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O desenho do estudo de natureza qualitativa não é um processo com passos definidos e um “rumo” fixo de concretização. “Na prática, o desenho de um estudo não é um processo linear de revisão da literatura, identificação do quadro teórico e declaração do problema. O processo é altamente interativo” (Merriam, 1998, p. 50).

Para Lincoln e Guba (1985) o desenho do estudo qualitativo significa planear atendendo a certas contingências, sem que possamos, no entanto, indicar o modo de ação perante cada uma delas. Ao contrário do investigador convencional, o investigador de natureza qualitativa deverá antecipar eventuais situações, mas as decisões tomadas perante as mesmas deverão atender ao contexto de tempo, lugar e interações humanas. Por estes motivos, Erlandson, Harris, Skipper e Allen (1993, p. 66) referem que o desenho de um estudo qualitativo não está habitualmente

63 estabelecido antes do início do mesmo, “mas emerge à medida que os dados são recolhidos, a análise realizada e o contexto está descrito de forma mais completa”.

Consciente da flexibilidade que caracteriza um estudo de natureza qualitativa, iniciei o meu trabalho definindo um plano inicial que, embora pudesse ser emergente, me permitisse atingir os objetivos definidos e responder à problemática que pretendia analisar. No decorrer da investigação senti necessidade de efetuar alguns ajustamentos, quer a nível de número de participantes, quer no método de recolha de dados escolhido. Essas alterações foram registadas no meu diário reflexivo a fim de, numa postura reflexiva e crítica, poder analisar as decisões tomadas e assim melhorar o estudo em concretização. De seguida descrevo o desenho do estudo, nomeadamente, caracterizo os participantes, os instrumentos de recolha de dados e os procedimentos de análise e apresentação dos resultados e conclusões.

Participantes

A escolha dos participantes no estudo foi feita com base no seguinte conjunto de critérios de seleção:

- Exercício da profissão docente em educação especial; - Diferente número de anos de serviço;

- Diferente local de trabalho com os alunos [sala regular (alunos com NEE ligeiras) ou sala de unidade de ensino estruturado (alunos com NEE severas)].

Estes critérios permitiram-me eleger pessoas que facilmente e de forma informada abordassem o tema em estudo. Assim, desta forma assegurei que através do seu discurso e da sua partilha de informações, vivências e perceções conseguiria obter dados pertinentes, passíveis de uma análise e da concretização de conclusões sobre o tema em estudo.

Após uma definição inicial do número de participantes e dos critérios de seleção dos mesmos, dirigi-me à sede de um agrupamento de escolas, onde me foi facultado o contacto de duas professoras de educação especial que trabalham com crianças que apresentam NEE ligeiras e que estão integradas nas turmas da escola da sua área de residência. O primeiro contacto foi telefónico, embora tenha sido muito breve, tendo combinado com as docentes em questão que me

64 deslocaria aos seus locais de docência a fim de explicar de forma mais concreta o objetivo do estudo e em que moldes iria funcionar.

No dia combinado desloquei-me às escolas e procurei informar as professoras de forma clara sobre o que pretendia trabalhar com este estudo, tendo-as convidado a participar no meu projeto. Acederam ao meu convite, tendo-se mostrado bastante recetivas, simpáticas e abertas à partilha das suas vivências.

O conhecimento da existência de uma unidade de ensino estruturado, onde se desenvolvia trabalho com crianças com autismo, levou-me até à escola onde funciona essa unidade. Aí procurei falar com as professoras, a fim de lhes dar a conhecer o objetivo do meu estudo e de as convidar a participar. Foi-me indicado que as professoras não se encontravam por ser já período não letivo e estarem na sede do agrupamento em reuniões de final de ano, tendo deixado o meu contacto. Dias depois foi efetuado o contacto telefónico através do qual agendámos uma data, na qual me deslocaria à escola onde exercem funções. Na data marcada desloquei-me à escola onde ambas trabalhavam e aí pude explicar a ambas as docentes o propósito da realização das entrevistas. Ambas acederam e se mostraram bastante motivadas para a colaboração no meu estudo.

Perante o pedido de gravação de entrevista apenas uma das profissionais convidadas se mostrou bastante despreocupada e desinibida, tendo outras docentes, ainda que aceitando a referida gravação, revelado algum nervosismo inicial. Uma das professoras colaborantes no estudo demonstrou ter vontade de participar, tendo no entanto indicado que não queria que a entrevista fosse gravada, sugerindo e disponibilizando-se para realizar a resposta escrita às questões do estudo. Acedi ao seu pedido, encarando a recolha de dados da sua participação como uma narrativa escrita, que será devidamente justificada no ponto seguinte deste trabalho.

Os primeiros contactos foram feitos durante o mês de junho e realização das entrevistas foi terminada em julho desse mesmo ano.

Participaram neste estudo quatro professoras de educação especial que exercem funções em escolas do ensino regular localizadas no distrito de Braga. No Quadro 3 é feita uma breve caracterização das docentes que aceitaram colaborar neste estudo.

65 Quadro 3 – Caracterização das docentes participantes

Nome Idade Tempo de

serviço total Tempo de serviço em Educação Especial Severidade das NEE dos alunos que apoiam Funções desempenhadas

Maria 41 Anos 17 6 Ligeiras Professora de Educação

Especial

Teresa 51 Anos 28 18 Ligeiras

Coordenadora de Educação Especial

Professora de Educação Especial

Rita 48 Anos 22 9 Severas Professora de Educação

Especial

Joana 44 Anos 19 8 Severas

Professora de Educação Especial Coordenadora da Unidade

de Ensino Estruturado