresse, excesso de cobrança, alto ego, busca por status quo, necessidade de reconhecimento pelos pares, em um ciclo que se repente continuamente. Esse contexto histórico-social desencadeia demandas distintas à prática docente, causando desgastes emocionais, insatisfação com resultados, sentimentos de inferioridade, isolamento, e até mesmo depressão, os quais impactam diretamente sobre as relações interpessoais e nos resultados organizacionais.

A intensificação do trabalho docente na busca por objetivos e resultados eleva a carga de atividade e impacta diretamente sobre a prática universitária, na condução, no conteúdo e nos resultados do trabalho dos professores. Dal Rosso (2008) considera que a definição da intensificação do trabalho pressupõe que: a) a intensidade de energia despendida na efetividade do trabalho está centrada no trabalhador, individual ou coletivo, independente dos meios de

produção, ao considerar que o dispêndio de energia física, intelectual e emocional, é representada e observada em termos de resultados (quantitativos e qualitativos) do trabalho.

Estudos, como de Mancebo (2011) tem evidenciado que dentre as consequências centrais desse processo de intensificação do trabalho docente está a inserção crescentemente de demandas laborais para além de suas funções tradicionais (ensino, pesquisa e extensão). Como a participação em órgãos de colegiados, a busca de recursos para seus projetos, as demandas oriundas de órgãos reguladores/avaliadores, as comissões, os processos, os pareceres, entre outras funções, as quais intensificam ainda mais possíveis desentendimentos, brigas de ego, conflitos e por vezes retaliações disfarçadas de burocracia.Para responder a tais exigências, os docentes precisam estender sua jornada de trabalho e, fundamentalmente, transformam o tempo em que não estão trabalhando em tempo necessário para cumprir as demandas de produtividade, utilizando-se dos finais de semana, feriados e, em muitos casos, até mesmo das férias.

Essa expansão temporal da jornada docente foi identificada também na pesquisa de Mancebo (2011), para o autor a ida para casa não finaliza o dia de trabalho, pois as tarefas são muitas e a jornada trabalhada se expande para além de um trabalho prescrito de 40 horas. Desse modo, conciliar o pessoal com o profissional requeria sacrifícios de tempo livre, trabalho nos finais de semana, aproveitar as férias para adiantamento de pesquisas, entre outros.

Em tal contexto, o processo de intensificação do trabalho e a consequente redução do tempo livre dos professores são elementos que se relacionam diretamente com sentimentos de inveja, bem-estar e saúde tanto física quanto mental. Pois, o exercício da profissão docente é considerada como uma das mais estressantes e desgastante, com repercussões evidentes na saúde física e mental, a exemplo de apatia, estresse, desesperança e desânimo, o que por sua vez impactam no desempenho profissional (REIS et al., 2006, BARROS et al., 2007).

Em um estudo realizado por Mazzola, Schonfeld e Spector (2011) verificou-se que a categoria docente considera a sobrecarga de trabalho, a falta de controle sobre o tempo, e a dificuldade de relacionamento com os pares, como os principais fatores de desgaste e estresse no trabalho, com prejuízos que afetam a saúde física, psicológica, e a capacidade de trabalho (REIS et al., 2006). Os professores do ensino superior, particularmente, sofrem com esse cenário, principalmente, pelas pressões impostas em relação à produção intelectual e a sobrecarga de trabalho. Pesquisas que abordam sobre a qualidade de vida dos docentes apresentam resultados relacionados aos prejuízos do ambiente sobre o bem-estar destes indivíduos, sendo mencionados problemas relacionados ao sono, episódios depressivos, esgotamento mental e físico, problemas de saúde, entre outros (DIEHL; MARIN, 2016).

Frente a esse contexto, a seleção dos participantes contou com a colaboração de professores universitários de instituições de ensino públicas brasileiras que se disponibilizaram a contribuir com o presente estudo. Desse modo, participaram desta pesquisa um total de 176 professores, de ambos os sexos, que lecionam em território nacional como docente titular ou substituto.

A escolha por estes sujeitos como locus de pesquisa deu-se em função da escassez de pesquisas que relacionem as influências da inveja sobre o BES e a saúde mental no local de trabalho de ensino superior, mais especificamente instituições públicas com foco nos professores universitários, denotando uma lacuna ao se tratar sobre o assunto como demonstrado no capítulo do marco teórico da tese. Considerou-se para o enquadramento neste estudo que o pesquisado deveria ter vínculo formal efetivo ou substituto como docente em uma instituição de ensino superior pública.

Assim, a amostra do estudo configura-se em não probabilística que de acordo com Malhotra (2006, p. 325) é o “processo de amostragem que não utiliza seleção aleatória. Ao contrário, confia no julgamento pessoal do pesquisador” e, por conveniência, pois neste tipo de seleção amostral, procura-se obter elementos adequados à realização da pesquisa (COOPER; SHINDLER, 2016).