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3 CONFERÊNCIA DAS PARTES DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇAS

3.5 O desdobramento da COP-15

Uma breve contextualização é muito importante para avaliar o desfecho da COP-15 em um acordo não vinculante pelas partes. Com a criação dos grupos de trabalhos AWG-LCA e AWG-KP em 2007, cujo objetivo estava em estabelecer novos prazos para a continuidade do regime internacional de mudanças climáticas, havia uma expectativa de se ter um novo acordo vinculante pós o Protocolo de Kyoto em 2009.

A clivagem norte-sul deve ser aqui retomada no sentido de expor as diferentes expectativas das partes signatárias. Para os países desenvolvidos, a demanda estava na criação de um novo acordo vinculante que trouxesse responsabilidades comuns a todos os signatários, com base no argumento de que a lista de países do Anexo I deveria ser atualizada com a adição de países que já haviam passado pelo processo de industrialização.

No entanto, os países em desenvolvimento argumentavam na permanência do Protocolo de Kyoto e na sua extensão de metas para um segundo período de prazos aos países desenvolvidos em reduzir suas emissões, de modo a manter o princípio de responsabilidades diferenciadas.

Em setembro de 2009, o então secretário das Nações Unidas, Ban Ki-moon, convocou cerca de 100 chefes de Estado para a sessão de abertura da reunião das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas. Pronunciamentos como os da União Europeia e Japão foram os únicos em afirmarem metas de redução dos gases até 2020 (GAMBA, 2015).

O pronunciamento do então presidente chinês Hu Jintao foi positivo para a opinião pública em afirmar medidas de políticas domésticas em promover uma economia de baixo carbono assim como o discurso do então presidente dos EUA, Barack Obama, em assumir uma nova era. Reuniões bilaterais entre China e EUA reforçaram o chamado G-2 e possibilidades de negociações efetivas para o regime climático (GAMBA, 2015).

Posteriormente, em outubro, ocorreu um encontro bilateral entre Brasil e França, entre os então presidentes Lula e Sarkozy que se comprometeram trabalharem juntos em Copenhagen em busca de avanço nas negociações a favor do clima. Contudo, a expectativa logo fora desfeita quando os representantes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), sendo EUA e China membros que anunciaram publicamente que um tratado legalmente vinculante em relação ao arranjo de Copenhagen não seria possível de ocorrer (VIOLA, 2010).

Desse modo, o conservadorismo para destravar os resultados dos grupos de trabalhos da UNFCCC e a não realização de um tratado vinculante foi instalado nas mídias e opinião pública. Com isso, a articulação do BASIC pode ser considerada como uma resposta ao conservadorismo anunciado pelos EUA, China e Dinamarca, principalmente. A percepção de que não haveria uma ânsia em destravar um tratado internacional vinculante, o estabelecimento de metas voluntárias para emissões do GEE por parte dos países do BASIC incorreria apenas em uma “carta de intenções”, como o próprio Secretário Executivo, Yvo de Boer, afirmou sobre o acordo de Copenhagen para as mudanças climáticas (BBC, 2009).

A COP-15 foi realizada em entre os dias 7 e 18 de dezembro de 2009 na capital da Dinamarca, Copenhagen. O encontro teve 192 partes signatárias e as negociações estavam centradas no comprometimento das partes em reduzir a emissão entre 25% a 40% até 2020 com base nas medições feitas em 1990 a fim de que não houvesse um aumento de 2 e 2,4ºC.

Há de se destacar a presença de mais de 40.000 pessoas na COP-15, em que podem considerar representantes de governo, organizações não governamentais, organizações internacionais e jornalistas de todo o mundo. Dessa maneira, o posicionamento do então presidente do G77/China, Ibrahin Mirghani, fora de manutenção do Protocolo de Kyoto para somente estender o prazo para os integrantes do Anexo I pós 2012, sem que houvesse nenhum comprometimento obrigatório aos países em desenvolvimento e a criação de prazos e políticas de adaptação/mitigação vinculados ao Mapa do Caminho, da COP-14.

Ao longo dos grupos de trabalhos, o posicionamento da delegação brasileira fora de alinhamento ao G77/China, muito embora tenha considerado metas voluntárias assim como a possibilidade de se criar um fundo de investimento aos países mais pobres. Do outro lado da negociação estavam o dito grupo guarda-chuva como Japão, Coreia do Sul, Noruega, Suécia, Rússia, por exemplo, que apresentaram propostas de um novo acordo vinculante que tivesse por característica, abrangência de responsabilidades de todos as partes (GAMBA, 2015).

Infelizmente, o percurso das negociações da COP 15 fora atribulado e com muitas divergências entre as partes. Os drafts elaborados pelos grupos de trabalhos não encontravam

um denominador mínimo comum e reuniões fora do âmbito das Nações Unidas ocorreram de forma não institucional o que feria o processo decisório do regime. Ameaças de retirada da Conferência por parte do Grupo Africano, renúncia do Presidente da COP-15 e por fim, um acordo não vinculante estabelecido pelos países do BASIC e os EUA que não houve total consentimento dos demais países signatários da UNFCCC, como Venezuela, Cuba, Sudão, Nicarágua e Bolívia.

O Acordo de Copenhagen reconhece a necessidade de manter em 2ºC o limite para o aumento da temperatura global. De forma bastante superficial o acordo apresenta prazos para os países do Anexo I em picos de emissões de gases, de modo a dar mais flexibilidade aos prazos aos países do Não Anexo I, considerando suas economias em desenvolvimento (ONU, 2009).

O acordo também estabelece o prazo de até 31 de janeiro de 2010 às partes associadas que não forem do Anexo I em estipular suas metas de reduções voluntariamente apoiada pela metodologia de verificação em que se tem financiamento dos países em desenvolvimento. Essa verificação, por sua vez, é reprovada pelos países em desenvolvimento justamente pela possível interferência doméstica.

A novidade do acordo está no fundo de investimento de US$ 30 bilhões de recursos entre 2010 e 2012 para instituições internacionais alocados para políticas de mitigação e adaptação. Ademais, estabeleceu-se um fundo de US$100 bilhões para serem direcionados aos países em desenvolvimento até 2020, de modo que a maior parte do fundo ficará sob responsabilidade do Fundo Verde para o Clima de Copenhagen (ONU, 2009).

Contudo, desses US$100 bilhões, apenas US$25,2 bilhões foram anunciados para serem transferidos. Os países que se manifestaram foram o Japão em US$ 11 bilhões, a União Europeia em US$ 10,6 bilhões e os EUA em US$3,6 bilhões (G1, 2009a).

A expectativa de que houvesse a assinatura de um tratado vinculante das partes signatárias na COP-15 era bastante alta. A mobilização de delegações, entidades governamentais e não governamentais e a mídia fez do ano de 2009 um marco para o regime internacional para as mudanças climáticas. Contudo, a falta de transparência foi muito grave para a consolidação da Convenção-Quadro. As reuniões fora dos grupos de trabalho e o próprio acordo finalizado pelos chefes de Estado que não seguiram os rascunhos oficiais conferiram aos críticos ‘fracasso’ (GAMBA, 2015).

O então ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que "o resultado foi um dos dias mais tristes da minha vida". Para ele, o Brasil esforçou multilateralmente para negociar um

acordo relevante. “O Brasil obviamente não tá mal na fita. Foi reconhecido como um país que deu tudo, metas fortes, queda do desmatamento da Amazônia, o discurso de Lula saudado, mas apesar do esforço o resultado é muito pequeno face à urgência do mundo” (G1, 2009b).

No Ministério das Relações Exteriores, o então ministro Celso Amorim em entrevista para o jornal G1 pronunciou sua opinião a respeito do resultado da Conferência das Partes:

Acho que a posição do Brasil motivou outros países que não haviam apresentado números, como China, Índia e Estados Unidos. Depois que o Brasil apresentou, eles apresentaram. Agora, você não pode querer que os países se exonerem da responsabilidade. Por oportunismo, os países ricos, como eles sabem que os Estados Unidos dificilmente poderão assumir uma meta do tipo da de Kyoto, os países ricos estão pegando carona. No mais, é jogo de cena (BONIN, 2009).

O posicionamento brasileiro pode ser observado como uma atualização na agenda internacional ambiental (LIMA, 2012), mas sobretudo uma mudança no engajamento multilateral em apresentar propostas como os Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), por meio do LULUCF, o uso da terra e floresta assim como a mudança da matriz energética através das energias renováveis para estarem em vantagem no mercado de carbono. Contudo, a sua permanência sobre o princípio que norteia o Protocolo de Kyoto em responsabilidades diferenciadas em não comprometer o desenvolvimento econômico através de ressalvas mostra uma ambivalência política.

4 CONFERÊNCIA DAS PARTES DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE AS