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4. Metodologia adotada

4.2. Desenho do estudo: estudo de caso

O estudo de caso é um desenho que investiga detalhadamente um fenómeno. Este fenómeno tem obrigatoriamente de ser real, não pode partir de uma abstração ou suposição como uma hipótese. Para Yin (2010) “os estudos de caso têm sido realizados sobre decisões, programas, processo de implementação e mudança organizacional” (p.51).

Autores como Yin (1993; 2005), Rodríguez (1999, citados por Meirinhos & Osório, 2010), Stake (2009) entre outros, defendem a ideia de que um caso pode adotar duas condições: podendo ser bem definido e concreto ou menos definido e abstrato. Na categoria definida e concreta, os mesmos autores fazem referência a um indivíduo, a um grupo ou a uma organização. Na categoria menos definido e abstrato mencionam decisões, programas, processos de implementação ou mudanças organizacionais.

Neste seguimento, Yin (2005, citado por Meirinhos & Osório, 2010) afirma que os estudos de caso procuram analisar fenómenos sociais complexos. Na mesma linha de pensamento Yacuzzi (2005, citado por Meirinhos & Osório, 2010) acrescenta que o estudo de caso não se cinge somente à análise do fenómeno, mas também ao estudo do contexto onde se desencadeia essa mesma situação.

De acordo com Platt (1992, citado por Yin, 2010):

a estratégia do estudo de caso, em suas palavras, começa com a lógica de planejamento (…) uma estratégia a ser preferida quando as suas circunstâncias e os problemas de pesquisa são apropriados, em vez de um compromisso ideológico a ser seguido independentemente das circunstâncias. (p. 39)

Para Yin (2010) “o estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo em profundidade” (p.39), tornando-se imprescindível, em primeira instância, conhecer bem a realidade com que se vai contactar. Só depois é que se deve selecionar as estratégias que melhor se adequam à situação problemática.

56 Seguindo esta lógica, o ideal é não seguir um modelo que já se encontra estruturado, pois esse pode não contemplar os tópicos que se desejam desenvolver.

Ao ser focado na recolha descritiva e explicita dos dados, o estudo de caso pode restringir-se a um projeto, tendo como base uma sequência lógica. Primeiramente, estabelece-se uma ou várias questões de investigação, tendo em consideração os objetivos delineados que pretendem ser alcançados. O desenho deste plano pressupõe uma trajetória para chegar daqui até lá, em que no momento “aqui” são definidas as questões que irão mobilizar o estudo e o “lá” representa as conclusões ou respostas ás perguntas estabelecidas inicialmente. No decorrer deste trajeto, há que tomar decisões pertinentes, no que respeita ao número de passos a dar, como efetuar a recolha de dados e, por fim, como proceder à sua análise. Assim sendo, o projeto de pesquisa acarreta um plano que orienta o investigador no processo de recolha dos dados, seguindo a análise e interpretação desses mesmos dados (Yin, 2010).

Philliber, Schwab, e Samsloss (1980, citados por Yin, 2010), descrevem o projeto de pesquisa como um “mapa” (p.48-49) que orienta a sua pesquisa, sendo que há, desde início, quatro problemas enfatizados: quais as questões a estudar; quais os dados relevantes; que dados devem ser recolhidos e como devem ser analisados.

Relativamente ao primeiro tópico a ser efetuado, o investigador deve ter a capacidade de formular uma boa questão, funcionando este como um pré-requisito. “A definição das questões de pesquisa é provavelmente o passo mais importante a ser dado no processo de pesquisa” (Yin, 2010, p. 31). Para selecionar uma boa questão, é necessário que a mesma seja rica em evidências, respondendo aos seguintes tópicos: sobre o que é o estudo “o quê”; com quem vai ser colocado em prática “quem”; em que contexto “onde”; por que razão vai ser efetuado “porquê”; e como se vai colocado em prática “como” (Bogdan & Biken, 1994; Yin, 2010). Estes componentes encontram-se inter-relacionados com o método de pesquisa que se prende com os elementos “como” e “por que” (Yin, 2010), cuja intencionalidade é clarificar a natureza e essência das questões de estudo. As questões são formuladas para o estudo do investigador e não para os sujeitos que participam no estudo. Estas servem como guião que guiam o investigador para a informação que tem de ser recolhida, mantendo-o dentro do rumo desejado (Yin, 2010). À semelhança da informação acima descrita, Yin (2005, citado por

57 Meirinhos & Osório, 2010) declara que estas proposições específicas servem para delinear o que se pretende estudar. Com efeito, quanto maior for o número de proposições estalecidas, maior será a probabilidade de o estudo ser exequível, porque o investigador manteve-se dentro dos parâmetros pretendidos.

Segundo Becker (1998, citado por Yin, 2010) pretende-se então que o investigador produza um diálogo rico em factos e provas, de forma a relacionar as ideias obtidas com a informação que se pretende recolher. Torna-se relevante, também, averiguar as disparidades que vão sendo encontradas ao longo dom estudo, de forma a estruturar novas contingências que encaminhem diretamente para o resultado idealizado. Há fortes probabilidades de alguma informação sofrer um desvio do padrão pretendido, pelo facto de o estudo ser concretizado em situação real, não havendo um controle rígido de todas as variáveis, como quando se aplicam instrumentos como um questionário detalhado/específico de levantamento de dados, que no limite, filtre ou evite tais situações desviantes (Yin, 2010). Na eventualidade deste caso ocorrer, torna- se crucial reformular a unidade de análise, uma vez que esta deve estar de acordo com as evidências que vão sendo recolhidas durante o processo. Neste sentido, as questões não podem ser dadas como definitivas, devem, pois, ser flexíveis, na medida em que é possível a sua adaptação ou até mesmo a sua alteração. Dentro do mesmo contexto, autores como Stake (2009) e Yin (1993; 2005, citado por Meirinhos & Osório, 2010), preveem a modificação das questões pré-estabelecidas, justificando que, à medida que o estudo vai avançando, haverá novas observações cujo resultado influenciará a(s) questão(ões) inicialmente definida(s). Desta forma, o investigador deve adotar um papel ou função interpretativa ao longo de todo o processo, para que a questão esteja relacionada com o corpo do estudo. À semelhança de autores atrás referidos, Ludke e André (s.d.) referem que:

os estudos de caso visam à descoberta. Mesmo que o investigador parta de alguns pressupostos teóricos iniciais, ele procurará se manter constantemente atento a novos elementos que podem emergir como importantes durante o estudo. O quadro teórico inicial servirá assim de esqueleto, de estrutura básica a partir da qual novos aspectos poderão ser destacados, novos elementos ou dimensões poderão ser acrescentados, na medida em que o estudo avance.

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