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1. INTRODUÇÃO

1.5. Desempenho acadêmico e o Desenvolvimento de Carreira

O desenvolvimento de carreira pode ser considerado como uma parte do desenvolvimento psicossocial pelo qual os indivíduos passam durante as diversas transições da vida (Pinquart, et al, 2003). Por conta disso, é razoável que os estudos sobre desenvolvimento de carreira levem em consideração outras dimensões do desenvolvimento humano,

como as aquisições e desenvolvimento de competências escolares e o aperfeiçoamento das crenças sobre si (Pinquart, et al, 2003). Algumas relações entre crenças de autoeficácia, comportamento exploratório e suporte parental para o desenvolvimento de carreira de diferentes níveis educacionais já foram citadas nos tópicos anteriores do projeto. A seguir, encontram-se outros estudos com foco no desempenho acadêmico e nas variáveis sociais e de carreira.

Embora os estudos envolvendo desempenho acadêmico na educação básica e trajetórias de carreira sejam escassos, alguns resultados de pesquisas parecem importantes: em períodos em que os índices de desemprego se encontram altos, aqueles jovens que não obtiveram bom desempenho acadêmico na escola terão menores oportunidades de escolher bons empregos (Coles, 2000), além do que baixas realizações educacionais são consideradas fatores de risco para o desemprego e para o aumento da insatisfação com o trabalho (Gonçalves, Taveira, Pereira, & Saavedra, 2008; Pinquart, et al, 2003). Ao contrário, espera-se que alunos que obtiveram melhores notas na escola possuam maior motivação com a carreira que escolheram (Vinokur & Schul, 2002).

Em estudo longitudinal elaborado por Pinquart et al (2003), com jovens de 12 a 15 anos, investigou-se o quanto as crenças de autoeficácia acadêmica e as notas na escola estavam associadas com o desemprego e a satisfação com o trabalho quando esses jovens completaram 21 anos de idade. Os resultados desse estudo indicaram que os alunos que apresentavam maior autoeficácia acadêmica e melhores notas na adolescência tinham menor possibilidade de desemprego e maior possibilidade de estarem satisfeitos com seus empregos do que seus colegas com índices menores de autoeficácia acadêmica e notas piores. Estudo de Linnehan (2001) com 202 alunos afro-americanos que frequentavam o ensino médio examinou a influência da participação em programas de estágio/aprendiz no comportamento e desempenho acadêmicos. Os resultados indicaram que a participação por mais de seis meses nesse programa teve uma relação significativa com a melhora do desempenho acadêmico desses alunos. Assim, esses resultados mostram congruência com o conceito de aprendizagem vicária, importante para favorecer as crenças de autoeficácia (Lent, et al, 1994).

Em estudo de Gonçalves et al (2008), com 20 adultos portugueses pouco escolarizados, indicou que a trajetória de carreira deles foi marcada por sucessivas transições de emprego. Dentre os motivos citados pelos participantes para o abandono escolar, o

comportamento (faltar às aulas, indisciplina), as transições de vida, questões familiares e o insucesso escolar foram destacados. Com menores perspectivas de sucesso no âmbito escolar, além das repetidas retenções, o abandono da escola surge como uma opção viável no momento.

Em pesquisa elaborada por Delgado e Palos (2007), investigaram-se as diferenças de condutas de risco (consumo de álcool, tabaco e drogas, comportamento sexual, tentativa de suicídio e condutas antissociais) entre alunos de escolas preparatórias profissionais mexicanas com alto e baixo desempenho acadêmico. O total de 1000 alunos entre 14 e 20 anos participou do estudo, e os resultados indicaram que há relação entre desempenho acadêmico e comportamentos de risco, ou seja, alunos com pior desempenho acadêmico apresentavam maior comportamento de risco, em comparação a alunos com maior desempenho. Embora esses alunos não estivessem necessariamente empregados, participavam de cursos de formação profissional, e esses comportamentos de risco apresentados, aliados ao baixo desempenho acadêmico, impactaram negativamente a formação e a trajetória profissional.

O desempenho acadêmico também tem sido relacionado à problemática da evasão no ensino superior (Allen, Robbins, Casillas, & Oh, 2008; Bardagi & Hutz, 2012; Sampaio, Sampaio, Mello, & Melo, 2011; Todd et al, 2009), fenômeno que repercute nas carreiras dos jovens e nas gestões educacionais do sistema de ensino público e privado. Muitas vezes, os alunos percebem o desempenho acadêmico como uma das poucas ou a única forma de se relacionar com a universidade (Todd et al, 2009), e por conta desse referencial, é possível que tirar notas baixas seja um fator tão importante que uma das consequências inevitáveis, dentre outras, é o aluno evadir.

Fazendo um fechamento sobre esse tópico, estudo de Weiser e Riggio (2010) apontou que o desempenho acadêmico estava relacionado com características familiares, com mediação das crenças de autoeficácia, aspectos que são tratados nessa dissertação. Os autores indicam que as características familiares (como condições socioeconômicas, aspirações educacionais, etc) desempenham melhor suas influências em relação ao desempenho escolar dos filhos quando mediadas pelas crenças de autoeficácia.

Neste estudo, a avaliação das relações entre suporte parental para o desenvolvimento de carreira, as crenças de autoeficácia acadêmica, desempenho e comportamento exploratório acontece em um contexto específico, e ainda pouco explorado na literatura vocacional,

que são as instituições da rede federal de ensino profissional e tecnológico. Elas oferecem, dentre outros, a modalidade de ensino médio integrado ao ensino técnico, em que alunos frequentam o ensino médio regular e, de maneira concomitante e dentro da mesma instituição, o ensino técnico em uma área específica do conhecimento.

A partir da revisão de literatura realizada, é possível observar que tanto as variáveis de carreira – crenças de autoeficácia acadêmica, comportamento exploratório, suporte parental para o desenvolvimento de carreira e desempenho acadêmico – quanto o contexto de pesquisa, o ensino técnico de nível médio, fazem parte de um grupo de temáticas importantes na compreensão do desenvolvimento de carreira nessa etapa da adolescência. De acordo com a concepção da TSCDC (Blustein et. al., 1997; Lent et. al, 1994; Lent et. al., 1999), os períodos de transição da escola/universidade não se limitam ao exato período de tempo entre a saída da escola/universidade e entrada no mundo do trabalho; esses períodos se iniciam desde os anos do ensino fundamental e médio e percorrem até a estabilidade em um emprego, por exemplo. Dessa forma, estudos com adolescentes em período de transição são importantes, pois os frutos das investigações poderão fomentar projetos de orientação profissional nas instituições de ensino, de modo que, quando da escolha e da inserção profissional, o jovem já tenha aperfeiçoado/desenvolvido diversas habilidades relacionadas à carreira. O subcapítulo 1.6 versará sobre a especificação dos problemas de pesquisa.